por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 27 de maio de 2011

PUPILAS DILATADAS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um colírio para dilatar as pupilas. E mesmo de olhar embaçado eram duas janelas que davam para a escuridão que existe dentro de mim. Como visão indistinguível, aquelas duas escotilhas das pupilas abertas diziam mais que objetos escondidos.

O interior que acumula as impressões do mundo e das pessoas pareceu-me não revelar as impressões que nele nascem. Um mundo, das pupilas observadas, tão sem separações de sólidos e, no entanto, carrega um sentido para todas as impressões que nele chegam.

É que naqueles dois pontos escuros, que ocuparam o espaço da íris castanho claro, havia um universo de milhões de minutos a girar fantasias, sonhos, pisadas no solo firme e braçadas nas águas do revolto mundo. No interior das pupilas não acontecia o espelho do mundo anterior, mas a película em milhares de quadros que junta uma narrativa contínua e guardada.

Nas clarabóias das pupilas dilatadas, tudo era turvo, como um impedimento a priori. Mas a observação demorada revela outra coisa: a efervescência na fronteira entre o interior e o exterior. Como um rio que entra no mar e turva suas águas. Ali acontecia o batear das ondas entre eu e o mundo.

O choque que transportava a turbidez do espaço observado era a morte simultânea do mundo e de mim como tela em branco. Naquela fronteira turva o mundo tem sentido e reescreve os achados retocáveis do tempo que o meu interior inventa. Ninguém é mais puramente um ser no limite de sua própria metafísica.

No entrechoque do mundo e do interior das pupilas dilatas o ser é reinterpretado de um modo tão completo que sofre uma fuga como numa sinfonia. Simultaneamente o mundo amplo e fundamental, ontológico, deixa de sê-lo para adquirir nuances do contributo do interior escuro das pupilas sobre os quais de pronto nada tinha a dizer e, no entanto, era tudo o que tinha para dizer.

Colaboração de Stela Siebra


McCartney abre o baú dos Beatles em show no Rio

Escrito por Marcelo Abreu 


Ao ver Paul McCartney chacoalhar os ombros, balançar a cabeleira e tocar seu baixo na música All my loving, vestindo um terninho preto dos anos 60, por um segundo poderíamos até ter a sensação de pastiche dos Beatles. Mas aí nós lembramos (sim, sempre parece meio irreal) que estamos diante de um verdadeiro beatle, um das duas únicas pessoas no planeta que podem fazer isso sem ser imitação. Aqui, na segunda noite do show do Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, Paul tem direito de ser McCartney e não deixa por menos. Mostra o que fez nos seus 50 anos de estrada como um artista de raro talentoso e generosidade com seu público.

Antes do começo do show, foi exibido no estádio, em dois telões verticais, ao lado do palco, um vídeo de meia hora que era uma colagem de imagens dos anos 60 e 70. É como se McCartney decidisse abrir uma velha gaveta da cômoda do quarto para nos mostrar fotografias, postais, cartas, recortes de jornais, botões velhos, capas de discos, pequenos objetos que contam sua vida e o seu tempo. Está todo mundo lá: a família, Linda, os Beatles, os Stones, Simon e Garfunkel.

Depois de abrir a gaveta de recordações, McCartney sobe no palco para abrir o baú de boas canções que têm embalado gerações. E que repertório! Foram 35 músicas no primeiro dia do show e 35 no segundo (com algumas deliciosas variações no set list). Beatles, Wings (sua banda nos anos 70) e a fase solo. Mas ao contrário de outros sessentões que fazem isso com nostalgia, quase num pot-pourri cansado, Macca faz com a energia da juventude que nunca lhe abandonou e bota pra quebrar, com uma banda muito competente. É o que no passado chamávamos de concerto de rock, daqueles de lavar a alma.

Os pontos altos das duas noites foram as músicas mais pesadas, mais propícias ao clima de estádio: Back in the USSR, com imagens no telão de velhos filmes de propaganda soviéticos; Paperback Writer, ilustrada com a exibição das incrivelmente datadas capas de livrinhos de bolso populares dos anos 60; e Helter Skelter, com as vertiginosas imagens de uma montanha russa ilustrando o clima da música.

Houve momentos intimistas interessantes como Blackbird e Here,Today, escrita em homenagem a John Lennon. Mas a grandiosidade do estádio dispersa a atenção da massa para momentos mais reflexivos.

Os sucessos dos Wings foram muito festejados como a popular Mrs. Vanderbild, e também Jet e Band on the run. A cinematográfica Live and let die foi o momento mais pirotécnico do show, com direito a explosões no palco e fogos de artifício.

