por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Uma paisagem banal - por Rejane Gonçalves



Trata-se de um quadro de dimensão singular pendurado no topo do mundo. Nele há uma profusão de imagens, de coisas que se sobrepõem umas às outras, de cores em constante luta com seus tons contrários. É como se o tempo tivesse borrado a tinta; tudo acontece em meio a pesadas brumas. Percebe-se, mesmo assim, a tela cortada ao centro por uma cerca não muito alta, de troncos retorcidos, feito braços dispostos em tranças a ornamentar uma cabeça de fartos cabelos. Do lado onde, dizem alguns, a paisagem parece mais nítida, está um cavaleiro montado em seu cavalo bravio. Segura fortemente as rédeas e todo o seu corpo empenha-se no sentido de impedir o animal de pular a cerca. Do outro lado desta, onde, dizem alguns, a paisagem é confusa e pródiga em abismos, acaba de pisar o chão um cavalo, trazendo montado em seu dorso um cavaleiro bravio. Seu corpo quase deitado sobre o animal e suas mãos, por onde escorrem as rédeas, parecem indicar não ter ele conseguido ser do outro cavaleiro uma parelha, pois que ultrapassou a cerca.
Os viandantes com gestos disformes passam ao largo. Todos, com raríssimas exceções, evitam uma observação demorada desse quadro de dimensão singular. É sabido que uma maior apreensão da paisagem transporta o rosto do incauto observador às alturas, sobrepondo-o ao rosto de um dos cavaleiros. Essa esquisita peculiaridade do quadro é na maioria das vezes incômoda e talvez fatal. Por isto é que os viandantes passam ao largo. Tapam os olhos dos filhos e repetem em ladainha o que há muito tempo ouviram com a força de um massacre de mil martelos zunindo em suas cabeças:
− Desses dois homens montados... de um diz-se que é louco, do outro diz-se que é são.

setembro/ 1987

Rejane Gonçalves

Rejane Gonçalves é contista, nasceu em Caruaru-PE e tem laços familiares cratenses firmados desde os anos 70. Atualmente mora em Recife.

"Curare”- por socorro moreira


Doutor,

o antídoto da dor

é a dor?

Sentimento

despido de sonhos

teimoso, vive!

Sem fotografia na bolsa

Sem telefone no bolso

Te ligo, e me ligo...

Dia e noite...

Noite e dia!

E a rádio Azul

ainda chora...

Quando não é Noel

é Abel...

Um choro pra cada história!

Almas em bando

"A vida é a arte do encontro...”.

A morte, quisera...

Será também?

Medito sobre a natureza humana

E me enxergo, projeto "in extremis”.

Quem sabe,

todos,

em outros planos,

livres da matéria,

possamos dançar

um tango?

O cansaço chega...

De lagartas a borboletas

Almas em bando!...

A voar no infinito

que desconhecemos.

-Viver é testemunhar

a morte dos nossos dias... !



Suspiros

Depois de alguns uivos,

novos suspiros...

E traição existe?

Existe a crudelíssima vida

que interrompe,

o bom da harmonia...

A cura da dor

É um porre maior

que o próprio amor!

socorro moreira

por socorro moreira


Triângulo natural

O mar banhou-me com seu olhar

Nuances de azul e verde

Espumas num delírio contido

Areia batida, salgada de mar

Sereno tempo

Nublada vida

Ares desobstruídos

Vôos inalcançáveis

Compromissos cancelados,

antes de um veredicto.

Meus pés pousam em terras desconhecidas,

mas não se atrevem a trilhar novo caminho

Fixo-me na linha do horizonte,

e na terra eu finco a vida.

Pensamento foge da morte

Brinca no mar...

Busca o céu que habitas.

Guerra fria

alma em agonia

o amor acaba,

o conflito fita

Rugas

marcas,

sinais do tempo

fora das fotos

que foram nuas

Olhar fugitivo

amor esquivo

perdido e esquecido,

na primeira mágoa

no primeiro instante

-Vinho envelhecido ,

me aguarde!

E se eu te pegar , no sentido do além? - Socorro Moreira


E SE EU TE PEGAR, NO SENTIDO DO ALÉM?

E se eu te pegar com os olhos
Trazer-te pra dentro de mim?
Mostro o luminoso e o assombroso
Que a Pandora soltou, e ficou em mim

E se eu te tocar em todas as tuas letras
E com elas compor uma nova sinfonia?
E, na hora “h”, descobrir no “g” do teu “x”,
Que sou o “z” da tua vida?

