por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 16 de setembro de 2011



"Tantas vezes o bonde passa e não posso pegá-lo. Tenho que construir pelo menos duas paredes de tempo a cada dia: uma para o dia e outra para a noite. Então quando posso pintar uma tela de minutos, saio correndo pelas ruas juntando segundos um ao outro e sempre encontro o bonde cheio."

( José do Vale Pinheiro Feitosa )

Por que mudou ??? Mudou por que ??? - José Nilton Mariano Saraiva

“Há tempos o Crato batalha para que o aterro sanitário consorciado da Região Metropolitana do Cariri fique em nosso município, o que traria inúmeros benefícios”.
Este, um dos trechos da matéria divulgada meses atrás num dos blogs da Região do Cariri, tratando de “aterros sanitários” (com o aval positivo do prefeito do Crato), conforme depreende-se da leitura abaixo; num segundo momento, o vice-prefeito do Crato andou pelo sul-sudeste do país, conferindo in loco os “benefícios” que adviriam da implantação de tal instrumento na cidade (também objeto de reportagem do blog, inclusive com fotos).
Hoje, estranhamente, e desdizendo o que dissera antes, a grita é generalizada, todo mundo diz ser do contra, armou-se um verdadeiro circo pra tratar do tema e os cratenses se perguntam atônitos: por que mudou ??? mudou por que ???
No mais, permitimo-nos, ao final, relacionar os “benefícios” (???) que o Crato receberá se aceitar receber tal “presente” (os grifos são por nossa conta).

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(Transcrição – ipsis litteris - de trechos da matéria do blog):

“NE - Os aterros sanitários consorciados são a última palavra em tecnologia de reciclagem de lixo, pois evitam poluir o meio-ambiente. O lixo é colocado em locais onde atravessa inúmeras camadas de diferentes materiais, até ser completamente transformado em substâncias inertes e não nocivas às populações. HÁ TEMPOS O CRATO BATALHA PARA QUE O ATERRO SANITÁRIO CONSORCIADO DO DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI FIQUE EM NOSSO MUNICÍPIO, O QUE TRARIA INÚMEROS BENEFICIOS. O investimento é da ordem de 12 milhões de reais, e tem como parceiros o Banco Mundial e o Governo do Estado do Ceará”.
“O presidente do aterro consorciado, Samuel Araripe, prefeito do Crato, afirma que já houve avanços representativos em relação ao aterro consorciado. A parte de legislação do consórcio já está pronta, diretoria constituída, e a parte de legislação já passou pelo Poder Legislativo. O prefeito destacou a dificuldade de escolha do terreno, por conta da legislação, que impede que o aterro seja construído a menos de 20 quilômetros do aeroporto. "Isso dificulta a construção do aterro em Juazeiro e parte do Crato", explica”.
”Segundo o prefeito, a maioria das pessoas ainda tem uma idéia equivocada em relação ao aterro. Ele destaca ASPECTOS POSITIVOS COMO A ECONOMIA DE TRANSPORTE PARA A CIDADE QUE SEDIAR O PROJETO, AUMENTO NA ARRECADAÇÃO DO ICMS ECOLÓGICO E PERSPECTIVA DE CONSTRUÇÃO DE UMA USINA DE GERAÇÃO DE ENERGIA, O QUE JÁ SE TORNA FACILITADO”.
Samuel Araripe define como um grande negócio para um Município sediar: "Espero de fato que saia do discurso para a prática, porque o consórcio foi constituído há dois anos", ressalta. Segundo Samuel Araripe, a filosofia de implantação do aterro é perfeita, mas é importante definir a responsabilidade direta de cada integrante. Há três propostas de gerenciamento: na primeira, os próprios Municípios gerenciam; na segunda, a atribuição fica para o Estado; na terceira, entra o setor privado. "Em última instância, como consorciado, afirmo que O CONSÓRCIO DEVE SER ADMINISTRADO PELOS MUNICÍPIOS”, defende êle.

