por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 24 de julho de 2011

VOZES DO ALÉM? - Carlos Esmeraldo



A professora Alcina acordara de um sonho muito estranho, verificando se o quarto onde dormia estava com o estrago que vira naquele misto de realidade e fantasia. Não sabia se estava dormindo ou em vigília. Como que de repente, um clarão forte iluminara o quarto, e o chão rebentava como se do interior da terra fosse surgir uma árvore. De lá brotava uma criança de aproximadamente cinco anos. Uma linda menina magrinha, cabecinha raspada, e olhinhos castanhos muito vivos, surgira das entranhas da terra. Quase num sussurro, lhe fazia um pedido: “Socorra minha mãe. Ela mora na Rua Leandro Bezerra, N° 403.” Demorou a reconciliar o sono, e no dia seguinte a imagem vista em sonho não lhe saía da cabeça.
Recém-chegada a Juazeiro, a professora Alcina vivia naquele longínquo ano de 1966 um verdadeiro conto de fadas. Casara-se com Wálder, técnico em manutenção de equipamentos elétricos e eletrônicos, que trabalhava numa empresa estatal, em Juazeiro. Conforme todos afirmavam, ele era um excelente partido. Bom amigo, bom filho, tinha tudo para ser um bom marido, como de fato o foi. Para ela, a felicidade, que tanto sonhara, começava a ser delineada naquele ano. E se completara com a sua transferência como professora da rede pública estadual, da sua pequenina cidade, para Juazeiro.
Naquele dia do sonho, Alcina não se conteve, e contou-o a uma colega do colégio onde lecionava. Nem sabia sequer se existia em Juazeiro uma rua com o nome de Leandro Bezerra, para ela, apenas um irmão do prefeito. Ouviu da colega a sugestão de irem ao local, tão logo terminasse o expediente daquela manhã. Alcina era uma moça muito querida na sua terra, pois se dedicava ao auxílio dos mais carentes. Encontrou naquele convite uma oportunidade de servir, além de verificar se o que tivera era sonho ou uma visão do além.
Ao final do expediente, mais ou menos às onze horas da manhã, as duas mestras seguiram em direção ao Salgadinho, procurando número por número o endereço que a garota do sonho havia fornecido. Até que, após algumas tentativas, encontraram o número procurado. A casa estava com portas e janelas fechadas. Ao baterem à porta, esta facilmente se abriu, como se estivesse sem trancas. Palmas e gritos não obtiveram respostas. Resolveram corajosamente entrar naquela casa. Após a sala de visita, havia um pequeno corredor e dois quartos. No primeiro, encontraram uma velhinha deitada, semi-inconsciente. Conseguiram uma ambulância no Pronto Socorro e a conduziram para o hospital, onde ela ficou internada, sob cuidados médicos.
No dia seguinte, fizeram-lhe uma visita, e a encontraram bem melhor. Contaram como haviam conseguido localizá-la. Ela disse estar preocupada com o filho paralítico, que vivia num quarto vizinho ao seu, e estava há muitos dias sem ter quem cuidasse dele. Então retornaram à casa da velhinha para acudir ao filho. Levaram-no para o hospital, e os médicos constataram que a paralisia que acometia aquele pobre rapaz poderia ser curada com uma simples intervenção cirúrgica, pela equipe de ortopedia. Os esforços de Alcina impressionaram os médicos, que resolveram realizar a cirurgia por puro dever da profissão. Passados alguns dias, mãe e filho restabelecidos, Alcina e a colega foram visitá-los, já em casa. Conversaram bastante, pois já se consideravam velhas amigas. A mulher, viúva há alguns anos, mostrou às duas benfeitoras o álbum de fotografia da família. Na primeira página estava a fotografia da menina do sonho, linda, como Alcina a vira naquela noite em seu quarto. E perguntou à mulher: “Quem é essa garota?” “Era minha filha, faleceu quando tinha cinco anos.” “Pois foi essa a menina que me apareceu em sonho! Só que os cabelos dela estavam raspados.” Completou Alcina. “É que ela faleceu de câncer. Na noite em que me sentia mal, lembrei-me que, se ela estivesse viva, estaria me ajudando.” Disse a pobre mãe.
Vozes do além? Não. Com certeza, aquela mãe enferma e Alcina eram dotadas de poderes sensitivos extraordinários, que a parapsicologia explica como sendo a telepatia, um fenômeno de comunicação inconsciente entre duas mentes, mesmo sem nenhum conhecimento prévio entre elas. Enquanto pensava na filhinha morta a lhe ajudar, se viva estivesse, a mensagem foi transmitida a alguém que tirasse da situação em que se encontravam ela e o filho. Por sorte, o seu pensamento telepático foi captado pela professora Alcina, dotada de elevado espírito de solidariedade e preocupação com o bem-estar das pessoas que sofrem. Assim como o “coração tem razões que a própria razão desconhece”, a nossa mente tem poderes que desconhecemos. E dela nós não sabemos usar nem dez por cento da sua capacidade plena.


Do livro "No Azul Sonhado"

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