por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Por trás da fé" - José Nilton Mariano Saraiva




Aos fatos (reais): 1) uma sofrida mãe, beata católica de carteirinha, que de repente descobre que os seus sete filhos, todos do sexo masculino, haviam sofrido abuso sexual por parte do magnânimo e caridoso padre de uma comunidade de Boston (EUA); 2) homens, já formados, hoje casados e pais de família, que convivem com as teimosas e dolorosas recordações da meninice, quando foram vítimas indefesas da mesma figura (bem como com a lembrança de colegas que optaram pelo suicídio, por não suportarem o “peso da cruz”); 3) um diligente advogado - iniciante, esperto e à procura de projeção, evidentemente - disposto a ir fundo na tentativa de resgatar a dignidade dos clientes; 4) acomodados membros do poder judiciário, corruptos, blindados e indispostos em abrir o sigilo de documentos comprometedores (até que uma nova juíza, destemida e disposta a encarar a fera, surge); 5) repórteres de um influente jornal, que optam por “chutar o pau da barraca” e divulgam o contido nos documentos que lhes chegam as mãos; e, 6) no centro disso tudo, a Igreja Católica, vilã e responsável por tanta dor e sofrimento, a manobrar e praticar o “jogo pesado”, a fim que a verdade não venha à tona.
Esses, os elementos da trama que fazem com que o filme “POR TRÁS DA FÉ” (baseado em “fatos reais”) nos dê a oportunidade de tomar conhecimento da criminosa (e secular) atuação dos “padres-pedófilos”, que infernizaram a vida de muitos (e deixaram cicatrizes profundas e incuráveis), por esse mundo afora.
Aqui, especificamente, a história é centrada no “cardeal” americano Bernard Law (evidentemente que um dos eleitores do Papa) que, mesmo tomando conhecimento dos hediondos crimes praticados em sua Diocese (Boston/EUA), prefere apenas (e irresponsavelmente), transferir os acusados para outras paróquias distantes (onde continuaram a fazer e praticar a mesma sujeira, sem serem importunados).
Com a estrondosa repercussão do caso pela Imprensa, o advogado finda por conseguir permissão da nova Juíza para acessar os sigilosos documentos, mas descobre, também, que não pode processar a “instituição Igreja”; toma, então, uma decisão inédita: direciona seu foco para o próprio “cardeal” Bernard Law, exigindo sua presença no tribunal.
Isso marca intensamente a intimidade da própria Igreja, a ponto de, numa ação sem precedentes, 58 padres de Boston se reunir e enviarem uma carta ao “cardeal” Law, pedindo sua renúncia.
De pronto (e entre quatro paredes), o advogado das vítimas é convidado pelo representante da Igreja a firmar um “acordo”, que lhe permitirá “indenizar” os clientes que haviam sido prejudicados pela leniência de Bernard Law; uns, mais necessitados, aceitam de pronto, enquanto outros terminantemente recusam, já que o objetivo era o de levar o “cardeal” a júri popular, com reflexos na própria atuação da Igreja.
Fato é que, em razão da insuportável pressão popular, o “cardeal” Law finda por publicamente pedir demissão ao Papa João Paulo II, esperando que sua renúncia "...ajude a curar a ferida e trazer, para a arquidiocese de Boston, a reconciliação e a unidade que são extremamente necessárias" (uma “meia-vitória” das vítimas, já que evitou o julgamento).
Mas, como na Igreja impera a corrupção e o desmando, o (agora) “ex-cardeal” Bernard Law foi transferido pra Roma e (apesar das mostruosidades admitidas) nomeado pelo amigo João Paulo II para uma função de confiança, no Vaticano.
Vale a pena conferir. Um grande – realista e esclarecedor – filme.

Veredas - Por José de Arimatéa dos Santos


Foto: José de Arimatéa dos Santos
 Quantos lugares passei
E não encontrei nada
Saiba que minha procura não foi em vão
E continuo nessa caminhada
Solitário e certo
Que meu caminho é livre
Pronto para chegar no ponto final
Vou a pé e até de carro
Mesmo que as veredas tenham espinhos
Mas como sou teimoso, não cansarei
Até achar esse porto seguro
Certeza de todo sonhador
Certo do amor presente
Em todos os momentos
Na certeza da chegada
E do amor infinito

Ultimas!



