por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Final de semana na estrada com paradas providenciais!

Visita neste domingo ao casal Hugo Linard e Filomena- casa na serra
Pôr-do-sol em Mauriti

Foto de Nicodemos- Igreja de Missão-Velha
Agora é quase madrugada. Um início de semana  maravilhoso para todos!
Acho que sai da toca, e foi ótimo!

Abraços

RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR

Hoje eu estava mais uma vez relendo as histórias contadas por Eduardo Galeano em O LIVRO DOS ABRAÇOS. É um belo livro, com cada história melhor que a outra, contadas com leveza e poesia. Selecionei um “Causo”, de um velhinho que acreditava no amor, mesmo quando lhe chegava, já no final da vida, nas cartas roubadas do seu baú/tesouro. Eis o causo narrado por Galeano:

Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resort, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.
E dizem por aí que ali havia um tesouro escondido na casa de um velhinho todo mequetrefe.
Uma vez por mês, o velhinho que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão.
Aproveitando a ausência, alguns ladrões vindos de Montevidéu, invadiram a casa.
Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.
E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abri-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo da sua longa vida.
Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmente, decidiram devolvê-las. Uma por uma. Uma por semana.
Desde então, ao meio-dia de cada segunda-feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho. Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.
E até São Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher.

Um dia de papo com Bruno Pedrosa - José do Vale Pinheiro Feitosa

Passamos o dia aqui no Rio em companhia do Bruno Pedrosa. Chegou antecipadamente ao Brasil em relação à abertura de uma grande exposição, chamada Presságios no Museu do Ingá em Niterói. Chegou antecipado, pois trabalha numa escultura para Universidade Federal Fluminense. A escultura feita em vergalhão de várias espessuras terá quatro metros de altura e é a expressão do que ele faz no desenho.

Esta é uma característica do Bruno Pedrosa, ele vai da escultura à pintura carregando a mesma temática, as mesmas soluções estéticas. Uma escultura é terceira dimensão de um desenho/pintura dele. Conviver com o Bruno é uma das coisas mais agradáveis de se fazer, especialmente ontem quando a noite me prometia o desfile da campeãs na Marquês de Sapucaí.

O Bruno Pedrosa é um ser cuja expressão ao vivo e a cores é a força telúrica dos sertões da pecuária nordestina. Quando ouço ou leio amigos torcendo o nariz para estética de Glauber Rocha, imagino que arte não seja apenas aquela estética de cortes ligeiros e efeitos especiais de Hollywood. A narrativa enxuta e a mensagem já resumida.

É a arte de longas narrativas, milenares (aliás muita gente confunde o milenarismo religioso com a milenar cultura nordestina) que vai das alturas do canto provençal às planícies ressequidas dos nossos sertões. E tem mais, não é o feudo medieval da agricultura, é um semi-feudo do vaqueiro e das distâncias descomunais para a venda da boiada.

Por isso ele diz que apenas embarcou nas artes plásticas quando compreendeu “concretamente e espiritualmente a carreira de artista”. Então eis o que se tem por dizer a respeito do artista: uma luta entre o concreto e o espiritual na calcinada vida da modernidade (pós-modernidade). A luta de Bruno Pedrosa não é diferente de outras lutas ontológica da vida nordestina: do Antonio Conselheiro, do Padre Cícero, do camponês tentando construir uma vereda entre o chão e o céu.

Bruno Pedrosa por isso mesmo faz arte como se fosse uma missão. Por sinal uma missão para libertar a carne dos impulsos milenares que ali vegetavam como parte inseparável do seu ser. Aí o artista faz o que deve ser feito: “uma necessidade irrenunciável de catarse, um modo de liberar completamente os meus impulsos interiores”.

Mas é preciso dizer que nesta frase não se tome da ligeireza de buscar cores narcísicas neste sertanejo. Ao contrário a trajetória artística (claro que pessoal) de Bruno é sua interioridade em confronto com o exterior e por isso mesmo, é a renúncia ao palco de si mesmo para, através do “conhecimento e auto-conhecimento”, realizar a “comparação contínua consigo próprio e com todas as coisas que capturarão a sua atenção”.

