por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mireille Mathieu


Mireille Mathieu (Avinhão, 22 de julho de 1946) é uma famosa cantora francesa, tendo interpretado canções em diversos idiomas.

Por Lupeu Lacerda


Tudo bem então:
Eu invento o vento.
Só não me peça pra dizer
que eu gostei do filme.
Só não me peça pra dizer
que entendi a peça.
Só não me peça pra dizer
que existe tempo ainda.
Só não me peça pra
emprestar meu ombro magro
pra esse choro de última hora.
Só não me peça pra dizer
que estava lá na hora.
Só não me peça pra jurar
esse amor, que nem sei se cheira
que nem sei as horas
que não sei o nome.
Tudo bem então:
Desinvente o vento.
por lupeu lacerda


Eu me despeço a cada dia.
E você entende pouco disso, de
se despedir.
Daí que, talvez por isso, eu
tenha menos pressa.
Eu não peço pra que nada ou
ninguém volte pra mim.
Você acha isso bobo,
sem referência.
Daí que, por não saber se
cada olhar não será o último,
só vejo o filme até aparecer
o the end.
 por lupeu lacerda
“A MORTE DE MEU PAI”
Assim, entre aspas, começo a meditar sobre o texto de um amigo, dileto amigo e escritor: Álder. É como lhe chamo e como a ele me dirijo, em palestras boas ou quando jogamos conversa fora. Assim, como lhes escrevo e como vejo o universo desse meu caro amigo (como disse um dia Chico Buarque), mas não naquela realidade política tão bem retratada por ele. Não. O assunto é bem outro. E como é.
Escreve-nos, o articulador, sobre uma passagem triste em sua vida: a morte de seu pai.
Em seu trajeto, entre Fortaleza e Iguatu, toda a sua infância lhe veio como um filme, em preto e branco, do que fora a experiência de ter um pai. Cabiam-lhe, na bagagem de filho, alforjes tantos de saber e de ternura que aqueles minutos, em um avião, não lhe diriam jamais. Uma viagem, remetida a outra viagem mais profunda, mais verdadeira. Uma viagem num trem de um interior.
Lendo essa crônica, lembrei-me de outra do Manoel Bandeira, onde ele descrevia o medo de morrer longe do seu pai, posto que faria uma viagem à Suíça para submeter-se a um tratamento contra sua tuberculose, e não querendo que fosse longe do seu pai e tendo o Oceano Atlântico como obstáculo a distanciá-los. Quem morreu foi o seu pai, segurando sua mão, não tendo, sequer, um parede a separá-los.
A angustia do Álder, por não entender o porquê de uma partida tão prematura, aliada a um não sei quê de que porque eu não estava lá, faz-nos repensar o que é ser um pai. O que é ser pai dentro de um contexto onde temos que ser provedores machos e leoas de nossos filhos. Independe o sexo da criação quando o assunto é amar e ser amado. Ensinar aos nossos filhos o que é amor e o que é amar, sem distinção. Ser pai é ser leão e leoa. É ser fera e ser manso.
Pais, quem os teve, ou quem os tem, não são a última pá de terra que se joga em sua vida quando ela não existe mais; pais, quem os teve, ou quem os tem, não são o último grito de aflição quando está se afogando e nem o primeiro espinho que se tira do pé infante.
Álder, entre aspas iniciei meu sublime comentário, não pela dor acolchoada que suas palavras cobriram nosso manto de ternura e de admiração por todos os pais, ao contrário, porque não pude derramar uma palavra pelo pai, que acho que não tive, e tampouco uma lágrima para deitar-lhe sobre o ombro naquela viagem

