Maria alimentava o coração , nos romances e histórias em quadrinhos. Desde pequena acontecia-lhe um interesse platônico , que logo se desfazia. Mas seu corpo de menina , cedo se transformou. Aos 12 anos já era uma mocinha , e não achava nenhuma graça nos folguedos infantis.Espreitava na calçada , a passagem de Raul, que já tinha jeito de homem, e até fumava Capri; usava camisa de duas cores, cabelo abrilhantinado, perfume não identificado ...
Arriscava um olhar, arriscava segurar o olhar, e admitia que aquele lá seria o seu primeiro amor, efetivado.
A pergunta clássica não demorou a chegar. Num gaguejo inocente e medroso , disse sim, e começou a namorar.
Noites frias de Junho , na quadra Bi-Centenária.Uma corrida nos intervalos para um riso perto, e umas meias palavras. Um pegado de mãos no cinema das 4h. Um tempo roubado da vida, num banco de praça , ou nas encostas de um pé de eucaliptos.
A paixão pode ser suave , mas é sempre imperativa. Esperar terminar os estudos, deixar crescer as afinidades, planejar o futuro parecia-lhe um fim de linha inatingível.
Quando se é adolescente só existe o presente. Quando ficamos adultos o futuro é uma ameaça constante... Quando amadurecemos, voltamos a ser crianças !
Maria era amante dos livros, mas odiava a ideia de ficar pra titia.
Depois de idas e vindas, Raul seguiu sua estrada. Continuou os estudos na capital, deixando a menina com a cabeça nos travesseiros, entre sonhos, diários, cartinhas e lágrimas de saudade.
Aos 16 anos , ela sabia o que queria , mas já renunciava a todos os quereres. Entregou pros altos seu destino.
Aceitou o que foi chegando no caminho: pedaços de desejos insatisfeitos ; desperdício de potencial.; acomodação estóica...
Final feliz é conto de fadas . Conversa pra boi dormir.
Não acreditar que a gente pode inverter a roda do destino faz o destino acontecer, aleatoriamente , e sem o cor-de-rosa da alegria.
Aos 18 anos os sonhos morriam !
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