-Noite linda de lua cheia. Até fotografei o céu, e aguardo a visita do Nicodemos para fazer a edição.
-Amanhã, mais uma pequena viagem... Minha energia cigana voltou!
-Hoje recebi a visita do Emerson e do Ulisses Germano. Visitei Dona Almina; li com prazer todas as postagens do dia.
-Fomos convidados (No Azul Sonhado) a participar da Mostra SESC Cariri de Cultura.
Agendada a nossa participação para o próximo dia 13, às 19 h. A programação ficará a cargo do Prof. Ulisses Germano com música e performances poéticas.
O convite muito nos honra!
-O Cariri terá o prazer de receber a fabulosa cantora Elsa Soares. Atração imperdível!

Fiquem ligados!
Por hoje, tudo de bom!


Próteses

Cacildo entrou no Bar com aquela cara de “Inhá, comeram meu cuscuz!”. Os amigos perceberam, facilmente, que o homem andava ruim da piraca. Nos últimos tempos, invariavelmente, tinha sido assim: assuntava mais , dava palpite de menos. Os colegas de balcão haviam notado claramente a mudança de humor. No fim do expediente reuniam-se ali no barzinho para remoer as últimas novidades e contar as vantagens que , tirante uma ou outra mentira, saltavam mais do pretérito que do presente. É que a turminha já quebrara a barreira do som dos sessenta e as histórias eram cada vez mais reprises . O diabo é que Cacildo até varara bem as idades de rombo : 40, 50, 60. Aparentemente não tivera crises maiores e sempre pareceu conformado com a ferrugem inexorável do tempo : algumas coisas endurecendo, outras amolecendo e , pior: sem ninguém ter o privilégio de escolher quais deveriam ter uma ou outra consistência.

Que sovela perfurava, então, o juízo de Cacildo ? Como protético sempre levara uma vida tranqüila. Varava os dias em meio a bridges e pererecas : clientes não lhe faltavam. Não enricara, mas aprendera a viver dentro do orçamento, sem maiores atropelos. Não tivera filhos e, assim, não diminuíra os dias tentando domar o indomável. D. Celidônia, a esposa, era um doce de pessoa. Não o atanazava, não colava no pé de Cacildo feito Araldite . Kardecista de carteirinha, aceitava todos os defeitos do marido de bom grado. Na outra encarnação – dizia ela -- havia sido sogra dele e , agora, precisava ,sim, seguir seu karma. Ademais, Celidônia não tinha muito do que se queixar. O marido era o protótipo dos esposos dos Anos Dourados : sistemático, quadrado como um dado, palavra sua talhava no granito. Não tinha vícios maiores, apenas era chegado a um namorico fortuito, à porta de um cabaré : coisa que na sua geração era perfeitamente perdoável. Esposa era para ter menino: fornicar com a mãe dos próprios filhos era coisa de tarado. Os companheiros de tantos anos, assim, não conseguiam encontrar um nexo causal entre o cotidiano e o ensimesmamento repentino do nosso protético.

Passados uns seis meses, os colegas de Bar, que até então tinham agido como se nada acontecesse, começaram a se preocupar. Resolveram, então, fazer o “cerca Lourenço”. Arrodiaram a fera , com cuidado : como quem toma chegada prá matar passarinho. Esperaram o momento certo para o ataque final e, num sábado, após a sexta dose de uísque de Cacildo, finalmente chegaram no corrupio. Arrocharam pouco a pouco a prensa, até que o amigo soltou a frase introdutória do desabafo :

---Esse mundo tá virado de cabeça para baixo ! Tá tudo às avessas ! E eu que pensava que fazia próteses ! Não existe nada mais natural nesse mundão, só prótese prá tudo quanto é lado !

