por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Meu Tio Aviador - por Joaquim Pinheiro













Meu pai tinha 18 irmãos, frutos dos três casamentos do meu avô. Conheci 16 deles quando ainda criança. Os outros dois conheci quando adulto. Um morava em Nova Friburgo – RJ e o outro em Campinas – SP. Na primeira viagem ao Rio de Janeiro, levado pelo primo Edson Pinheiro, fui a Nova Friburgo, visitar Tio Afonso. Morava num sítio distante 2 km da cidade, no meio da Serra do Mar, local belíssimo, jardim espetacular. As estradas que davam acesso à propriedade e as veredas internas eram margeadas com hortênsias de cores variadas. A visita foi tão agradável que aceitei de bom grado a insistência dele e o dia anteriormente planejado virou jornada de dois dias e duas noites. Guardei na memória histórias relatadas por ele.
Afonso Pinheiro Teles deixou o Crato muito jovem para ingressar no Exército Brasileiro, indo servir na arma da aviação, posteriormente transformada em Ministério da Aeronáutica. Era mecânico de bordo, função que o fazia voar com freqüência.
Durante a 2º guerra mundial passou mais de um ano voando diariamente entre o Rio de Janeiro e Natal em missões de patrulhamento da costa. Era um dia para ir e outro para voltar. A tripulação jamais avistou qualquer embarcação ou submarino inimigo. Depois de meses de buscas frustradas, um dos oficiais se queixou da monotonia do trabalho e reclamou de nunca ter acionado as armas que carregavam. Na conversa que se seguiu, resolveram soltar uma bomba para ver o efeito dela na água. Para justificar, colocaram no relatório indícios de submarinho estranho na área.

Na década de 40 foi com uma equipe buscar um avião nos Estados Unidos. Na volta fizeram escala em Miami e foram passear pela cidade. Na época ainda não era destino turístico dos brasileiros. Caminhando numa das calçadas ouviu gritos “Tenente Teles”, “Tenente Teles”... Ao procurar localizar de onde vinha o chamado, avistou um braço acenando de uma janela equivalente ao 3º andar de um prédio. Dirigiu-se à entrada e descobriu que era um presídio. Era uma pessoa de Missão Velha, que tinha viajado com ele para fazer o concurso de admissão ao Exército e moraram alguns dias na mesma pensão. O conterrâneo não foi aprovado e resolveu tentar a vida nos EUA. Foi preso e condenado por exploração de prostituição.
Em 1953, um exame de rotina detectou cardiopatia grave, foi classificado como incapaz para a vida militar e lhe deram 6 meses de vida. Foi promovido e reformado por invalidez. Passou seis meses ouvindo rádio e lendo jornais e revistas enquanto a morte chegava. Não saía de casa com medo de cair na rua. No 181º dia posterior ao atestado, considerou-se um “renascido”, comprou o sítio e passou a viver normalmente. A vida se estendeu por mais 31 anos.
Nas vésperas do movimento militar de 1964, foi convidado por colegas de farda para “ajudar” o movimento. Participou de reuniões e mais reuniões. Depois do golpe, foi designado para auxiliar uma Comissão Geral de Investigação com objetivo de levantar transações suspeitas do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Depois de semanas de buscas compareceu a uma reunião com participantes do mesmo trabalho de Minas e Goiás. Não encontraram nada fora normal. O chefe dos trabalhos, oficial graduado, ficou indignado e reclamou com muita irritação dizendo que tinham que achar algo, pois o homem tem que ser cassado e seria melhor com justificativa. Ao ouvir tal veredicto, foi embora e nunca mais apareceu para trabalhos voluntários.

3 comentários:

Stela disse...

Mais uma boa história de Joaquim.
Pode ir pensando em publicar um livro só com suas histórias, viu Joaquim?

socorro moreira disse...

Queria uma história dessas todos os dias, ou um livro de cabeceira com elas.
Stela tem toda razão!

Abraços.

Marcos Barreto de Melo disse...

É isso mesmo, Joaquim. Concordo com o que disseram Stela e Socorro. Suas histórias são muito interessantes.

Abraço,

Marcos