por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 4 de dezembro de 2011

Meias & Cuecas- por José Flávio Vieira


Pois é, amigos, se restou ainda uma quotinha de indignação por aí, guardem com muito carinho. Não vai faltar oportunidade de usá-la. Agora mesmo estourou mais um escândalo: a distribuição de dinheiro, arrecadado pelo comércio de licitações, em Brasília, por José Roberto Arruda, Paulo Octávio e seus asseclas do Democratas e quadrilhas outras afins. Desta vez, nem o galho de arruda pode nos socorrer. As imagens colhidas pela Polícia Federal parecem irrefutáveis, mas claro, fazem-se necessárias outras provas: a venérea pode ter sido contraída na bacia sanitária mal higienizada. Permitam-me, mais uma vez ,refletir sobre assunto tão repetitivo no noticiário nacional.
Primeiro, acredito que a atividade política está intimamente ligada à corrupção, ao favorecimento, ao compadrio, ao tráfico de influências. E isto não só no Brasil. Há apenas países em que o controle é mais rigoroso. Não existe uma linha divisória clara entre a política partidária e a contravenção. Entre nós, esta realidade é visível em todas as esferas da nação, uma simples gestão de uma associação comunitária, dificilmente será aprovada por uma auditoria minimamente séria. Não há eleição sem caixa 2, sem entrada de dinheiro sujo, sem negociação de cargos, de licitações, sem a semeadura inevitável do nepotismo. A política tem uma ética própria que hoje deixaria Maquiavel próximo ao processo de canonização. A bandalheira independe de desenvolvimento econômico, de forma de governo, de sigla partidária. A diferença básica está apenas onde a grana será depositada : na cueca ou na meia. A meu ver, o único filtro para a mamata desenfreada encontra-se no amadurecimento político do povo. Basta que o corrupto seja eliminado sumariamente pela cimitarra do voto para as coisas começarem a entrar nos eixos. Vejam a realidade brasileira: Arruda e Paulo Octávio já possuíam uma folha corrida péssima, que os tinha levado à renúncia temendo o impeachment, mas mesmo assim foram reeleitos pela população sem nenhuma dificuldade.
Querem ver outra curiosidade? Sete pedidos de Impeachment de Arruda até hoje já haviam sido protocolados no STF. Os partidos que davam apoio ao governo dele e se beneficiavam, rapidamente saltaram do barco: dizem que os ratos são os primeiros a perceberem o rombo no casco. O pedido da Bancada Evangélica, então, me pareceu interessantíssimo. O motivo não se ateve ao fragrante ilícito filmado e registrado continuadamente pelas câmeras, mas a uma outra causa bem insólita. Em um dos vídeos, após pôr a mão na bufunfa, a quadrilha fez uma corrente de oração, agradecendo ao Criador, pelo dinheirinho farto e fácil. Terá sido porque estes fragrantes já aconteceram também com alguns pastores e tudo, assim, torna-se perfeitamente normal? Ou porque não recolheram o dízimo da dinheirama? A CNBB também, em nota, se mostrou indignada com o uso de preces em momento tão pouco especial. Lá vou eu meter meu bedelho e enfiar uma outra reflexão, goela abaixo.
Ora, a oração feita pelos ladrões, agradecendo pelo furto aos céus, a meu ver, é perfeitamente cabível. Nossa relação antiética não é apenas com o profano, ela se estende a todas as nossas atividades humanas, inclusive ao nosso relacionamento com o sagrado. Vejam as promessas que fazemos aos santos. A maior parte das vezes, propomos uma espécie de escambo: se passar no concurso, meu São Sebastião ( claro que prejudicando vários outros que não tiveram a intercessão divina) eu dou duas sacas de feijão para a igreja. A mocinha amarra a imagem de Santo Antonio de cabeça para baixo, em um copo de água, e promete só libertá-lo se conseguir um marido. Ou seja, seqüestra e tortura o santo para conseguir seu intento. A mulher que todo ano faz a procissão de São José, em Março, em ano de seca, aproxima-se da imagem e ameaça: --- Se esse ano não chover, tu num vai ter procissão , não, viu ! Conheci uma senhora que praticava abortos, mas não os fazia nos domingos, por conta de uma promessa que tinha feito com Nossa Senhora do Carmo. O comerciante comete todas as falcatruas imagináveis, mas todos os anos ajuda na Festa da Padroeira e isso, por se só, o faz puro e imaculado. Todos essas condutas trazem embutidas uma ética bastante particular, condutas aparentemente cristãs, mas francamente pagãs na sua essência.
Arruda e Paulo Octávio não são muito diferentes da imagem de cada um de nós refletida no espelho. Quantos de nós não encheriam as meias, da mesma maneira, se tivéssemos a oportunidade ? O crime maior não terá sido terem filmado aquilo que todos nós já sabíamos? O mundo só vai mudar quando a indignação de cada um de nós se estabelecer na urna e não nas conversas de bar, entre um e outro scotch. E quando o preço da ilegalidade passar a ser pago na prisão e não nos templos, em módicos dízimos mensais.

J. Flávio Vieira

Um comentário:

Douglas disse...

Durval diz que Arruda foi “gestor financeiro da Codeplan” entre 2003 e 2006. Ora, somente um ingênuo poderia acreditar nessa afirmação: nesse período o governador era Joaquim Roriz, que nunca escondeu ser adversário de Arruda. Quem conhece Roriz sabe que jamais ele permitiria a qualquer outra pessoa - muito menos um adversário - gerir área tão importante como era a Codeplan. Fosse a acusação verdadeira, Roriz não teria lançado a candidatura de Abadia contra Arruda!