Puxaram dali, esticaram dacolá e depois do mote, finalmente Cacildo soltou a glosa. Há uns dois anos começara um namoro com uma mocinha. Ela fora lá na oficina encomendar uma chapa para a mãe. Tinha uns vinte e poucos anos. Conversa vai, conversa vem, prova daqui, prova dali, terminaram com um romance. O cavalo velho lambuzava-se no capim novo e criara alma nova. A auto-estima subiu como foguete em dia de renovação. Ainda era um garanhão, debaixo daquelas cinzas ainda existiam brasas que se sopradas davam labaredas vultosas -- pensou Cacildo, entre dentes . Passados os dias , Minervina – assim se chamava a menina --- queixou-se das condições em que vivia e insinuou uma ajudazinha. Cacildo prontificou-se a mantê-la. Uma vezinha, só ? Aquilo não custava nadinha. Mas o eventual transforma-se em permanente, com os meses, o subsídio terminou por ficar regularíssimo.

pelo segundo mês de enrabichamento, Minervina lhe sussurrou uma confidência: tinha um namorado já há uns dois anos e o namoro era sério. Cacildo , no início, ficou meio chateado com a novidade. Depois, no entanto, bateu-lhe aquele orgulho besta :

--- Ora bolas, sou eu que estou botando galha nele, né ? Ele que se vire e agüente as pontas !

Pois bem, depois da revelação, uns dois ou três meses passados, Minervina esperou o momento pós-êxtase e lhe soprou na cama redonda do motel: O noivo dela tinha marcado o casamento para a próxima semana. Cacildo ficou meio desapontado. Mas que jeito? Avisou, então, a Minervina que aquele tempo que haviam passado junto tinha sido muito legal, mas agora estava no momento de pôr um ponto final em tudo: casamento é coisa séria, Miné! Ela pareceu também meio perdida, mas terminou por concordar. Era melhor assim ! Cacildo passou os dias seguintes com aquele sentimento dúbio : meio-alívio-meio-saudade.

Transcorridos uns quinze dias da data marcada para o enlace, Cacildo estava fechando a oficina, no fim do dia, quando chegou um rapazinho e disse que precisava falar com ele. O protético imaginou fosse alguma encomenda de última hora. Reabriu a porta, já parcialmente fechada, e sentaram-se . Logo no início da conversa, Cacildo empalideceu. Pelo andar do lero-lero, compreendeu : Era o marido de Minervina ! Concluiu que tivesse descoberto a antiga sociedade e vindo para o ajuste de contas. O rapaz, no entanto, calmo explicitou um outro e inimaginável problema:

--- Meu nome é Renildo . O senhor namorava com minha atual esposa, não era? Eu sabia de tudo e até curtia! O bom é que o senhor ajudava com uma graninha. Todo final de semana , a gente podia sair e curtir: um forrózinho, uma lapadas . Depois do casamento , o senhor acabou tudo e agora, seu Cacildo, tá uma barra! Eu queria ver se o senhor volta, acaba com essa besteira e continua tudo do jeito que tava !

Passada a surpresa, o protético recobrou o fôlego e o sangue na cara e concordou. Mantiveram o ménage a trois por uns três anos. Um belo dia, final de expediente, entrou uma mulher estranha na loja. Ombros largos de nadadora, andar de lutador de MMC, boné na cabeça. Com voz de barítono foi direto ao assunto. Minervina havia se separado do marido e agora estava vivendo com ela. Estava indo ali para dizer que ficasse na dele, não precisa mais de ajuda, Minervina agora estava sob nova administração e ameaçou:

--- Se se meter com ela, venho aqui e quebro seus dentes, entendeu ?Ou não me chamo Irismar ! Você é que vai precisar de chapa, seu merda...

Cacildo , passado o susto, respirou fundo . Que jeito? É dançar conforme a dança! --- pensou ele com suas pontes ! Passaram-se uns dois anos sem que tivesse surgido notícias do novo casal. Semana passada, encontrou com Minervina na rua. Estava mais velha e mais bofona .Disse, com voz grave, que a vida estava um inferno, que tinha acabado o casamento com Irismar, por conta de ciúmes e pediu, em lágrimas, uma ajuda do ex-amante. Estava tentando refazer a vida, mas a coisa estava difícil. Acredite:

-- Estou inclinada a voltar para o Renildo, está novamente rolando um clima. A questão, Cacildo , é que ele só me aceita com uma condição : seu eu fizer a cirurgia para mudança de sexo. O senhor me ajuda a pagar? Por minha felicidade? Pelos velhos tempos?

O protético, sem entender o rumo da conversa, interroga:

--- Mudança de sexo ? Mas você é mulher Minervina! Teve uns lances aí com aquela sapatão, mas é mulher !

