por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 14 de junho de 2011

Desencarnou Ana Gaspar - Euripedes Rodrigues dos Reis


Na quarta-feira, dia 25 de maio de 2011, desencarnou em São Paulo, uma amiga muito querida. Ana Gaspar. Ela, muito jovem, juntamente com um grupo de companheiros, fundou, a mais de 60 anos, o Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz.

Entre muitas qualidades, que tinha esta criatura muito estimada, destaco sua capacidade de realização. Com espírito crítico aguçado e um grande conhecimento da Doutrina Espírita, Ana construiu, ao longo de sua existência, uma base educativa para todos os que tiveram o privilégio de conviver com ela.

Lembro-me, que, após alguns anos como trabalhador do Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz, no bairro de Santana, em São Paulo, ela me convidou para fazer algumas palestras. Me senti inseguro e disse: mas, Ana, como eu vou falar para as pessoas fazerem algo, que eu mesmo, tenho muita dificuldade de realizar? Ao que ela, sabiamente, me respondeu: os ouvidos mais próximos, quando você falar, serão os seus! É a sua oportunidade de transformação.

Eu tenho muita história envolvendo a Ana. Algumas pessoas tinham medo dela. Sua vontade e sua força empreendedora faziam-na muito especial. Era uma pessoa muito forte.

Uma história que me marcou muito envolvendo a Ana, e que já tive oportunidade de comentar neste espaço, foi quando eu era editor da Mundo Maior Editora.

Todo o processo de construção de um livro é uma atividade apaixonante. Em março de 2004 vivi uma experiência riquíssima. Tínhamos o desafio de em quarenta dias produzir 13 novos títulos para a Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Entre as publicações estariam os livros designados como vencedores do concurso, escolhidos pela comissão julgadora do “Concurso Literário Espírita João Castardelli”. Pessoas da mais absoluta confiança coordenavam o processo. Na reta final eles se mostraram preocupados.

Um dos livros havia sido examinado e existia o propósito dos membros da comissão em colocá-lo como finalista. Era o livro “Todos os Animais Merecem o Céu”. Só que pairava entre os membros da comissão uma preocupação. Embora perfeitamente verossímil, o livro continha alguns pequenos detalhes que os membros nunca haviam lido em nenhuma obra espírita. E uma das preocupações era a que não houvesse, nas obras vencedoras, nada que viesse a conflitar com os ensinamentos da Doutrina Espírita.

Surgiu-me uma idéia: Buscar uma consultoria específica para esse assunto. A Ana era uma pessoa que amava e entendia sobre os animais, e que, realmente, conhecia o Espiritismo. Pedi à Ana, o apoio com a leitura atenta que lhe era peculiar. Uma semana depois, recebo uma ligação da Ana, tecendo elogios ao livro e somente mostrou uma preocupação. Embora, a maioria dos assuntos abordados, fossem do seu conhecimento, havia alguns detalhes, descritos na obra que – embora perfeitamente possíveis – ela não havia visto em lugar nenhum.

A Ana, então, sugeriu que conversássemos com o autor. Identificado quem era (até aquela altura não havia sido revelado o nome do autor) mantive um contato telefônico com a pessoa: Marcel Benedeti. Marcamos uma reunião na qual estavam presentes a Cida Quintal, o João Carlos (que coordenavam o concurso) a Ana, eu e o Marcel. Marcel, na época, era um jovem médico veterinário. Perguntei-lhe: de onde ele tirou alguns detalhes para a obra? E ele nos contou uma história fantástica: “Desde criança eu sempre gostei de animais. Uma verdadeira atração. Qualquer animal: gato, cachorro, cavalo ,papagaio, enfim, todos os animais. Dos 5 aos 10 anos eu via espíritos. Isso me causava alguns transtornos porque eu não sabia diferenciar o encarnado do desencarnado. Eu falava com eles. Isso provocava alguma reação da minha mãe. Aos 10 anos parei de ver espíritos com aquela frequência. Foi quando me decidi: seria médico veterinário. Mas meus pais lutavam com dificuldade e não podiam pagar uma faculdade pra mim. Estudei, com muita vontade, e passei no vestibular na Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho – campus Botucatu. Mudei-me pro interior.

Naquela altura eu já tinha uma namorada em São Paulo, mas, eu só podia vê-la ocasionalmente, pois não tinha dinheiro para viajar. Ela me escrevia longas cartas. Eu “tentava” responder, mas, só saiam um ou dois parágrafos. Escrever não era o meu forte. No dia da minha formatura foi um momento ímpar. Emocionante mesmo. Meus familiares e minha namorada vieram de São Paulo para a minha formatura. Era um momento importante para mim.

Estávamos nós, os formandos, no palco, e eu sorria. Notei na platéia, próximo aos meus pais, sentadas, duas figuras – um cavalheiro vestido todo de branco, com um cachorro nos braços e um padre. Ambos sorriam para mim. Estranhei porque não os conhecia. Num momento em que desviei o olhar, ao retornar minha vista para a eles, notei que haviam sumido. Resumindo – eram espíritos. Eu tornara, na minha formatura, a ver espíritos. Voltei para São Paulo cheio de planos.

Muita dificuldade pro início das atividades. Uma noite, no meu quarto, repousando, acordo assustado. Senti a presença de um Espírito. Era o padre que eu vira no dia da festa. Ele se apresentou como “meu amigo espiritual” e me disse que eu tinha uma missão. Que era pra eu ler muito, me capacitar, antes de começar o trabalho. Eu não tinha dinheiro pra comprar todos aqueles livros que ele mencionara. Mas, surpreendentemente, chegavam às minhas mãos, vindas pelas mais distintas fontes, as obras que ele mencionara.

Após alguns anos ele voltou a aparecer e me disse: Agora você está preparado para a segunda etapa da sua missão. Pegue um caderno que você irá acompanhar o que acontece com os animais no mundo espiritual. Aquela pessoa de branco que estava comigo na sua formatura é um medico veterinário e irá te acompanhar e esclarecer todas as suas dúvidas. Parecia um filme no qual eu interferira. Perguntei... anotei... fiz pesquisas. Aproveitei as experiências na minha clínica. Anotava tudo.

Um certo dia o padre me falou: agora está na hora de você escrever um livro. Mas como? Eu? Não sei escrever. Definitivamente não tenho habilidade para a escrita. Lembrei-me do tempo da escola, quando recebia as cartas da namorada e não conseguia passar de dois parágrafos na resposta. Mas o padre insistiu. Comecei, titubeante, mas com o tempo saiu.”

Eu sempre digo: se não fosse a Ana, não teríamos publicado este livro que se tornou um sucesso editorial e um dos marcos da Literatura Espírita.

Agora a querida companheira vai para o outro plano. E, tenho certeza, logo, logo ela estará trabalhando do lado de lá. Nos ajudando, nos inspirando, com aquele energia realizadora dela, que eu sempre admirei.

Minhas homenagens à querida amiga e mestra.

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