Café.- Por João Nicodemos



Gosto muito de café. Não me importo com as estatísticas de saúde sobre o seu consumo, em que, ora faz bem para o coração, ora é nocivo para o sistema nervoso... Apenas observo os meus sintomas. Gosto do sabor, do cheiro, da temperatura e das lembranças que me acorrem ao saborear um bom cafezinho. Lembro-me, por exemplo, do “telecoteco“ da colher batendo no bule toda manhã, quando meu pai adoçava o café iniciando a jornada diária. E o aroma que exalava pela casa acordando a todos com a sensação de segurança, de que tudo está bem. Gosto especialmente daquele cafezinho bebido ao pé do balcão, onde apoio o cotovelo e observo a fumaça subindo da xícara e anunciando seu sabor. Uma conversa casual com o vizinho de balcão, sobre o tempo ou alguma notícia recente. Ou mesmo em silêncio ouvindo fragmentos das conversas, alheio aos assuntos.
Estive hoje andando pelas ruas do Crato, depois de uma ausência de quase um ano e, passando pelo calçadão, me lembrei com saudade do Cinelândia, onde saboreei incontáveis cafezinhos acompanhados da prosa espontânea e circunstante. Não que eu tenha me conformado com a derrubada daquele prédio histórico, mas há situações em que nada podemos fazer. Segui, então em direção à praça Siqueira Campos onde poderia saborear o gostoso café servido no Café Crato. Quem gosta de café sabe o que é a vontade de tomar um cafezinho. As papilas gustativas, antes mesmo do contato com o saboroso líquido, salivam de prazer em expectativa. Ali, no Café Crato, pude me deliciar inúmeras ocasiões, com a alegria deste hábito: beber um café e confabular gostosamente com os amigos. Mas qual o quê? Quando meu paladar já anunciava o sabor preso na memória, tive um espanto. Fiquei pasmo! Boquiaberto e triste como um viúvo diante da surpresa inevitável... No lugar do Café, encontrei uma agência bancária.

Por João Nicodemos.
 Foto do acervo de Ivens Roberto de Araújo Mourão

HAROLDO LOBO- POR NORMA HAUER


O mês de julho marca o nascimento (22/07/1910) e o falecimento (20 /07/1965) de HAROLDO LOBO, um dos compositores que mais sucessos obteve no carnaval do "povão",quando este brincava de verdade. Faleceu em seu "inferno zodiacal", como os astrólogos consideram os 30 dias anteriores ao nosso nascimento. Completaria 50 anos dois dias depois.
HAROLDO LOBO era de uma família de músicos, como seu pai (Quirino) e seu irmão (Oswaldo). Assim era natural que aos 13 anos compusesse seu primeiro samba.
Suas primeiras gravações o foram com Aurora Miranda ("Metralhadora", mais uma música relacionada à revolução constitucionalista de São Paulo e "De Madrugada").

Haroldo fez parceria com Milton de Oliveira na maior parte de suas composições, como:"Juro"; "Índio Quer Apito";"A Mulher do Padeiro";"Clube dos Barrigudos"...
Ele gostava de fazer melodias sobre bichos, daí ter composto "O Passarinho do Relógio", quando surgiram os primeiros relógios com o Cuco; "Passo do Canguru";"Miau Miau" e "Tem Galinha no Bonde", todas gravadas por Aracy de Almeida.
O bonde, veículo popular em sua época, ainda serviu de tema para "O Bonde do Horário já Passou" e "A Mulher do Padeiro", que "viajava só no bonde de Alegria". Sem fugir dos transportes, compôs,"Oito em Pé". Esta música surgiu porque na época passou a ser permitido que os ônibus levassem oito passageiros em pé.
Hoje pode parecer inconcebível, mas nos ônibus não era permitido que os passageiros viajassem "em pé". Foi então emitido um decreto, pela então Prefeitura, admitindo que fossem permitidos "oito em pé", daí a idéia de Haroldo Lobo, gravada por Aracy de Almeida, a mais constante cantora das músicas de Haroldo.
Por ocasião da volta de Getúlio ao poder, Haroldo Lobo e Marino Pinto lançaram, na voz de Francisco Alves, "Retrato do Velho", mandando recolocar o retrato de Getúlio nas paredes das repartições públicas e nas particulares ,cujo donos desejassem tê-lo novamente em suas casas.
Na época da 2ª guerra, compôs "Ruas do Japão", gravada por Linda Batista.

“Ruas do Japão” é uma sátira aos japoneses e seus costumes, lançado no tempo da 2ª guerra.
Assim :

Mas ruas do Japão
Não há mão nem contra-mão(xi)
Lanterna de papel é lampião(xi)
Suicídio lá se chama haraquiri (xi)
Aquilo é um verdadeiro abacaxi.

Quando lá é meia-noite,
Nas ruas do Japão,
Aqui é meio-dia
O quimono lá é moda,
Aqui é fantasia.
Por isso todos dizem:
Na terra do Micado,
Tudo,tudo, tudo
Tudo é atravessado.

É os tempos eram outros, mas o Japão ainda é assim, apesar de toda a evolução que veio depois da guerra, quando os americanos desejavam que seus costumes fossem lá adotados. Poucas modificações conseguiram.
Um dos maiores sucessos de Haroldo Lobo,desta vez com Nássara, ainda hoje fazendo parte de blocos carnavalescos, foi "Alá-lá-ô", gravado por CARLOS GALHARDO. Quem não o conhece?
Houve uma "tristeza" na vida de Haroldo Lobo; este seu samba "Tristeza", lançado pouco antes de seu falecimento, como música de "meio de ano" "estourou" no carnaval de 1966, quando Haroldo já havia falecido.
É conhecido no mundo, mas seu autor não viu seu sucesso, pois falecera, como ficou dito acima, em 20 de
Norma
C

"No Azul Sonhado"





O EVENTO CONTOU COM  PRESENÇAS E/OU  REPRESENTAÇÕES  SIGINIFICATIVAS:

ROBERTO JAMACARU
ABIDORAL JAMACARU
JOÃO MARNI
STELA SIEBRA
PEDRO ESMERALDO
LIDUÍNA BELCHIOR 
MANOEL SEVERO- DANIELE ESMERALDO
JOÃO NICODEMOS
ULISSES GERMANO
MARCOS BARRETO- ISA BARRETO
TETÊ BARRETO- GERALDO BARRETO
CARLOS ESMERALDO- TALES E SOCORRINHA
MAGALI ESMERALDO-TALES E SOCORRINHA
JOAQUIM PINHEIRO-ALMINA ARRAES
JOSÉ DO VALE FEITOSA-ALMINA ARRAES
ISABELA PINHEIRO- ALMINA ARRAES
EDMAR LIMA CORDEIRO
LUIZ PEREIRA- TERESA MOREIRA
PEDRO CORTEZ
SOCORRO MOREIRA
ZÉ FLÁIO VIEIRA-LUIS CARLOS SALTIEL
TIAGO ARARIPE- ABIDORAL JAMACARU
BERNARDO MELGAÇO- SOCORRO MOREIRA
ASSIS LIMA- STELA SIEBRA
FRANCISCO DAS CHAGAS-SOCORRO MOREIRA
JOSÉ CARLOS BRANDÃO- JOÃO NICODEMOS
GERALDO ANANIAS
REJANE GONÇALVES- STELA SIEBRA
TELMA BRILHANTE- GERALDO ANANIAS
MARA THIERS- MARLÍSIA SOBREIRA
MARIA DA CONCEIÇÃO R.PAIVA -SOCORRO MOREIRA
ALOÍSIO PAULO- GERALDO BARRETO
EVERADO NORÕES - ALMINA ARRAES
DMAR CORDEIRO - VERA BATISTA
EMERSON MONTEIRO
AGRADECEMOS A TODOS OS AMIGOS QUE NOS PRESTIGIARAM COM A SUA PRESENÇA:

 LUIS FELISBERTO E ESPOSA, RAIMUNDO FILHO ( NOSSO VICE-PREFEITO) ,HERON AQUINO E ESPOSA, GRAÇA BARRETO, AILTON ESMERALDO, BETINHA, REGINA VILAR, ROSINEIDE ESMERALDO, JURANDIR TEMÓTEO, NÍVIA UCHÔA, FAMÍLIA GONÇALVES ESMERALDO, FAMÍLIA SIEBRA DE BRITO,
SALETE LIBÓRIO, JOÃO DO CRATO, BLANDINO, CARMINHA,LUCIANO CARNEIRO, BEBETO BRITO, NEZINHO PATTRÍCIO, HUBERTO CABRAL, BEATRIZ, LÍDIA BATISTA, EVÂNIO,ROSÂNGELA, JOSENIR LACETRDA E MIGUEL, MÚCIO, TERESA MOREIRA, CARLA BONATES, MARISA NUNES SOBREIRA,ÁGUIDA BRITO,MARYFRAN NUNES OLIVEIRA , GEORGE MACÁRIO DE  BRITO E MUITOS OUTROS.

Abraços

A cruz de Marciana- Por Emerson Monteiro






Conta, fim precípuo de revelar horas convenientes de fugir das vistas sagazes do feitor. Demonstrou arrependimento, tristeza, gesto meloso dos dissimulados o quanto pôde. Conseguiu fingir acomodação, e lá bela noite jogou-se de impulso selvagem malha da vontade e sumiu caatinga adentro, no escuro estrelejado, doces sonhos de escuridão profunda.



Dias e dias passavam-se, quando ninguém sabia notícias da jovem negra, pois o silêncio vencera a fome dos boatos na desconfiança dali.



Num fim de tarde pouco além, nas horas mormacentas de verão cinza avermelhado, nuvem sinistra de urubus formou-se no meio de manga distante, entremeio das duas propriedades.



Dado instante adiantado, quase noite, deixaram os agregados de ver melhor só na luz do dia seguinte; talvez alguma rês tresmalhada perdera a vida na mata.



O que encontraram na manhã alta, o corpo desfigurado, maltratado pelos bichos, de Marciana danificada a bico das aves de rapina, exposto na claridade e no calor das inclemências.



A perda feriu o povo de solidão, morrer de amor aceito na carne da cativa. E puseram pequena cruz no lugar onde lhe divisaram a fisionomia pela vez derradeira. Àquele canto viriam peregrinos, munindo flores e velas, reverenciar a forma dorida que terminou com o drama dessa Julieta cabocla, em promessas, milagres, devoção.



Do episódio nasceria o nome do povoado que em volta da cruz rendilharia casas, origem da localidade batizada hoje de Planalto de Marciana, município de Arneiroz, Sertão do Inhamuns, Ceará.



Emerson Monteiro



Dos livros "É Domingo e "No Azul Sonhado"

O "jeito PSDB" de governar - José Nilton Mariano Saraiva

O senhor Teodorico Menezes Neto, depois de “exercer a profissão” de Deputado Estadual por nada menos que 20 anos (cinco legislaturas), houve por bem “passar o cetro e o bastão” para o rebento querido (desempregado), Teo Menezes (também do PSDB), fazendo-o seu legítimo sucessor político; antes, porém, providencialmente conseguiu “descolar” para si o milionário emprego (“vitalício”) de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Ceará-TCE (a partir de 1999), chegando à sua presidência em 2010/2011 (para os desavisados, o TCE é o órgão responsável por julgar as contas do governo, além de fiscalizar as obras e contratos firmados com o Executivo).
Pois bem, magnânimo e dotado de um “coração de mãe” (e certamente que usando no “limite da irresponsabilidade” do tal tráfico de influência), o Doutor Teodorico Menezes Neto montou um verdadeiro exército de eficazes operadores de verbas governamentais (esposa, filho, chefe de gabinete, cerimonialistas, motorista terceirizado, assessores e conhecidos outros), para, através da assunção de postos de confiança no próprio Tribunal de Contas do Estado (por ele presidido) e em associações comunitárias fajutas em diversos e miseráveis municípios (Pindoretama, Pacajus, Chorozinho, Horizonte e Cascavel, dentre outros), se habilitarem ao recebimento de uma montanha de dinheiro, objetivando construir... kits sanitários (banheiros).
Assim, contando com o beneplácito de colegas políticos encastelados em posições estratégicas do Governo do Estado, através de convênios firmados com a Secretaria das Cidades conseguiu (só entre maio e junho do ano passado), R$ 2.052.000,00, que seriam utilizados na construção de 1.026 banheiros (imaginem o “rombo” se resolverem auditar os anos anteriores).
Mas, aí, literalmente “fez-se merda”, com o surgimento de um “detalhezinho” um tanto quanto comprometedor e que constrangeria qualquer pessoa dotada de um mínimo de seriedade: além de esqueceram de construir os respectivos (banheiros), os endereços fornecidos (das associações) não foram localizados (ou serviam de abrigo a outras atividades, já que num deles funcionava um motel); enquanto isso, também se descobriu que todos os convênios foram firmados num mesmo dia, já que com numerações seqüenciais.
Como “pimenta nos olhos dos outros é refresco”, pra completar foi descoberto que onze austeros, valorosos e ilustres comissionados do Tribunal de Contas (presidido pelo senhor Teodorico Menezes Neto), funcionaram como ativos doadores da campanha do filho, Téo (alguns, com valores superiores ao permitido por lei).
O surreal disso tudo é que, ao se deparar com tão graves denúncias, repletas de detalhes escabrosos sob qualquer ângulo que se observe e “mancheteadas” pela imprensa durante uma semana, o senhor Teodorico Menezes Neto simplesmente resolveu... tirar férias (confiante na memória curta do povo). Depois, se a coisa apertar ou continuar fedendo muito, dará um jeito de se aposentar, (com vencimentos integrais, evidentemente), legando e deixando ao filho querido tão nobre e belos ensinamentos.
É o “jeito PSDB” de governar (agora, imaginem o “auê” que fariam se “Sua Excelência” fosse filiado ao PT).



JUANORTE
Jornal de Opinião da Metrópole do Cariri

MEMÓRIAS DE UM ROMEIRO
Fausto da Costa Guimarães foi um romeiro que nasceu em Soledade-PB em 19 de dezembro de 1865, filho de Imperiano José da Costa e Felicidade Maria Guimarães. Casou-se em Catolé do Rocha-PB, no dia 27 de março de 1894, com a senhora Januária Henriques Guimarães, filha de Julio Mendonça e Emília Henriques Mendonça. Na sua origem paraibana, Fausto foi criador de gado, comerciante e funcionário público – escrivão da Coletoria Provincial, até a proclamação da república. Agora se sabe que, monarquista convicto, Fausto deixou o emprego por não concordar com a mudança que se operara no regime político do Pais. Então, ele continuou a trabalhar no comércio, estabelecido ou viajando pelos Estados vizinhos. Veio para Juazeiro em 1907 tornando-se a amigo do Padre Cícero, por cuja confiança ocupou o cargo de coletor federal. Aqui teve numerosíssima prole, com 18 filhos, dos quais menos da metade se criou. Soube há poucos dias que, apesar de poucas letras, o velho Cel. Fausto deixou escrito um volumoso material com a denominação de “Memórias sobre o Revmo. Padre Cícero Romão Batista e o Joazeiro e também uma parte de minha biografia”, (Começada em 1912 a descrever até esta data, Joazeiro, 10 de Abril de 1924. Fausto da Costa Guimarães - Continua no segundo livro). Seu neto, Fausto, que tem levado adiante o interesse de tornar público este documento e vem providenciando a transcrição do primeiro volume, me deu a conhecer que, com buscas nos guardados de família, encontrou o segundo volume referido, e que ao finaldeste, há uma indicação da existência de um terceiro, cujo paradeiro está sendo verificado, mediante estórias relembradas por membros da família e relatadas pelo pai de Fausto - o sr. José Fausto Guimarães, ex-secretário particular do Padre Cícero, de um certo empréstimo do qual não houve, ainda, devolução. Este manuscrito de Fausto da Costa Guimarães é quase um diário no qual o autor relata a vida da cidade, seus fatos mais importantes, como os primeiros momentos do novo município, detalha as diversas investidas durante a sedição de 1913-1914, o relacionamento de políticos do Estado do Ceará com Juazeiro através das pessoas de Pe. Cícero e Floro, os visitantes frequentes da cidade, os graves problemas da grande seca de 1915, a primeira eleição em Joazeiro para deputados federais e senador,
Foto : Família de Fausto Guimarães com Padre Cícero
em 01.03.1918, o primeiro automóvel que chega à cidade, em 05.09.1918, o início das obras de calçamento, em 10.10.1919, a passagem da família do presidente João Pessoa, em 25.11.1919, uma epidemia dizimando gado e outros animais, em 1922, faz uma retrospectiva das comemorações da semana santa em Joazeiro, desde 1890,1891 e 1893 (as três primeiras) (a quarta, segundo ele, só foi acontecer em 1923 (“30 anos de abandono do clero cearense ao Joazeiro”, refere Fausto). E assim por diante. Uma preciosidade. Agora é esperar um pouco mais pois a proposta da Comissão do Centenário, especialmente orientada pelo sub-grupo que trata do seu programa editorial, vai na direção de que seja este original incluído na lista de inéditos, onde também já figuram textos de Octávio Aires de Menezes e Amália Xavier de Oliveira. Segundo Fausto, estes documentos, após o conhecimento público na formatação de livro de memórias, deverão ser devolvidos a Juazeiro do Norte para que passe a integrar parte do seu patrimônio histórico, de cidade centenária.. .



JUANORTE
Qualidade e Credibilidade



COLUNÁRIO Menezes Barbosa Jota Alcides Daniel Walker Luiz Carlos Renato Casimiro Abraão Batista
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Por Geraldo Urano

ÁFRICA

áfrica na minha cabeça
áfrica na tua cabeça
áfrica nos cabelos do Brasil
na nossa cabeça de Brasil
áfrica nos lábios teus
no meu nariz
áfrica para me coraçãnizar
me coraçãnizar
áfrica
meu coração
meu coração
áfrica



Canto da noite- socorro moreira



Ela apareceu minguante
Exuberante, no seu vermelho/ vida
Ela é mulher
Seduz olhares
E se mantém inatingível.

A cidade aos seus pés
- A cidade distante dos nossos pés
Sinalizando movimento
Corações pulsantes
Felizes, sofridos...


Noite fria de julho
Vinho verde
Cheiro de café, bolo de puba
Tias, zinhas...
- Tragos de esperanças

Carinho pulando em cada olhar
Sorrisos
Vestidos de verdade... Ao natural!

O VEIO DA VIDA - por José Flávio Vieira


Acordou encafifado: meio barro, meio tijolo. Mundo se projetando algo sombrio, como um filme noir. As paredes da velha casa, opressivas, carregavam-se com aquele limo pegajoso e úmido das prisões. A vida resumia-se a alguns fragmentos desconjuntados do passado: um puzzle disperso, impossível de ser reorganizado. Rápido percebeu que faltavam resquícios de vida ao derredor, até mesmo porque o ambiente é apenas um mero reflexo das nossas luzes interiores. Quem sabe, adornando aqueles interiores com o verde frescor de alguma begônia, o mundo se reimantaria de magnetismo vital? Perambulou pelas ruas como quem procura um objeto inencontrável: o Santo Graal da felicidade desvanecida.
As rosas da floricultura lhe pareceram opacas e inodoras. Os pássaros na feirinha apresentaram-se profundamente silentes e apenas refizeram na sua alma a angustiante gaiola em que subitamente vira transformada, pela manhã, o seu “Lar Amaro Lar”. Nem lojinha de animais de estimação melhorou-lhe o ânimo, sentiu-os como que empalhados e, num átimo, percebeu que o hamster, o periquito, o chihuhaua seriam incapazes de repovoar o deserto em que se transformara a casa. Sequer os peixes multicolores no aquário iluminado no cantinho da loja resplandeceram alegria e vivacidade.
Sentia-se como único sobrevivente de uma explosão nuclear, tentando refazer o mundo com os dispersos estilhaços que restaram. Desiludido, sem saber bem porque nem pra que, comprou de um vendedor introspectivo e frio um aquário, sem água e sem peixes. Seguiu para casa com aquele trambolho e colocou-o, sintomaticamente vazio, na pequena estante da sala que abrigava a TV. Pressentiu, com os dias, que aquele aquário como que representava um retrato da sua alma: oca, ressequida e sem aparente utilidade. Aquela imagem, estranhamente, aumentou o ar denso e quase irrespirável da sala.
Saiu, no outro dia, em busca de um habitante para o aquário. Na esquina encontrou um vendedor de fósseis e, num ímpeto, adquiriu um pequeno peixe petrificado. Em casa colocou-o cuidadosamente dentro do aquário. Com o passar dos dias foi como se a sala se iluminasse. Já não existiam objetos ao derredor, o fóssil no aquário da sala alegrava-lhe a vida, mas, por outro lado, mantinha-o hipnotizado e submisso. Não mais saiu à rua, deixou de atender telefone, a TV já não tinha qualquer sentido. Algumas semanas depois começou a notar que as paredes da casa se iam tornando mais escuras e compactas e avançavam em direção ao centro, como se fossem se encorpando, dia após dia. Começou notar em si mesmo a pele mais escura e endurecida, e com o passar do dia ela foi se transformando em escamas. As articulações se foram emperrando até levá-lo à total imobilidade. Um belo dia as paredes da sala o aprisionaram definitivamente. Desde então aguarda, ansiosamente, as pancadas do martelo que rompam o veio da pedra e mostrem seu testemunho petrificado para a estonteante mobilidade da vida.

(D livro "No Azul Sonhado")

Tristemente- por Francisco das Chagas



nos olhos algo se perdeu
luz de lilás tão longe
vai longe
que não sei se a esqueço

será ela ou eu?

“que música é essa?”

vai longe
tão longe quanto o longe é

quis voltar
não ver o lado quente
desse fio de calçada em frente
que se estira entre a face
e o nada diluído na cidade

“quem é esse cara?”

um dia assim é só saudade

com muita tristeza
o dia em desgaste supõe-se um sonho

“que música é essa?”

“lush life!”

o dia em sintonia com a insensatez
vem de longe muito longe
ou sou eu tristonho?

“quem é esse cara?”

“chet baker!”

um louco nas ruas esse dia
em pé de guerra com a vida
sempre depressa depressa

é demais...

Por BERNARDO MELGAÇO DA SILVA




QUEM É AQUELE SER HUMANO QUE VAI ALI?

Quem é aquele ser humano que anda na contramão do tempo sem lenço, sem documento e sem direção? Quem é esse que no lixo divide com as baratas, os ratos, as formigas, as moscas, a sua refeição? Ele vive sem viver, andando sozinho pelas ruas movimentadas, de tanta pressa e confusão e, no entanto, sem nenhuma assistência de compaixão. Ele não é reconhecido como cidadão. Anda fora da moda com a única roupa encardida de tanto dormir ao relento, no frio chão. Às vezes, carrega um saco com objetos estranhos de segunda, terceira ou quarta mão; carrega uma latinha para pedir algum trocado de um coração morador da cidade, chamado "cidadão". Na maioria das vezes, nem banho toma, porque na sua casa não tem água e não tem luz: o seu endereço se chama solidão.
Quem é aquele ser humano que anda na rua carregando o fardo do isolamento e do esquecimento da sua identidade existencial chamada "irmão"? Ele anda num tempo que não é socialmente necessário. A sua dor quase ninguém sabe, e é raro alguém se interessar pela ferida aberta em seu ser. A sua presença, falta ou fala não sai estampada nos jornais e revistas da moda. A sua imagem enegrecida, de tão encardida, é diagnosticada como uma grave doença sem recuperação. Ele não possui talão de cheque. Ele não tem cartão de crédito. Em verdade, poucos são aqueles que lhe dão crédito. Ele é abandonado. Ele é ignorado. Ele é evitado. Ele não é convidado para ir a nenhuma festa. Ele não é abraçado em seu aniversário, e muito menos amado, ou lembrado, nas festas e banquetes de Natal pelos seus irmãos.
Quem é aquele ser humano que vive em outro mundo dentro desse mundo dito moderno, e avançado de tecnologias, porém antigo e atrasado da Ética do coração? Ele anda vagando pelas ruas sem precisar determinar uma orientação. Ele não tem emprego, casa, teto e qualquer função na cadeia de criação produtiva-competitiva-especulativa. A sua casa é a própria carência e necessidade de tudo. A sua família é o sofrimento de pertencer a uma comunidade sem laços de fraternidade e amizade no coração. O seu caminho são passos sem destino de um corpo à espera de um descanso final, em qualquer lugar e em qualquer buraco do chão. Ele somente é reconhecido pela estatística como um número abstrato de certa população de um contexto "social" diferente. Ele não é operário, chefe, patrão ou dirigente. Ele não é engenheiro, mestre, professor, doutor, e tampouco escrivão. Ele não é visto nem como sujeito de uma relação. Ele é esquecido mesmo pela insensibilidade econômica inevitável desta tal integração chamada globalização.
Quem é aquele ser humano que não assiste televisão, não lê jornal e não escuta rádio de nenhuma estação? Ele não tem idade e nem sexo definido, porque é homem, mulher, criança e idoso sem privilégio de raça e religião. Ele não vota e nem é procurado por qualquer candidato em nenhuma eleição. Ele vive à parte fazendo parte de um todo racional que, ao se dividir, perdeu a noção de que todas as partes fazem parte de uma consciência cósmica, que está e é igual em toda e qualquer parte e, portanto, nunca se parte. Quem é aquele ser humano que passa ao lado quase como fantasma-indigente, um vivo-morto perambulando e desafiando a própria sorte da vida da gente? Ele é Deus esquecido no outro! É Cristo ignorado. É a Centelha Divina que insiste em provar que na vida humana até mesmo os excluídos, esquecidos e desassistidos recebem a Glória de Deus para desafiar a insensatez e a incerteza dos homens que buscam a sua própria glória-riqueza e, por isso mesmo, se afastam e perdem o Afeto-Pureza de Deus. É Deus em ação querendo ser tocado, lembrado e amado pelos homens mais uma vez. É Deus mostrando que a Vida transcende a morte, a miséria e a indiferença do poder político e material dos homens. É com certeza a eterna presença de Deus esperando o grande encontro no Outro. 

Bernardo Melgaço
(Do livro "No Azul Sonhado")


O Livro "No Azul Sonhado"

Eis aqui outro fenômeno caririense produzido em blogs da Internet que congrega elenco de escritores do Cariri cearense, ou ligados ao seu meio de conhecida tradição artístico-cultural. São pessoas somadas pelo gosto das letras e pela amizade, numa produção que reflete o espírito criativo desta época de tantos e recentes multimeios da comunicação eletrônica. Reunidos, pois, no Azul Sonhado, formam trabalho amplo de inovações, o que sumiria pelos dedos imediatos da virtualidade, não fosse o empenho da sua edição. Resta usufruir os resultados surpreendentes da feliz iniciativa.

Emerson Monteiro

MEDIDA- Aloísio Paulo dos Santos




(Não me ocupo em medir dias, horas, minutos,
pois os segundos são mais importantes.)

Pensando em alguma medida
Não esquento minha moringa
Vou beber água da quartinha
Para lembrar da minha vida

Já medi fita, chita, morim,
Medi bramante estampado
Isto eu fazia com o metro
De madeira amarelado

Medida por unidades,
Dúzias, grosas e centenas
Assim vendia os produtos
Lápis, canetas e penas

E na balança com o peso
Muitas coisas eu media
Açúcar, arroz, feijão,
Café, fubá e sabão

Com a medida do litro
Também media farinha,
Querosene, azeite, mel,
E a popular caninha

E de todas as medidas
Lembro da mais saborosa
Quero saber como se mede
Aquele dedo de prosa

Me diga, minha amiga,
Se acertei na medida,
Porque hoje fui buscar
O ontem na minha vida.