“Vês”? Meu “cê” é teu...
Eu "te" aprendi, nos "erres" da minha língua!

Célio Silva - A voz cratense , nos anos 50 - Por Socorro Moreira



Uma figura alta, magra, cabelos lisos e pretos, bigodes... Talvez!
A impressão que tenho é que o vi muitas vezes, sempre cantando, nos programas de auditório da Rádio Educadora, nas quermesses de São Vicente, com o repertório de Francisco Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo,Augusto Calheiros, Nelson Gonçalves (notadamente as de Adelino Moreira).Tinha uma voz impressionante, mas bebia bastante, e isso ocasionou sua morte prematura. Era apaixonadíssimo pela esposa. Não lembro o seu nome, apenas que era uma mulher piedosa, filha de Maria.
O Crato dos anos 50 deve lembra-lo bem, muito mais do que as minhas nebulosas lembranças de criança.

Espero que alguém acrescente outras maiores informações...



Malandrinha
Carlos Galhardo
Composição: Freire Júnior

A lua vem surgindo cor de prata
No alto da montanha verdejante
A lira de um cantor em serenata
Reclama na janela a sua amante
Ao som da melodia apaixonada
Das cordas de um sonoro violão
Confessa um seresteiro à sua amada
O que dentro lhe dita o coração


Ó linda imagem de mulher que me seduz
Ah se eu pudesse tu estarias num altar
És a rainha dos meus sonhos, és a luz
És malandrinha não precisas trabalhar

Acorda minha bela namorada
A lua nos convida a passear
Seus raios iluminam toda a estrada
Por onde nós havemos de passar
A rua está deserta, ò vem querida
Ouvir bem junto a mim, o som do pinho
E quando a madrugada, já surgida
Os pombos voltarão para seus ninhos

Ó linda imagem de mulher . . . . . . . .

EDWIN MORGAN


Falar de Edwin Morgan (Glasgow, Escócia, 27 de Abril de 1920 - 19 de Agosto de 2010) remete-me para a ironia da liberdade de sonhar, a ânsia de transpor a fronteira entre realidade e ficção, ainda que a segunda aqui seja vista como densificação da primeira.
Os poemas deste escocês levam-me pois a esse universo onírico, mesmo que camuflado por alguma aparente casualidade – o sonho que se assemelha à realidade, como um meio a fim de a mudar.

A montagem dos cenários onde se desenrola a acção desta poesia é uma marca distintiva e eles mesmos mantêm como que uma postura austera, imóvel (no sentido de se desenrolar no mesmo lugar). Há, eu diria, uma personalidade ligada a eles, e que, curiosamente, nem sempre parece coincidir com o perfil de quem sente, de quem confessa. Este contraste acaba por intensificar o que se expressa, dentro dos temas intemporais (e eu diria, sem reservas, românticos) que o poeta aborda. A partir desses cenários é a memória que tem voz, que recita os exercícios da consciência ou que ilustra e preenche aquilo que se tem diante dos olhos.

Não é uma poética de versos, mas sim de poesia enquanto puzzle e em que todas as linhas, umas não sem as outras, erguem o corpo do poema. Este factor oferece a este uma certa leveza e dá ao leitor a hipótese de escolher o ritmo de leitura.

ONE CIGARETTE

No smoke without you, my fire.
After you left,
your cigarette glowed on in my ashtray
and sent up a long thread of such quiet grey
I smiled to wonder who would believe its signal
of so much love. One cigarette
in the non-smoker's tray.
As the last spire
trembles up, a sudden draught
blows it winding into my face.
Is it smell, is it taste
You are here again, and I am drunk on your tobacco lips.
Out with the light.
Let the smoke lie back in the dark.
Till I hear the very ash
sigh down among the flowers of brass
I'll breathe, and long past midnight, your last kiss.


UM CIGARRO

Não há fumo sem ti, meu fogo.
Depois de teres partido,
O teu cigarro cresceu no meu cinzeiro
E enviou uma linha de uma cinza muito calma.
E sorri a quem iria acreditar no seu sinal
de tanto amor. Um cigarro
no cinzeiro do não-fumador.
Enquanto a última espiral
estremece, uma pequena corrente de ar
sopra o seu caminho no meu rosto.
É cheiro, é gosto?
Tu estás aqui de novo, e eu estou bêbado no teus
lábios de tabaco.
Fora com a luz.
Deixa o fumo esconder-se no escuro.
Até eu ouvir a mesma cinza
Suspirar entre as flores de bronze.
Respirarei, após a meia-noite, o teu último beijo.

Edwin Morgan
(tradução inédita de Pedro Calouste)

Todo feio tem direito a mentir- Por Xico Sá


Todo feio tem direito a mentir
Xico Sá

Todo homem dito feio ou mal-diagramado, como costumo aliviar para o nosso lado, deve ter o direito sagrado à mentira amorosa.
É fácil ser um Marlon Brando (ah, O Último Tango em Paris!), um George Clooney, um Denzel Washington, um Brad Pitt, um Rodrigo Santoro, para ficarmos aqui no mundo macho do cinema que serve de colírio para as moças.
É moleza ser esteticamente arrumadinho. Estas criaturas sim, não carecem da mentira. Se tergiversam, se pisam na bola, se aprontam e saem com mirabolantes enredos – cada história monstra sem pé nem cabeça – é por pura cara de pau, safadeza braba mesmo.
Os feios, todavia, dependem da mentira como um burro precisa de capim. Não falo obrigatoriamente das grandes mentiras, das trapaças épicas, trato do varejão dos pequenos enganos, aquela forma sutil e necessária de editar a vida, arrumar as versões para não ser atropelado pela pessoa amada.
Todo macho feio, e a sentença deveria constar da Declaração Universal dos Direitos do Homem, tem direito à mentira, à lorota boa, como diz a música do rei Gonzagão, bravo cabra de Exu, Pernambuco, que se declarava um mentiroso nato.
É fácil ser um Apolo, uma beleza, tudo bem assentado, pele sem as marcas do tempo e, para completar a perfeição, com o bolso farto de grana. O bolso, aliás, segundo algumas moças mais espertas, é o melhor pedaço da nossa lição de anatomia.
Vai ser feio nessa encarnação, amigo, para sentir que sacrifício medonho. Uma provação a cada esquina, a cada baile, a cada tentativa de sociabilidade ou acasalamento.
Em sendo assim, mentir torna-se mesmo um direito sagrado. Repito: a mentira de varejo, não obrigatoriamente aquela grandiosa da qual falam os Dez Mandamentos e outras tábuas divinas
Coerência e retidão 100% é dever, obrigação mesmo, da cartilha do homem muito bonito. Aí sim, imperdoável possuir todos os predicados e facilidades de um boa vida e ainda assim infringir os códigos morais da boa conduta.
Como é melancólico, como é horrível e triste quando uma mulher flagra um bonitão, um galã salivante de pulhas, tetras, fraudes e mentiras.
E o sinal mais óbvio do mentiroso, você sabe, leitora querida, é o falso juramento. Quando o cara aparece cheio de “eu juro, eu juro”, já viu, né, cometeu algum deslize. Fez alguma merda, para usar termo mais chulo, porém mais apropriado a tais ocasiões.
Além da licença poética para arrumar um pouco as histórias e pisadas na bola, deixo aí, meu caro companheiro de infortúnio estético, mais uma vantagem que me foi soprada, de forma espírita, pelo Sérge Gainsbourg: “A beleza, amigo, é passageira; a feiúra é para todo o sempre, amém”.
Sim, o Gainsbourg é aquele cantor e compositor francês do maior hino de motel de todos os tempos, Je T’aime Moi Non Plus.
& MODINHAS DE FEMEA
Bobos dos homens quando se acham os reis da trapaça e da esperteza. Mentir bem mesmo é arte secular das fêmeas. Até porque elas não gastam à toa o poder da fábula.
Usam apenas em momentos pontuais e certeiros. Elas têm o dom de iludir, como diz a canção. Toda mulher já nasce potencialmente uma Greta Garbo, uma grande atriz.

Impressões de leitura -Busca no Google

As meninas do meu tempo!



Capiba



Lourenço da Fonseca Barbosa, mais conhecido como Capiba (Surubim, 28 de outubro de 1904 — Recife, 31 de dezembro de 1997) foi um músico e compositor brasileiro. Tornou-se o mais conhecido compositor de frevos do Brasil.