Minervina, então, esclareceu tudo, trazendo Cacildo para os novos e confusos tempos -- mais próteses, menos de realidade:

--- Sou, Cacildo, mas aí é que tá o problema! Renildo agora é gay ! Assumiu !


J. Flávio Vieira

Quatro coisas que você deve saber. José do Vale Pinheiro Feitosa

A queda do Ministro Lupi. Independente de bons feitos ou maus feitos, o Ministro Lupi está se aproveitando da alegria da mídia em fuzilar um ministro a cada quinze dias. Quando Orlando Silva saiu, aqui nos blogs da região, leitores de blogs da revista Veja, do Estadão, Folha e Globo já tinham toda a relação de ministros que a mídia derrubaria. O próximo, com jactância de uma estratégia de oposição que estava dando certo, seria o Lupi. É nisso que o Ministro Lupi confia. Neste fuzilamento e na comemoração da mídia. Se o governo cede a mais esta, como é que fica? A mídia passa a governar o Estado?

A ocupação militar da USP. Considerando que tudo o mais são firulas para dar circo à solidão dos computadores em rede, a ocupação militar da USP é na essência a negação da Universidade. Assim como uma companhia aérea que não consegue embarcar passageiros, os aviões não saem do solo e se saírem serão uma ameaça. A universidade é para pensar a sociedade e apresentar-lhe solução por duas vias: preparando gente e estudando os seus problemas para criar respostas. A USP não sabe, por uma versão, oferecer segurança ao seu próprio Campus, não sabe imaginar como tratar o fato de uns jovens fumarem um baseado e menos ainda como resolver o imbróglio de uma força armada de ocupação. A USP não funciona como universidade nem para os problemas básicos que vivemos hoje.

Israel ameaça o Irã. Gostam de falar num provérbio, que dão conta de ser chinês, que os momentos de crise seriam momentos de criação. Perguntem a opinião de um grego desempregado, de um espanhol perdendo o auxílio desemprego, de um italiano sem saída ou de um português que sofrerá o ano que vem a maior depressão da Europa? Crise é antes de tudo destruição. É balela que sempre cria o novo. A não ser o novo que seja sucessão apenas do velho. E por isso nas crises a cadeia da insanidade sempre começa num desesperado, instável no mundo em crise, mas muito bem armado. Com armas atômicas Israel pode estar blefando ao anunciar desejos de atacar o Irã, mas é um sério momento com os quais grandes catástrofes de guerras amplas começam.

Finalmente o assunto foi à inanição. Era simples: protestos, explicações e a conciliação. Não foi isso que aconteceu: parecia um assalto ao palácio de inverno do Czar. A guarda palaciana atirava para todos os lados, renovava a munição a cada jornada e enlouquecia quando não via tantas vítimas. Comportamentos com dificuldades de explicar-se e conciliar-se se tornaram uma cruzada ideológica que vem desde a Idade Média, passou pelo Nazi-fascismo, incendiou alguns espíritos revolucionários que jogavam com o infantilismo esquerdista. Não é incomum que os atores mais exaltados desta corrente sejam alimentados por pessoas de “boa fé” que diariamente jogam pedras no quintal dos outros, que têm uma ira de fogareiro e verdades tão duras que só lhes resta quebrarem cabeças ou espatifarem-se nos entrechoques.

Na Rádio Azul


Cariri terá etapa do Seminário Artefatos da Cultura Negra no Ceará



As Inscrições serão realizadas no dia do evento.
O II Seminário Artefatos da Cultura Negra no Ceará – Etapa Cariri acontecerá no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri – URCA, no dia 18 de novembro de 2011, nos períodos da manhã, tarde e noite. O evento pretende reunir educadores, estudantes, pesquisadores e ativistas dos movimentos sociais para aprofundar e debater sobre a necessidade do redimensionamento das práticas pedagógicas com vistas à inclusão nos currículos escolares de conteúdos que digam respeito à história e cultura negra cearense e oportunize um repensar sobre o papel da universidade na formação de agentes capazes de construir uma sociedade comprometida com a emancipação humana. Na ocasião, terão duas palestras com o tema “Religiosidade de Matriz Africana e Educação” e a exibição de um documentário produzido pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC e pela Cáritas Diocesana do Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e/ou Quilombolas do Cariri cearense.

O evento é uma realização do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Regional do Cariri – URCA, Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho – IEC, Projeto No Terreiro dos Brincantes, SINDURCA, Nucleo de Estudos em Trabalho e Educação – NETED, Grupo de Valorização Negra no Cariri – GRUNEC.

Mais informações no blog: http://artefatosdaculturanegranoceara.blogspot.com/

Don't Let It Die (Hurricane Smith)

Igreja e poder: “totatus dictatus papa” (Leonardo Boff)

Todo poder é autoritário, seja nazista ou fascista, porquanto altamente negador da ternura, da sexualidade, da intimidade. E NA IGREJA HÁ ISSO; ENTÃO É UM PODER ALTAMENTE AUTORITÁRIO. NO “CÂNON” QUE FALA DOS PODERES DO PAPA ELE É ABSOLUTO, ILIMITADO, UNIVERSAL, SOBRE CADA CRISTÃO, SOBRE TODA A IGREJA E... INFALÍVEL. SE VOCÊ RISCA “PAPA” E BOTA “DEUS”, VALE. ELE ATRIBUI A SI CARACTERÍSTICAS DIVINAS. Então, é um poder que em teologia se chama “totatus dictatus papa”, expressão latina que se criou no século XIV: literalmente traduzido, "a ditadura do papa".
Então, É ESSA A PERSPECTIVA DE UM PODER ALTAMENTE CENTRALIZADO, PIRAMIDAL E TOTALITÁRIO, QUE ENGLOBA TUDO, NÃO CONVIVE COM A FRAGILIDADE DO AMOR, DA SEXUALIDADE. A essa estrutura pertence o celibato e também o poder mais imediato: você não tem partilha, não tem herança, não tem de se preocupar com a educação dos filhos ou onde a mulher vai ficar, nada. Você se torna um soldado totalmente disponível à instituição.
Quanto à figura de Ratzinger, seja como mestre, como prefeito da congregação ou como Papa, eu diria que não há mudança substancial. Ele sempre manteve uma linha teológica de fundo inalterável, isto é, o projeto de construir a Igreja para dentro, reforçar as instituições eclesiásticas e a autoridade do Papa, revalidar o direito canônico, sublinhar uma leitura dogmática da fé cristã. Eu diria que em alguns destes aspectos ele, inclusive, radicalizou no sentido de que a fala de um Papa é muito mais poderosa do que a fala de um prefeito de uma congregação, porque este tem como objeto as doutrinas, enquanto o Papa tem como destinatário toda a Igreja.
NA MEDIDA EM QUE ESSE PAPA INSISTE ENORMEMENTE QUE IGREJA MESMO É SÓ A CATÓLICA E CONTINUA REPETINDO QUE AS DEMAIS IGREJAS NÃO SÃO IGREJAS E QUE AS DEMAIS RELIGIÕES NECESSITAM DE SALVAÇÃO, ELE TOMA PARA SI UM FUNDAMENTALISMO LIGHT. Por que fundamentalismo? Porque acentua de tal maneira a própria doutrina que exclui as demais e isso não parece ser a perspectiva do cristianismo originário, nem a perspectiva bíblica.

Texto: Leonardo Boff
Grifos: jnms (postador)

Arthur Rimbaud



Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (20 de outubro de 1854, Charleville - 10 de novembro de 1891, Marselha) foi um poeta francês.

Na maioria das vezes, a história de Rimbaud é apresentada como principal ponto de partida para a leitura de sua obra, o que torna quase impossível olhar a obra de Rimbaud com olhos livres.



Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.



tradução de Claudio Daniel.

O Ofgício de Everardo Norões - por Ronaldo Correia de Brito


Ronaldo Correia de Brito
Do Recife (PE)

Pensamos nos poetas como andarilhos solitários em busca da emoção criadora. O romantismo contribuiu para reforçar o imaginário em torno desses exilados sempre à volta com frustrações amorosas, doenças, pobreza e falta de leitores. Manuel Bandeira, que lutou toda vida contra a tuberculose, se queixa do 'mal romântico', como foi chamada a tísica pelos poetas, numa crônica de julho de 1929.

"Na verdade em seus primeiros tempos a doença pode dar aos infelizes uma certa cor e uma certa sensibilidade romântica. Mas é um momento fugaz. O que vem depois é do mais duro e repulsivo realismo. É preciso amor, coragem ou bondade profunda para fraternizar até o contato físico com um tuberculoso em plena miséria orgânica" - escreveu.