A comunicação com o público é um show parte. Falando português, Paul lembra um velho professor estrangeiro. Consciente da inevitável distância física da plateia, utiliza gestos teatrais que, às vezes, lembram até a expressividade de Chaplin. Não perde a chance de fazer brincadeiras e se comunicar. Agradece pelas luzes, pelos balões coloridos, pelos aplausos. Citou até o nome do chefe da mesa de som.

Assistir a um show de Paul McCartney no Brasil é como penetrar num laboratório de experiências humanas, onde vovós cantam felizes canções de sua juventude, pais se emocionam por verem, orgulhosos, que os filhos gostam de boa música, e filhos adolescentes, dividindo espaço com os mais velhos, certificam-se de que, sim, o mundo na música não começou com Lady Gaga.

Mas os dois shows realizados no Rio de Janeiro demonstraram que, mais do que uma experiência coletiva de reunião de tribos e idades diferentes, o velho Macca proporciona um encontro muito pessoal de cada fã consigo mesmo. Um momento para cada um pensar na história de sua vida, lembrar o momento em que descobriu a música dos Beatles e como isso mudou seu modo de encarar o mundo.

Pode ser clichê mas vale repetir: McCartney é um super-herói do nosso tempo, gênio da música que alia, a um incrível vigor físico, um domínio completo do palco e um carisma inigualável. Sua Up and Coming Tour é generosa. Das quase três horas de espetáculo, só da fase dos Beatles, que Macca revisita livremente, foram tocadas 23 músicas, em versões fiéis e levemente mais roqueiras para o clima de estádio. Mas o baú dos Beatles é tão rico que, para cada música tocada no show, umas seis ficaram de fora. Para serem tocadas nas próximas vezes.

http://www.revistacontinente.com.br/

SIDERAL - por Stela Siebra

LUA EM CAPRICÓRNIO

A responsabilidade, a ambição, o controle das emoções e a seriedade são alguns atributos da Lua em Capricórnio.
A pessoa com uma lua capricorniana preocupa-se com o futuro, necessita de segurança material e quer ser respeitada por todos. É uma pessoa “com os pés no chão”: prática e séria, almejando ser muito bem sucedida na vida.

Pois é ... às vezes trabalha tanto que se esquece de cuidar de si mesma.
E você, que tem no seu mapa astrológico a Lua em Capricórnio e está se identificando com a descrição, sabe perfeitamente o quanto é difícil para você lidar com dependências. A sua e a dos outros, porque acredita que cada um é totalmente responsável por si mesmo.
Bem, isso é verdade, mas convenhamos, ninguém se vira sozinho o tempo todo e “vive muito satisfeito” com isso. Todo mundo quer, e precisa, da ajuda e dos cuidados de outras pessoas, de vez em quando.
A lua capricorniana atribui à pessoa o anseio por sucesso e reconhecimento. Para corresponder às necessidades internas e externas quer realizar tudo com perfeição, quer dar provas de bom desempenho. Preste atenção para não incorrer em algumas falhas, nesse intento de atingir seus objetivos, porque você pode, de repente, passar a exigir demais de si mesmo e dos outros. Vai cobrar, criticar, impor regras e sacrifícios.
Tudo isso para sentir-se realizado, mas correndo o sério risco de perder sua espontaneidade criativa. Será que vale a pena? Veja que você pode estar negando um outro tipo de alimento para sua criança interior, você pode estar tão somente impedindo a expressão de suas emoções e sentimentos.

Por que negar a necessidade de proteção e carinho? Por que esconder a fragilidade sob uma aparente frieza e rigidez? Ser forte não é cumprir todas as tarefas, esconder as emoções ou ser austero e reservado. Isso é apenas bloqueio do fluxo natural de sentimentos, que pode acarretar problemas para o corpo físico.
Você tem direito a relaxar, sim. Um repouso de vez em quando, não vai torná-lo incompetente ou irresponsável. Mude de sintonia que seu rádio tocará uma melodia mais relaxante, que pode ajudá-lo a descobrir o prazer das responsabilidades, sem que se sinta obrigado a cumprí-las com perfeccionismo. Não é necessário “mostrar tanto serviço”. É essencial que os faça de uma forma responsável, é verdade, mas sem a ânsia de reconhecimento ou o medo das críticas.

