por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Ítalo Rossi




Na adolescência encantei-me por um moço chamado Ítalo. Foi um namoro significante, mas terminou depois de algumas trocas de correspondência. Naquele tempo, poucos eram os namoros que sobreviviam à distância. Em reverência a este encanto tornei-me fã do ator Ítalo Rossi. Aquele nome disparava o meu coração, e ademais era um ator de grande talento. Com o passar dos anos acompanhei o seu trabalho no teatro, novelas, cinema.

Hoje, quando noticiaram a sua morte, senti a morte de um Ítalo, que tanta falta me fez, em todas as fases da minha vida. Ítalo amigo, politizado, alma nobre, senso da justiça que se idealiza.

Rendo minhas homenagens ao grande ator, que hoje concluiu sua missão no Planeta Terra.

socorro moreira


Italo Balbo Di Fratti Coppola Rossi (Botucatu, 19 de janeiro de 1931 — Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2011) foi um ator brasileiro.

Fez participações importantes em telenovelas como Escrava Isaura, Araponga, Senhora do Destino e Belíssima. Também foi o Rei Minos no episódio "O Minotauro" do Sítio do Picapau Amarelo em 1978.

Seu último papel na TV foi no programa humorístico Toma Lá, Dá Cá (2008), da Rede Globo, em que interpretou a personagem Seu Ladir que popularizou o bordão "É mara!" ("é maravilhoso!").
wikipédia

Para a Socorro


Cara Socorro,

Quero deixar público meu agradecimento por ter sido tão bem recebido entre vocês.
Os livros chegaram hoje.
Gostei muito da surpresa.
Tenho uma admiração especial pela poesia do Norões.
Esses dias mesmo estava pensando em encontrar um livro dele, para conhecer melhor.
Você veio me proporcionar esse prazer.

Muito obrigado.

Brandão


Almina Arraes, Alencar, Pinheiro - por José do Vale Pinheiro Feitosa



Todos sabemos das dificuldades de falarmos dos nossos. Ou de quem somos. A cultura do anti-nepotismo nos inibe e ficamos ansiosos que outros façam para que por efeito adverso as nossas declarações não se reduzam à obviedade. Eis o motivo de ter ficado muito satisfeito com uma postagem que a Socorro Moreira fez de uma das minhas mães.

Não é figura de linguagem e ou metáfora. Por circunstância como me dei por gente tive alguns pais e mais de uma mãe. De uma delas falou a Socorro e por zelo, me resguardei. Uma mãe no sentido de gerar pessoas e muitos não sabem, no afã de vangloriar a alma como o oposto, ainda não entenderam que “matéria” se origina da mesma raiz da palavra mãe – mater.

Mas hoje um irmão, da mesma mãe, alertou-me para o acorde. Qualquer deles em tom maior. E como é fácil achar esta mãe na ordem do alfabeto: ALMINA. Almina que tem Alencar, Arraes e Pinheiro num só verso. Das irmãs desta mãe tive duas tias Aldinha e Anilda e uma outra um pouco mais assim com uma mistura de fortes ligações em que só os irmãos se conhecem: Laís. Um dia este mesmo irmão deu-me o alerta que ela estaria aqui no Rio precisando ajuda: cumpri o alerta. Acompanhei cada passo dela em curso do que vamos, deste o momento em que leu no meu rosto e comentou: estou mal ele não conseguiu esconder no rosto.

Maria Alice era parte, mãe do Alfredo e da Maria José e se acrescentarmos Dr. Alfredinho já disse tudo. Violeta eu posso falar muito e vou logo parando por aqui, pois esta era amiga mesmo. No sentido real das amizades que junta deste os primeiros minutos quando ela nasceu e vai continuar até os meus últimos minutos. Mas Almina, que é um múltiplo de César, Edite, Joaquim, Zé, Amélia, Tonho e Bida. Aliás, é um coletivo, pois no metabolismo desta mãe tem a política, a justiça social e a capacidade de pronunciar a palavra nos conflitos quando muitos evitam.

