por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Sobre deuses, pássaros e gaiolas" (Rubem Alves)

EU NÃO TENHO RELIGIÃO. Não vou a igrejas, não participo de rituais, não acredito nos seus dogmas. Preciso não ter religião para amar a Deus sem medo, com alegria e, principalmente, sem nada pedir. Não tenho religião porque não concordo com as coisas que elas dizem de Deus. Deus é um Grande Mistério. Está além das palavras. Diante do Grande Mistério a gente emudece. Fica em silêncio. Discordo a partir do pronome “ele”. Deus “ele”, masculino? Onde foi que aprenderam sobre o sexo de Deus? Deus tem sexo? Se tem sexo, por que não ela, Deus mulher? Como a mulher do Cântico dos Cânticos? A Igreja Católica não conhece a mulher. Conhece apenas a “mãe” que foi mãe sem ter sido mulher. Deus: por que não uma flor, a mais perfumada? Por que não um mar sem fim onde a vida navega? Místicos houve que disseram que Deus é uma criança que nos convida a brincar... Mas pode ser também que Deus seja música, como pensaram os místicos pitagóricos.
Ter uma religião é falar as palavras sagradas daquela religião e acreditar nelas. AS RELIGIÕES SE DISTINGUEM E SE SEPARAM PELAS DIFERENÇAS DAS PALAVRAS QUE USAM PARA SE REFERIR AO SAGRADO. SE ELAS NADA FALASSEM, SE HOUVESSE APENAS O SILÊNCIO DIANTE DO GRANDE MISTÉRIO, A BABEL DAS RELIGIÕES NÃO EXISTIRIA. Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz, mas apenas aponta para ele. O Grande Mistério está além das palavras.
Se tenho uma religião e ela se chama poesia. Por isso, amo a Cecília Meireles, sacerdotisa profana, que quando queria se referir a Deus falava sobre um mar sem fim, misterioso e selvagem. Quem em silêncio contempla o mar sem fim ouve vozes em meio ao barulho das ondas. Também Fernando Pessoa sabia disso. Mas, prestando bem atenção, é possível ver, a voar sobre o mar sem fim, um pequeno pássaro que canta: “Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta, mais leve. E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve...”
Os poetas escrevem em transe: não sabem sobre que estão escrevendo. Faz muitos anos, escrevi um livro para minha filha. Ela tinha 4 anos. Eu iria fazer uma demorada viagem pelo exterior e ela ficou com medo de que eu morresse e não voltasse. Apareceu-me, então, uma estória, “A menina e o pássaro encantado”. Resumida, era assim: era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias; o pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: “Tenho de ir”. A menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. “Menina” - disse-lhe o pássaro - aprenda o que vou lhe ensinar: EU SÓ SOU ENCANTADO POR CAUSA DA AUSÊNCIA. É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE. A SAUDADE É UM PERFUME QUE TORNA ENCANTADOS A TODOS OS QUE O SENTEM. QUEM TEM SAUDADES ESTÁ AMANDO. TENHO QUE PARTIR PARA QUE A SAUDADE EXISTA E PARA QUE EU CONTINUE A AMÁ-LA, E VOCÊ A ME AMAR..." E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou, lhe contou estórias e, quando ele foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: “Agora ele será meu para sempre”. Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe. A estória termina na ausência do pássaro e a menina se enfeitando para a sua volta.
Minha intenção, ao escrever esta estória, era simples: consolar a minha filha. Mas quando foi publicada ganhou um sentido que não estava nas minhas intenções: começou a ser usada em terapia, com casais possuídos pela ilusão de que, engaiolado, o amor seria posse eterna...
Desde então, passei a presentear noivos com uma gaiola da qual eu arrancava a porta. Mas, passado algum tempo, uma pessoa me disse: “Que linda estória você escreveu sobre Deus!” “Sobre Deus ???”, eu perguntei sem entender. “Sim”, ela me respondeu.
“O PÁSSARO ENCANTADO NÂO É DEUS ??? E AS GAIOLAS NÃO SÃO AS RELIGIÕES NAS QUAIS OS HOMENS TENTAM APRISIONÁ-LO ??? Aprendi, então, da minha própria estória, algo que não sabia: Deus como um Pássaro Encantado que me conta estórias. Amo o Pássaro. Odeio as gaiolas. O Pássaro Encantado não pousa em galhos para cantar. Não é possível fotografá-lo. Canta enquanto voa. Dele, o que temos é apenas a sua leve sombra voante e a cascata aérea de sua garganta... Quando ouço o seu canto, ele já passou. Só é possível vê-lo em seu vôo, por trás. Vai-se o pássaro. Fica a memória do seu canto.
Um pássaro voando é um pássaro livre. Não serve para nada. Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo. Pássaro inútil. E esse é, precisamente, o seu segredo: a sua inutilidade; ele está além das maquinações dos homens. Sua única dádiva é o seu canto. Só faz um milagre, um único milagre: quando, chorando, lhe peço “Passa de mim esse cálice”, ele canta e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza. Por isso eu nada lhe peço. Sei que ele não atende a pedidos. O seu canto me basta: ao ouvi-lo transformo-me em pássaro. E vôo com ele...
MAS AÍ VÊM OS HOMENS COM AS SUAS ARAPUCAS E GAIOLAS CHAMADAS RELIGIÕES. E CADA UMA DELAS DIZ HAVER CONSEGUIDO PRENDER O "PÁSSARO ENCANTADO" EM GAIOLAS DE PALAVRAS, DE PEDRAS, DE RITOS E MAGIA. E CADA UMA DELAS AFIRMA QUE O SEU "PÁSSARO ENGAIOLADO" É O ÚNICO "PÁSSARO ENCANTADO" VERDADEIRO...
POR QUE PRENDERAM O PÁSSARO ??? PORQUE O SEU CANTO NÃO LHES BASTAVA. NÃO LHES BASTAVA A BELEZA. NA VERDADE, NÃO O AMAVAM. O QUE OS HOMENS DESEJAM NÃO É A BELEZA DE DEUS. O QUE ELES QUEREM É MANIPULAR O SEU PODER. O QUE ELES QUEREM É O MILAGRE.
O CANTO DO PÁSSARO PODERIA LHES DAR ASAS PARA VOAR. MAS NÃO É ISSO QUE QUEREM. O QUE DESEJAM É O PODER DO PÁSSARO PARA CONTINUAR A RASTEJAR; DEUS, TRANSFORMADO EM "FERRAMENTA". Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir um fim desejado. Assim são os martelos, as tesouras, as panelas... O que as religiões desejam é transformar Deus em uma ferramenta a mais. A mais poderosa de todas. A ferramenta que realiza os desejos. Como o gênio da garrafa. POIS NÃO É ISSO QUE É O MILAGRE, A REALIZAÇÃO DE UM DESEJO POR MEIO DA MANIPULAÇÃO DO SAGRADO ??? SÓ É CANONIZADA SANTA UMA PESSOA QUE REALIZOU MILAGRES: O MILAGRE É O "ATESTADO" DO SEU PODER PARA MANIPULAR O DIVINO.
E é assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipos, os santos milagreiros são nossos despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada religião têm uma música na fala que lhes é própria...
Assim, a poesia do canto do "Pássaro Encantado" se transforma em manipulação do "pássaro engaiolado". E não percebem que aquele pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.
À TRANSFORMAÇÃO DA POESIA EM "MANIPULAÇÃO MILAGREIRA" OS PROFETAS DERAM O NOME DE IDOLATRIA.

Feliz Natal!


Como fazer Rabanadas


Rabanadas de Natal

Ingredientes

- 200 ml de leite de coco (1 garrafa)
- 1 lata de leite condensado
- 1/2 xícara (chá) de leite
- 10 fatias de pão amanhecido

- 5 bolas de sorvete de creme

- 3 ovos bem batidos com canela em pó a gosto



Modo de Preparo

1º - Numa tigela, misture leite de coco, leite condensado e leite. Nesta mistura, umedeça 10 fatias de pão amanhecido (coloque de 2 em 2 fatias por vez).

2º - Coloque uma bola de sorvete de creme entre duas fatias de pão umedecido fazendo um "sanduíche". Aperte bem, fechando as laterais e passe o "sanduíche" em 3 ovos bem batidos com canela em pó a gosto. Embrulhe em papel filme. Repita este processo com as outras fatias de pão e o sorvete, formando mais 4 "sanduíches" e embrulhando-os. Leve-os para o freezer por 24 horas.

3º - Retire os "sanduíches" do freezer e passe no tempurá de guaraná (receita abaixo). Frite em óleo quente até dourar.

OBS: neste processo, o recheio permanece gelado e a crosta fica crocante por fora.

Tempurá de guaraná (para empanar)

Ingredientes: - 1 lata de guaraná gelado - 1 colher (chá) de fermento em pó - 200 g de farinha de trigo

Modo de Preparo:

1º - Numa tigela, misture guaraná gelado e farinha de trigo. Depois, adicione fermento em pó até obter uma mistura cremosa.

