por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Ano Novo, vida velha!- socorro moreira
Globo Repórter mostrando-nos uma linda região da França. O que nos emociona
é a familiaridade que temos com a beleza.
As nossas casas, nossas cidades, um pé de roseira, seja!
Fico com indisposição de viajar toda vez que penso em desvendar a beleza
que vive próxima de mim, exterior e interior. A vida, na consciência das intempéries,
embota a nossa visão e outros sentidos, e ainda nos protege dos sentimentos e
dores da alma.
A gente precisa ser forte pra enfrentar as surpresas do dia a dia. Algumas
enternecedoras, outras doloridas pelas dolosidades.
A visão francesa da vegetação luminosa que inspirou Van Gogh foi desviada
para o último texto do José do Vale. A gente sabe, mas a gente parece que não
deseja entender. Parece, mas deseja!
Votamos pra que alguém ou muitos ocupem o poder, no entanto logo afloram
as discrepâncias, e o poder de mudanças fica longe do nosso alcance.
A arte nos salva dos desencantos; a comidinha gostosa do nosso canto; a
música que a gente escolhe pra ouvir no carro, na cozinha, no quarto... Depois
rezamos do nosso jeito e esperamos um novo dia.
Não precisamos apenas prorrogar a vida. Precisamos aprender a viver no
caos das significâncias.
Estamos às vésperas do Natal. Fico pensando nos sacrifícios de tantos
humanos para presentear filhos e colocar frutas secas na mesa. O bolso varia de
tamanho. Muitos não têm conta no Banco, e até os de classe média (a sofredora)
conta o dinheiro, e se individa.
Mas, fazer o que, doutor?Estamos viciados nos malabarismos econômicos,
dentro da realidade doméstica - a ela nos acostumamos.
Desejo a todos um 2013 promissor. Principalmente saúde para o nosso
Planeta, e boas realizações nas novas administrações públicas.
Tenho pressa de vida, mas quero vivê-la serenamente!
Um abraço forte em todos os amigos.
Os Padeiros do Pão Amargo - José do Vale Pinheiro Feitosa
Nóis num sabe tudo, mas nós né besta não!
Sete e meia da manhã e a classe média (os trabalhadores há
muito já se encontram pendurados em alguma condução ou andando a pé para o
trabalho) faz o seu “breakfast” com dentes arreganhados de raiva frente ao Bom
Dia Brasil. Miriam Leitão, Chico Pinheiro e Renata Vasconcellos apresentando o “absurdo”
dos impostos no Brasil. Os empregados da Globo são os padeiros daquele pão
amargo.
Qual o absurdo? Altos impostos, baixa escala de produção,
custo da mão-de-obra (incluindo os gastos com os trabalhadores como assistência
de saúde, condução e outros benefícios trabalhistas que eles acham que deveriam
ser do Estado), a má infraestrutura pública e, claro, a Presidenta da
República. Os padeiros recebem pronto o chavão para sintetizar o fermento
diretamente dos donos da farinha de trigo.
E sabem o quê me veio pelo peito acima? Um fermento mais
poderoso ainda: vamos combinar a transparência total. Se as notas fiscais me
informarão o que pago pelos impostos, qual o motivo de também não vir
discriminado os custos da produção, o quanto pagam de salário, qual o lucro dos
produtores e quanto a rede de comércio leva naquele preço?
Quem poderá achar injustiça que se saiba o valor do que
estou pagando em toda a cadeia de produção do mesmo? Quanto os juros oneram
esse preço? Quanto os operários recebem direta ou indiretamente, os “executivos”,
os acionistas, os atravessadores e assim por diante numa total transparência
com a qual me sinta bem informado sobre o que pago.
E isso não vem porque aí mora o segredo maior do “crime”
virado para a janela. E esse pessoal que se acha tão sofisticado na verdade
mesmo conta é com a nossa besteira. Querem diminuir impostos e querem que o
governo assuma as despesas integrais com a saúde dos empregados. Eu acho que a Constituição
diz é isso mesmo, mas tudo bem senhores da “razão do venha a nós tudo”, é fácil
fazer a transferência: tirem de suas despesas diretas os 84,48 bilhões de reais
faturados pelos Planos Privados de Saúde e repassem para SUS que vocês verão o
ânimo que isso provocará na atenção de saúde.