Não posso compreender a vida sem esta mulher que pinta, mobiliza e navega na internet feito estes jovens twitados. Tem a apostilha que meio mundo quer. Mas tem a pintura, quando ela mostrou-me pela primeira vez, não era apenas a ilusão da perspectiva e nem das luzes pelo contraste de cores. Havia na pintura uma espécie de arquétipo, que a minha mente entendia não como uma casa determinada, mas como a “casa em si”. Isso não é pouco: uma das grandes questões da pintura é exatamente este achado, mesmo quando se decompõe em estéticas tão distintas. Aliás, o cubismo, que é esdrúxulo para a estrutura neoclássica, também só era efetivamente achado quando atingia esta região arquetípica da mente.

Como existe certa singularidade entre mãe e filhos, o que mais me anima neste momento, é compreender Almina como um ser independente e construindo a parte que lhe cabe neste mundo. Como um ser para ser admirado e respeitado além da sua natureza de mãe.

por José do Vale Pinheiro Feitosa

Por Ana Cecília S.Bastos


por vezes quedo-me hirta
imitando os passantes

a chuva chove a si mesma e eu
desespero-me de ser

Por Everardo Norões




Uma anotação sobre tradução


Falhas de tradução podem levar facilmente a equívocos de interpretação. Exemplo: uma tradução do ensaio O narrador, de Walter Benjamin (Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política. Ed. Brasiliense, tradução de Sergio Paulo Rouanet).

Certas passagens dessa tradução brasileira são quase incompreensíveis. No início do capítulo XVII do ensaio está escrito:“Poucos pensadores tiveram uma afinidade tão profunda pelo espírito do conto de fadas como Leskov”. (p. 216) Não conheço a língua alemã, mas o texto francês, traduzido e revisado pelo próprio Benjamin (Écrits français. Gallimard) diz assim: “Poucos narradores parecem tão profundamente impregnados do espírito dos contos quanto Leskov” (*). Trata-se apenas de uma frase, ou de uma palavra, mas ela muda completamente o sentido do ensaio. Benjamin não poderia se referir a “conto de fadas”, pois não são contos de fadas aqueles veiculados no passado pelos artesãos, comerciantes ou marinheiros, arquétipos de que trata O narrador. O próprio texto da tradução se contradiz, quando se refere a ‘conto de fadas’ numa página e, logo em seguida, faz referência a personagens como “o tolo”, “o inteligente”, “o caçula” etc.

Em outra passagem ( p. 201) do mesmo ensaio, lê-se: “Na riqueza dessa vida e na descrição dessa riqueza, o romance anuncia a profunda perplexidade de quem vive”. Na tradução (insistimos, feita pelo próprio Benjamin), a palavra correta não é perplexidade, mas abulia, que significa falta de vontade, de ânimo para se tomar decisão, o que é bem diferente de perplexidade.

Para um autor como Walter Benjamin, (este seu ensaio é intensamente analisado nas universidades), filósofo para quem cada palavra pode encerrar um conceito, cada pequena observação um pensamento original, a tradução imperfeita é susceptível de comprometer a formulação de uma teoria ou de tornar incompreensível aquilo que ele conseguiu expressar com o máximo de clareza.

(*) Peu de narrateurs paraissent aussi profondément imprégnés de l'esprit des contes que Leskov.(p. 291)

por Everardo Norões

Crônica de Rachel de Queiroz



Talvez o último desejo

Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz, prosperidade pública e particular para todos, saúde e dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer?

Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar não posso, aquilo que representa o real desejo do meu coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana!

Sim te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos: danem-se! Danem-se que eu não ligo, vou pra longe me esquecer de tudo, vou a Pasárgada ou a qualquer outro lugar, vou-me embora, mudo de nome e paradeiro, quero ver quem é que me acha.

Isso que eu queria. Chegar junto do homem que eu amo e dizer para ele: Te dana, meu bem! Dora em vante pode fazer o que entender, pode ir, pode voltar, pode pagar dançarinas, pode fazer serenatas, rolar de borco pelas calçadas, pode jogar futebol, entrar na linha de Quimbanda, pode amar e desamar, pode tudo, que eu não ligo!

Chegar junto ao respeitável público e comunicar-lhe: Danai-vos, respeitável público. Acabou-se a adulação, não me importo mais com as vossas reações, do que gostais e do que não gostais; nutro a maior indiferença pelos vossos apupos e os vossos aplausos e sou incapaz de estirar um dedo para acariciar os vossos sentimentos. Ide baixar noutro centro, respeitável público, e não amoleis o escriba que de vós se libertou!

Chegar junto da pátria e dizer o mesmo: o doce, o suavíssimo, o libérrimo te dana. Que me importo contigo, pátria? Que cresças ou aumentes, que sofras de inundação ou de seca, que vendas café ou compres ervilhas de lata, que simules eleições ou engulas golpes? Elege quem tu quiseres, o voto é teu, o lombo é teu. Queres de novo a espora e o chicote do peão gordo que se fez teu ginete? Ou queres o manhoso mineiro ou o paulista de olho fundo? Escolhe à vontade - que me importa o comandante se o navio não é meu? A casa é tua, serve-te, pátria, que pátria não tenho mais.

Dizer te dana ao dinheiro, ao bom nome, ao respeito, à amizade e ao amor. Desprezar parentela, irmãos, tios, primos e cunhados, desprezar o sangue e os laços afins, me sentir como filho de oco de pau, sem compromissos nem afetos.

Me deitar numa rede branca armada debaixo da jaqueira, ficar balançando devagar para espantar o calor, roer castanha de caju confeitada sem receio de engordar, e ouvir na vitrolinha portátil todos os discos de Noel Rosa, com Araci e Marília Batista. Depois abrir sobre o rosto o último romance policial de Agatha Christie e dormir docemente ao mormaço.

*

Mas não faço. Queria tanto, mas não faço. O inquieto coração que ama e se assusta e se acha responsável pelo céu e pela terra, o insolente coração não deixa. De que serve, pois, aspirar à liberdade? O miserável coração nasceu cativo e só no cativeiro pode viver. O que ele deseja é mesmo servidão e intranqüilidade: quer reverenciar, quer ajudar, quer vigiar, quer se romper todo. Tem que espreitar os desejos do amado, e lhe fazer as quatro vontades, e atormentá-lo com cuidados e bendizer os seus caprichos; e dessa submissão e cegueira tira a sua única felicidade.

Tem que cuidar do mundo e vigiar o mundo, e gritar os seus brados de alarme que ninguém escuta e chorar com antecedência as desgraças previsíveis e carpir junto com os demais as desgraças acontecidas; não que o mundo lhe agradeça nem saiba sequer que esse estúpido coração existe. Mas essa é a outra servidão do amor em que ele se compraz - o misterioso sentimento de fraternidade que não acha nenhuma China demasiado longe, nenhum negro demasiado negro, nenhum ente demasiado estranho para o seu lado sentir e gemer e se saber seu irmão.

E tem o pai morto e a mãe viva, tão poderosos ambos, cada um na sua solidão estranha, tão longe dos nossos braços.

E tem a pátria que é coisa que ninguém explica, e tem o Ceará, valha-me Nossa Senhora, tem o velho pedaço de chão sertanejo que é meu, pois meu pai o deixou para mim como o seu pai já lho deixara e várias gerações antes de nós, passaram assim de pai a filho.

E tem a casa feita pela nossa mão, toda caiada de branco e com janelas azuis, tem os cachorros e as roseiras.

