por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 14 de junho de 2011

As fases de uma sessão de cinema - José do Vale Pinheiro Feitosa

Este texto vem a propósito deste festival que parece ter acabado de acontecer na cidade e como uma lembrança dos apaixonados textos do José Nilton Mariano sobre o cinema.


Peguei e contei tintim por timtim: existiam oito momentos espetaculares numa sessão de cinema. Não uma sessão genérica, mas em qualquer uma dos quatro cinemas da cidade: Cine Rádio Araripe, Moderno, Cassino e só depois a Educadora. Depois destes cinemas os momentos espetaculares foram outros. Outra contagem.

Como dizia, eram oito momentos. O primeiro de todos é estar livre de algum castigo e os pais permitirem o deslocamento do sítio pelo vazio entre a casa e a sala de projeção. A permissão era a vitória do convencimento. O pedido bem feito e a realização do desejo que dependia de autorização. Assim que era autorizado, era como a abertura de uma porta de liberdade.

O segundo era consequência: tomando banho, calçando sapatos e roupa de sair. O ritual do aprontar-se era mudança de status. O abandono do rotineiro, do interior das coisas, com a vestimenta da aventura e da liberdade, conquistar o sonho pela estrada.

O terceiro era chegar até a porta do cinema. Ainda fechada. Esperar a abertura da bilheteria e enquanto isso negociar alguma revista em quadrinho antiga, comprar pedaços de fita de algum filme.

O quarto momento era entrar no cinema, com o ingresso na mão (teve um tempo que era um desafio entre a lei e o fora dela - passar por Audízio Teles o comissário de menores). Multiplicar os sonhos de futuras aventuras ao examinar os cartazes dos filmes que iriam passar.

O quinto era entra no salão. Aquele clima de aviação dos ventiladores, a penumbra e as cadeiras enfileiradas. Qual fileira escolher? O pomposo clima das cortinas que escondiam a tela onde a aventura se desenrolaria. Claro que o som musical da espera, além da meninada trocando falas à distância.

O sexto era quando a tela se abria, o badalo de início tocava e as luzes se apagavam. Toda a expectativa do prestes a acontecer explodia no coração pequeno daquele tempo. Batia como se tivesse pulando de uma grande altura. Surgiam as luzes dos jornais e o trailer.

O sétimo era a realização. A aventura comendo solto. A narrativa envolvendo. As angústias dos personagens e a volúvel emoção da platéia. Toda emoção tocada por breves mudanças de cena. Entre um momento e outro.

A oitava era quando a tela era encerrada pela cortina. As luzes se acendiam e as portas do cinema nos devolviam ao mesmo da rua. Ao cotidiano mediano do já conhecido. O lento mudar da vida. Como numa câmara lenta.

Mas pensando bem são três momentos: o antes, o durante e a tristeza do depois, prontinha para conquistar novos antes. Ou melhor, novo ciclo de oito ou de três momentos espetaculares.

Abertura do filme Quando Setembro Vier. Uma água com açúcar filmada para que eu me apaixonasse por Gina Lollobrigida e sonhasse com a paisagem da Itália.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Bem lembrado.
A trilha sonora virou prefixo de programa de rádio no Crato.
Inesquecível!