Lembre-se de que a Lua está associada à reação instintiva, que é a expressão da nossa espontaneidade; portanto quando você congela suas emoções, está bloqueando a livre e espontânea expressão da sua essência lunar.
O bloqueio de sentimentos impede o contato com você mesmo e com os outros, sugerindo uma ausência de relacionamentos satisfatórios.
Para sair da dificuldade que você tem de nutrir-se emocionalmente, é preciso dar rédeas aos seus sentimentos e vivê-los, por mais difícil que seja para você sair da sua habitual reserva.
Só quando você contatar com sua fonte interior de segurança poderá dar valor a si mesmo, ao que você é e não ao que você faz. E assim, nutrido emocionalmente, reconhecerá seu próprio valor e não precisará de reconhecimento externo.

Ciro Monteiro


Ciro Monteiro (Rio de Janeiro, 28 de maio de 1913 — 13 de julho de 1973) foi um cantor e compositor brasileiro.

Hello !


Defronte do Copacabana Palace, no Rio, no domingo dia vinte e dois de maio, uma multidão olhava para a janela da suíte presidencial, quase a quebrar o pescoço, esperando pelo aparecimento, por um mínimo instante que fosse, do seu ídolo. A turba formava-se por muitas gerações : bisavôs, avôs, filhos, netos. Uma senhora, passando pelo calçadão, arrastando seu poodle estranhou aquela atitude. “Um bando de gente desse, olhando para cima, como bestas, esperando o quê? Outro besta aparecer lá em cima?” Um rapazinho de uns vinte e poucos anos, fita-a seriamente e diz:
--- Minha , senhora! O que é isso? Respeite a religião dos outros! Se a senhora soubesse que Jesus estava hospedado aqui, não estaria ajoelhada neste calçamento? Pois ali em cima se encontra meu deus! Respeite a minha religião!
Pertinho, um outro rapazinho conversa com amigos e informa que não vai dar mais para esperar. Tem que ir para o Engenhão, render alguns amigos que estão na fila e precisam almoçar. E diz: “Estamos acampados lá desde quarta-feira, queremos ficar pertinho de Paul!”. À noite, no estádio, uma fila quilométrica aguardava a abertura dos portões. Pessoas de todas as idades estavam prontas a suportar mais de nove horas em pé, deslumbradas e anestesiadas com possibilidade de, após a maratona, estarem pertos, num show inesquecível, de São Paul McCartney de Liverpool. Avós, filhos, netos, das mais variadas regiões do país – umas quatro gerações --- ali estavam firmes e fortes. Alguns já tendo feito igual peregrinação nos shows anteriores de São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires. À nossa frente, uma senhora testemunha dos dourados anos sessenta, nos disse ter comprado ingressos para vir ao show daquele domingo e da segunda-feira. Passadas as longas seis horas aguardando o ídolo, uma platéia aparentemente estafada simplesmente ressuscitou quando Sir Paul apareceu no palco, com sua banda competentíssima e, sem muitas pirotecnias, sustentou um inesquecível Show de três horas. É que todos, totalmente reconfortados, assistiam à sua frente um show não de Paul mas do “The Beatles”.
Em pleno Império do Efêmero , pus-me a pensar: o que dá a uma obra tintas de eternidade? Ali estavam quatro gerações comigo, não de apreciadores da Banda, mas de Beatlomaníacos! Como aquilo era possível, se a primeira e mais primal atitude dos jovens é jogar no lixo tudo o que a geração anterior apreciou? Em plena era do Forró de Plástico, do Breganejo, do Axé Insosso, onde o sucesso dura no máximo alguns dias e as bandas nascem e morrem numa velocidade estonteante, como explicar a perenidade e a blindagem dos Beatles?
Queóps construiu sua pirâmide dois milênios e meio antes de Cristo.O faraó ergueu sua tumba gigantesca esperando ali ficar aguardando a ressurreição, ou seja moveu-o a busca da imortalidade. No fundo, toda obra de arte é uma nova pirâmide feita pelo artista, na quase sempre inglória tentativa de com ela driblar a morte e o esquecimento.A possibilidade quase que única de sobrevivermos de alguma maneira ao desaparecimento físico inexorável. A música que se faz hoje, quase sempre, na sua volatilidade, nada tem de ritualística e nem pode pretender ser arrolada como Arte. São casas de adobe, sem alicerce, para o pouso temporário e incerto de alguns. Feitas para o entretenimento daquele instante, daquele momento específico, rui como por encanto à primeira neblina. Sequer os bordões permanecem: “minha eguinha pocotó”, “minha mulher não deixa não”, “Ah, eu tô maluco!”
As tintas da eternidade são perseguidas por todos os artistas e, no fundo, é o moto-contínuo do seu fazer artístico. Mas não basta querer a permanência simplesmente. Nem mesmo a qualidade inequívoca da obra reconhecida hoje lhe dá, a certeza da permanência. Alexandre Dumas foi o mais reconhecido escritor da sua geração, assim como Anatole France e, nem por isso, a vivacidade das suas obras resistiram totalmente ao impacto do tempo. Balzac e Baudelaire, bem menos incensados enquanto viveram, criaram uma vitalidade impressionante com o passar dos anos. Além da qualidade temporal imprescindível da obra de arte, essa necessita de alguns outros atributos para as banharem de eternidade. Faz-se mister genialidade. O grande artista é sempre um visionário e consegue imprimir um profundo ar de atemporalidade naquilo que faz. Tantas e tantas vezes passa totalmente despercebido por seus contemporâneos, simplesmente porque pinta na tela do hoje utilizando as tintas do futuro.
Se a impermanência é o atributo mais palpável do reino animal, rescendeu um ar de eternidade , de divino quando Paul subiu ao palco do Engenhão no domingo. Como se todos estivessem diante da pirâmide e de lá saísse um Queóps redivivo dizendo Hello! e nunca, nunca mais, Good Bye!
J. Flávio Vieira

Devaneios - Aloísio

Devaneios

Momento que se vai
Dá o que pensar
Me leva aonde
Eu não vou chegar

Os meus devaneios
Correm como os rios
Que com seus meneios
Desembocam no mar

São sons percussivos
Que por vários motivos
Rasgam meu caminhar
E voltam a se encontrar


Aloísio

Vôo 447: os horripilantes minutos finais - José Nilton Mariano Saraiva

Senhores,
Por entendermos ser de interesse geral, tomamos a liberdade de transcrever, abaixo, ipsis litteris, o relatório (parcial) sobre a queda no Oceano Atlântico do avião que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, também conhecido por Vôo 447. Parem um pouco e imaginem o pavor experimentado pelas 228 pessoas a bordo, naqueles horripilantes minutos finais.

José Nilton Mariano Saraiva

Balanço da investigação sobre o acidente do vôo AF 447 ocorrido em 1º de junho de 2009 (www.bea.aero) - 27 maio 2011
PREFÁCIO ESPECIAL AO TEXTO PORTUGUÊS
Este texto foi traduzido e publicado pelo BEA a fim de facilitar a leitura pelos falantes brasileiros. Tão exata quanto a tradução possa ser, é o texto original em francês que deve ser considerado como o trabalho da referência.
Histórico do voo
No domingo, 31 de maio de 2009, o Airbus A330-203, matrícula F-GZCP, operado pela Air France foi programado para efetuar o voo regular AF447 entre o Rio de Janeiro Galeão e Paris Charles de Gaulle. Doze tripulantes (3 PNT, 9 PNC) e 216 passageiros estão a bordo. A partida está prevista para as 22 h 00(1). Às 22 h 10 a tripulação tem permissão para ligar os motores e deixar o pátio. A decolagem ocorreu às 22 h 29. O comandante de bordo é PNF, um dos copilotos é PF. O peso na decolagem é de 232,8 t (para um MTOW de 233 t), e inclui 70,4 toneladas de combustível. À 1 h 35 min e 15 s, a tripulação informou o controlador ATLÂNTICO que passou o ponto INTOL e anuncia a seguinte estimativa: SALPU às 1 h 48 e ORARO às 2 h 00. Ela também transmite o seu código SELCAL e um teste é realizado com sucesso. À 1 h 35 min 46 s, o controlador pediu que ele mantenha FL350 e informe sua estimativa para o ponto TASIL.
À 1 h 55, o comandante de bordo desperta o segundo copiloto e diz «[...] vá tomar o meu lugar». Entre 1 h 59 min 32 s e 2 h 01 min 46 s o comandante de bordo assiste ao briefing entre os dois copilotos, onde PF disse principalmente que «o pouco de turbulência que você acabou de ver [...] devemos encontrar outras mais à frente [...] estamos na camada, infelizmente não podemos subir muito mais agora porque a temperatura está diminuindo menos rapidamente do que o esperado» e que «o logon com Dakar falhou». O comandante de bordo deixou a cabine.
A aeronave se aproxima do ponto ORARO. Ela voa em nível de voo 350 e à velocidade Mach de 0,82; a atitude longitudinal é de cerca de 2,5 graus. O peso e o centro de gravidade do avião são de cerca de 205 toneladas e 29%. O piloto automático 2 e auto-impulsão são ativados. Às 2 h 06 min 04 s, o PF chamou os PNC e lhes disse que «em dois minutos devemos atacar uma área mais agitada do que agora e devemos tomar cuidado lá» e acrescenta «eu lhe ligo logo que sairmos de lá». (1)O tempo universal (TU) é a referência de tempo utilizado na aviação).
As 2 h 08 min 07 s o PNF propõe «você pode, possivelmente, levar um pouco para a esquerda [...]». A aeronave começou uma ligeira virada para a esquerda; o desvio em relação à rota inicialmente seguida é de cerca de 12 graus. O nível de turbulências aumenta ligeiramente e a tripulação decide reduzir o Mach para 0,8. A partir das 2 h 10 min 05 s o piloto automático e em seguida a auto-implusão são desativados e PF anuncia «eu tenho os comandos». A aeronave rolou para a direita e PF exerce uma ação à esquerda e de elevação do nariz. O alarme de perda dispara duas vezes. Os parâmetros registrados mostram uma queda brutal de cerca de 275 kt para 60 kt da velocidade mostrada do lado esquerdo e poucos momentos depois a velocidade mostrada no instrumento de resgate (ISIS). (Nota 1: apenas as velocidades mostradas no lado esquerdo e no ISIS foram registradas no registrador de parâmetros; a velocidade mostrada no lado direito não foi registrada. Nota 2: o piloto automático e a auto-impulsão permaneceram desligados até o final do voo).
As 2 h 10 min 16 s, o PNF disse «perdemos as velocidades» e em seguida «alternate law {...]». (Nota 1: a incidência é o ângulo entre o vento relativo e o eixo longitudinal da aeronave. Esta informação não foi apresentada aos pilotos. Nota 2: em regras alternative ou directe, as proteções em incidência não estão mais disponíveis, mas um alarme de perda (stall warning) é ativado quando o maior dos valores de incidência válidos excede um determinado limite).
