por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

OS SONHOS DE JANEIRO SÃO SONHOS DO ANO INTEIRO


POEMA DE DANIEL LIMA

De que é feito janeiro?
De fios de esperança?
De desejos, palpites?
De agonias e sonhos?

De que é feito janeiro?

     Janeiro sou eu dormindo.

Os sonhos de janeiro
     são sonhos do ano inteiro.

     Chamam-se planos, projetos
os sonhos de janeiro.

     Janeiro vê dezembro
não como um vizinho às suas costas,
     já passado e vivido:
     janeiro vê dezembro no futuro.
Depois dos onze meses que ainda faltam.
 
     Ai de ti, se em janeiro
não fabricas estrelas
     e utopias.

Estrelas não há.
                    A noite é preta.
     Mas que importa?
É no escuro que se inventa
                      a luz,
     a saída,
                    a vida,
     a estrela.

E além disso é janeiro.
     Há estrelas.

Inventar lindas coisas é ofício
   de pintores e músicos,
de poetas e místicos
     e de janeiro.

Janeiro tem gosto
                       de pitangas e abacate          
    e é da cor que desejas.

Ele é tua realidade irrealizada
     mas sempre renascida.

Há sol e calor e suor
     mas há chuva em janeiro.

Alguém não há que nunca se molhou
     em chuva de janeiro.

Tu que tens tão requintado gosto
     não morras em janeiro.

Mancharias de luto os meses todos do ano
     que a viver não chegaste.

Bebe a luz, embriaga-te
     de vinho,
        de ar,
              de som.
Embriaga-te de ti mesmo,
     sê Narciso,
        é janeiro.

E procura esquecer-te
      que o tempo passa,
         corre a vida
             e envelheces.

Vive em janeiro a novidade da
                                   vida.

Vive em janeiro os meses todos do ano.
     Vive em janeiro o agora
     de tudo, o que será ainda
(ou talvez nunca o seja
     e, por isto, mesmo, vive-o
          antecipadamente
               agora).
                                                



Um comentário:

socorro moreira disse...

Perfeito!
Parabéns, querida!

Grande abraço