por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Senhor Raimundo Bezerra Filho,

Iria, por hábito, começar com o tradicional “caro Raimundo etc.”, mas ponderei que não o conheço e nem você a mim. Além do mais tinha acabado de me despedir do blog por 15 dias. Mas não pude me eximir de escrever-lhe por três razões principais: um grande cratense que me orgulha, o cidadão Raimundo Bezerra; esta eterna permanência de “filhinhos de papai” na politica da cidade e a necessária rebelião em face do que está ocorrendo nas municipalidades brasileiras receptoras de enormes verbas federais. Neste último caso, já adianto, a sanha de alguns privilegiados por estas verbas em busca de proveitos próprios e de sua classe social.

E quem me ler neste momento pode pensar que o quero atacar por ter o mesmo nome do grande político local, Raimundo Bezerra ao apontar a eterna permanência de “filhinhos de papai”. Se não leram dessa forma, devem imaginar que estou louco como alguém que fala em corda na casa de enforcado.

Mas o sentido que quero dar é o oposto, sem, no entanto, me eximir do que acho que seja um perfil problemático da política em nossa terra. E este sentido está preliminarmente sendo dado por você mesmo. Negar os arranjos das famílias que se acertam para manter um quadro insustentável no município.

E o que chamo da política de “filhinhos de papai” não se refere aos filhos e a algum pai, mas e esta eterna irresponsabilidade de não sentir o pulso de uma sociedade que se torna complexa, violenta e ávida por soluções igualmente complexas. Ao “modus operandi” do velho fisiologismo, o empreguismo, a troca de favores, uma obra para um e outra para aquele, tudo aos amigos e aos inimigos a lei. Esta ampla sessão de desvario “infanto-juvenil” de uma política que põe roupas de “shopping center” sobre espectros de velhas oligarquias em que as pontas sempre se interconectam para tudo mudar sem que nada mude.

E esta política tem um “animus genérico” que são as verbas públicas repassadas das outras instâncias de poder para obras, merenda e transporte escolar, para o SUS, segurança, esporte e lazer, cultura, as grandes festas públicas que terminam por alimentar “garotões” que gostam de exibir seus “carrões” e montar “negócios”, sem risco algum, nas capitais. Isso atendendo rigorosamente aos compromissos frente aos sócios menores e com a rede de bons cidadãos a serviço de quem lhes distribui humilhantes migalhas.

Pois é, este é o dedo fatal sobre a ferida da municipalidade nacional. Quem hoje no Brasil resolve mostrar um espírito de luta política, deve pensar no grande problema que se encontra no município. Especialmente o município onde você mora, com uma crescente migração, um número de estudantes universitários em busca de superação, ao lado de grandes e contínuas dificuldades de desenvolvimento industrial e de inovação.

Acho que Raimundo Bezerra, que viveu sob o tacão de uma ditadura feroz, soube enfrentar o seu tempo. E agora é a sua vez, sem a sujeição à sombra e à água fresca, sem a acomodação de espirito e, sobretudo, estando preparado para o seu tempo e as circunstâncias que lhes desafiam e a qualquer um que queira agir seriamente sobre esta realidade.

Atenciosamente,

José do Vale Pinheiro Feitosa

Rio de Janeiro, 9 de abril de 2012

Quinze dias - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quinze dias sem postar no blog. Depois do dia 23 de abril estarei de volta.

