por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 14 de junho de 2011

A "Lista de Schindler" - José Nilton Mariano Saraiva




Pobre, porém carismático, desenvolto, audacioso, envolvente e, essencialmente “bicão”, o empresário alemão Oskar Schindler tinha uma verdadeira obsessão (ou objetivo maior de vida): “juntar dinheiro, muito dinheiro”, a fim de usufruir os prazeres da vida. E a oportunidade perfeita para isso se lhe apresentou com a deflagração da Segunda Grande Guerra Mundial, quando, antevendo benefícios futuros, radicou-se na Polonia e, na base de “muita conversa e gentilezas mil”, ardilosamente aproximou-se dos principais líderes regionais do exército alemão e, traficando influência, conseguiu financiamento pra abrir uma “fábrica de panelas”, com mercado garantido pelos “novos amigos”, usando para tanto a mão de obra barata dos miseráveis judeus moradores do Gueto de Cracóvia.
Com o acirramento do confronto, o alto comando alemão em Berlim exacerbou em termos de violência, ordenando a execução sumária de todos os judeus que, a critério de cada ocupante de chefia, fossem considerados “não produtivos” (especialmente idosos, crianças e doentes de qualquer idade); na Polonia, muitos foram encaminhandos para uma espécie de “ante-sala da morte”, o campo de concentração de Plaszow (inclusive os empregados da fábrica de Schindler).
Valendo-se das amizades com os integrantes da cúpula alemã, Schindler mostrou-lhes a dificuldade que enfrentaria pra manter o negócio, do prejuízo que teria por falta de mão-de-obra “especializada”, e, especialmente, do iminente “fechamento da torneira” (cessação das propinas destinadas aos graduados alemães) em razão do “stop” no faturamento, findando por convencê-los a liberar os presos durante o dia; à noite, voltavam pra dormir no campo de concentração (uma espécie de regime semi-aberto, como o vigente hoje no Brasil pra certos “privilegiados”).
No entanto, as coisas ficaram ainda mais negras para os alemães quando os russos, tal qual um incontrolável rolo compressor, avançaram através dos territórios dominados pelos germânicos. A ordem de Berlim, então, foi desativar às pressas alguns dos campos de concentração (Plaszow estava na agenda), via eliminação incontinente dos seus moradores, livrando, como sempre, tão somente os fortes, que pudessem empreender uma longa travessia na neve, rumo a outras unidades mais afastadas, onde mais cedo ou mais tarde também seriam descartados.
E aí aflorou a “sensibilidade” do alemão Schindler. Testemunha ocular dos abusos e barbaridades perpetradas por seus conterrâneos contra aquela gente humilde e sofrida, à qual findara por se afeiçoar no convívio diário, “escancarou o cofre”, pegou até o último centavo da imensa fortuna que houvera amealhado (pra “usufruir os prazeres da ida”, lembremo-nos), corrompeu o “novo chefe alemão” de plantão e “comprou” a liberdade de cerca de mil e duzentas pessoas, devidamente relacionadas em diversas laudas de papel, naquela que posteriormente ficou mundialmente conhecida como a “lista de Schindler”.
Transportou-os para a sua cidade natal - Brinnlitz – onde “inventou” uma fábrica de “projéteis pra armas militares” (na realidade, apenas para mante-los ocupados, já que sem nenhum “know-how” na atividade); tanto que, em off, dizia claramente que se sentiria “terrivelmente frustrado se algum daqueles projéteis servisse pra matar alguém”.
Com o fim da Guerra e a vitória dos aliados, teve que fugir e acabou se livrando de ser preso em razão de portar um documento subscrito por aqueles 1.200 judeus que salvara, onde atestavam a grandiosidade do que ele havia feito.
Anos depois, após sua morte na Alemanha, o corpo do “alemão” Schindler foi transladado e enterrado em Jerusalem, onde ainda hoje é cultuado como um herói “israelense”.
Uma particularidade: certamente que visando estabelecer uma espécie de “simbiose” com a “negritude” que foi o aterrorizante período nazista, o filme de aproximadamente 3 horas de duração foi rodado em “preto-e-branco” e, só nos últimos 5/10 minutos, nas cenas em que alguns dos antigos componentes da “Lista de Schindler” (ainda vivos em Israel), prestam-lhe uma comovida homenagem, ao depositar um pequena pedaço de pedra sobre o seu mausoléu, na tela repentinamente afloram as cores, o colorido, a vida, enfim, como a anunciar que os tempos são outros.
Sem dúvida, um filme tocante, sensível, de balançar e mexer com a estrutura de qualquer ser humano.

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