por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Filme da vida- Por Socorro Moreira



Eu torcia muito pelos amores, no mundo do cinema.No mundo que me cercava os casamentos eram para sempre, e o amor inevitável... Triste ou feliz!
Em todos os tempos a vida coloria o nosso dia a dia.
Música, Cinema, Leitura (fosse ou não sub-literatura), viagens para as capitais (ver o mar, e assistir um filme no S.Luiz era um premio!), voltear na Siqueira Campos aos domingos, arriscar uma fugida nas tertúlias e dançar uma música; os passeios da escola...Um dia tomando sol, banho de piscina era o máximo!
As festas litúrgicas com parques e quermesses, as quadrilhas de S.João, os blocos nos carnavais...Entrar no corso, num jipe sem capota era demais!
Mas o melhor desse tempo era passar férias numa cidade pequena, em relação ao Crato.A gente era paquerada pelos meninos mais interessantes. Danado era você escolher, não entregar seu coração, e ficar fiel durante todo tempo àquela ilusão. Hoje sei que era ilusão...Mas eu me sentia tão apaixonada, e chorava tanto, quando as férias terminavam...!
E dessas partidas, vivi minhas primeiras dores de amor. Depois entendi que elas representavam apenas arranhões no coração. As grandes feridas ficaram pra depois... Hoje, cicatrizes, imperceptíveis! .

O amor na maturidade tem tantas caras:
a cara dos netos, dos filhos, dos amigos...
a cara dos encantos sem paixão
a cara da serenidade do coração
Queria que o meu coração
Pulasse do peito outra vez
Só pra ver a confusão...Mas não!
Ele fica quietinho, querendo alimentos leves, e com pouco sal. Ele faz caminhadas, pra aguentar a vida e as suas saudades... Ou verdades?
Em qualquer estação, ainda é possível viver a ilusão. Às vezes ela bate na porta, outra aparece num e-mail, nos sentimos tocados com cenas amorosas de filmes e novelas.
Não quero me emocionar com personagens da ficção.Quero um nome, um apelido pra minha ilusão.O importante é que esse amor não implique em desencanto. A gente constrói o sonho.

Uma vez escutei de um amigo, que tem talentos múltiplos:
"Quero ser poeta. Poeta não envelhece!”.
Pode adoecer, ficar barrigudo, e ser o maior coração do mundo.
Naquela hora, entendi superficialmente. Um dançarino se ficar fora de forma, o corpo já não acompanhará os seus movimentos. Poeta não pára de se depurar. Aliás, a poesia só deixa o poeta, se o poeta dispensá-la.
Então descobri que eu gostaria de ser a poesia.
Mas esqueci, o quanto é difícil ser poesia. Em frações de segundos, a varinha de condão corta o encanto. A poesia é fugaz...Constante é a prosa.
Acho que prefiro ser a prosa. Uma prosa ora romântica, ora realista. Ora machucada, ora livre. A vida é prosa, com passagens poéticas, que ficam impressas, no álbum das memórias. Chamo esse álbum poético de oásis. A prosa é um deserto repleto de oásis, com espaços em claro para novas construções. Primeiro a gente mira, imagina... Depois a gente chega perto, toma água na fonte, e adormece, numa sombra pródiga, e sonha, e sonha, e sonha!
Quero o sonho, em cada noite do meu dia.
Neles encontro pessoas intangíveis, como doces; executo tarefas, que a realidade limita. Nos sonhos a gente tudo pode... Pena, que a gente acorde...
Morrer é não acordar de um sonho? Meu pai achava que sim.
É bom pensar que o mundo onírico, um dia, fatalmente tornar-se-á realidade eterna.
A morte pode ser um sono eterno sem sonhos... Aí seria terrível, se a gente sofresse por consciência. Mas não... A morte é o fim do sofrimento, ou a vida de sonhos sem fim!

Um comentário:

Mara Thiers disse...

Puxa... Quanta inspiração! Parabéns Socorro, lindo, lindo texto.

A gente destrói o desencanto, e constrói novamente o sonho, como por encanto. Vamos sonhar e sonhar...