* Rendimento : 5 porções

http://receitas.maisvoce.globo.com/Receitas/Doces_Sobremesas

Decoração natalina de Recife - por Rosa Guerrera






Mais de 70 mil garrafas foram usadas para produzir a decoração de Natal de Recife. O trabalho foi realizado artesanalmente por cerca de 80 mulheres de comunidades carentes da capital pernambucana. As garrafas após lavadas e pintadas,foram cortadas em pequenas peças encaixadas e costuradas com braçadeiras de nylon, formando os enfeites.
O mesmo material reciclável foi utilizado também na árvore de Natal do Recife, que possui 38 metros de altura, equivalente a um edifício de 12 andares. Com 14 toneladas da estrutura metálica, a árvore flutua no Rio Capibaribe atraindo inúmeros admiradores do excelente trabalho. A preocupação ambiental também foi estendida ao tipo de iluminação, feita neste ano com lâmpadas LED, que consome muito menos energia, cerca de 10% de uma lâmpada comum, e ilumina cinco vezes mais.
Algumas fotos da decoração da capital de Pernambuco.



Suburbano Coração
Chico Buarque


Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
(.,..)
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são


A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração


(...)
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
(...)
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração






[Suburbano coração - Chico Buarque]

BEM MAIS ... por Rosa Guerrera



E eu não me cansarei de teus beijos
nem adormecerei com tuas carícias ...
Eu pedirei bem mais !

Pedirei toda a eternidade
em forma de abraços,
Todo o universo no contato
de tuas mãos ...
E ainda pedirei bem mais !

Pedirei uma vida
emoldurada com flores,
um poema todo ternura,
uma estrada iluminada de amor.

E não escutarei
o relógio
nem saberei do tempo...
Não verei o sol despontar ,
nem imaginarei
que existe um mundo lá fora.

Não mais rimas
Nem alento de poesias ...
Fecharei os olhos ,
e te darei bem mais !

Assim era o Natal ...- por Norma Hauer




A N O I T E C E U...

O rádio, que nos 30 estava nos despertando para muitas novidades, marcou o
NATAL de 1933 com uma melodia, que foi a primeira composta exatamente para as festas de fim de ano, até então pouco exploradas.

Anoiteceu...
O sino gemeu,
A gente ficou feliz e rezar.
Papai Noel vê se você tem
A felicidade p'ra você me dar.

Era, porém, uma melodia melancólica, porque melancólico estava seu autor (Assis Valente) quando a compôs. Apresentada no rádio e repetida em todas as emissoras levava uma novidade ao público, espalhando no éter a voz nova de Carlos Galhardo, representando seu primeiro sucesso.

Até então, o Natal era uma festa comemorada em família ou com alguns amigos.

Não havia a exploração por parte do comércio que só então viu a possibilidade de se expandir oferecendo produtos, através de anúncios no rádio, que os lançavam como "natalinos". Afinal,o rádio já estava penetrando em todas as casas e era a grande porta que se abria para a divulgação daqueles produtos.

Papai Noel era uma figura descrita, tal como hoje o conhecemos, mas não era “visto”; assim as crianças o imaginavam (e acreditavam) que ele poderia estar em todas as casas na noite de 24 de dezembro.

Lojas passaram a se expandir e anunciar seus produtos no rádio.
Principalmente, lojas de brinquedos, visto que naqueles anos, apenas as crianças recebiam presentes; adultos participavam das ceias e à meia-noite iam à Missa do Galo. Lembro-me de uma tia muito católica que não perdia essa Missa e não concordava com presentes e árvores de Natal, até então só montadas em poucas casas. A maioria "montava" presépios. Em minha casa, uma árvore pequena era enfeitada com algodão e em seus galhos colocavam-se velas que, muitas vezes, pegavam fogo e acabavam com a árvore.

Foi na primeira metade dos anos 30 que uma pequena loja foi aberta e, praticamente, dominou o comércio no Natal. Foi criada por um empreendedor francês e recebeu o nome de "Mestre et Blagé". Pouco tempo depois foi destruída por um incêndio de grandes proporções. Mas de suas cinzas renasceu a Fênix e seu nome foi abreviado para Mesbla. Que saudades da Mesbla !... São memórias de muitos "Natais. Não posso recordar-me da Mesbla, sem sentir uma grande emoção. Foram anos em que "meu Natal" se iniciava na Mesbla.

E hoje, com "Papais Noéis" espalhados por toda parte, dominando a televisão, os
"shoppings", a "Saara", com suas ruas estreitas, onde até caminhar é difícil, o espírito de Natal se transformou em um grande "mercado persa". E as pessoas, portando seus presentes, em uma grande árvore de Natal.


Norma Hauer