Não existe nenhum glamour em adoecer e morrer, mesmo com auréola de artista. Se ainda fosse vivo, Bandeira escreveria sobre uma outra doença que se transformou em metáfora do nosso tempo: a Aids.

Quando lemos o poema de Carlos Drummond sobre a visita que fez Mário de Andrade a Alfonso de Guimarães, um simbolista entre as serras de Mariana, na distante Minas Gerais, sentimos que o jovem e inquieto Mário não fez mais que fraternizar-se com um velho místico, solitário e esquecido.

A chegada do visitante à casa do poeta desencantado, que escreve poesia e esconde nas gavetas, é como uma luz entrando pelas portas e janelas, mesmo que fugazmente, para logo ir embora. A presença que revira papéis sem aparente significado, que lê em voz alta, que exclama e se encanta é semelhante à do anjo da morte, um personagem bem conhecido dos médicos, pois o anjo visitador costuma trazer um último alento aos enfermos, uma esperança antes que eles morram de vez.

Viver de poesia é inconcebível como sobrevivência real ou simbólica. Nem João Cabral, nem Carlos Drummond, nem Manuel Bandeira, nem Jorge de Lima, nem Murilo Mendes, nem Joaquim Cardozo viveram apenas de poesia. Talvez tenham sobrevivido apenas por serem poetas. Manoel de Barros escreve e cria rebanhos de gado. Vinicius de Moraes era pago por ser diplomata. E Cora Coralina, lá no Goiás Velho, entre os muitos ofícios da vida também decidiu ser poeta.

Dizem que na velha China, na dinastia Thang, de 618 a 907 d.C., cada homem era um poeta. E de fato, só os nomes mais famosos chegam a 2300, um número inconcebível para a nossa cultura ocidental. Será mesmo inconcebível? Quantos poetas se escondem pelos gerais do Brasil, por norte de rios, nordeste seco, centro oeste, pampa sul e sudeste populoso? Quantos? Impossível avaliar.

Há poucos dias citei um poeta cearense que já morou na Europa, na África e há bastante tempo reside em Recife. Disse que o achava um dos melhores poetas brasileiros. Imediatamente alguém me perguntou quem eram os poetas contemporâneos que eu conhecia, para fazer tal afirmativa. E citou-me nomes de todas as latitudes, gente que faz poesia por ofício de viver, enquanto labuta noutros ofícios como sempre foi, desde a antigüidade, desde a Grécia onde Sócrates além de pensador era pedreiro.

Corrijo-me. Everardo Norões é um dos melhores poetas que conheço, entre os milhares de poetas brasileiros que apenas imagino. É dele o poema que transcrevo abaixo, do seu mais novo livro publicado pela editora 7 Letras: Retábulo de Jerônimo Bosch.

Desplagiato
(Everardo Norões)

a minha voz de tantos
também tua,
soma de tantos
como agora
rio que resvala
em labirinto
destino solitário de um navio
voz de muito além
de finisterra,
soluço vegetal
pedra marinha
a minha voz
de todos
também minha

Ronaldo Correia de Brito

Adhemar Casé - por Norma Hauer


ADHEMAR CASÉ
Foi em Pernambuco que ele nasceu no dia 9 de novembro de 1902.
Já com 17 anos alistou-se no Exército e veio para o Rio de Janeiro, ficando lotado na Vila Militar. Deu azar. Embora não nascesse para ser soldado e muito menos revolucionário, foi preso em 1922, porque seu batalhão lutou contra a posse de Arthur Bernardes na Presidência da República.
Foi mandado,preso, para São Paulo e não viu "nascer" aquilo que seria sua vida :o rádio, cuja primeira experiência deu-se em 7 de setembro de 1922.

Vários empregos ele tentou depois que deixou a caserna, mas nada dava certo. Regressou a Pernambuco, mas também ali não conseguiu se manter, pois não encontrara, ainda, seu destino.

Seu destino era o Rio de Janeiro, onde, involuntariamente, até 171 ele foi, por trabalhar em uma firma farjuta, que vendia lotes de terrenos inexistentes.

