por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 14 de junho de 2011

LINDA BATISTA - por Norma Hauer


“A VERGONHA É A HERANÇA MAIOR QUE MEU PAI ME DEIXOU”

Na data da 14 de junho DE 1919 nasceu, em São Paulo, Florinda Grandino de Oliveira, que ficou conhecida como LINDA BATISTA, uma das cantoras que mais marcaram nossa música popular.

Irmã de Dircinha Batista e filha de um ventríloquo famoso (Batista Júnior), que fazia 22 vozes diferentes, sem mexer os lábios, era normal que ainda criança começasse a estudar violão, instrumento com o qual passou a acompanhar sua irmã Dircinha, que embora mais jovem, iniciou sua carreira antes.

Começou sua carreira apresentando-se na Rádio Cajuti, levada por Francisco Alves a seu programa exatamente para substituir Dircinha, que havia faltado. Foi o ponta-pé inicial para ficar conhecida como uma das maiores cantoras de nosso cancioneiro.

Ainda em 1935 tomou parte do filme "Alô, Alô Carnaval",um dos primeiros a utilizar artistas radiofônicos para as telas dos cinemas. Nesse filme, apareceram Linda e Dircinha, esta vestida de pirata interpretando "Pirata", de Braguinha.

Simultaneamente com sua vasta carreira de cantora, atuou ainda nos filmes :"Carnaval em Marte";"Carnaval em Caxias";"É Fogo na Roupa":"Está com Tudo";"Agüenta Firme, Isidoro";"Tudo Azul";"Banana da Terra";"Depois eu Conto"...

Entre 1938 e 1946 atuou no Cassino da Urca. Quando os cassinos foram fechados em 1946, passou a atuar, em 1947, na boate Vogue, onde se apresentou durante 5 anos.

Sua primeira gravação se realizou em 1940, com o samba "Macaco Quer Banana". Nesse mesmo ano, conseguiu seu primeiro sucesso gravando, de Herivelto Martins, o samba "Bom Dia", com as "Três Marias".

Nessa época conheceu Getúlio Vargas e passou a ser assídua freqüentadora do Palácio do Catete e, dizem as más línguas, que não era apenas para cantar. Posteriormente, foi amiga de dois outros presidentes: Juscelino e João Goulart.

No período da Segunda Guerra, gravou "Tudo é Brasil", "A Pátria Está te Chamando", da autoria de Grande Otelo e "A Cobra Está Fumando", em referência ao símbolo da FEB.

Em 1944 gravou seu primeiro grande sucesso para o carnaval:"O Clube dos Barrigudos"

Você já viu um barrigudo dançar?
Quá,quá,quá...
Quando ele dança,
Sacode a pança
Quá,quá,quá...

Em 1945 novo sucesso: "Coitado do Edgard"; nesse mesmo ano, gravou "O Boteco do José". Em 1947 novo sucesso com "Pobre Vive de Teimoso".

COITADO DO EDGARD

Edgard chorou
Quando viu a Rosa,
Dançando toda prosa,
Com uma linda baiana, que ele não deu.
Coitado do Edgard...
Chorou de dar pena,
Chamou Madalena,
Entregou-lhe o pandeiro e desapareceu
Coitado do Edgard...

Terminada a guerra fez uma excursão ao Norte e Nordeste, acompanhada de Dircinha, Dorival Caymmi e o Trio de Ouro apresentando o "Show da Vitória".

Voltando ao Rio e à Rádio Nacional passou a gravar Lupicínio Rodrigues com o samba "Migalhas".

Em 1950 gravou "Nêga Maluca", de Fernando Lobo e Evaldo Ruy. Este foi seu maior sucesso no carnaval, não apenas de 1950, como em muitos outros. A fantasia de "Nêga Maluca" tornou-se um símbolo em vários carnavais.


NEGA MALUCA
Estava jogando sinuca,
Uma “nega” maluca me apareceu
Vinha com o filho no colo
E dizia pro povo que o filho era meu
Não senhor..
Toma que o filho é seu
Não senhor...

Ainda em 1950, naquela euforia da Copa do Mundo e do "já ganhou", Ari Barroso compôs o samba "O Brasil há de Ganhar", Linda gravou e... o Brasil não ganhou.

Em 1951 passou a ter um programa próprio na Rádio Nacional, de nome "Coisinha de Linda", onde lançou "Ó de Penacho", em alusão aos funcionários “empistolados” que ingressavam no serviço público, sem fazer concurso, já na letra Ó.
Esse fato também inspirou Klecius Caldas e Armando Cavalcanti para compor “Maria Candelária”.

Nesse mesmo ano fez tourné internacional apresentando-se em Portugal, em Roma e também na boate Vogue de Paris.

Retornando ao Brasil, gravou aquele que pode ser considerado seu maior sucesso fora do carnaval: o samba de Lupicínio Rodrigues "Vingança”.

VINGANÇA

Eu gostei tanto
Tanto quando me contaram
Que “ lhe” encontraram
Bebendo e chorando
Na mesa de um bar
E que quando os amigos do peito
Por mim perguntaram
Um soluço cortou sua voz
Não lhe deixou falar
Mas eu gostei tanto
Tanto quando me contaram
Que tive mesmo que fazer esforço
Pra ninguém notar

O remorso talvez seja a causa
Do seu desespero
Você deve estar bem consciente
Do que praticou
Me fazer passar essa vergonha
Com um companheiro
E a vergonha
É a herança maior que meu pai me deixou

Mas enquanto houver força em meu peito
Eu não quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar
Você há de rolar como as pedras
Que rolam na estrada
Sem ter nunca um cantinho de seu
Pra poder descansar.fgrfgrtg


Em 1952, após o falecimento trágico de Francisco Alves, gravou "Chico Viola", de Nássara e Wilson Batista e nesse mesmo ano , de Ari Barroso, outra música marcante: "Risque".

“Risque, meu nome do teu caderno...”

Em 1955 deixou a Rádio Nacional e passou a atuar na Mayrink Veiga.

Em 1960 apresentava-se na boate "Night and Day" e no ano seguinte gravou "Quero Morrer no Carnaval". Não aconteceu, mas foi seu "canto de cisne".

Nessa época afastou-se, juntamente com Dircinha, do meio musical , sendo posteriormente amparada pelo cantor José Ricardo, até seu falecimento.

Durante sua carreira, entre 1937 e 1961, Linda Batista gravou músicas de quase todos os compositores de sua época, como Lupicínio Rodrigues ; Ari Barroso; Wilson Batista; Herivelto Martins; Roberto Roberti; Aldo Cabral; Grande Otelo; Haroldo Lobo; Custódio Mesquita...e também de sua autoria. Isso a fez ser homenageada pela SBACEM.

Dentre as chamadas "Rainhas do Rádio", Linda Batista foi a que "reinou" por mais tempo. Seu "reinado" durou 11 anos, de 1937 a 1948, quando a Revista do Rádio passou a fazer concursos, anualmente, para escolha das "rainhas do Rádio".

Linda Batista faleceu em 17 de abril de 1988.

Dez anos depois (em 1998) realizou-se um espetáculo teatral, da autoria de Sandra Werneck, de nome "SOMOS IRMÃS", com Rosa Maria Murtinho, mostrando a carreira de Dircinha e Linda, do apogeu a seu fim melancólico.
O espetáculo excursionou por vários estados, sempre com sucesso. E relembrou a vida de duas cantoras que enriqueceram o cancioneiro de nossa terra.

Norma

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