Ponto de vista: Lya Luft Ainda se caçam bruxas

"Cair na armadilha do rancor primitivo e da atitude destrutiva torna a vida uma selva onde pessoas honradas são impedidas de executar projetos positivos, e às vezes têm sua vida injustamente aniquilada"
O motorista de táxi de um aeroporto deste Brasil xingava um político, acusado no rádio por ter-se encontrado ali mesmo, dias atrás, com um suspeito de corrupção. "Viu só?", ele vociferava, "viu só?". Cansada de aeroporto e do assunto – e porque logo antes alguém tinha me dito: "Olha aí o fulano, fotografado ao lado do sicrano, que é suspeito de corrupção! Certamente ele também é..." –, fui curta e direta: "Meu filho, se sua namorada conversar com uma moça desonesta e disserem que por isso ela também é desonesta, você vai gostar?". Ele olhou sobre o ombro, meio espantado: "Sabe que a senhora tem razão?". Comentei: "Chama-se a isso caça às bruxas". Chegando ao meu destino, não tive tempo de explicar mais.
Na Idade Média, uma tropa de psicopatas autorizados caçava gente com o entusiasmo com que se caçariam animais selvagens. O maior divertimento era julgar, esfolar vivo e queimar na fogueira, depois de outros inimagináveis sofrimentos. Quem eram as vítimas da Igreja daqueles tempos? Em geral mulheres simples, que lidavam com o que hoje chamaríamos medicina alternativa – a sabedoria popular de suas antepassadas. Havia também os bruxos, os que diferiam da doutrina religiosa ou da política dominante, contrariavam alguma autoridade, ou, ainda, aqueles cujo vizinho não ia com sua cara. Relatos e atas oficiais desses processos públicos enchem milhares de páginas da época, e nos dão vergonha de ser humanos.
Eu, que em dois livros infantis criei a simpática e marota Bruxa Boa Lilibeth, achava que neste mundo dito moderno nossa falta de limite estava só na má-criação em casa e na escola, na inversão de público e privado, no interesse pelas calcinhas de certas moças (ou na falta delas) e na postura geral de desleixo que se espalha. Engano meu. Melhoramos, nos civilizamos, cortamos alguns preconceitos. A servidão, ao menos concreta e legal, acabou. Servidões morais temos muitas. Uma delas é esse impulso primitivo, das cavernas, de destruir, essa ferocidade no julgar e sentenciar, essa vontade de que o outro se dê mal. Parecemos doentes de ansiedade por ver alguém enxovalhado, por baixo, sem remissão. Muito além da lei e da Justiça, queremos sangue – ainda que seja o sangue moral, o sangue da alma.
Sou quase fanática contra os crimes, incluindo a corrupção. Valorizo muitíssimo a lei. Quero o infrator julgado e severamente punido. Apóio todas as justas ações da polícia para proteger a sociedade, isto é, cada um de nós. Mas desgostam-me procedimentos que agridem levianamente, interrogatórios em vez de diálogos, ataques de qualquer ângulo, a execução moral de inocentes na fogueira da opinião pública, mais disposta a ver o mal em tudo. Por toda parte no país, ao lado da Justiça e da lei que funcionam, esta parece ser a hora dos cantos escuros da psique humana e da democracia, lá onde lei e Justiça não funcionam direito. Ainda bem que a maioria de nós não é assim.
Naquela mesma viagem, numa palestra, um grupo de jovens questionava a agressividade com que se tratam pessoas em situações como as das mais variadas CPIs, desde o tempo do falecido mensalão. Há interrogatórios violentos, alusões cruéis, ofensas diretas; quebram-se todos os limites da decência em que deviam ocorrer dignamente perguntas e esclarecimentos entre homens dignos. Os jovens tinham razão na sua perplexidade. Respondi que bastava ler um pouco de história dos povos para ver que não há nada de novo entre nós. Às vezes, como grupos ou como sociedade, adoecemos.Não é generalizado, não é permanente: por isso podemos acreditar em respeito no convívio público. Cair na armadilha do rancor primitivo e da atitude destrutiva torna a vida uma selva onde pessoas honradas são impedidas de executar projetos positivos, e às vezes têm sua vida injustamente aniquilada. É quando as bruxas boas fogem nas suas vassouras, deixando-nos um mundo mais sombrio.

Auci Ventura - A artista de Cara pro mundo




Compositora, pesquisadora, educadora, cantora e "viajada". Auci Ventura se contagiou pela música ainda na infância, a partir das cantigas das brincadeiras de criança. Para a artista “é chegada à hora da reeducação do ouvido, de aprender e ensinar com prazer, abrir o caminho que devemos trilhar na descoberta dos sons. A propósito, o que deve fazer de todos nós, ouvintes atentos do nosso meio ambiente”. Uma artista preocupada com o mundo e com o conteúdo da sua musicalidade.

Alexandre Lucas - Quem é Auci Ventura?

