por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 22 de julho de 2011

“A MORTE DE MEU PAI”
Assim, entre aspas, começo a meditar sobre o texto de um amigo, dileto amigo e escritor: Álder. É como lhe chamo e como a ele me dirijo, em palestras boas ou quando jogamos conversa fora. Assim, como lhes escrevo e como vejo o universo desse meu caro amigo (como disse um dia Chico Buarque), mas não naquela realidade política tão bem retratada por ele. Não. O assunto é bem outro. E como é.
Escreve-nos, o articulador, sobre uma passagem triste em sua vida: a morte de seu pai.
Em seu trajeto, entre Fortaleza e Iguatu, toda a sua infância lhe veio como um filme, em preto e branco, do que fora a experiência de ter um pai. Cabiam-lhe, na bagagem de filho, alforjes tantos de saber e de ternura que aqueles minutos, em um avião, não lhe diriam jamais. Uma viagem, remetida a outra viagem mais profunda, mais verdadeira. Uma viagem num trem de um interior.
Lendo essa crônica, lembrei-me de outra do Manoel Bandeira, onde ele descrevia o medo de morrer longe do seu pai, posto que faria uma viagem à Suíça para submeter-se a um tratamento contra sua tuberculose, e não querendo que fosse longe do seu pai e tendo o Oceano Atlântico como obstáculo a distanciá-los. Quem morreu foi o seu pai, segurando sua mão, não tendo, sequer, um parede a separá-los.
A angustia do Álder, por não entender o porquê de uma partida tão prematura, aliada a um não sei quê de que porque eu não estava lá, faz-nos repensar o que é ser um pai. O que é ser pai dentro de um contexto onde temos que ser provedores machos e leoas de nossos filhos. Independe o sexo da criação quando o assunto é amar e ser amado. Ensinar aos nossos filhos o que é amor e o que é amar, sem distinção. Ser pai é ser leão e leoa. É ser fera e ser manso.
Pais, quem os teve, ou quem os tem, não são a última pá de terra que se joga em sua vida quando ela não existe mais; pais, quem os teve, ou quem os tem, não são o último grito de aflição quando está se afogando e nem o primeiro espinho que se tira do pé infante.
Álder, entre aspas iniciei meu sublime comentário, não pela dor acolchoada que suas palavras cobriram nosso manto de ternura e de admiração por todos os pais, ao contrário, porque não pude derramar uma palavra pelo pai, que acho que não tive, e tampouco uma lágrima para deitar-lhe sobre o ombro naquela viagem

Um comentário:

socorro moreira disse...

Prazer, em tê-lo entre nós!

"Ser fera e ser manso..."- um exervício!


Abraços