por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 2 de janeiro de 2011

O Patinho feio


Lembro que, quando descobri que sabia ler, só encontrava prazer, em descobrir o mundo, através dos livros. Deixei pra lá até as bonecas, e a brincadeira de roda com as meninas da minha idade. A leitura me preenchia!
O primeiro livro, que ganhei aos quatro anos de idade, foi “O patinho feio”. A identificação foi total. Certamente porque me considerava feinha com meus óculos de grau e as pernas gordinhas.
A partir de então me tornei insaciável. Queria compulsivamente, todos os livros de histórias que existiam. Quando faltava a novidade, pedia às pessoas, que me contassem histórias. E lá estavam meu avô, avó, Ricarda (uma Ba do Piauí), minha mãe, e todo mundo que tinha algo para contar.
As revistas do meu pai saiam das prateleiras, e os livros da biblioteca de Dona Liô, nossa vizinha da Pedro II, também!
Existia um programa de rádio, na Educadora, por Terezinha Siebra, que contava histórias, no final da tarde. Eu não perdia uma audição!
Gostava das férias no Mauriti, quando a meninada contava histórias, desenhando no patamar da igreja. Elas não tinham fim...Minha prima Socorro Montoril nos prendia, horas a fio, ou o tempo que queria. Geralmente a temática girava em torno de uma menina rica e feia, e uma menina pobre e bela. A beleza e a bondade, sempre compensavam a pobreza. Valores de uma época!
No Ginásio, fomos muito estimulados pelo nosso professor de Português: Dr. José Newton.Cobrava diário, vida escolar, em capítulos, relatório de férias, etc.
Adotei o diário íntimo, copiando um livro que toda menina do meu tempo leu : “O Diário de Ana Maria “. Aí, colava fotos, pétalas de flor, papel de chocolate, além de relatar fatos pitorescos que marcavam o meu dia a dia. Chegou um tempo, em que contei meus sonhos, na sua confusão de imagens e diálogos!
Escrevi cartinhas para tios, primos, e até namorados. Especializei-me em cartas de amor. Podia namorar através delas, com qualquer moço distante, inclusive os desconhecidos.
No São João Bosco existia uma boa biblioteca, complementada pelo acervo da Faculdade de Filosofia. Com isso, íamos trocando livros, revistas, entre os amigos, que apreciavam a leitura. Lambuzei-me de tanta coisa boa, romântica, mitológica, e até nostálgica. Mas optei pelos números, pelas exatas, e tomei o rumo das contabilidades.
Depois do exercício findo, tento resgatar o meu prazer original pelos livros e escritos, mas calculo alargado demais, o tempo de defasagem. Mesmo assim, tô na estrada. Colhendo palavras, encontrando o som e o sentimento que elas produzem em mim. Quem lê e escreve, tem a solidão compartilhada por uma infinidade de personagens universais.

Nenhum comentário: