por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Igreja: o "Celibato" - Leonardo Boff

O celibato, para esse tipo de Igreja que temos, é estrutural e necessário. Temos uma Igreja altamente concentrada em termos de poder, que está só na mão de uma mínima parte, que é o clero. E QUE TEM DE GERENCIAR A PRIMEIRA GRANDE MULTINACIONAL DO OCIDENTE QUE É O CRISTIANISMO – DESDE O SÉCULO IV É UMA MULTINACIONAL, QUE ENVOLVE CERCA DE 1 BILHÃO DE PESSOAS.
Então, para a Igreja, o celibato é estratégico. Porque você tem uma mão-de-obra diretamente ligada a você e que não tem nenhum vínculo de família, de mulher, de filhos, de herança, e é o intelectual orgânico estrito da instituição. Ele encarna a instituição e, não sem razão, é tirado da família com a idade de 12, 13 anos, levado para o seminário e criado na sua mentalidade, na sua subjetividade, para servir a instituição. Ele é estruturado nessa perspectiva, que vai contra duas tendências básicas da modernidade, que são resgatar a liberdade e a subjetividade. Quer dizer, o ser humano se descobre como sujeito livre, que organiza sua privacidade, sua sexualidade, seu projeto pessoal. Se é casando, se é mantendo-se solteiro, se é sendo gay, não importa, você respeita as preferências do projeto que você tem.
E A IGREJA NEGA ISSO. ELA IMPÕE QUE QUEM QUER SERVI-LA TEM DE SER CELIBATÁRIO. ENTÃO, FRUSTRA TODO UM CAMINHO, QUE É UM CAMINHO TAMBÉM DE REALIZAÇÃO HUMANA, PORQUE A SEXUALIDADE NÃO É SÓ UMA QUESTÃO DE TROCA GENITAL, É O DIÁLOGO COM A DIMENSÃO DA “ANIMA” E DO “ANIMUS”, COMO UM INTEGRA A ALTERIDADE DO OUTRO, MULHER OU HOMEM, RESPECTIVAMENTE, COMO TRABALHO DA DIMENSÃO DA TERNURA, DA FRAGILIDADE, DO AMOR, QUE É UMA EXPOSIÇÃO AO OUTRO.
O celibatário trabalha com grande dificuldade isso, porque ele - por força da educação e sua função - é autocentrado. E toda a dimensão do feminino, não só da mulher, mas do feminino no homem e na mulher, é encurtada.
No campo, o celibato nunca funcionou, porque o padre era simultaneamente camponês e tinha de arranjar mão-de-obra, e não havia seminários onde se formassem padres. Ele gerava um filho, explicava como era a missa, os sacramentos e tinha o seu sucessor. No primeiro milênio, o celibato era reservado aos bispos, que tinham de ser monges celibatários. Com os padres era mais ou menos livre. O seminário só veio na polêmica com os protestantes no século XVI, quando a Igreja cria a instituição de formação de seus quadros e aí impõe o celibato rigoroso. É assim até hoje.
AGORA, ISSO NUNCA FOI ALGO QUE FOSSE ENTENDIDO COMO DO ÂMBITO DA TRADIÇÃO CRISTÃ, OU DA REVELAÇÃO. É UMA DISCIPLINA ECLESIÁSTICA, PORTANTO DEPENDE DA VONTADE DO PRÍNCIPE.

Texto: Leonardo Boff
Grifos: responsável pela postagem

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