por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Memórias do Quadrilátero São Vicente - Maria Amélia Pinheiro



Uma pequena grande imagem faz várias outras passarem como um filme em nossa memória. São lembranças saudáveis de um tempo que não volta .

Certa manhã, navegando no “Cariricaturas”, vi uma linda foto da Praça Juarez Távora, conhecida como Praça São Vicente, por localizar-se em frente à igreja do mesmo santo. São Vicente era espanhol, um famoso pregador dominicano. O quadrilátero que formava a Praça São Vicente é um pedaço marcante da minha infância. Era passagem para vários lugares do Crato, como por exemplo para a casa de Tia Maria Alice, para o Instituto São Vicente Férrer , Estação ferroviária, AABB, igreja. Era passagem obrigatória para as missas dos domingos, para as quermesses da paróquia que angariava dinheiro para as obras sociais. Os bingos nas noites de abril, bebidas e comidas. Um espaço com mesas e cadeiras na rua, onde havia a confraternização dos paroquianos que prestigiavam a festa, reencontro de amigos degustando comidas, ou melhor os frangos com farofas leiloados pelos presentes. "Quem dá mais"?, perguntava Correinha....

Esse quadrado, onde a felicidade também morava, era privilegiado, com praça, igreja, colégio, pensão, hotel, a casa da D. Rosa Amélia, que era uma senhora distinta, proprietária de um poodle branquinho que era carregado dentro de um carrinho de bebe. Ela passeava orgulhosamente com o cão pela calçada, com a certeza de que o animalzinho era mais bem cuidado do que muitas crianças da cidade. Na esquina do hotel e restaurante do Sr. Hermes Lucas havia janelas altas e estreitas que, da calçada, possibilitava vermos os hóspedes nas mesas de toalhas brancas se deliciarem com a comida cheirosa e caseira da D. Conceição. Na outra lateral da igreja morava a D. Nery, dona de uma bodega, com um balcão preto de moscas, circundado por um cheiro característico de pinga e bolor. Lá, vendiam-se balas e chicletes maravilhosos. Uma quartinha de barro em cima do parapeito da janela, que dava para a rua, era acompanhada de uma caneca "democrática" de alumínio virada no gargalo, e aquela água deliciosa geladinha matava a sede de quem passasse na rua, dos fregueses da bodega e de alguns alunos do Instituto. A caneca era de todos. (Parecia que naquela época não existiam bactérias, H1N1, outros vírus, micróbios, micoses, ou será nós que tínhamos mais resistência a esses invisíveis bichinhos que o pessoal de hoje?)

Em frente à bodega, ficava a pensão de Sr. João do Alto, que tinha o costume de colocar a cadeira de balanço na calçada para ver o movimento da rua, e nós saiamos da escola vendo aquele pacato senhor sentado naquela cadeira de balanço. De vez em quando o ajudávamos a embalar a cadeira, até que um dia ele resolveu deixar um pedaço de madeira roliço perto da cadeira e não tivemos mais como embalá-la. (Desconfio que o incomodávamos). Saudosas travessuras de criança.

No final da rua, onde ficava localizado o Instituto São Vicente, os moradores da rua passavam uns mau bocados com os gritos, correiras e brigas dos alunos. Tal acontecia na espera pelo som do apito da fabrica, pois a escola abria nesse momento e os alunos entravam em horda bagunçada até as salas de aula. Não respeitávamos a sesta das D. Maria Pia, Maria Guedes e de Lilia, que hoje descansam em paz.
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Maria Amélia Pinheiro

Um comentário:

Stela disse...

Que maravilha!!!!
Valeu Mélia!