por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Amigo é coisa pra se guardar..."















“Amigo é coisa para se guardar, debaixo de setenta e sete chaves, dentro do coração...”

O Sol se punha lá praquelas bandas...
O Calor sempre tão forte até o final do dia abrasa qualquer coração e qualquer multidão.
O Povo daquela cidade se aninha em oração. E mais um dia o sol nasce e se levanta com toda força, viço, e com todo o vigor! É mais um dia...
Um dia qualquer, num instante qualquer, numa cidade chamada Juazeiro, onde tudo teve o seu começo.
Involuntariamente, as imagens vão tomando forma; e aí, aos poucos, começo a tecer todas minhas recordações, trançar todas minhas lembranças com toques leves, muitos leves... Como brisa com cheiro de mar, como o lento bater das horas num dia de domingo, ou como balanço de rede no alpendre. A brisa leve bate no rosto e as recordações chegam de mansinho feito música, bem de leve...
Aos poucos, cada movimento, cada momento vivido, cada momento contido se põe cada vez mais à mostra. As lembranças me são postas de uma forma tal que chego a me transportar e vivenciar, novamente, toda uma época, onde éramos simplesmente jovens com toda pureza, com toda grandeza, com todo frescor da juventude, e com todos os sonhos próprios da idade. Uma etapa de vida, onde surgem todas as nossas mudanças, todas nossas inquietações, ansiedades, e a busca da nossa própria identidade.
DERAM-SE ENTÃO, OS ENCONTROS E OS ENCANTOS!
Vejo então, cada rosto... Cada desejo nutrido, cada sonho imbuído, ora outros reprimidos... Sinto toda energia, os desembaraços, os abraços, todos os risos, e todos os apelidos...
Cada um com suas peculiaridades, afinidades, com as suas manias, e temperamentos.
Vejo cada tarde nas calçadas, cada som que saia da vitrola (companheira diária), e o som da voz meiga e desafinada da minha amiga Fátima. Início e término de namoros. Quantos risos e quantas lágrimas! As serenatas... Quantas noites de deleite!...
Sinto o sabor e o cheiro de todas as manhãs. O toque do sino do leiteiro, o levantar das portas das lojas, o som da buzina dos carros que fazia acordar os mais desajeitados e os mais preguiçosos. As bodegas sempre sortidas (não existiam grades nesse tempo). O Beco de Catarina, a bola de imburana também de Catarina, o pão sempre quentinho da padaria do seu Ângelo, o Portuga. Os Colégios, Clubes, Lojas Maza, Casa de Noca, Quadra João Cornélio, os Festivais... Quem não se lembra?
O Nosso Bloco, Os Zerrados! Os macacões num “pano” fino de listas, que derretia com o suor do corpo num frenesi ritmado ao som das nossas músicas carnavalescas.
O Nosso Lema! Existia um lema, existia um tema... Quem lembra? Arrisque!?... Dê um palpite!
A praça... A nossa praça.
Com a coluna da hora sempre imponente, altiva, e sempre tão presente em nossas vidas, ali sempre posta... Muitas vezes até com certo ar de impaciência no aguardo daquela turma que aos poucos, ali chegavam e que juntos ali se aninhavam sob o relógio da coluna da hora.
Bons tempos aqueles!
O Caldas... Paraíso de esmeraldas. O Caldas do nosso recreio, dos nossos passeios, das nossas lindas noites de estrelas e de lua cheia.
Saudades desse tempo...
Continuem acreditando no poder da amizade, nessa força mágica e poderosa que dela emana. Algo que só nos acresce e nos renova a cada dia, a cada hora, a cada momento.

“...Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não, mesmo esquecendo a canção...”


Mara
Dezembro/2006

3 comentários:

socorro moreira disse...

Que lembranças preciosas, Mara !

Compartilho com os teus sentimentos com todo meu respeito e carinho.

Beijo

Liduina Belchior disse...

Com seu texto maravilhoso, Mara, você expressou uma época sensacional do nosso interior cearence. Como também sentimentos bons de uma época ida. Valeuuuu... Adorei a "viagem".

Quanto ao tema amizade, nossos valores bateram: penso assim querida menina.

Xêro: Lidu.

Obs: Gosto muito de ler você.

Mara Thiers disse...

Tempo de paz, tempo de sossego, de pureza, sonhos... Era tudo tão lindo!!!
Obrigada pelas belas palavras. Fico toda feliz!Como uma "menina" comendo algodão doce... rsrsrss...
Beijo&beijo!
Lidu, a recíproca é verdadeira!!