O emprego que lhe abriu as portas foi o de agenciador de anúncios das revistas então na moda:"Careta";" Revista da Semana";"O Malho";"A Cena Muda"...

O rádio, apesar de "nascido" oficialmente em 23 de abril de 1923, durante os anos 20 pouco se desenvolveu. No início dos 30 a fábrica holandesa Philips, acreditando na possível força do veículo, passou a vender rádios importados, de sua marca.

E foi aí que Casé se deu bem.
Com sua experiência como agenciador de anúncios, passou a vender rádios, "bolando" uma idéia genial. Era um tempo em que só os mais abastados possuíam telefone.

Que fez Ademar Casé?

Selecionava possíveis clientes nas listas telefônicas e, com seus endereços, esperava o dono da casa sair. Certo que seria recebido com sua novidade, mostrava um
aparelho para a dona da casa dizendo que seu marido estava interessado nesse
aparelho. Deixava-o com a "madame", como experiência; sintonizava-o na Rádio
Sociedade, que tinha os programas mais variados, e dizia que voltaria depois de uma semana para reaver o aparelho.

Logicamente, a "madame", adorando a novidade, insistia com o marido para que
adquirisse aquele aparelho "misterioso".

Eram outros tempos. Hoje ninguém abriria as portas de suas casas para um desconhecido.

Mas foi dessa forma que Ademar Casé vendeu tantos aparelhos que o representante da Philips no Brasil quis conhecê-lo.

Já nessa época, a empresa holandesa criou a Rádio Philips, para divulgar seus produtos. Mas uma vez Ademar Casé "bolou" algo espetacular. Alugaria um horário na emissora para apresentar um programa variado.

Foi aceito e, no dia 14 de fevereiro de 1932, por sinal domingo de carnaval, entrou no ar o PROGRAMA CASÉ.
Foi um sucesso! Algo diferente fora lançado naquele tempo em que tudo era monótono porque o rádio seguia o "mote" de Roquette Pinto:"para a cultura dos que vivem em nossa pátria, pelo progresso do Brasil".

Nessa época já existia na Rádio Mayrink Veiga o "Esplêndido Programa", bastante movimentado , mas Casé fez algo diferente, apesar de não entender de rádio. Como colaboradores teve um cantor de nome Sílvio Salema, que conhecia Almirante (Henrique Foreis) que se tornaria "a maior patente do rádio".
Ambos levaram para o PROGRAMA CASÉ idéias novas e pessoas que já labutavam no "metiê".

O PROGRAMA CASÉ foi a porta aberta para o rádio moderno.

Na época não eram permitidos anúncios no rádio e este tinha de ser "educativo". Casé então dividiu seu primeiro programa em duas partes: a primeira popular e a segunda clássica. Durante a primeira, o telefone da emissora não parou de tocar: era o público pequeno, mas desejoso de novidades que dava sua opinião a respeito do novo programa. Na segunda parte (a clássica) os telefones emudeceram.

No segundo programa, no domingo seguinte, fortuitamente, ele eliminou a parte clássica com novos "quadrinhos", o que deixou os ouvintes entusiasmados e assim prosseguiu, mas precisava de dinheiro para manter no ar, todos os domingos, um
programa desse teor .

Que fez Casé? Um vencedor não poderia "deixar a peteca cair".

E não deixou! Mais uma idéia veio à cabeça de Casé.

Casé, já então casado, entrou com sua esposa em uma padaria na Rua Voluntários da Pátria e ela adorou o pãozinho vendido ali. Casé, "com a cara e a coragem" imaginou fazer propaganda daquele pão e propôs ao dono da padaria um acordo: faria um anúncio da padaria; se ele gostasse, pagaria, caso contrário não.

É aí que o compositor Antonio Nássara entra no assunto. Casé pediu a Nássara que "bolasse" uma propaganda para tal padaria. Involuntariamente, Nássara compôs o primeiro "jingle" apresentado no rádio.

Era assim:

Oh, padeiro desta rua,
Tenha sempre na lembrança,
Não me traga outro pão,
Que não seja o Pão Bragança"

Foi gravado pelo cantor Jorge Fernandes.

O dono da padaria adorou e Casé faturou algum para dar prosseguimento ao seu já vitorioso programa.

E , como já eram permitidos os anúncios no rádio, chegou a fase de O DRAGÃO, uma loja de artigos domésticos, que existia na Rua Larga .

Muitos foram os "jingles" feitos para o "Dragão". Assim:

Este de Noel Rosa:

No dia que fores minha,
Juro por Deus, coração.
Te darei uma cozinha,
Que vi ali no Dragão.

Este de Marília Batista:

Morros do Pinto e Favela,
São musas do violão.
Louça, cristal e panela,
Só se compra no Dragão.

O Dragão era chamado "a Fera da Rua Larga" e sempre os locutores perguntavam: "A Light fica em frente ao Dragão ou o Dragão fica em frente à Light"?

O PROGRAMA CASÉ foi transmitido por várias emissoras mas seu apogeu foi na Rádio Mayrink Veiga, onde ficou de 1938 a 1948.

Aos domingos todos os rádios ficavam ligados no Programa Casé. Foram ali lançados peças teatrais, pequenos esquetes, teatro de mistérios, quase todos os cantores daquela época, enfim, antes de a Rádio Nacional dominar o meio radiofõnico, o Programa Casé, na Mayrink Veiga era o de maior audiência no rádio.


Com o advento da televisão (em 1950) o rádio começou a perder sua força e, em 1951, Ademar Casé o deixou e foi apresentar seu programa na TV Tupi, com outros nomes, como: "Convite à Música", "Show Cássio Muniz", "Show Regina" e "Tele Semana."

Seu último programa foi na TV Rio, onde lançou, com grande orquestra o "Noite de Gala", já em companhia de seu filho Geraldo Casé.

Depois de tantos anos de luta, Ademar Casé abandonou a TV em 1960 e voltou a trabalhar em publicidade, agora com seu filho Maurício.

ADEMAR CASÉ faleceu em 7 de abril de 1993, aos 89 anos, mas deixou "frutos" no meio artístico.

Seu filho Paulo Casé é arquiteto; seu outro filho, Geraldo trabalhava na TV; seu neto Rafael escreveu um livro com o título "Programa Casé-o Rádio Começou Aqui" e sua neta REGINA CASÉ é aquela maravilhosa artista que todos conhecemos.


Norma

Tem dias que a gente se sente ...- Por Rosa Guerrera


Tem dias em que a gente acorda com uma vontade enorme de ser qualquer coisa que não seja nós mesmos.
Ser árvore, mar, vento , firmamento,folha caída, chuva fininha, pedra, lago manso , poça d’ água , raio de sol , um contexto até pueril de pensamentos dispersos sem forma e sem direção.
É como se todas as paisagens fossem iguais , todos os gestos repetidos ,todos os livros lidos e todas as estradas já percorridas.
E nesse desfile imaginário , sentamos lado a lado com a saudade , única participante muda de um quadro empoeirado pendurado numa das paredes do nosso coração.

E a infância hoje tão distante parece nos convidar a brincar de ciranda cirandinha ,construir e arrumar casinhas de bonecas, assistir filmes do gordo e o magro , tanta coisa linda que o tempo não conseguiu destruir .
E assim , colhendo a poeira dos anos ,nos deliciamos depois sentindo o sabor das primeiras carícias , do primeiro beijo, e das ingênuas promessas de amor .
Tantos fatos marcantes , tantos encontros inesquecíveis tivemos nas nossas vidas , que as vezes sentimos mesmo necessidade de fugirmos dos dias atuais , e deitar nas asas coloridas das lembranças .
É dessa maneira que me sinto hoje !
Vontade de ser resistente como as árvores , profunda e misteriosa como o mar , não palpável como o vento , ter no coração o azul do firmamento, percorrer praças, ruas , vales ou montes como uma folha caída, acariciar como uma chuva fininha os cabelos de quem amo, e observando o meu rosto numa poça d’água, compreender que ainda existe no mundo em algum recanto , em algum gesto , e em cada pessoa raios de sol repletos de esperanças . .
Enfim ,essa é exatamente a foto que o espelho da alma retratou dos meus sentimentos tão logo o dia amanheceu , e uma nova jornada se abriu para mim.

rosa guerrera

Dobrei a esquina
Arrodeei o quarteirão
Revisitei-me
Senti falta do mundo
Senti falta do meu reduto
De tudo que se avizinha
Voto na paz da solidão
E aconchego do amigo.

(socorro moreira)