por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

No fundo do baú




Um velho baú foi aberto com facilidade. Nem foi preciso forçar a fechadura. Embora enferrujada, cedeu ao primeiro tato. Um cheiro esquisito espalhou-se no ar. Os feixes de alfazema já tinham perdido a validade, e o baú estava completamente lotado de quinquilharias e/ou preciosidades... Impulsivamente, todos mergulharam suas mãos, pensamentos, olhares, naquele achado. Não podiam perder tempo... O jeito era explorá-lo. Os objetos eram todos identificáveis: um missal de madrepérola, terço de prata, pacote de cartas amarradas com fita de cetim azul, álbum de retratos, caderno de canções, livro de receitas, caixinha de música, um leque, brincos descasados, um crucifixo de prata e uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças. Era a caixa de Pandora, com todas baratas e lagartas, em saltos olímpicos, ora despertadas! Na parede, um relógio centenário tictaqueava insistente. Um cheiro delicioso de café, no ar se espalhara... Chega Brigite, gata preta, de olhos verdes... Visão cinematográfica! Ela, e a rosa cor da tarde, esperando o luar de Janeiro ... No fundo, todos são loucos!-Eu, minha gata e o meu cachorro!


O Carnaval das nossas saudades

Na minha infância, dançar carnaval era pecado mortal. Meu pai comprava lança-perfume, e a gente aspergia no povo da rua, até o tubo secar... Até o cheiro ficar fora do ar!
Os corsos eram fantásticos. Corria para as esquinas... Era o desenho animado dos meus contos de fadas! Nos jipes e automóveis sem capotas, cabia mais gente, do que se podia contar! Máscaras... Elas permitiam a mistura, no mesmo espaço, de moças de vida presa, e moças de vida fácil... Achava o máximo!
Na década de 60, já adolescente, carnaval continuou proibido... Fugia para a concentração dos blocos, nas calçadas. Suspirava de vontade de brincar, mas só podia cantar e dançar um frevo, se pudesse imaginá-lo!
Em 70,80... Participei dos meus primeiros bailes, no Crato Tênis Clube. Meu pai, por anos seguidos, foi Diretor Artístico, e cabia-lhe a missão de decorar o clube. Pintava todas as paredes com imagens de colombinas, pierrôs, arlequins, ciganas, piratas... e o diabo a 4!
Ficava lindo! Era muito bom dançar com todos, e não ficar com nenhum!
Geralmente, debaixo de chuva, na quarta-feira de cinzas, acompanhávamos a orquestra até a Praça Siqueira Campos, dançando e cantando a marcha da quarta-feira ingrata, que chegara depressa demais!
Depois, ainda de fantasia, entrávamos na Igreja pra receber a "cinza". Nosso lado profano fora alimentado, até os pés ficarem cheios de calos, e a voz rouca, sem proferir som algum.
"Saudade é isso que a gente sente, saudade é falta que faz a gente alguém que partiu, alguém que morreu, alguém que o coração não esqueceu..."
Pois é... Carnaval comum, nos dias de hoje é ficar plantada na frente da televisão, e assistir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Pipocas, sem risos...!
" Vou beijar-te agora/ não me leve a mal... Hoje é Carnaval"!

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