por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 28 de março de 2014

Chumbo grosso




            Querer-se livre é também querer livres os outros.

                                               No finalzinho deste mês de março, há um aniversário que não tem convidados e nem merece comemoração.  Meio século do início da Ditadura Militar no Brasil ! Faço parte de uma geração profundamente marcada pelo peso daqueles tempos de chumbo. Estudantes e Sindicalistas caçados  nas cidades e nos campos, como se fossem animais selvagens. Tortura instalada, oficialmente, como instrumento de coerção e obtenção de informações. Congresso fechado, eleições suspensas. Só existia uma verdade única e indiscutível : aquela cuspida pelos coturnos dos governantes. A censura se infiltrou em todas as formas de Arte e em todos os meios de comunicação.  Dedos-duros espalharam-se por todos os recantos : escolas, universidades, trabalhos, ruas e qualquer atitude considerada suspeita era motivo para denúncia,  prisão e tortura. Mofava-se no cárcere sem sequer saber de que se era acusado.  Como se costumava dizer na época , a partir de duas pessoas juntas,  consideravam Concentração e se sobrepassasse  três : Passeata.  Este período de choro e ranger de dentes durou a eternidade de vinte e um anos. Mais de dois mil brasileiros, simplesmente, morreram ou desapareceram como por  encanto. Milhares foram detidos e torturados.
                                   As novas gerações que, felizmente, não tiveram que sobreviver entre as sombras, não têm uma idéia cristalina dos tempos libertários que ora desfrutamos. Tudo parece simples, natural, perfeitamente corriqueiro. Colhemos os frutos da árvore da liberdade , sem nem perguntar quem plantou a semente, quem combateu as pragas  e quem  regou a plantinha.  Sua seiva nutriu-se do sangue que escorria dos paus-de-arara e dos gritos sufocados nos porões dos DOI-CODI. Tive amigos mortos e muitos presos  neste período , lutavam por um mundo melhor para seus filhos e descendentes.
                                   Para nosso espanto, recentemente, alguns saudosistas destes tempos que ainda  tentamos esquecer, tentaram reviver a famosa “Marcha pela Família, com Deus e pela Liberdade” , acontecida em 19 de Março de 1964. Esta Marcha criou o clima propício para o Golpe Militar que , desfazendo completamente seu lema : destruiu famílias, ceifou a liberdade e se afastou de Deus. Quatro gatos pingados, agora, em vários pontos do país ( no Ibirapuera reuniram-se apenas seis pessoas e em Recife, sete) mostraram-se órfãos daqueles tempos de exceção. Estamos em pleno exercício de uma ampla Democracia e, isto, certamente, deixa com pruridos em alguns poucos que se beneficiaram das sombras e do chumbo. Acostumados às regiões abissais , o brilho do sol lhes cega e entontece. São pessoas que , dia a dia, se põem contra uma pretensa ditadura cubana e venezuelana, mas que sonham ,quase orgasticamente,  com o retorno do reino da chibata e do pau-de-arara para o país.
                                   O Brasil , nestes trinta anos de Redemocratização,  desenvolveu-se como nunca na sua história. Temos um país forte no cenário internacional, mantemo-nos estáveis economicamente, mesmo ante toda a crise do Capitalismo Mundial e minoramos chagas históricas como Baixo Salário, Distribuição de Renda, Desemprego, Casa Própria, Analfabetismo, Desnutrição e Mortalidade Infantis. Os desafios, claro, ainda são enormes, numa Nação sugada por quase quatro séculos de Colonialismo. O caminho, porém, difícil e tortuoso, já temos traçado e ele é todo pavimentado com os ladrilhos da Liberdade e da Democracia.

Crato, 28/03/14

2014 - José Nilton Mariano Saraiva

O ano (2014) é eleitoral e em jogo se acha a própria Presidência da República (afora, parte do Senado e a Câmara dos Deputados). E como a presidenta Dilma Rousseff já desponta nas pesquisas como favorita à reeleição, a hora é de jogo bruto, sujo, duro e pesado por parte dos que não se conformam com o fato do Brasil figurar hoje como uma das cinco potencias emergentes do mundo (Rússia, Índia, China e África do Sul são as demais componentes desse restrito e privilegiado grupo). A ordem, pois, é bagunçar o coreto, apostar no quanto pior melhor, atanazar a vida dos que estão no poder, mostrar números negativos e até esquecer que de 2003 até aqui o governo catapultou da miséria cerca de 40 milhões de pessoas, inserindo-as socialmente.
Pois bem, agora a bola da vez é a Petrobrás, uma das maiores empresas do mundo no ramo petrolífero, orgulho de todos nós, porquanto detentora da sofisticada tecnologia de extração do mineral em águas ultra-profundas. Daí a descoberta das fabulosas jazidas do pré-sal nos “subterrâneos” do Oceano Atlântico, de onde hoje extraímos 415 mil barris/dia (mas isso é só o começo).
Sabe-se, de outra parte, que para viabilizar tão espetacular projeto, algumas medidas pontuais foram tomadas, que desagradaram certos segmentos, a saber: 01) a “privatização” (doação) tão comum na época da “tucanalhada”, foi substituída pela concessão e, ainda por cima, em regime de partilha (para os incautos, que tendem a se deixar confundir pelos de má-fé (alarmistas de plantão), o  “babado” é o seguinte: privatização representa a entrega definitiva do patrimônio, sem nenhuma chance de retorno; concessão é única e tão somente a cessão por tempo determinado, com retorno garantido em certa época). Em português curto e grosso, o patrimônio continua nosso; 02) num empreendimento de tamanha magnitude, urge obter-se recursos na banca internacional, daí a necessidade de se contrair empréstimos vultosos, lá fora. Que – atentem para o detalhe - só são aprovados e concedidos se o país, e a empresa em particular, tiverem capacidade de endividamento, reputação comprovada e um produto final viável e que garanta o retorno sem maiores traumas.

