O pincel sábio pinta o sonho
e o silêncio
Como num jardim a flor que nasce sozinha
ou o rabanete e suas folhas na horta da tela
Um jardim com burro
a vinha e as oliveiras
a fazenda do sol com a escada e a montanha
No carnaval do arlequim
a mulher do fazendeiro tem os pés plantados na terra
suspensos no ar
A alegria no ideograma da cor e da forma
a freira e o pássaro
um inseto e uma estrela
O boné frígio do camponês
o cão ladrando para a lua
a natureza-morta com sapato velho
O caramujo e os escaravelhos
o garfo e o pente
e uma pedra não é uma pedra mas o corpo da cor
Os olhos são felizes
a concha dança no palco
Não existem enigmas
a tinta negra na tela branca
A mão na tela aplaude os elementos simples
o martelo bate no prego e voa uma ave cantando
A figura salta do nada como um foguete
aceso nos olhos de uma menina melancólica
Os dedos desenham a música
do silêncio.
José Carlos Brandão
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