A atitude da aeronave aumenta gradualmente para acima de 10 graus e leva a uma trajetória ascendente. PF exerce ações de pique e alternadamente da direita para a esquerda. A velocidade vertical, que tinha atingido 7.000 pés/min, diminuiu para 700 pés/min e a rolagem varia entre 12 graus à direita e 10 graus à esquerda. A velocidade mostrada à esquerda aumentou brutalmente para 215 kt (Mach de 0,68). A aeronave se encontra então a uma altitude de cerca de 37.500 pés e a incidência registrada é de cerca de 4 graus. A partir das 2 h 10 min 50 s, o PNF tentou por várias vezes chamar o comandante de bordo. Às 2 h 10 min 51 s o alarme de perda soa novamente. Os manches de controle de impulso são colocados na posição TO/GA e o PF mantém sua ordem de elevar o nariz. A incidência registrada, de cerca de 6 graus no disparo do alarme de perda, continua a aumentar. O estabilizador horizontal regulável (PHR) passa de 3 para 13 graus de levantar o nariz em 1 minuto aproximadamente; ele permanecerá nesta última posição até o fim do voo. Quinze segundos depois, a velocidade mostrada no ISIS aumenta abruptamente para 185 kt; ela é consistente com a outra velocidade registrada. PF continua a dar ordens de elevar o nariz. A altitude da aeronave atinge o seu máximo de cerca de 38.000 pés, sua atitude e sua incidência são de 16 graus (Nota: a inconsistência entre as velocidades indicadas no lado esquerdo e na ISIS durou pouco menos de um minuto).
Às 2 h 11 min 40 s o comandante de bordo retorna à cabine. Em poucos segundos, todas as velocidades registradas se tornam inválidas e o alarme de perda pará (Nota: quando as velocidades medidas são inferiores a 60 kt, os valores medidos das incidências são considerados inválidos e não são considerados pelos sistemas. Quando são inferiores a 30 kt, os valores de velocidade por si só são considerados inválidos).
A altitude está, então, em cerca de 35.000 pés, a incidência ultrapassa 40 graus e a velocidade vertical é de aproximadamente -10.000 pés/min. A atitude da aeronave não excede 15 graus e os N1 dos motores estão perto de 100%. A aeronave sofre oscilações de rolagem que atingem por vezes 40 graus. O PF exerce uma ação no manche no limite para a esquerda e de levantar o nariz, que dura cerca de 30 segundos. As 2 h 12 min 02 s, o PF disse «eu não tenho mais nenhuma indicação», e o FNP disse «não temos nenhuma indicação que seja válida». Neste ponto, os manches de comando de impulsão estão na posição IDLE, os N1 dos motores estão em 55%. Quinze segundos depois, o PF faz ações de pique. Nos instantes que se seguem, houve uma diminuição da incidência, as velocidades tornam-se novamente válidas e o alarme de perda é reativado. Às 2 h 13min 32 s, PF disse «vamos chegar ao nível cem». Cerca de quinze segundos depois, ações simultâneas dos dois pilotos nos mini-manches são registradas e PF diz «vamos lá, você tem os comandos» (A incidência, quando é válida, está sempre acima de 35 graus).
Os registros param às 2 h 14 min 28 s. Os últimos valores registrados são velocidade vertical de -10.912 pés/min, velocidade de solo de 107 kt, atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus à esquerda e um rumo magnético de 270 graus.
Novos fatos estabelecidos:
Nesta fase do inquérito, além dos relatórios do BEA, de 2 de Julho e de 17 de Dezembro de 2009, os novos fatos a seguir foram estabelecidos: A composição da tripulação estava em conformidade com os procedimentos do operador; No momento do evento, a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais; No momento do evento, os dois copilotos estavam na cabine e o comandante de bordo em repouso, este último voltou para a cabine cerca de 1 minuto 30 s após a retirada do piloto automático. Houve uma inconsistência entre a velocidade indicada no lado esquerdo e a indicada no instrumento de resgate (ISIS). Durou pouco menos de um minuto.
Após o desligamento do piloto automático:
a aeronave subiu para 38.000 pés; o alarme de perda soou e o avião entrou em perda; as ordens de PF foram principalmente de elevar o nariz; a descida durou 3 min 30 s, durante o qual a aeronave permaneceu em situação de perda. A incidência aumentou e se manteve acima de 35 graus; os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação. Os últimos valores registrados são atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus na esquerda e velocidade vertical de -10.912 pés/min.

