por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 1 de janeiro de 2011

Natal do passado



Aprendi a cantar, nos primeiros anos de vida :

“O Natal já vem”.
Vem, vem, vem...
Todo mundo canta, maninho...
E você também ““.

Minha mãe entoava o “Noite Feliz” e o meu pai cantarolava “Natal Branco”.

Dezembro era mesmo um mês de encantos.
Começava tecendo com rezas um enxoval para o Menino Jesus. Cada jaculatória era um bordado; cada Ave Maria, uma camisinha. Eu via, na imaginação peças belíssimas que eu construía com a repetição de todas as orações que eu sabia.
Papai Noel não existe. Foi essa informação que recebi dos meus pais.
Minha mãe e seus traumas. Meu pai completava, em cumplicidade:
“Não vou botar força pros outros fazerem fita”.
Ah, mas eu queria acreditar!
Queria fazer cartinhas, e postar nos Correios, como todas as minhas amigas. Queria fazer de conta que dormia, e flagrar o bom velhinho, colocando presente, nos meus sapatinhos.
Bom, pra compensar, minha vida se enchia de coisas boas e bonitas.
Saiámos para fazer compras, no trecho da Bárbara de Alencar, onde Seu Abidoral era o provedor dos papéis de seda e bolas; Seu Zé Villar vendia os brinquedos, Seu Sá as fitas coloridas, e Seu Moacir outros enfeites, e outras surpresas.
As ruas cantavam em uníssono. Nem pensávamos que o comércio lucrava com as nossas alegrias. Como o plástico ainda era coisa rara, todas as casas armavam as suas lapinhas, com o Menino Jesus, na manjedoura.
Comprávamos algodão na farmácia para lembrar a neve que não tínhamos, luzes piscantes, e pronto!
A festa começava, no dia primeiro de Dezembro.
Vestido, sapato, meias, camisola, tudo novo!
Eu ainda sinto o cheiro do peru caipira, da farofa dos miúdos, das caixinhas de passas, biscoitos champagne, castanhas, nozes, chocolates, bolos e salgadinhos especiais, e a efervescência do guaraná ao natural.
O ano inteiro esperava por esta festa.
O povo não ganhava décimo terceiro salário... Como fazia pra arcar com tantos extras?
Acho que juntavam as moedas, em latas de querosene, por muitos meses.
Depois o consumo foi tirando a magia...Será?
Minha avó materna, nas brenhas do Piauí, confeccionava buquês de florinhas do campo, enfeitava os pés das redes dos filhos, e eles ficavam felizes!
Bom, o importante não é a ceia, nem os presentes trocados.
O importante é internalizar o verdadeiro espírito do Natal, quantas vezes perdidas.
Agora eu já sei o que nos faria feliz: a paz e o amor universal !

Nenhum comentário: