por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

cotidiano

Tenho algumas coisas sagradas comigo.
Alguns trejeitos, olhares, nuances.

Quando pego minha xícara
já ao entardecer e ponho açúcar
minhas faces mudam, há um certo júbilo.

Sinto que meu olho direito treme.
Mas treme de modo singular,
dando voltas em torno
da própria órbita.

Outro instante delicado
é quando faço a cama.

Estendo os lençóis, bato os travesseiros,
puxo a colcha aqui e acolá
e pareço sorrir.

Já ao fazer a cama quando acordo
muitas vezes não a faço.

Deixo os lençóis cansados da longa noite
espremidos entre as dobras
e os travesseiros loucos por não terem
conseguido dormir.

Se durmo bem,
meus travesseiros não dormem.

É natural,
se durmo bem
estou sempre enforcando
um ou outro em forma de abraço.

A minha vida é recheada de intervalos mágicos.
Beber café sob o crepúsculo e fazer a cama
antes de dormir e ao acordar são epifanias
próprias de um solitário.

Existe, entretanto, um ato em si mesmo
mais elevado, existencial, que carrego
desde a mais tenra infância:
limpar os ouvidos.

Ora com o dedo mindinho,
ora com o dedo indicador.

E ao cheirá-los
nunca muda o cheiro.

É um cheiro forte,
um cheiro de parto.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Domingos, vc me fez lembrar uma música :
"...tudo que move é sagrado..."
Seu olhar é movimento poético, sempre!

Beijo