por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sem Identidade - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Há uns três meses, no percurso do meu trabalho para casa, ouvi pela Rádio CBN, uma entrevista de um defensor público de São Paulo, na qual ele narrava uma história que deve servir de alerta para quem perde seus documentos de identidade, mais conhecido por RG. 
Aos dezessete anos, Jorge perdeu seu documento de identidade. Aconselharam-no a fazer o Boletim de Ocorrência.
Era um dia de domingo e, ao chegar à delegacia, o escrivão estava assistindo um jogo do Corinthians pela TV e não lhe deu atenção. Jorge achou que era perda de tempo e foi para casa sem registrar a ocorrência.
Aos vinte um ano, Jorge casou, depois teve uma filha e já trabalhava numa empresa de processamento de dados. Certo dia, seu chefe mandou que ele consultasse uma página do Tribunal de Justiça. Surpreso, Jorge viu seu nome como tendo sido processado, julgado à revelia e condenado a quinze anos de prisão. Procurou a justiça para que lhe informassem o porquê daquela condenação. Algum bandido que se apoderou dos documentos de Jorge, foi preso na Via Dutra com um carregamento de cocaína, depois liberado por competentes advogados que lhe conseguiram o relaxamento da prisão até o julgamento final. Como conseqüência, Jorge perdeu o emprego, a mulher e a filha. Passou mais de cinco anos tentando provar sua inocência, sem conseguir êxito e nem emprego algum, pois logo descobriam que ele estava condenado pela justiça. Então, depois de inúmeras tentativas, um grupo de advogados defensores públicos sugeriu ao juiz que fosse feito uma acareação com os policiais que prenderam o traficante, os vizinhos de Jorge, seu ex-patrão e pessoas que o conheciam desde a infância, O juiz concordou.
Os dois primeiros a serem ouvidos na acareação foram os policiais que efetuaram a prisão, O depoimento dos dois foi decisivo. Todos informaram que o homem que haviam efetuado a prisão não era o Jorge. Depois é que verificaram que a fotografia colada à identidade de Jorge e que fora falsificada, era a de uma pessoa morena, cabelos pretos, bem diferente do Jorge, que era branco e tinha cabelos castanhos.

Constatado o erro e a confirmação de que realmente a justiça havia se equivocado, pediram desculpas ao Jorge,

Ao saírem do Tribunal os advogados de Jorge entraram com um processo de indenização na justiça por danos morais, Na primeira audiência, a juíza comentou: “Você vai receber muito dinheiro!”
“E a senhora, gostaria de passar o que eu passei?” Perguntou Jorge.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Meio intelectual... meio de esquerda

Bar “meio ruim” é lindo, bicho !!! Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos (deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem). No bar meio ruim, que ando freqüentando ultimamente, o proletariado atende por Betão - é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história e preconceito.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. - Ô Betão, traz mais uma pra gente - eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares meio ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve "petit gâteau" e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de "petit gâteau" do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver, uma “europazinha” bem que ajuda.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar meio ruim. Tem que ser um bar meio ruim, fulero, autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar meio ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar meio ruim. O problema é que aos poucos o bar meio ruim vai se tornando "cult", vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar meio ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns meio velhos bêbados que jogavam dominó.
Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro; isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares meio ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em cinqüenta por cento o preço de tudo (eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares meio ruins do jeito que a gente gosta; os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares meios ruins de gente jovem e bonita e a difundir o "petit gâteau" pelos quatro cantos do globo.
Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, sacou?).
- Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim; de Salinas, quais que tem?

Autor: desconhecido - Postagem: José Nilton Mariano Saraiva