Auci Ventura - Uma pessoa comum que ousa sobreviver daquilo que mais gosta de fazer: CANTAR, que acredita em Deus, gosta de privacidade e de silêncio, amante incondicional da paz e da justiça!
Detesta pessoas desonestas e abomina qualquer tipo de violência, assim como, todo e qualquer tipo de preconceito. Uma pessoa que separa seu lixo a mais de 30 anos e que acredita nessa atitude para ajudar o planeta.

Alexandre Lucas - Como se deu seu contato com a Música?

Auci Ventura - Acho que se deu meio que por acaso, desde criança por volta dos 7 anos nas brincadeiras de calçadas, era muito comum nos anos 70 as cantigas de roda do universo infantil aqui no Cariri.
Aos 8 anos fiz minha primeira apresentação no rádio, com Senhor “Eloia”, aos 9 já estava em São Paulo, aos 16 fiz minha primeira música, (toquei meus primeiros acordes no violão), fiz teatro. Aos 20 já cantava profissionalmente, aos 24, graduada em Educação Artística. O tempo voa kkkkkk.

Alexandre Lucas - Como Caracteriza sua Musicalidade?

Auci Ventura - Como uma propriedade natural inerente a meu ser, que tem por necessidade expansão e divisão. É inquietante e sempre em busca de novas emoções, advindas do universo de sons naturais e artificiais do todo existencial.

Alexandre Lucas - Qual a diferença em tocar em barzinhos e palcos?

Auci Ventura - Palcos Alternativos= Público pré selecionado, convocado.
Barzinhos = Público Livre e diverso (muda só o público, o trabalho em si para mim é igual). O que me importa é mostrar o trabalho, amo todo tipo de público de leigos a críticos.

Alexandre Lucas – Você compôs uma música de protesto contra a Indústria Cultural, qual sua análise das músicas tocadas nos veículos de comunicação de massa?

Auci Ventura - Já fiz várias musicas de protesto, principalmente nos anos 80, a que fiz atualmente trata de questões urgentes da contemporaneidade, lamentavelmente a música tocada para o grande público é de uma qualidade de enlatados para consumo imediato, ainda bem que são descartáveis, não permanecem.
A indústria cultural de enlatados artísticos, lança sem análise qualitativa seus produtos para um público alienável, sem educação auditiva que se condiciona com facilidade pela execução exagerada que a mídia propicia através dos jabás, que dá no que dá: LIXO!

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre Arte e Política?

Auci Ventura - A Arte está para Política, assim como o farol está para escuridão! É o Norte que dirige o olhar através das diferentes expressões para o acerto final. Que ousa, contesta e segue em frente adaptando-se as diferentes marés sejam cheias ou mansas, que percebe o movimento e cria estratégias para mudar o absurdo.

Alexandre Lucas - Qual a sua percepção sobre a musicalidade produzida na região do Cariri?

Auci Ventura - O Conceito de Musicalidade e Musicalidade Cariri:O que tenho a acrescentar nesse sentido, é que de fato são poucos os artistas da região que mostram em seus trabalhos musicais, elementos dessa musicalidade regional, o que de fato na verdade não tem nada de excepcional em sua estética formal. As referências históricas quanto à etnomusicologia local seguem os mesmo padrões de pesquisas antropológicas de diversas regiões do Brasil, o que afasta a idéia de ineditismo, exceto pela corrente gonzagueana que já faz parte do movimento modernista. Não quero aqui desmerecer os talentos regionais, que alias cito com muito carinho na pesquisa. Apenas quero focar no que realmente ficou na memória.
Tenho percebido através do Teatro, da literatura e das artes visuais produzidas no Cariri, uma representação mais fiel dos caracteres da cultura cariri, a música ainda deixa muito a desejar, mesmo porque em sua origem primitiva, o registro que temos de partituras chega a ser melodias enfadonhas e sem graça. (Auci Ventura apresentou a monografia com o tema: “MUSICALIDADE CARIRI:” UMA PROPOSTA EM ARTE – EDUCAÇÃO)

Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos?

Deixo aqui um pouco do meu momento, que é de muito isolamento e concentração, entre Chapada do Araripe (Silêncio) x Urbanidade perturbada (Barulhos Urbanos), estou no limite, penso em dar uma volta novamente pelo mundo e levar um pouco da escola que pratiquei aqui para outros territórios do planeta. internacionais e nacionais. Me preparando para qualquer proposta descente. kkkk!!!!