E tem o sangue que é mais grosso que a água e ata laços que ninguém desata, e não adianta pensar nem dizer que o sangue não importa, porque importa mesmo. E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros.

E tem o respeitável público que há vinte anos nos atura e lê, e em geral entende e aceita, e escreve e pede providências e colabora no que pode. E tem que se ganhar o dinheiro, e tem que se pagar imposto para possuir a terra e a casa e os bichos e as plantas; e tem que se cumprir os horários, e aceitar o trabalho, e cuidar da comida e da cama. E há que se ter medo dos soldados, e respeito pela autoridade, e paciência em dia de eleição. Há que ter coragem para continuar vivendo, tem que se pensar no dia de amanhã, embora uma coisa obscura nos diga teimosamente lá dentro que o dia de amanhã, se a gente o deixasse em paz, se cuidaria sozinho, tal como o de ontem se cuidou.

E assim, em vez da bela liberdade, da solidão e da música, a triste alma tem mesmo é que se debater nos cuidados, vigiar e amar, e acompanhar medrosa e impotente a loucura geral, o suicídio geral. E adular o público e os amigos e mentir sempre que for preciso e jamais se dedicar a si própria e aos seus desejos secretos.

Prisão de sete portas, cada uma com sete fechaduras, trancadas com sete chaves, por que lutar contra as tuas grades?

O único desabafo é descobrir o mísero coração dentro do peito, sacudi-lo um pouco e botar na boca toda a amargura do cativeiro sem remédio, antes de o apostrofar: Te dana, coração, te dana!


Texto extraído do livro:
Um alpendre, uma rede, um açude - 100 crônicas escolhidas. Rachel de Queiroz. Editora Siciliano. São Paulo. 1993 p. 101-103.

Pros meus amigos ausentes e presentes - por Socorro Moreira


Eu sei que você não veio
que você não chegou
que o vazio ficou...


Eu sei que não tivemos tempo
que foi tudo rápido,
como um sorvete na praça,
num domingo quente


Eu sei que podia ter sido diferente...
Não consegui felicidade plena
Senti todas as ausências
e abracei comovida todos os meus amigos
que a vida, naquela noite, reuniu !


Preciso agora de encontros próximos
no dia a dia...
Aqui ou alhures.
Com tempo para os silêncios , um cafézinho,
um papo, num banco da praça...
Estou carente de ficar mais tempo
com os meus amigos.
Que eles cheguem em versos, prosas,
e celebrem conosco as alegrias da vida .
Essa curta curva ,
que nos reserva vislumbres da eternidade
onde o que é verdadeiro, fica !

(Luis Fernando Veríssimo)



Não tem nada pior do que ser hipocondríaco num país que não tem remédio.
Eu tomo remédio para controlar a pressão.
Cada dia que vou comprar o dito cujo, o preço aumenta.
Controlar a pressão é mole.
Quero ver é controlar o preção.
Tô sofrendo de preção alto.
O médico mandou cortar o sal.
Comecei cortando o médico, já que a consulta era salgada demais.

Para piorar, acho que tô ficando meio esquizofrênico.
Sério!
Não sei mais o que é real, principalmente, quando abro a carteira ou pego extrato no banco.
Não tem mais nem um Real.

Sem falar na minha esclerose precoce.
Comecei a esquecer as coisas:
Sabe aquele carro novo?
Esquece!
Aquela viagem de férias?
Esquece!
Tudo o que o barbudo prometeu?
Esquece!

Podem dizer que sou hipocondríaco, mas acho que tô igual ao meu time: nas últimas.

Bem, e o que dizer do carioca?
Já nem liga mais pra bala perdida...
Entra por um ouvido e sai pelo outro.

Faz diferença...

"A diferença entre o Brasil e a República Checa...
É que a República Checa tem o governo em Praga, já o Brasil tem a praga no governo.

Por Dona Almina




EXISTE UMA FORÇA CHAMADA DEUS!

Que nos leva a viver, que nos faz recomeçar
Que nos faz sorrir,que nos faz suportar as dores,
Que nos faz suportar a saudade
Que nos faz buscar a felicidade
Existe uma força muito além de nossos olhos
Maior que imaginamos, que nem sempre procuramos
Mas, ela sempre está a nossa espera
Existe uma força que nos faz sonhar
Uma força que nos faz acreditar
É uma força chamada AMOR
É uma força chamada persistência
Uma força chamada coragem
Uma força chamada fé!
Uma força que nos faz desejar viver
Olhe! ela existe dentro de mim.
Ela existe dentro de você!
A minha força é Deus!
(Almina Arraes)

Uma mulher especial !
Filha, irmã, tia, mãe e amiga...
Mulher das artes e de todas as letras
Sensibilidade ímpar
Coração generoso
Alma plena !

Que a tua luz permaneça acesa entre nós, por muitos e muitos anos , criando e semeando sabedoria e amor !


Com muito amor, um abraço carinhoso da  legião infinita dos seus amigos .

Ver... pra crer - José Nilton Mariano Saraiva

Os que trafegam pelo litoral cearense certamente se depararão, em algumas das suas belas praias (Aquiraz, Mucuripe e Pecém, por exemplo) com aqueles enormes “cata-ventos”, de apenas três pás (hélices ou palhetas), fincados lá na parte mais alta das dunas. São as tais “centrais-eólio-elétricas”, produtoras da energia gerada pela força dos ventos (e que colocam o nosso Ceará no panteão de maior produtor nacional de tal espécie de força-motriz).
O que é difícil de observar, já que normalmente as vislumbramos de passagem, ao longe e em movimento (normalmente, de dentro do próprio carro), é a dimensão ou o tamanho da “coisa”.
Pois bem, ontem, durante a corriqueira caminhada matinal, vislumbramos três enormes carretas estacionadas no acostamento do final da Avenida Aguanambi/ começo da BR-116, na saída/entrada de Fortaleza; fomos lá conferir, já que realmente chamavam a atenção. Para se ter idéia do tamanho delas (na verdade, composta de apenas uma “boléia”, ou cabina do motorista, mas com vários “estrados” de carrocerias, conjugados), basta que se diga que cada uma tinha “APENAS” e tão somente 34 (trinta e quatro) pneus (daqueles enormes, quase do tamanho de uma pessoa mediana).
O mais substantivo, no entanto, capaz de deixar qualquer um boquiaberto (ou de queixo-caído), era a carga que cada uma transportava: as “pás” (hélices ou palhetas) dos tais “cata-ventos”: uma peça única, corrida (sem emendas ou sequer parafusada), medindo incríveis 45 (quarenta e cinco) metros de comprimento (correspondente à altura de um prédio de 15 andares, sim) por cerca de 02 a 03 metros de largura (na base), e cerca de 1,5 metros na sua parte final. Só vendo... pra crer (assustador, até).
Curioso, pedimos licença, nos identificamos e abordamos educadamente aquele que nos pareceu ser o chefe do grupo (e fomos muito bem recepcionados), quando tomamos conhecimento, também, que cada uma delas pesava “APENAS” e tão somente 10 (DEZ) TONELADAS (cada carreta carregava duas) e que a velocidade máxima do veículo, na estrada (num retão) atingia “incríveis” (???) 40 (quarenta) quilômetros por hora (imaginem numa subida). Estavam vindo de São Paulo (evidentemente que já há vários dias), se dirigiam para a cidade de João Câmara, no Rio Grande do Norte e contavam com uma escolta (lá presente) de quatro carros (de marca Fiat), conduzindo “seguranças” de uma empresa privada.