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Aqui, ALGUMAS VERDADES SOBRE OS ATERROS SANITÁRIOS

01) Há necessidade de um grande investimento para sua implantação e manutenção; 02) A fermentação e digestão da matéria orgânica pelos micro-organismos anaeróbios geram gases altamente nocivos à atmosfera, além do chorume, líquido poluente e mal cheiroso. 03) O material plástico, contido no lixo do aterro, que não é biodegradável, permanece incólume, criando bolsões de gases e condições de deslizamento das camadas componentes do aterro; 04) Inutilização de grandes áreas em locais valorizados próximos às cidades que nunca mais poderão ser utilizados, senão para cobertura verde; 05) Necessidade de investimento em equipamentos pesados como tratores, caminhões e retro escavadeiras para operar o aterro; 06) Elevado custo operacional para cumprir as condições operacionais mínimas obrigatórias; 07) Tempo de uso limitado, obrigando a busca permanente de outras áreas para novos aterros; 08) Poluição da atmosfera pela exalação de odores fétidos num raio de vários quilômetros; 09) Riscos permanentes de poluição dos mananciais subterrâneos; 10) Necessidade de permanente incineração dos gases emanados pelos drenos constituídos principalmente pelo gás metano, vinte e uma vezes mais poluente que o gás carbônico.
Outrossim, há que se atentar que a impermeabilização permanente de um aterro sanitário é uma tarefa de engenharia impossível porque, até a presente data, nenhuma tecnologia criou uma superfície capaz de conter a infiltração de forma permanente. A argila forma uma superfície filtrante, deixa passar água e quem nos garante que o lençol de material, através da ação química ou bioquímica provocada pelo contato com o chorume, escorra ? Um determinado material poderá conter a infiltração da água por algum tempo, porém, mais cedo ou mais tarde esta camada de proteção irá ceder, permitindo a passagem da água que irá transportar os metais pesados contidos no lixo do aterro para os lençóis freáticos. Regiões pobres e carentes em recursos hídricos não podem e não devem correr o risco de contaminar, de forma irreversível, os seus já escassos recursos. Assim, os aterros sanitários são soluções paliativas. Visam apenas camuflar o grande problema do lixo, empurrando-o para as gerações futuras, que terão de enfrentar verdadeiras bombas de retardo, detonáveis a qualquer momento.

Noite - por Maria Amélia Pinheiro

                                              Foto Haarllem Resende



Sendo assim partirei noite à dentro

Por Lídia Batista

Crato, 6 de setembro de 2011

Fausto,

Antes de colocar minhas impressões a respeito do livro Memórias de um Romeiro, quero transcrever as seguintes citações:

“Um bom leitor não é somente alguém reflexivo, crítico e inteligente. É aquele que sabe que a leitura pode ajudá-lo a ser assim”.

“Gostar de ler, é gostar de “saber” o mundo”.

“Ler é viver.”

Então, Fausto, com base no que foi referido, quis ler o livro organizado por você a partir dos registros do seu avô, Fausto da Costa Guimarães, além de que, como amiga sinto-me mesmo na obrigação de dar meu depoimento diante da concretude desse projeto, fruto do desejo do seu avô que demonstrou intenção de publicar suas anotações. Parabéns! O interesse, o empenho, o compromisso assumidos, para perpetuar a memória do seu avô paterno é louvável!
O seu avô, foi mesmo um homem interessante, caprichoso, determinado, ativo, religioso e amigo do padre Cicero. Impressionou--me a postura desse homem simples, sem muito estudo, que utilizou a linguagem escrita tão diariamente para averbar suas palavras, seus pensamentos dando autenticidade e legitimidade ao que vivenciava. Essa atitude visionária ficou cristalizada, atravessando anos e gerações, até chegar o momento oportuno de se conhecer o que foi documentado por seu avô, segundo a leitura que fazia da realidade em que estava inserido. Gostei da firmeza de vontade quando Seu Fausto intercedeu por Padre Cícero, escrevendo carta ao arcebispo coadjutor do Rio de Janeiro: D. Sebastião Leme; e “uma declaração necessária”, escrita para D. Quintino, quando da excomunhão do Padre Cícero, por ordem do Santo Ofício.
O livro tem uma ligação forte do passado com o presente, por ser o Padre Cícero o referencial marcante desse enredo. O Padre Cícero, por ter sido um ser humano de fé, carismático, líder, inteligente, criativo, político, polêmico, resignado, continua sendo o centro das atenções de milhares de pessoas, espalhadas pelo país afora. E o Juazeiro, lugar querido do padre e do seu avô, foi o palco adequado para o lançamento do livro Memórias de um Romeiro. Providencial também foi este lançamento em pleno centenário da cidade amada por ambos.
Gostei muito do livro. Creio também, de imenso valor para todos os familiares de Fausto da Costa Guimarães que estão vivos. Certamente saberão dar a importância e a significação que esse recurso merece.
Com amizade

Lídia Maria Lima Batista

Colaboração de Geraldo Ananias


 
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO 

A repórter Glória Maria, da TV Globo, quando esteve no Afeganistão, há 10 anos, notou que as mulheres caminhavam sempre meio metro atrás dos seus maridos.

Voltando lá agora, observou que elas tinham passado a caminhar pelo menos 5 metros à frente deles.

Interessadíssima nessa mudança de comportamento, a jornalista imaginou que tal mudança de costumes deveria significar uma grande vitória feminina.

Aproximou-se de uma das mulheres e disse deslumbrada:
-"Amiiiga! Que maravilhaaaaaaa! O que aconteceu aqui que fez com que se extinguisse aquele costume absurdo de a mulher caminhar atrás dos maridos e que, agora, caminham gloriosamente à frente deles?"

E a mulher afegã respondeu:
 -  "Minas terrestres!..."

Colaboração de Geraldo Ananias

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar."
 Dalai Lama

Convite!

Daqui a pouco, às 19 h, na Igreja de Fátima, missa de sétimo dia do nosso amigo Maurilo Peixoto.
Saudades, sempre!

"Êta Dor de Cotovelo"- socorro moreira




Já não se fazem músicas de fossa como antigamente? Já não curtimos a fossa como noutros tempos?
Cura-se um amor com outro amor; transmuta-se a paixão; ama-se sem posse, e sem vontade de casar.
A dor-de-cotovelo passa pras mãos e é atirada ao vento. Claro que é importante curtir a dor de uma saudade, que às vezes é também a falta. A cura é fatal, diz o tempo! A cicatriz é perceptível, na tristeza vaga de um olhar. Mas este mesmo olhar aprende a sorrir por outros
casos, outras aventuras, no passeio cotidiano por novos caminhos. Ainda bem que tudo passa.

“A dor não devolve quem se ama”.
O pedido de volta ficou mudo e acalenta outros ganhos.
Acho, entretanto, que nada mexe tanto com o ser humano como o lado afetivo.

Lupicínio sabia falar da fossa com perspectiva:
“Rapaz, leva esta mulher contigo...”
Diferente de Antonio Maria, que dizia taxativo:
“Ninguém me ama, ninguém me quer...”
Esse masoquismo musical foi aos poucos se perdendo.
A postura romântica mudou um pouco de figura.

Falo do amor, sempre analfabeta
Falo do amor com a experiência de quem nada aprendeu
Mas deixou de sofrer... Magicamente.

Não volte, não fique
Não minta
Não me olhe, não me beije...
Não tenho mais tanto tempo
Tenho muitos anos
E ainda tenho os meus sonhos
Neles reencontro o olhar
Que resgata
Todos os olhares perdidos...

É besteira, mas ainda posso dizer:
Não paro de amar !
Meu coração vive um movimento
Ondulante como as ondas
Profundo como o mar.

Boff(e)

Quinca de Liliosa é um jornalista nato sem nunca ter esquentado nenhum banco de escola. Como bom profissional, corre atrás da notícia e tem uma sincronia enorme com os fatos que narra. Invariavelmente – sabe-se lá como --- esteve presente nos acontecimentos de que faz as reportagens, talvez para que isso dê uma confiabilidade maior às matérias. Não foi coisa de ouvir dizer, vi com esses olhos que a catarata ainda há de cegar ! Por mais de uma vez foi pego no contrapé, constatando-se o incrível dom da onipresença: estava em dois lugares diferentes , no mesmo instante, em que teriam havido dois acontecidos diversos. Claro que, como bom jornalista, Quinca punha tempero na reportagem : aumentava um pouco dali, esticava um tanto dacolá, acrescentava tramas paralelas, sabia perfeitamente que sem um pouco de ficção o jornalismo não é possível.

Semana passada , na praça Siqueira Campos – a difusora de Liliosa – ele me chegou com os olhos brilhando. Trazia uma notícia quentíssima. Controlou um pouco a ansiedade, enquanto esperava que a platéia se formasse ao derredor. Depois, quando já havia córum regulamentar, iniciou a narração. Primeiro, como sempre, fez ar de mistério: “ Sei não ! A coisa é séria, amigos, acho que é melhor não contar! Isso pode trazer problemas para mim!” Acostumados com o prefixo de Liliosa, os circunstantes nem tremeram, sabiam do que era preciso e aí começaram a insistir um pouco. Finalmente o nosso jornalista acedeu, não antes que todos jurassem, de pés juntos, que aquela história não ia sair dali: era segredo de estado. Preenchido o contrato que tinha muitas cláusulas leoninas, Quinca respirou fundo e, após um estudado silêncio perfeitamente teatral, desfiou o segredo, guardado a sete chaves como os dos meninos de Lurdes.

--- O Hospital Regional do Juazeiro está abarrotado de acidentados !

A platéia , imediatamente, armou um ar de incredulidade! Já? E o hospital foi feito num foi prá bater retrato, não? Eles atendem gente , lá? É? Pensei que fosse só um estúdio fotográfico! -- Saltou, ironicamente, o velho Zé Idéia de lá do seu canto!

--- Está cheinho, minha gente, foi um acidente terrível. Pernas quebradas, braços retorcidos, cílios arrancados, silicones pelo chão, perucas prá tudo quanto é lado! Só de plumas, paetês e purpurinas retiraram da porta do Regional mais de três caminhões.Sem falar em 2855 plataformas que os carroceiros carregaram. E os gritos de dor são de dar pena. É ver umas dez ambulâncias com os alarmes ligados! UEMMMMMMMMM!

O que teria acontecido? Perguntaram-se todos. Desfile de carnaval não existe nessa época. Alguma confusão em baile de gala? Mas baile durante o dia, com todas aquelas roupas de noite e logo onde? No Juazeiro? Liliosa mantinha o segredo estrategicamente. De onde teriam saído tantas senhoras prontas, em pleno dia e como fora possível um acidente daquele porte, com tanta gente fina e importante junta no mesmo momento? Aos poucos, Quinca foi revelando o resto da história, como se se tratasse de um strip-tease.

Não, não se tratavam de senhoras em stricto sensum. O acidente, na verdade, acometera um incontável número de rapazes alegres. A platéia, imediatamente, associou à Parada Gay do Juazeiro que iria acontecer naqueles dias. Caíra um carro alegórico? A estátua de São Sebastião despencara de um dos carros no meio das moças donzelas? Teria sido mais um ataque da desprezível homofobia ainda tão presente na nossa sociedade? Liliosa, no entanto, mais uma vez, desfez a interpretação rápida da platéia.

--- A Parada Gay de Juazeiro, amigos, só vai se realizar amanhã, fiquem tranqüilos que todos vocês não perderam , não! Ainda vai ser possível desfilar, viu?

O que teria, então, ocorrido? Como teria sido possível tamanho acidente, nas vésperas do evento? As bichinhas aos berros, chorosas, lacrimosas, cheias de escoriações e hematomas? As roupas de gala aos farrapos? Foi no aeroporto que ocorreu o pavoroso desastre! ---esclareceu nosso jornalista. Um acidente aéreo com os GLTS que vinham para a Parada, imaginaram todos.

Quinca, após um breve silêncio, mais uma vez dissuadiu-os. Não, não tinha sido isso! Depois de um silêncio cientificamente programado, Liliosa, por fim esclareceu a causa da calamidade. Estava mais de um milhão de rapazes alegres no aeroporto regional do Cariri esperando os companheiros que chegariam para a Parada Gay do dia seguinte. Todos foram a rigor e se espremiam , num calor infernal, só aplacado pelos incontáveis leques que ritmicamente flanavam. Junto, havia um pequeno grupo de professores que aguardava a chegada do grande Leonardo Boff que vinha, naquele dia, proferir uma memorável e concorridíssima palestra no Ginásio Poliesportivo. Arapuca estava armada, amigos. Sem ter conhecimento da vinda do teólogo, no mesmo vôo, de repente deu-se o estouro da boiada. As bichinhas saíram em desabalada carreira em busca da sala de embarque e foi um pisoteado só: cílios pelo chão, penas de pavão, silicones, perucas, plumas e paetês. É que , inadvertidamente, uma professora ao avistar o Leonardo que já havia desembarcado e se dirigia à sala de embarque, caiu na besteira de gritar:

--- Vejam, o Boff já vem ali, meu povo ! Ele é lindo !

J. Flávio Vieira

insígnia

Os meus dedos são os meus melhores amigos.
Eram lisos e límpidos e nunca se orgulharam.
Agora ásperos, velhos e tristes e tudo bem.

Não largam das minhas mãos.
Acompanham minhas unhas
no outono e no inverno
sem questionarem
o tempo.

Seguram com altivez
e com a mesma loucura

a asinha da xícara
e o cadarço do tênis.

Os meus dedos são os meus únicos amigos.
Conhecem meu pensamento antes da unha roída.
Já viraram tantas chaves e doeram-lhes as juntas.

Nunca se gabaram
das suas falanges.

Da plasticidade dos ossinhos.
Dos seus ângulos e diretrizes.

Os meus dedos não me puseram contra a parede
à espera de um anel de aço cirúrgico ou de ouro.

Passaram muito tempo colados
uns aos outros sem ironia
e sem fracasso.

Os meus dedos não duelaram.
Não se sangraram à toa,

salvo sob momentos
de tensão em que
nem eu mesmo
compreendia
seus vãos
e a água
da chuva
escapando.

Também foram eles no outro dia
que me ensinaram a fazer concha
com as duas mãos e me levaram
à boca a mesma água da chuva.

Os meus dedos são os meus senhores.
Apontaram na cara de muitos canalhas a desonra.
Outras vezes apontaram para o céu o sol se pondo.

Os meus dedos são o pai que não tive.
Desde cedo é como se eles soubessem.

E cresceram comigo
e nunca me pediram luvas.

Os meus dedos nunca tremeram,
exceto aquele tempo de frenesi
em que meu coração derretido
veio até eles.

E eles supondo minha dor
tocaram em vez de blues
um samba.

Um samba de roda,
banquete e festejos.

"Lições de Vida" (Frei Betto)

01) Deixe-me dizer, mesmo com o risco de parecer ridículo, que O VERDADEIRO REVOLUCIONÁRIO É GUIADO POR GRANDES SENTIMENTOS DE AMOR. É impossível pensar num revolucionário autentico sem esta qualidade. É preciso ter uma grande dose de humanismo, no sentido de justiça e de verdade para não cair em extremismos dogmáticos, em escolasticismos frios, em isolamentos das massas. É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade viva se transforme em atos concretos que sirvam de exemplo e mobilizem.

02) Quem se deixa dominar pelo medo de pensar, evitando contradições e opiniões divergentes, assimila o pensamento de quem o proíbe de pensar e se alheia da busca da verdade, confundindo-a com a autoridade. Ou pior: julga o seu pobre pensar refletir a verdade lapidar e olvida que HÁ A SUA VERDADE, A MINHA VERDADE E A VERDADE VERDADEIRA. O desafio é buscarmos, juntos, a verdade verdadeira.

03) MINHA GERAÇÃO – A DOS IDOS DE 68 – VIVE AGORA EM DESCONFORTO. Tantos sonhos e sacrifícios, cantos e passeatas, e o olhar altivo de “Che” iluminando nossos ideais, para resultar em filhos que se drogam, detestam política e, de academia, só conhecem as de ginástica. PARA ALGUNS, O CULTO DO CORPO COMPENSA A ATROFIA DO CÉREBRO.

04) ASSIM É A POLÍTICA: horizonte de sonhos para o qual se caminha ao peso de bolas de ferro presas ao tornozelo. Não há rotas lineares; são todas labirínticas, acidentadas. Em cada curva, uma surpresa, obrigando o viajante a mudar de ritmo e refazer o mapa. Nas costas, a sacola atulhada de vaidades intransponíveis, maledicências, frituras e bajulações desmedidas. NELA SE INGRESSA SEM PASSAR PELA PROVA DA COMPETÊNCIA, NEM SE EXIGE ATESTADO DE IDONEIDADE MORAL.

05) HÁ MUITOS MODOS DE ADMINISTRAR A LOUCURA, PORQUE DELA NÃO SE PRESCINDE INTEIRAMENTE. A minha é a arte de tecer letras, combinar vocábulos, consubstanciá-los, garimpar-lhes o significado, aprimorar sintaxes. As palavras me salvam, tornam terrivelmente lúcida a minha demência e dissipam-me as sombras da alma. Tenho com elas uma relação passional, promíscua, lexicofágica. Como-as, bebo-as, respiro-as, são elas que me povoam os meus sonhos. Ao longo de quatro anos de prisão (1969-1973), escrevi a parentes, amigos, confrades, para sublimar o medo, exorcizar demônios, revitalizar a fé. REAJARDINEI MINHA ESPERANÇA ATRAVÉS DA ESCRITA e, sobretudo, emiti meu pálido clamor em meio a tanta atrocidade”.

SOMOS OS NOSSOS ATOS. Na vida, temos a liberdade de apenas escolher as sementes. Depois, haveremos de, inelutavelmente, colher o que plantamos. Isso vale para a vida pessoal, social e política. Por isso, as nossas opções fundamentais são tão importantes. São elas o nosso verdadeiro retrato. Nem ovo, nem galinha. Os dois juntos. O ovo contém a galinha, a galinha bota o ovo. AS PESSOAS MUDAM MUDANDO O MUNDO. MUDADO, O MUNDO MUDA AS PESSOAS.

PEDIDOS ATENDIDOS - por Joaquim Pinheiro


Neste ano, por conta da grande cheia do rio Granjeiro que ocorreu no Crato, invadindo ruas e casas, minha mãe teve que desocupar móveis para limpeza e rearrumação dos objetos. Graças a isso localizou uma camisa da minha farda de estudante do Ginásio Dom Bosco. A camisa, já amarelada, conservava todos os escritos de despedida feitos pelos colegas. Fotografei a camisa, que foi novamente guardada por minha mãe, e as lembranças daqueles momentos de alegria juvenil vieram fortes à minha mente.

                25 de novembro de 1965, último dia de aula da 4ª série do Ginásio São João Bosco. Após esta data, a turma iria se reunir pela última vez no dia 04 de dezembro, à tarde, para a missa na Sé Catedral, e às 19:30 h, para a solenidade de entrega de certificados no auditório da Rádio Educadora. Depois cada um seguiria seu caminho.
                Como parte das despedidas, os colegas pediam que os concluintes escrevessem mensagens nas páginas limpas dos cadernos. Uma colega pediu meu caderno para escrever algo. Ante minha resposta negativa, ela gentilmente disse já que não tinha caderno, escreveria na camisa da farda, na altura do coração, e grafou: “não nos esqueça jamais”. O restante da turma seguiu o exemplo e minha camisa gravou mais 17 recados típicos dos adolescentes. Alguns deles:
“Recorde sempre a nossa 4ª série e esta sua amiga".

“És um colega que jamais esquecerei. Desejo-lhe muitas felicidades, acompanhado de um "SEJA FELIZ".”

“O modo de dar vale mais do que aquilo que se dar. Tu soubeste dar a tua amizade e em troca disto tens os corações de 22 colegas.”

“A sinceridade é o princípio e o fim de todas as coisas.”

                Hugo Linard, artista desde cedo, além do texto, ainda rabiscou minha caricatura bem no meio da camisa.

                Angélica Aires, Edna Brito, Francíria Alencar, Hugo Linard, Ione Esmeraldo, Ismênia Gomes de Matos, Luiza Lopes, Magali Figueiredo, Mailê Amaro, Márcia Barreto, Mª das Graças Aragão, Nenzinha, Regina Vilar, Rosineide Esmeraldo, Socorro Moreira, Socorro Matos, Stela Siebra Brito, Valda Arraes Farias, Vera Palitó: seus pedidos foram atendidos. Vocês não foram esquecidos.

Na Rádio Azul


Como a melodia de Liszt...- socorro moreira


Semana passada, quando da passagem do amigo e colega ,Joaquim Pinheiro pelo Crato, revelou-me a vida uma grata surpresa , quando nos mostrou sua camisa cáqui de ginásio, com assinatura de todos os nossos colegas de classe, inclusive a minha. As letrinhas juvenis, a expressão madura do carinho... -  tudo registrado, e guardado!
Fiquei pensando nestas relíquias, que poucos as possuem, e somente aqueles que as valorizam, e as guardam, num baú de resistência.
Tenho as minhas, apenas no coração. As inúmeras casas que habitei, em lugares diversos, obrigavam-me a ir reduzindo a bagagem. Descartei com dó, cartas de amor, rabiscos, e todos os meus riscos, que contavam minha história. E agora, antes que a memória se perca, sinto que chegou a hora de escrever o que ainda lembro ajudada pelos amigos de outrora.
Mudando de assunto...
Ontem sonhei com o moço que sempre me visita. Um sonho comprido, vivenciado no real. Parece uma novela, sem a divisão de capítulos... Mas a história volta, em continuação.
Sonhar é demais!
Falo dos sonhos não encomendados, que estão no fundo do nosso inconsciente, e nos chegam com cenários, falas, e céu estrelado.
Benditos o sol e a lua, que vivem na órbita de uma paixão.


Aguardo novos sonhos, como a melodia de Liszt.

Carlos Gomes


Antônio Carlos Gomes (Campinas, 11 de julho de 1836 — Belém, 16 de setembro de 1896) foi o mais importante compositor de ópera brasileiro. Destacou-se pelo estilo romântico, com o qual obteve carreira de destaque na Europa. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas no Teatro alla Scala. É o autor da ópera O Guarani.

LUPICÍNIO RODRIGUES- por Norma hauer



16 ou 19 de setembro ?
Na Internet, a data de nascimento de LUPICÍNIO RODRIGUES é 19 de setembro, mas sempre soube que ele nasceu a 16 de setembro de 1914.