Bureau d’Enquêtes et d’Analyses pour la sécurité de l’aviation civile Zone Sud - Bâtiment 153 - 200 rue de Paris - Aéroport du Bourget - 93352 Le Bourget Cedex FRANCE
T. : +33 1 49 92 72 00 - F : +33 1 49 92 72 03 - www.bea.aero

Melhor idade? Tô fora, prefiro ser idoso! – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Na última quarta feira, da semana que amanhã se encerra, tivemos, eu e Magali de realizar uma urgente viagem ao Crato, tudo dentro de um prazo inferior a 18 horas de ausência de nossa casa. Dado a urgência e não me ser possível um afastamento maior de minhas atividades, utilizamos o transporte aéreo, com passagens adquiridas no balcão do aeroporto e tarifa cheia. Somente nos desincumbimos da missão que teríamos quase às três horas da tarde, de modo que fomos obrigados a retornar via Recife, onde fizemos uma conexão para Fortaleza, aqui chegando às 19 horas.

Como embarcamos em três aeroportos diferentes, em todos três fomos convidados a ter prioridade no embarque sendo tratados como “pessoal da melhor idade.” Deu vontade de perguntar se “melhor idade” é sofrer reumatismos os mais diversos, tendinite, bursite, artrite, sinusite, labirintite, rinite, e muitos outros “ites,” além de catarata, hipertensão, diabetes, bico de papagaio, esporão de galo, joanete, osteoporose, e o que é pior: a perspectiva de que a partida definitiva está cada vez mais próxima.

Pois é distintas aeromoças, “melhor idade” é a das crianças, adolescentes e a de todos aqueles com menos de trinta anos. Por favor, deixem de imitar os americanos, pois eu prefiro ser tratado por aquilo que realmente sou. Um pobre beneficiário do estatuto do idoso, com alguns centavos de experiências a mais, e as regalias de me divertir pagando “meia entrada” nos cinemas, teatros e futebol, com a agradável surpresa de ouvir os porteiros me solicitarem a “carteirinha de estudante” ou documento de identidade que comprove que realmente já sou um idoso.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

SERGIO CABRAL (PAI) -2-por NORMA HAUER


Recentemente, duas peças carnavalescas de Sérgio Cabral fizeram sucesso aqui no Rio e correram vários estados.

Uma, valorizando as marchinhas, que eram o”it” do carnaval carioca. Recebeu o nome de um grande sucesso carnavalesco: ”Sassaricando”; a segunda trouxe à memória sambas do mesmo período (não de Escolas) e recebeu o título de “È Com Este que Eu Vou” , nome de um samba de Pedro Caetano.

Gostei mais da primeira, mas ambas mereceram o sucesso que fizeram.

Sergio Cabral continua sua trajetória de pesquisador e escritor e brevemente teremos um novo livro para
Deixei de falar sobre o SERGIO CABRAL jornalista. Foi no jornalismo que ele se destacou e seu nome apareceu. A partir daí ele se diversificou, seguindo a carreira política , a de pesquisador e de escritor.