E digo mais: na gestão pública esse dinheiro, ao contrário
do ralo dos Planos Privados de Saúde, teria muito mais eficiência (custo
benefício). A lógica pública é de menos lucro e mesmo que malfeitores andem nas
suas beiradas, estarão fora da lei, enquanto no setor privado isso é o
sacrossanto direito ao lucro e ao intenso mercantilismo da medicina,
transformada em produto de consumo, bem precificado e abusado pelo cliente e
pelo profissional.
Os padeiros são todos bobos de balcão, mas os donos da
farinha não. O argumento da escala de produção é uma balela especialmente nos
últimos 15 anos com a moeda estável, equilíbrio fiscal, distribuição de renda e
crescimento econômico. A indústria automobilística dizia que o carro brasileiro
era caro por baixa escala de produção e como explicar o preço hoje quando somos
o quinto maior mercado produtor e o maior comprador de veículos em 2010?
Esta pétala do argumento já pode ser jogada fora.
E os impostos altos? Vamos compreender uma coisa: quem fala
em redução das despesas públicas como tese generalizada, quem deseja cortar
gastos e zerar impostos na verdade ataca com alguma dose de cinismo ou por mero
eco ideológico, os direitos humanos e a integridade territorial da nação.
Todos sabemos que cortar bens materiais é sempre uma luta
política e social. Os tesoureiros do corte sempre pensam cortar os benefícios
do vizinho e manterem o seu integralmente. É igual a essa discussão dos
fazendeiros com o código florestal: é mais fácil defender a idéia sendo da
cidade e não sendo fazendeiro. Mas no exemplo da indústria automobilística os
impostos dos carros caíram nos carros médios e nos modelos flex.
Aqui no Brasil todos aqueles “adventures, cross, sport, eco”
da vida são maquiagens de outros modelos, com acréscimo de 5 a 7% nos custos de
produção, mas vendidos com aumento de 10 a 15% a mais. Aí se encontra uma das
maiores malandragens da produção capitalista: as maquiagens de produtos para
vendê-los muito mais caro. Na tecnologia de saúde isso é largamente utilizado
pelos produtores e usam os profissionais de saúde na cadeira de imposição dos
produtos.
Uma análise feita comparando o preço do Honda City fabricado
aqui no Brasil e vendido no México por um preço muito inferior ao praticado
aqui, levou à conclusão que a margem de lucro da montadora e sua cadeia
produtiva aqui no Brasil era acrescida de 38% em relação ao lucro por ela
praticado no México. Tudo leva a crer que o alto preço praticado no Brasil se
deve ao que os produtores consideram: valor percebido pelo cliente. Se o
consumidor paga o que se pede, porque baixar o preço?
Agora imaginem onde esta engenharia de comunicação social
começa? Quem cria o mito da bolsa Luis Vitton e diz que ela vale tudo o que
vale e faz com que os outros fabricantes sigam a mesma política de vender pelo
que o consumidor paga de qualquer modo. Aí temos que fazer um programa da verdade
com os donos da farinha de trigo. Da farinha de trigo do pão amargo.
E aí um brasileiro ouvinte do Bom Dia Brasil vai concluir
que tudo isso foi imposto.
E foi mesmo!
Imposto pela montadora e pelos donos da farinha de trigo.
NATAL
Não quero
mergulhar
num
emaranhado
de ruas
Tenho tanto
Tenho tanto
cansaço
sobre os
ombros
Deixa-me
assim
como uma
coisa
posta
num
canto
e esquecida
Você
não ouve
outra coisa
senão
as quatro
cambalhotas
de fumaça
da lareira
Nápoles, 26 de dezembro de 1916
Giuseppe Ungaretti
(Trad. de
José C. Brandão)
__________
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Vinícius de Moraes
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Vinícius de Moraes
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