Creio mais nesta data, visto que é a que consta, com bastantes detalhes, na coleção criada pela Abril Cultural sobre a música brasileira e no volume sobre Lupicínio Rodrigues consta a data de 16 de setembro e não 19.

Acredito ser 16 a verdadeira, visto que aquela coleção foi lançada ainda em vida de Lupicínio e ele não desmentiu. Naquela época (1914), as crianças nasciam em casa, com parteiras, e na coleção da Abril é narrada com detalhes que quando a mãe de Lupicínio entrou em trabalho de parto,estava chovendo demais e o pai não encontrava a parteira. E foi um reboliço...

De qualquer forma, é importante lembrar a figura ímpar de Lupicínio,um dos poucos artistas, dentre cantores e compositores que não saíram da sua terra natal para vir tentar a vida aqui na antiga Capital, para onde vinham principalmente os nordestinos.

Lupicínio, em seus sambas, inspirava-se em suas próprias desavenças e foi ele quem criou as canções de "dor de cotovelo".

Seu primeiro sucesso foi também o primeiro de Ciro Monteiro como cantor: "Se Acaso Você Chegasse", feita em parceria com Felisberto Martins. Foi lançado no Programa Casé, na Rádio Mayrink Veiga, em 1939.

Francisco Alves, sentindo a importância de Lupicínio, gravou "Cadeira Vazia", "Quem Há de Dizer", "Esses Moços (Pobres Moços"), "Maria Rosa", "Nervos de Aço"(primeiramente gravada por Déo, mas foi na voz de Chico Alves que "estourou")
Na época, eram as músicas mais executadas no rádio.

Na voz de Orlando Silva foi criada "Brasa". O interessante é que na primeira gravação sairam alguns erros crassos de português, como:"desculpe e minha pergunta, mas quem tanta asneira junta ENSINARAM a falar..."ou "se às vezes eu me demoro, é diminuindo a hora, para CONSIGO eu estar..."

Pouco tempo depois, Orlando regravou, transformando o "ENSINARAM" (plural) parA ENSINOU-LHE (singular) e o "CONSIGO" (pronome reflexivo) para COM VOCÊ.

Ainda assim, no final, foi mantido um erro de concordância.

Ao dizer "se acabasse essa brasa, eu não sairia de casa, dia e noite a LHE ADORAR".
O verbo adorar pede objeto indireto, assim seria "Dia e noite a a adorar", mas em poesia tudo é admissível e a música ficaria com um final confuso, se fosse corrigida.

LUPICÍNIO RODRIGUES faleceu em 27 de agosto de 1974, em Porto Alegre, onde sempre viveu, sem completar 60 anos, em seu "inferno zodiacal", que são os 30 dias antes de nosso aniversário.

Joan Miró





A JOAN MIRÓ


O pincel sábio pinta o sonho
e o silêncio

Como num jardim a flor que nasce sozinha
ou o rabanete e suas folhas na horta da tela

Um jardim com burro
a vinha e as oliveiras
a fazenda do sol com a escada e a montanha

No carnaval do arlequim
a mulher do fazendeiro tem os pés plantados na terra
suspensos no ar

A alegria no ideograma da cor e da forma
a freira e o pássaro
um inseto e uma estrela

O boné frígio do camponês
o cão ladrando para a lua
a natureza-morta com sapato velho 

O caramujo e os escaravelhos
o garfo e o pente
e uma pedra não é uma pedra mas o corpo da cor

Os olhos são felizes
a concha dança no palco

Não existem enigmas
a tinta negra na tela branca

A mão na tela aplaude os elementos simples
o martelo bate no prego e voa uma ave cantando

A figura salta do nada como um foguete
aceso nos olhos de uma menina melancólica

Os dedos desenham a música
do silêncio.

                                     José Carlos Brandão