Vou ligar três pontos, em épocas diferentes e lugares bem distantes entre si. Vou ligar embora todos saibam que não sou e nunca fui cirurgião. E razão nenhuma, para meu ego avantajado, tenho em esperar que o velho lua faça uma música sobre isso.
Nos anos 60 o Programa Aliança para o Progresso refletia o desconforto do Império com a Revolução Cubana. E começaram a aparecer latas imensas de queijo cheddar para os pobres nordestinos que de vez em quando mastigavam um naco de queijo coalho. Sem contar latões de leite em pó, um legume estranho entre o arroz e o trigo, roupas usadas e tantas coisas mais com duas mãos se cumprimentando. O Império chegando junto da América Latina enquanto esta queria mais do que recebia na divisão internacional das riquezas.
Logo após a queda de Duvalier filho estive numa missão do governo brasileiro junto ao Haiti para preparar uma cooperação na saúde com eles. Andei em Port au Prince, estive pelo interior visitando hospitais e postos de saúde. Andei em instituições religiosas de caridade e conversamos muito sobre Jean-Bertrand Aristide, ex-padre e amigo delas e então presidente.
Savimbi ainda estava vivo e sua Unitas brigava com o MPLA. Vi prédios furados a bala como um queijo suíço. Uma grande missão da Agência Brasileira de Cooperação foi a Luanda para ajudar o governo de convivência entre as duas organizações. Era uma situação estranha: o ministro da MPLA e o vice da Unitas. Agora sobre a cooperação esta era ampla e irrestrita através de ONGs e instituições governamentais de um leque enorme de países. O Laboratório Central da Saúde era controlado por italianos, um hospital pelos franceses e assim os nativos viviam sendo cooperados.
Pronto, para desagrado do grande cirurgião que acerta até nas homenagens musicais, vou ligar os pontos sem saber suturar. A cooperação internacional. Aquilo que parece um ato humanitário, uma solidariedade de espírito elevado. Um diplomata de Luxemburgo, Jean Feyder, presidente da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em seu livro Fome voraz, abre a caixa preta da cooperação internacional.
Os países que ajudam normalmente aproveitam a ocasião para dominar o mercado local com seus produtos, destruindo ainda mais a produção local. Os EUA resolveram alguns problemas dos agricultores do Arkansas com ajudas humanitárias ao Haiti e assim destruíram completamente a produção de arroz local que dava para alimentar a população do país e oferecia meio de vida a milhares de agricultores. Ajuda em alimento para a Somália serviam para financiar os senhores da guerra na compra de mais armas. Países africanos tiveram sua produção agropecuária arruinada por “ajuda” subsidiada dos produtos vindos dos excedentes europeus e americanos.
O difícil de encontrar nações sem interesses a não ser ajudar é que elas representam interesses comerciais de povos e corporações multinacionais.
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