E aí os números da Petrobrás são impressionantes, desmoralizando os que insistem em descredenciá-la. Capitalização: em 2010, realizou a maior capitalização da história (U$ 70 bilhões), com o objetivo de explorar a camada do pré-sal. De 2013 até hoje, obteve no mercado U$ 8,5 bilhões; 3,05 bilhões de euros e 600 milhões de libras esterlinas. Valorização: para este ano, grandes corretoras com a Santander, Safra e outras, apostam no potencial de valorização de 68 empresas na bolsa. Destas, só 07 ultrapassam os 50%. A estimativa da Petrobras é de 54%. Balanço: se partirmos para comparar o balanço contábil da Petrobras com quatro grandes rivais internacionais – Exxon Mobil, Shell, Chevron e BP – a verdade é um tanto quanto decepcionante para os arautos do caos, a saber: Lucro - a Petrobras, de 2012 para 2013, avançou 1%, em dólar, enquanto Exxon caiu 27%, Shell recuou 35%, Chevron perdeu 18% e apenas a BP avançou. Expansão - entre os anos 2006 a 2013, a Petrobrás foi a única que expandiu a produção (11%), enquanto as outras caíram ou ficaram no lugar: Exxon (-1%), Shell (-8%), Chevron (0%) e BP (-18%). Investimentos - das cinco, a Petrobras foi a que mais cresceu - 228%, contra 114% da Exxon, 85% da Shell e 152% da Chevron.

Assim, resta comprovado que em razão do ano 2014 ser um ano eleitoral, a ordem é tentar desestabilizar o Governo e derrubá-lo nas pesquisas (se possível já), pois o tempo flui rápido; e nada mais apropriado para tal mister do que o ataque desnecessário, especulativo e violento que se desenvolve atualmente à Petrobras.


O resto é perfumaria barata, de quinta categoria. 

Duro Castigo - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A história que abaixo narrarei me foi contada por uma amigo engenheiro paraibano, já falecido. Considero-o que era um cidadão acima de qualquer suspeita e portanto uma pessoa digna de crédito, embora o fato por ele contado é de fazer tremer qualquer defensor dos direitos humanos.

Na época da ditadura Vargas, existia um interventor na Paraíba, figura equivalente a de governador, pessoa de confiança do chefe supremo da nação, nomeado conforme os compromissos com o regime imposto no chamado Estado Novo. Tratava-se o interventor de homem bastante culto, pai de escritor de renome e ele também escritor e autor de vários livros, um dos quais muito usado pelos vestibulandos nos dias de hoje. Não obstante esses atributos, o interventor era intolerante com a violência, roubos e qualquer tipo de indisciplina. Além do mais era austero nas punições que mandava aplicar.

 Num período em que todos os direitos dos cidadãos estavam suspensos, as famílias do estado da Paraíba vinham sofrendo uma onda de assaltos e roubos em suas residências. As prisões do estado estavam todas superlotadas. Então o interventor resolveu encomendar um barco que comportasse no mínimo cem pessoas.

Recebido o barco, o interventor ordenou ao chefe de polícia que escolhesse cem presos para um passeio marítimo. Em alto mar, cada preso recebia um crachá com número variando de 01 a 100, colado ao pescoço por um grosso cordão, tal qual os funcionários das repartições públicas. Numa área bem distante do continente, onde só se via água e o azul do horizonte, o grupo era reunido e comunicado de que seria realizado um sorteio. Aquele que possuísse o número sorteado deveria se apresentar ao capitão para receber o premio do passeio.

Realizado o sorteio, dois ou três guardas pegavam o sorteado e o atiravam ao mar. Após isso, o barco retornava ao porto, onde os 99 restantes eram solenemente recepcionados pelo interventor.
-  "Vocês viram o que acontece com malfeitores e aqueles que desobedecem a lei? Pois vocês serão soltos. Voltem para seus estados e digam aos seus colegas como é que os marginais são tratados aqui na Paraíba. Os que forem daqui evitem um novo passeio marítimo para não correr o risco de serem sorteados". - Avisava o interventor.

O meu amigo acrescentou que após poucos meses, a tranqüilidade retornou às famílias paraibanas, e muitas delas dormiam com portas e janelas  abertas, pois nada era roubado. 

Pessoalmente não concordo com esses métodos dignos das ditaduras mais cruéis que não respeitam a vida como um dom de Deus.

Devemos refletir nos males que uma ditadura faz às pessoas, principalmente à nossa dignidade de pessoa humana. E procurar evitar que algum dia voltemos a um novo período ditatorial.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo