por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 2 de janeiro de 2011

Vida itinerante d euma bancária: Friburgo!



Maio de 1992

Olhei meu apartamento pela última vez, e deixe-o vazio para ser alugado por uma imobiliária. O caminhão seguiu por terra com a minha mudança, e eu me adiantei pelos ares, em companhia de André, meu filho caçula, vestibulando.
Chegamos no Rio, e fomos direto pra rodoviária. Menos de 3 horas de viagem. A cidade estava gelada , naquele mês de maio. Pedimos ao taxista que nos levasse a um hotelzinho bom e barato.Estávamos no Centro da cidade, perto do Banco do Brasil, no hotel e restaurante de Dona Mariquinha. No dia seguinte fiquei sabendo que lá era servida , a melhor comida caseira da cidade. Inesquecível. Os garçons passavam a bandeja, a toda hora , com pratos diferentes , e a gente podia se servir do que quisesse, à vontade. Adorava principalmente, os pastéis de entrada.Depois vinham as saladas, o feijão preto, a carne assada, a farofinha com bacon, os ovos estrelados, o arroz soltinho . Tudo fumegando, tudo no ponto, tudo deliciosamente servido. A sobremesa era morango com uma cascata de chantily , feitta com creme de leite fresco. Um sabor nada comparável ao creme de leite das latas.
A Agência era moderna e linda. A cidade , que eu já conhecia, quando morei em Macaé, me parecia um recanto europeu. Floriculturas , cafés, docerias, lojas que vendiam queijos finos, licores e amanteigados.
Enquanto procurava casa para alugar ia descobrindo os segredos da cidade. Ela tinha qualquer coisa de mística, de búdica. O Pico da Caledônia, se mostrava, exuberante ! Disseram-me que lá existia um mosteiro budista, pouco frequentado, mas interessante pra gente experienciar a meditação em silêncio.
E, na sequência, tudo que era alternativo foi se apresentando: centro de danças sagradas, acupuntura, I Ching, Curso de Astrologia e Taro, cozinha macrobiótica, grupo de ufologia, medicina natural, etc e tal.
Parece que Deus sabia que eu precisava de toda serenidade do mundo para encarar o clima competitivo do Banco.Minha função de Gerex havia sido concorrida por milhares de pessoas.A interrogação era grande : "como conseguiu ser nomeada para cá?"
A resposta estava na boca da Direção Geral. Era a minha compensação por uma possível injustiça , no passado recente, na Bahia.
Lotaram-me no atendimento. Mesa redonda e cadeiras para negociações com os clientes. Nos primeiros dias, senti que a minha bodega estava vazia. Precisava fazer algo, produzir, mexer com as estruturas de base. O atendimento aos aposentados era um tanto marginalizado. As filas eram imensas, e o povo da terceira idade, sofrido. Propus comandar aquele setor, que não era ansiado pelos outros gerentes. Transformei o andar , noutro Banco. Humanizei-o com o maior dos meus carinhos. Servia , nos dias de pagamento, café, chá, chocolate quente; biscoitos, e distribuía chocolates, nas datas especiais. Acho que acabei incomodando, bastante. Foi a minha experiência funcional mais árdua, e ao mesmo tempo , a mais gratificante. Culminei-a, pedindo destituição da comissão, por livre e espontânea vontade, desejando reunir-me aos filhos, na cidade de Campina Grande-Pb. Claro ,que fui considerada uma louca.!A coragem de perder uma situação de prestígio não é fácil para qualquer um. Eu já havia compreendido, claramente, que o bom da vida é SER ... ESTAR é passageiro demais, para que a gente possa nele se fiar.

Mas até completar meus dois anos, vivi muita coisa boa !
A natureza em Friburgo é prodigiosa. Só comparável ao nosso pé de serra.
Muitos shows, muita gente de fora com figurinhas para trocar, e a gastronomia especialíssima !
Os bosques de orquídeas eram nativos. Águas correntes , clima ameno, recantos paradisíacos !
Meu companheiro que tocava violão chegou pouco depois. Não sentindo clima de boemia , despediu-se em seguida. Eu aproveitei para um tempo de serenar o coração e a alma. Mas, vez por outra, dava uma passada no bar "Edoardo", onde as pessoas curtiam um Happy Hour. Aí era papo , que não acabava. Gente escolarizada, sensível... Nada a ver com o grupo bancário, onde também existiam pessoas afáveis.
Um dia, o Apto em que morávamos teve, literalmente, o teto desmoronado.André conseguiu alugar por amizade uma casa belíssima, onde ficamos até o nosso último dia em Friburgo. Foi massa !

Afora o diferente , ainda lembro com saudades das Escolas de Samba, na época do Carnaval. Sem os deslumbres do Rio, claro, mas com a essência no pé, e na alma. Cheguei a participar de uma delas , com grande entusiasmo. Na realidade eu vivia meu lado profano e sagrado, em perfeita harmonia... Se isso é possível !

Fomos visitados por todos amigos e familiares. Friburgo, encantava !
Passei inúmeros finais de semana no Rio, em Lumiar, e em São Pedro da Serra, sem contar com outros lugares, nas proximidades.
Foi sem dúvidas uma experiência rica , e no fundo feliz, morar em Friburgo.
Mas, com notas da responsabilidade materna, Campina Grande me esperava... E fui !

Era Agosto de 1994

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