por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Adhemar Casé - por Norma Hauer


ADHEMAR CASÉ
Foi em Pernambuco que ele nasceu no dia 9 de novembro de 1902.
Já com 17 anos alistou-se no Exército e veio para o Rio de Janeiro, ficando lotado na Vila Militar. Deu azar. Embora não nascesse para ser soldado e muito menos revolucionário, foi preso em 1922, porque seu batalhão lutou contra a posse de Arthur Bernardes na Presidência da República.
Foi mandado,preso, para São Paulo e não viu "nascer" aquilo que seria sua vida :o rádio, cuja primeira experiência deu-se em 7 de setembro de 1922.

Vários empregos ele tentou depois que deixou a caserna, mas nada dava certo. Regressou a Pernambuco, mas também ali não conseguiu se manter, pois não encontrara, ainda, seu destino.

Seu destino era o Rio de Janeiro, onde, involuntariamente, até 171 ele foi, por trabalhar em uma firma farjuta, que vendia lotes de terrenos inexistentes.

O emprego que lhe abriu as portas foi o de agenciador de anúncios das revistas então na moda:"Careta";" Revista da Semana";"O Malho";"A Cena Muda"...

O rádio, apesar de "nascido" oficialmente em 23 de abril de 1923, durante os anos 20 pouco se desenvolveu. No início dos 30 a fábrica holandesa Philips, acreditando na possível força do veículo, passou a vender rádios importados, de sua marca.

E foi aí que Casé se deu bem.
Com sua experiência como agenciador de anúncios, passou a vender rádios, "bolando" uma idéia genial. Era um tempo em que só os mais abastados possuíam telefone.

Que fez Ademar Casé?

Selecionava possíveis clientes nas listas telefônicas e, com seus endereços, esperava o dono da casa sair. Certo que seria recebido com sua novidade, mostrava um
aparelho para a dona da casa dizendo que seu marido estava interessado nesse
aparelho. Deixava-o com a "madame", como experiência; sintonizava-o na Rádio
Sociedade, que tinha os programas mais variados, e dizia que voltaria depois de uma semana para reaver o aparelho.

Logicamente, a "madame", adorando a novidade, insistia com o marido para que
adquirisse aquele aparelho "misterioso".

Eram outros tempos. Hoje ninguém abriria as portas de suas casas para um desconhecido.

Mas foi dessa forma que Ademar Casé vendeu tantos aparelhos que o representante da Philips no Brasil quis conhecê-lo.

Já nessa época, a empresa holandesa criou a Rádio Philips, para divulgar seus produtos. Mas uma vez Ademar Casé "bolou" algo espetacular. Alugaria um horário na emissora para apresentar um programa variado.

Foi aceito e, no dia 14 de fevereiro de 1932, por sinal domingo de carnaval, entrou no ar o PROGRAMA CASÉ.
Foi um sucesso! Algo diferente fora lançado naquele tempo em que tudo era monótono porque o rádio seguia o "mote" de Roquette Pinto:"para a cultura dos que vivem em nossa pátria, pelo progresso do Brasil".

Nessa época já existia na Rádio Mayrink Veiga o "Esplêndido Programa", bastante movimentado , mas Casé fez algo diferente, apesar de não entender de rádio. Como colaboradores teve um cantor de nome Sílvio Salema, que conhecia Almirante (Henrique Foreis) que se tornaria "a maior patente do rádio".
Ambos levaram para o PROGRAMA CASÉ idéias novas e pessoas que já labutavam no "metiê".

O PROGRAMA CASÉ foi a porta aberta para o rádio moderno.

Na época não eram permitidos anúncios no rádio e este tinha de ser "educativo". Casé então dividiu seu primeiro programa em duas partes: a primeira popular e a segunda clássica. Durante a primeira, o telefone da emissora não parou de tocar: era o público pequeno, mas desejoso de novidades que dava sua opinião a respeito do novo programa. Na segunda parte (a clássica) os telefones emudeceram.

No segundo programa, no domingo seguinte, fortuitamente, ele eliminou a parte clássica com novos "quadrinhos", o que deixou os ouvintes entusiasmados e assim prosseguiu, mas precisava de dinheiro para manter no ar, todos os domingos, um
programa desse teor .

Que fez Casé? Um vencedor não poderia "deixar a peteca cair".

E não deixou! Mais uma idéia veio à cabeça de Casé.

Casé, já então casado, entrou com sua esposa em uma padaria na Rua Voluntários da Pátria e ela adorou o pãozinho vendido ali. Casé, "com a cara e a coragem" imaginou fazer propaganda daquele pão e propôs ao dono da padaria um acordo: faria um anúncio da padaria; se ele gostasse, pagaria, caso contrário não.

É aí que o compositor Antonio Nássara entra no assunto. Casé pediu a Nássara que "bolasse" uma propaganda para tal padaria. Involuntariamente, Nássara compôs o primeiro "jingle" apresentado no rádio.

Era assim:

Oh, padeiro desta rua,
Tenha sempre na lembrança,
Não me traga outro pão,
Que não seja o Pão Bragança"

Foi gravado pelo cantor Jorge Fernandes.

O dono da padaria adorou e Casé faturou algum para dar prosseguimento ao seu já vitorioso programa.

E , como já eram permitidos os anúncios no rádio, chegou a fase de O DRAGÃO, uma loja de artigos domésticos, que existia na Rua Larga .

Muitos foram os "jingles" feitos para o "Dragão". Assim:

Este de Noel Rosa:

No dia que fores minha,
Juro por Deus, coração.
Te darei uma cozinha,
Que vi ali no Dragão.

Este de Marília Batista:

Morros do Pinto e Favela,
São musas do violão.
Louça, cristal e panela,
Só se compra no Dragão.

O Dragão era chamado "a Fera da Rua Larga" e sempre os locutores perguntavam: "A Light fica em frente ao Dragão ou o Dragão fica em frente à Light"?

O PROGRAMA CASÉ foi transmitido por várias emissoras mas seu apogeu foi na Rádio Mayrink Veiga, onde ficou de 1938 a 1948.

Aos domingos todos os rádios ficavam ligados no Programa Casé. Foram ali lançados peças teatrais, pequenos esquetes, teatro de mistérios, quase todos os cantores daquela época, enfim, antes de a Rádio Nacional dominar o meio radiofõnico, o Programa Casé, na Mayrink Veiga era o de maior audiência no rádio.


Com o advento da televisão (em 1950) o rádio começou a perder sua força e, em 1951, Ademar Casé o deixou e foi apresentar seu programa na TV Tupi, com outros nomes, como: "Convite à Música", "Show Cássio Muniz", "Show Regina" e "Tele Semana."

Seu último programa foi na TV Rio, onde lançou, com grande orquestra o "Noite de Gala", já em companhia de seu filho Geraldo Casé.

Depois de tantos anos de luta, Ademar Casé abandonou a TV em 1960 e voltou a trabalhar em publicidade, agora com seu filho Maurício.

ADEMAR CASÉ faleceu em 7 de abril de 1993, aos 89 anos, mas deixou "frutos" no meio artístico.

Seu filho Paulo Casé é arquiteto; seu outro filho, Geraldo trabalhava na TV; seu neto Rafael escreveu um livro com o título "Programa Casé-o Rádio Começou Aqui" e sua neta REGINA CASÉ é aquela maravilhosa artista que todos conhecemos.


Norma

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