Agora, vocês, aí do outro lado da telinha, botem a imaginação pra funcionar: se cada uma dessas “pás” (hélices ou palhetas) tem esse tamanho e pesa esse absurdo (e nós vimos, ao vivo), e cada “cata-vento” recebe três delas (ou trinta toneladas) qual será o diâmetro e peso dessa “base de sustentação” em que serão instaladas, sabendo-se que sua altura é de 50 (cinqüenta) metros; imaginemos, também, o grau de dificuldade de se descarregar (como já o fora carregar) tal “brinquedo”, transportá-lo, tanto ao longo da estrada como lá pra parte mais alta de uma duna, içá-lo a 50 metros de altura e, finalmente, acoplá-lo à base (que tipo de guindaste se presta pra tal tipo de serviço e qual o “parafuso” capaz de sustentar ou agüentar o tranco ???); imaginemos, ainda, a força descomunal que deve ter o vento pra mover não só uma, mas três “geringonças” desse porte, a fim que o gerador seja acionado e a energia produzida; e, o mais importante, imaginemos qual o critério técnico usado para se determinar em que parte desse imenso Brasilzão tais tipos de projetos são viáveis (onde tem vento com força e constância capaz de), já que, além de toda uma logística de produção e transporte, e o conseqüente custo exorbitante, naturalmente há que se obedecer a rígidos critérios técnicos que não admitem falhas de avaliação e escolha do local a ser instalado.
E saibam, de quebra, que no Ceará se encontra não só a primeira “usina-eólio-elétrica” do mundo construída sobre dunas de areia, bem como a maior usina do gênero, da América Latina; a primeira, se acha instalada na Praia da Taíba, no município de São Gonçalo do Amarante (55 quilômetros de Fortaleza), e a segunda, na Prainha (em Aquiraz, 30 quilômetros da capital). Além delas, está em pleno funcionamento o Parque Eólico do Mucuripe, com os aerogeradores instalados na Praia Mansa, zona leste da Capital. Juntos, parque e “usinas-eólio-elétricas” do Estado produzem atualmente 17,4 Megawatts (no Brasil são 22,6 MW), sendo 2,4 Megawatts na Praia Mansa, 05 MW na central da Taíba e 10 MW na usina da Prainha.
Enfim, um lembrete: quando você passar por uma dessas gigantescas “usinas- eólio-elétricas”, não custa lembrar de que não se pode mudar um país de dimensões continentais, como o é o Brasil, de uma hora pra outra, ou da noite pro dia, ao toque de uma varinha de condão, antecedido da pronúncia de algumas palavras mágicas. A coisa não funciona assim. E que, inquestionavelmente, perdemos muito tempo, no passado, mas, no presente, estamos alicerçando as bases que nos tornarão, indubitavelmente, numa potência mundial, no futuro (este, mesmo ali, na esquina). Necessário, pois, o esforço de todos pra chegarmos lá.
E a energia, como se sabe, é a mola propulsora ou fator determinante pra que isso aconteça (mas aí teríamos que nos reportar ao Pré-sal, e o espaço não comporta).

A PEDRA DO ABISMO



A PEDRA DO ABISMO

O sal das lágrimas no caminho.
O mar estava próximo, com a noite em seu bojo.
A rosa desfolhada, as pétalas sangravam
entre as pedras.
Os pés sangravam.
Dói construir a cor da aurora.

O tempo vai e vem
como as ondas,
como um pêndulo.
A brasa do medo acesa no vazio
dos olhos.
Uma faca contra
o grito,
a que nem o eco responde.
O pássaro do silêncio cai morto no fundo do poço.

A lua dos mortos acena do alto.
É o vale do esqueleto,
o cemitério dos ratos brancos.
Caminho sobre o restolho
apodrecido.
Os meus pés afundam no barro ancestral.

Já nenhum resíduo
de herança:
marfim,
argola de ferro,
a ferrugem
e a pátina cinza.
O corpo de ninguém no recife das estrelas.
Uma pedra no meio do abismo do universo. 


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Veja os Campos de trigo de Gregório Vaz.