Voltei Recife
Capiba
Composição: Luis Bandeira

Voltei, Recife
Foi a saudade
Que me trouxe pelo braço
Quero ver novamente "Vassoura"
Na rua abafando
Tomar umas e outras
E cair no passo

Cadê "Toureiros"?
Cadê "Bola de Ouro"?
As "pás", os "lenhadores"
O "Bloco Batutas de São José"?
Quero sentir
A embriaguez do frevo
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé



Affaire - Dalva de Oliveira e Herivelto Martins




O amor é terrível. O amor é belo
Tragédias tremendas e
briguinhas chifrins
Desdêmona e o mouro Otelo,
Dalva de Oliveira e Herivelto Martins.

( Aparício Torelly -Barão de Itararé)

Poema de Maiakovsky


"Na primeira noite
Eles aproximam-se
E colhem uma Flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.

Na segunda noite,
Já não se escondem:
Pisam as flores
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.

Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada."

Paulo Tapajós por Norma Hauer



ELE PARTIU EM 29 DE DEZEMBRO
Em 20 de outubro de 1913 ele chegou e nos trouxe muita alegria.
Em 29 de dezembro de 1990 ele partiu.

Seu nome PAULO TAPAJÓS.

Com seus irmãos Haroldo e Oswaldo iniciou sua carreira na pioneira Rádio Sociedade, em 1927. Seu irmão Oswaldo logo abandonou o conjunto e Paulo continuou fazendo dupla com Haroldo, quando gravaram a primeira composição de Vinicius de Moraes, então um nome pouco conhecido, embora sobrinho de Melo Moraes, também compositor.
Essa primeira gravação foi o samba "Loura e Morena".

Paulo Tapajós e Vinicius de Moraes nasceram apenas com um dia de diferença, ambos em 1913. Paulo gostava de dizer que eles "se encontravam" à meia-noite, para um abraço de parabéns recíproco.

Paulo Tapajós continuou sua carreira com o irmão Haroldo, ingressando na Rádio Mayrink Veiga.

Posteriormente, já sozinho, passou à Rádio Nacional (entre 1942 e 1946) , fez uma pequena temporada na Rádio Tupi, regressando à Nacional onde apresentava, no fim
da noite, o"Musica em Surdina".

Com Albertinho Fortuna e Nuno Roland, formou o "Trio Melodia", ainda na Rádio Nacional.

Nessa época gravou várias serestas, a maioria de Catulo, como "Os Olhos Dela";"Tu
Passaste por este Jardim":"Recorda-te de Mim"; "Ao Luar"; Clélia" e várias outras.

Como sua voz era "pequena", mas muito bem colocada, ele foi considerado "modinheiro" ao invés de seresteiro.

Quando a Rádio Nacional praticamente acabou, Paulo Tapajós conseguiu salvar seu acervo que iria ser sucateado.

Hoje, programas da Nacional, como "Rádio Memória", de Gerdal dos Santos ou "História de Osmar Frazão" costumam inserir partes de programas famosos salvos por Paulo Tapajós.
Paulo Tapajós dirigiu o Museu da Imagem e do Som, depois que Almirante o deixou e
ali ouviu e gravou depoimentos de compositores e cantores que passaram por
nossa música e foi a ele que Pixinguinha revelou o nome de Octavio de Souza como
o autor da letra da belíssima composição "ROSA.

No disco original de ROSA, gravado por Orlando Silva, só consta o nome de Pixinguinha, grande músico, mas que não fazia letras.

Em 1990 Paulo Tapajós, como grande pesquisador que ia "fundo" buscar material para seus programas, apresentou, durante cinco terças-feiras, no Teatro do BNDES
a "História do Carnaval no Brasil", desde os primórdios, quando havia muita influência estrangeira, principalmente lembrando o carnaval de Veneza, passando pela primeira música feita para o carnaval , o "Abre Alas" de Chiquinha Gonzaga, até o apogeu das Escolas de Samba.

Vários cantores ali se apresentaram, dando voz e vida aos programas.

Paulo Tapajós estava preparando outra programação para aquele teatro, quando apresentaria a obra de Ataúlfo Alves, mas faleceu em 29 de dezembro daquele mesmo ano (1990) e o projeto não aconteceu.

Paulo Tapajós teve três filhos, todos ligados à música:Maurício, Dorinha e Paulinho.

Norma Hauer
A vida é  uma criança
Sempre com vontade de brincar,
dormir, comer, sonhar...
Dormimos pra sonhar
Acordamos pra viver
ou morrer

Se  a  vida é finita
A vontade de viver é eterna

socorro moreira

Na Rádio Azul