por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 15 de março de 2011

AMIGO É CASA: O CHORINHO QUE GEROU UM CORDEL - por Ulisses Germano

Versão da flor de lótus do xilogravurista Carlos Henrique

                  Um dia qualquer de um ano que não me lembro bem, recebi  de  Socorro Moreira a cópia de um CD contendo  uma música que falava sobre a amizade. Amigo é Casa -  composição de Capiba e Hermínio Bello De Carvalho, para mim é um dos chorinhos mais belos que eu já ouvi na minha vida. O encantamento da melodia, "casando" com a letra,  nos transporta para o universo das grandes celebrações da Amizade. Depois de escutar este chorinho centenas de vezes foi que me veio a idéia de fazer um cordel intitulado A QUINTESSÊNCIA DA EXISTÊNCIA. Os gregos, na sua sabedoria peculiar, falam de uma quinta-essência, incorruptível, que permeia o Universo. Os quatro primeiros elementos essênciais podem ser maculados: a água pode ser poluída, os ventos, o fogo e a terra, no entanto, o éter ,assim chamado o quinto elemento essencial da Natureza - QUINTA-ESSÊNCIA ou QUITESSÊNCIA, é incorruptível! Seguindo essa linha de raciocínio, foi que resolvi escrever um folheto de cordel falando sobre a tese de que a amizade é a quitessência da existência. Segue abaixo três parágrafos do folheto A Quintessência da Existência - um folheto de cordel que nasceu de um chorinho:

I

No trato da convivência
todos somos jardinheiros
quem cultiva a consciência
sem subterfúcios faceiros
saberá do privilégio
do maduro sortilégio
dos seres que são inteiros

II

Toda solidariedade
vem do amigo verdadeiro
quem possuir maturidade
saberá dizer ligeiro
que a amizade é a quintessência
de toda nossa existência 
nesse mundo passageiro

XXXI

Minha canção favorita
e mais cheia de carinho
deixou a amizade escrita
na morada do chorinho
de um tal de Bello e Capiba
que no canto lá de riba
curou a dor do sozinho

Versão da flor de lótus do xilogravurista Maércio Lopes

                 A título de contextualização, eu quis que para este folheto de cordel  fossem impressos duas capas com xilogravuras diferentes. Portanto, um cordel que fala de amizade fala também de pluralidade. Escolhi dois grandes xilogravuristas da região: Carlos Henrique e Maércio Lopes. Numa segunda edição vou querer também o traçado do estilete de Lulu Lacerda, João Nicodemos, Stênio Diniz... e tantos outros que estejam irmanados no sentimento que une e acolhe. O símbolo escolhido para representar a quintessência da existência foi a flor de lótus, é o mesmo simbolo que representa a quintessência do sentimento, que é o amor, palavra gasta, mas que jamais se desgasta.
                 Bem... a história é longa, creio que agora entendo quando algum dos meus amigos aconselham a colocar um clossário ou nota de rodapé nos cordéis que eu escrevo. Dito isto, eis abaixo a letra mais bela do cancioneiro brasileiro que fala sobre A-m-i-z-a-d-e:


 AMIGO É CASA
 Composição: Capiba / Hermínio Bello De Carvalho

Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.

.

P.S. Peço alguém que tenha essa música pra postar neste blog - a melodia é celestial!

Um comentário:

socorro moreira disse...

Genial!

Vou procurar a música. Só pode ser bela: os compositores justificam a suposição.
Arrasou, velho!

Beijo