Conheci-o quando Vereador que elaborou a Lei n°985, de 9 de janeiro de 1984, criando a primeira APA (Área de Proteção Ambiental) para Santa Teresa. O projeto foi sancionado por Marcelo Alencar quando prefeito, ainda nomeado.
Essa Lei, praticamente, "tombou" todos os imóveis do bairro.

Aos 20 anos, Sérgio Cabral iniciou sua vida de jornalista, trabalhando no Diário da Noite; em 1961 passou ao Jornal do Brasil, de onde foi demitido por haver tomado parte em uma greve (e isso na "democracia").

Em 1966 foi um dos fundadores do Teatro Casa Grande e em 1969 do jornal "Pasquim", suspenso pela ditadura, dois anos depois. Foi quando Sérgio foi preso com seus colegas do Pasquim.

Em 1972 foi redator da revista Realidade, outra que circulou em plena ditadura militar.

De 73 a 81 foi produtor de discos e posteriormente deu início a sua carreira de escritor.
Daí, sendo um nome já bastante conhecido, foi eleito Vereador em 1982. Reeeleito em 1986 e 1992, quando foi um dos "constituintes" da Lei Orgânica da cidade do Rio de Janeiro, que equivale a uma Constituição municipal.

Em 1993, a Câmara dos Vereadores o indicou para conselheiro do Tribunal de Contas do Município, abandonando a política. Em 2007, completando 70 anos, foi aposentado compulsoriamente.
E pode continuar sua vitoriosa carreira de pesquisador e escritor, escrevendo várias biografias, como dito acima.

NORMA

Mar e Amor (Coisas que só o coração pode entender...)

por Vera Barbosa



Quando eu falo de mar

Estou falando de amor

Você não pode entender

E eu não quero explicar



Você precisa alcançar

E eu não vou te dizer

O que se tem de sentir

Antes de entender



Eu quero o sal do mar

Quando sua pele eu tocar

E te sentir derreter

Quando o sol chegar



Sou estrela do mar

A te percorrer

Sou raio de sol

Para te aquecer



Você precisa alcançar

E eu não vou te dizer

O que se tem de sentir

Antes de entender



Quando eu falo de mar

Estou falando de amor...

Falar em nome das matas - Emerson Monteiro


O projeto agora anda da Câmara para o Senado, mais para espantalho do que para código florestal. Espécie de lei remendo a tudo que se perpetrou até agora nas matas brasileiras, no afã dessa febre dos industriais no campo, a agroindústria exportadora, e da produção de carne para o mercado externo, a toque de caixa. Mundo desigual de tanta fome e tanto estrago. Os vegetais não têm deputados, senadores, advogados. Têm os donos das terras que tomaram dos índios, que receberam de herança, que compraram ao preço de banana, que desmatam e fica por isso mesmo, nessa ganância de ouro fácil. Defender o que, senhor parlamentar? As furnas das onças, os buracos dos tatus, as camas das pacas? Argumentar com o quê, senhor parlamentar? Com as cantigas dos matutos abilolados na faina de puxar cobra para os pés, e apurar quase nada ao final dos invernos? Ouvir o canto dos pássaros para quê, senhores, quando as parafernálias eletrônicas ecoam de norte a sul do País, nos forrós melados desse universo troncho da ressaca nacional, frutos negros da cultura de massa? Sim, o som estridente das motosserras e dos tratores do progresso invadindo tudo que pareça verde e que, vendido a troco de muambas, virá festa, nos salões amarelados das cidades de trastes engarrafados e brilhosos. Os gritos dos capitães da grilagem, caçadores com a espingardas dos outros. Grande farra coletiva, nesses tempos de pouca solidariedade e muito lucro. Há um protesto congelado nos ares da política pragmática e mercantil. Há dores caladas nos cantos escondidos das florestas esturricadas, abandonadas à própria ganância. Ninguém pode além de nada, nos tristes trópicos acelerados para que as florestas permaneçam nacionais, invés da dominação do Império avassalador. Quem contará essa história da entrega da alma cativa aos inúteis da fragilidade, aos apáticos e indiferentes? Quantas perguntas lançadas ao vento, nas manhãs melancólicas dos finais de natureza. Apenas reservos de poucas plantas restarão emolduradas aos quintais dos ricos, enquanto na praça da apoteose crescem os pretendentes aos postos de comando e erários públicos órfãos da cidadania.
Isto porque vejo pouca chance para as leis conscientes e que contemplem a realidade verdadeira dessa humanidade insana. O Brasil, nação estratégica dos novos tempos, quando acordará a isso, sem procurar conciliar os ânimos destrutivistas do que resta de patrimônio nativo?
A propósito, minha homenagem ao casal José Cláudio Ribeiro da Silva e sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, mortos a tiros na madrugada desta terça-feira (24 de maio de 2011) na área rural do município de Nova Ipixuna, sul do Pará. Eles só lutaram com autenticidade em nome da conservação da natureza!

SERGIO CABRAL (PAI) - por Norma Hauer




No dia 27 de maio de 1937 nasceu Sérgio Cabral. Quando completou 70, em 27 de maio de 2007, teve de deixar, compulsoriamente, o cargo que exercia no Tribunal de Contas do Município.

Conheci Sérgio Cabral quando exercia o mandato de vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro..

Na época ele apresentou um projeto de lei que amparava o bairro de Santa Teresa, instituindo regras para novas construções naquele bairro. O projeto se transformou na Lei n°485, de 9 de janeiro de 1984, sancionada pelo então Prefeito Marcelo Alencar, recém-nomeado pelo Governador Leonel Brizola.

Meu irmão era secretário de Sérgio Cabral e propôs esse projeto para preservar o mais charmoso bairro do Rio de Janeiro.

Naquela época os prefeitos das capitais não eram eleitos; eram nomeados pelos governadores de seus estados.

Interessante é que, pouco tempo depois, projeto semelhante foi elaborado para proteger os bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde e Marcelo o vetou.

Sérgio Cabral é pesquisador de nossa música popular e escreveu as biografias de Pixinguinha, Almirante, Ari Barroso, Eliseth Cardoso, Escolas de Samba, Grande Otelo, Ataulfo Alves (este o mais recente).

Sérgio Cabral fez um bonito prefácio para meu livro "Carlos Galhardo-Uma Voz que é Um Poema".

Sérgio também é compositor, tendo escrito, com Rildo Hora, o samba "Menino da Mangueira, cuja primeira estrofe é:

"O menino da Mangueira

Recebeu pelo Natal,

Um pandeiro e uma cuíca,

Que lhe deu Papai Noel,

Um mulato sarará,

Primo irmão de D.Zica."

Norma

SIVAN CASTELO NETO- por Norma Hauer


Foi a 27 de maio de 1904 que, com o nome de Ulisses Lelot Filho, nasceu em Campinas (São Paulo) SIVAN CASTELO NETO, compositor, músico, editor, pianista...

Compôs músicas em quase todos os ritmos conhecidos, porém as que mais marcaram sua carreira foram: "Se Ela Perguntar", gravada por Gastão Formenti e "O Amor é Assim", gravação de Sílvio Caldas.

O AMOR É ASSIM

É tão grande o céu,
É tão grande o mar...
Mas é maior minha dor...
Pois de déo em déo,
Vivo a caminhar
Lembrando o meu amor.

Uns lábios perfumados
Eu já beijei
Castelos encantados
Já levantei.
Porém a realidade
Matou minha ilusão
Deixando-me a saudade no coração.
E ninguém vive agora
Pensando em mim.
Mandei o amor embora
Foi melhor assim.
Depois viria o tédio,
Pior seria o fim.
O mal é sem remádio
O amor é assim.

Foi em emissoras de São Paulo que ele atuou por mais tempo, fazendo teatro humorístico, como o "Teatro Gracioso" na então Educadora (hoje Gazeta) de São Paulo (final dos anos 20) e "Teatro da Graça", na Bandeirantes (anos 30).
Foi o incentivador de astros como Leny Eversong, Walter Forster, Blota Júnior e Nuno Roland.

Além de compor, fazia letras em português de sucessos de Jerome Kern, Cole Poster, Irving Berlin, Augustin Lara, assim como letras para melodias de óperas, operetas, e valsas vienenses.
Foi, ainda, criador de jingles, dando "vida" aos anúncios de rádio, que antes dele não tinham expressão .
Como criador de jingles, fez o primeiro da Coca-Cola bem como o da Brahma, assim:
"Quem gosta de cerveja,
Bate pé, reclama:
Quero Brahma, quero Brahma".

Sivan Castelo Neto deixou dois filhos artistas: Vera Brasil, cantora e Berto Filho, que foi locutor do programa Fantástico, da Rede Globo.

No dia 25 de maio de 2007 a ABI prestou uma merecida homenagem a Sivan Castelo Neto, dirigida por seu filho Berto Filho e por Ney Murce, neto de outro grande vulto do rádio brasileiro: Renato Murce.

Sivan Castelo Neto faleceu no Rio de Janeiro em 28 de fevereiro de 1984, sem completar 80 anos .

Norma