A busca da luz
E primeiro veio a luz. Depois tudo o mais. Qual um espécime do coletivo adicional, vez que posterior, deu-se por buscar o primeiro de tudo. A luz. O século das luzes, a luz divina, a iluminação dos errantes caminhos que se enganam em penumbras e escuridão.
Uma parede perfeitamente caiada. Luminosa aos Watts da eletricidade. E vem da penumbra de galhos, de ventos, de sopros e assobios. Vem a borboleta em busca da luz. Atraída pela luz. Impreterivelmente ao encosto branco da parede. Em sua busca da luz encontra a língua rápida e digestiva da lagartixa de parede.
A posse
Numa baixa do terreno a água mina e forma um poço no qual se banha. Um choro. A água é muda ainda mais pelo canto do vento na folhagem, é o contraponto para os sons do choro dela. Tira as roupas, molha no poço e nua sai até a margem onde as estende ao sol.
E chorando, novamente vestida, vai até uma cerca do outro lado da rua onde sobre um arame farpado espalha todo o seu guarda roupas. E chora. Agitada retorna ao poço e chora. E novamente com outras peças pingando água, chora. Chora.
Acusação
Enquanto o vento do litoral cearense revela o quanto é litoral, do Ceará, as estrelas iluminam e a noite beira mais de vinte e duas horas: ela dorme. Num canto de muro. Um muro qualquer de alguma rua da cidade.
Nas calçadas acusa pessoas por roubo. Não aos transeuntes presentes aos seus gritos acusatórios, mas a alguém especificamente. Uma ou duas pessoas às quais cita os nomes. A cidade inteira com um riso amarelo, esquece os acusados, mas não a acusação.
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