Ao encerrar este nota estou cada vez mais convencido que converso de vez em quando com um religioso da caatinga. Um ser entre a abundância de aconteceres e a escassez de continuidades hibernais. Por isso mesmo é que o Bruno, com seu corpo magro, alto e longas barbas transita na Europa como um cristão primitivo e asceta. Há em Bruno uma semelhança milenar com o judaísmo dos desertos da Galiléia, ou melhor dizendo, das cavernas das encostas do Mar Morto com a aridez e o batismo dos essênios.

Sobre a "EDUCAÇÃO" ( Darcy Ribeiro )

“Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas e entre elas a maior, a escolarização das crianças”.

“É sabido que a escola de turnos é uma perversão brasileira, que não existe no mundo civilizado. Por toda parte, considera-se que só uma “escola de tempo integral”, para alunos e professores, dá garantia de uma escolaridade proveitosa. O retrocesso às escolas de turno só é explicável por sectarismo e ignorância”.

“Esse modelo de escola (de “tempo integral”) atende aos três requisitos essenciais de uma escola popular eficaz. “Espaço” para a convivência e as múltiplas atividades sociais durante todo o largo período da escolaridade, tanto para as crianças como para os professores. O “Tempo Indispensável”, que é igual ao da jornada de trabalho dos pais, em que a criança está entregue à escola; larga disponibilidade de tempo possibilita a realização de múltiplas atividades educativas, de outro modo inalcançáveis, como as horas de “Estudo Dirigido”: freqüência à Biblioteca e à Videoteca, o trabalho nos laboratórios, a educação física e a recreação”.

“Hoje, nosso professorado é formado numa das disciplinas falsamente profissionalizantes ministradas no nível médio, quase sempre em cursos noturnos, de onde sai incapaz de ensinar”.

“O “Programa Especial de Educação” previa que todas as escolas deveriam funcionar ordenadas dentro de um projeto pedagógico unido e de uma organização escolar padronizada, do contrário teríamos a reprodução do que ocorre nas redes de ensino em geral, onde, por um equívoco do que significa “Democratização da Educação”, temos escolas totalmente entregues às suas Diretoras que, muitas vezes mal preparadas para suas tarefas, orientam suas unidades melhor ou pior, de acordo apenas com sua competência, mas sempre diferentes umas das outras, tanto pedagógica como administrativamente”.

Sobre Darcy Ribeiro:

"Seguramente, Darcy Ribeiro foi o homem que mais lutou pela educação no Brasil. Falar dele apenas como educador seria pouco. A proliferação de idéias e vontade de realizar projetos fizeram dele muito mais. Começou como antropólogo, elaborando trabalhos de impacto mundial. Mas tarde, ingressou na área educacional, criou a Universidade de Brasília, da qual foi o primeiro Reitor e, em seguida, Ministro da Educação com apenas 30 anos de idade. Sua produção no setor de ensino e cultural deixou marcas no país: criou universidades, centro culturais, uma nova proposta educativa com os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’s), além de deixar inúmeras obras escritas em várias línguas. A propagação de suas idéias rompeu fronteiras. Viveu em vários países das América Latina, especialmente no Chile, aonde conduziu programas de reforma universitária. O extraordinário progresso do povo chileno nas áreas social, cultura e econômica nos últimos vinte anos, deve-se indubitavelmente aos programas de reforma da educação iniciados por Darcy Ribeiro naquele país e que, infelizmente, por forças e interesses cinzentos, não pôde implementar no Brasil".


Post Scriptum (em "aditamento"):

01) "A situação social do país é inviável e o Brasil tem uma gigantesca população com capacitação apenas para o trabalho manual, a qual vai se reduzindo frente ao progresso tecnológico. É preciso investir tudo o que for possível em educação. Se eu tivesse apenas 1 (um) real para gastar e devesse escolher onde destiná-lo, se à saúde ou à educação, investiria tudo na educação". (Hélio Jaguaribe).

02) Como você, aí do outro lado da telinha, pode observar (e pra evitar julgamentos precipitados), TODAS as citações acima (inclusive o "Sobre Darcy Ribeiro") estão "aspeadas" e, portanto, NADA é da nossa autoria (quem dera tivéssemos competência para tal); apenas transcrevemos e postamos.

Um tour pelo interior do Cariri

Descobrimos que uma das mais belas igrejas doCariri é a de Missão-Velha(Ce). Nicodemos  com seu olhar especial, usando a minha máquina ( de parcos recursos) fez  belas fotos.Vejam uma delas: