por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 28 de junho de 2011

Eu também sou filho do Chico Buarque. (João Nicodemos)


É isso mesmo minha gente: declaro publicamente que eu também sou filho do Chico Buarque. Ainda que ele nem saiba de mim e nem desta paternidade não intencional, posso dizer com certeza que eu também sou filho do grande Chico. Mas não quero partilha, herança, nem reconhecimento de paternidade... Quero apenas que todos saibam:
Quando ouvi “A Banda” pela primeira vez, na voz de uma prima mais velha nos bem passados anos 60, senti uma coisa estranha. Mas não tomei nota, nem percebi direito o que era aquela identificação. Mais tarde, na adolescência, com “Sabiá”, “Realejo”, “Quem te viu, quem te vê” senti a mesma sensação de pertença. Uma identificação que não podia explicar, nem precisava. Simplesmente me senti em casa. Suas melodias e seus versos se encaixavam em meu universo emocional e intelectual (em formação) com uma justeza única.
“Junto a minha rua havia um bosque, que um muro alto proibia...”; “...hoje a gente nem se fala, mas a festa continua...”; “Toda gente homenageia Januária na janela, até o mar faz maré cheia pra chegar mais perto dela...”; “O velho vai-se agora, vai-se embora, sem bagagem... não sabe pra que veio, foi passeio, foi passagem...” Com estes versos vi girar a Roda Viva e, como quem partiu ou morreu, eu também cultivei a mais linda roseira que há... vi a banda passar e sonhei com Januária na janela. Com açúcar e com afeto, mergulhei no universo feminino e conheci algumas sutilezas do amor, cantado e decantado em suas canções. Mulheres de Atenas me aguardaram, guerreiro,à beira do cais; e com a morena de Angola eu também dancei e cantei sobre a tumba dos generais. Cantei a esperança de um dia ver o “dia raiar sem pedir licença” debulhei o trigo para o milagre do pão e chorei com a Morte Severina por ele musicada. Quantas vezes deixei a medida do Bonfim que não valeu e guardei, e guardo até hoje os discos do Pixinguinha, sim... o resto é seu. Trocando em miúdos pode, guardar aquela esperança de tudo se ajeitar, nem vou lhe cobrar pelo seu estrago... meu peito tão dilacerado... ...como? se na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido e o meu sapato ainda pisa no teu? Como? Se nos amamos feito dois pagãos, teus seios ainda estão nas minhas mãos... me explica, com que cara eu devo sair?
Revisitando minhas lembranças, examinando como sinto o mundo e minha formação, posso dizer que, devido a tão intensa identificação e influência que recebi, eu também sou filho de Chico Buarque. E se você se lembra de algumas das músicas que citei, você também é!

4 comentários:

Stela disse...

Uau!
Eu também sou filha de Chico Buarque, desde que "junto a minha rua havia um bosque que um muro alto proíbia"; desde que fui Januária, Carolina, Ana de Amsderdam, Bárbara, a morena de Angola; desde que cantei "você não gosta de mim, mas sua filha gosta"; desde que acreditei que "vai passar nessa avenida um samba..."; sou filha de Chico Buarque desde conheci Pedro Pedreiro e morri na contramão atrabalhando o tráfego; desde que cantei "deus lhe pague"; desde que vi esse "malandro que agora usa gravata e coisa e tal e nunca se dá mal".
Ah, sou filha de Chico de Buarque porque sei que "o meu amor tem um jeito que é só seu... de me deixar em brasa"; e sei também o que é um olhar de adeus, olhando nos olhos.

Pois é, "apesar de você", Chico Buarque tem muitos filhos e todos o amamos muito, com açúcar e muito afeto.


Nicodemos, você foi demais!
Beijos,
stla

socorro moreira disse...

Eu conhecia e gostava do Chico, mas a manutenção deste amor foi feita de certa forma por Nicodemos.
Gravando, tocando, cantando suas canções, enquanto eu ouvia e aprendia.
Somos parentes, querido!

Joaonicodemos disse...

"Ai, a minha dor, o meu amor, a nossa vida, já não cabe na batida do meu pobre cavaquinho...
ai quem me dera pelo menos um momento
juntar todo sofrimento pra cantar nesse
chorinho..
Quem me dera ter um choro de alto porte pra cantar com a voz bem forte e anunciar a luz do dia..."

beijo!
maninha!

Aloísio disse...

Obrigado Nicodemos, por fazer-me lembrar deste grande compositor, cantor.

Chico Buarque é meu irmão quando diz:
“Madalena foi pro mar
E eu fiquei a ver navios.
Além de tudo
Me deixou mudo
Um violão.
Se todo mundo sambasse,
Seria tão fácil viver.
Logo Eu?
Meu tataravô baiano.
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir.
Luz, quero luz.
E um dia, afinal
Tinham direito a uma alegria fugaz.
Sei que além das cortinas
São palcos azuis.
A todo o pessoal.
Adeus.
E coerentemente assino embaixo”.

Aloísio