por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sombra e água fresca




Existe tanta solidão na dor do mundo.

Existe solidão na própria felicidade

E o dia a dia esperando o destino ,

no recreio entre duas aulas principais:

O sono letárgico , e o suspiro final.


Vivo o plantão dos meus mistérios.

Palcos paralelos , espetáculo estranho

Simbiose de tristeza e desafeto.


Rodopio minha própria valsa ,

numa vertigem etérea ...

Desfaleço no imaginário ,

e permaneço no vazio da paz.

Domingo de sombra e água fresca


Acordei sem lembrar do que sonhei , mas lembrando um passado remoto , e uma das minhas inúmeras mortes.
A vida reflete o sonho Tenho parcos sonhos. Economizo distâncias , dinheiro, paixão , e até saúde. Sou tão injusta...! Só não economizo poesia.Por falta de sonhos ela chega de chinelos franciscanos, perambulando no frio fulgor das auroras.
Tenho tudo e deixo de querer o essencial. Estou presa à quatro paredes, e de janelas e portas abertas para o mundo virtual. Lá também não sonho , nem invento realidades. Não brinco de amar.
Não sou exatamente triste, nem exatamente romântica. Sou quase esquisita... Alegro-me com o brilho no olhar dos meus amigos. Absorvo e rejeito a tristeza. Choro-a em prantos, sem entender o meu luto contínuo.... Coisas perdidas , ganhos em caixas vazias. Quando a morte chegar , de nada me separará... A não ser das manhãs e madrugadas, e dos irrespiráveis ares que insisto em tragar.
Eu resumi a vida , e ela teimosa se estica. Comprimi todas as músicas, no repertório de Nana Caymmi ( nunca vou escrever sem dúvidas , o sobrenome Caymmi...). Não gosto de política, nem de Economia, nem de futebol ...Não gosto do risível , nem do aterrador. Vivo as madrugadas que nascem e morrem em mim, num cotidiano repetitivo, desequilibrado com algumas surpresas...
Um desconto ou troco poético , que me roubam do tédio.
O contato com as palavras é recreativo. Tomo café com vogais, e faço sopas com todas as letras.
Faço turismo nos contos de alguns, catando arrepios e extraindo gotas de emoção para molhar a secura do coração. Não sei os motivos da arte. Ela foge de mim , quando a procuro, e esconde-se nos meus porões.
Mas hoje é domingo. Ganhei o mundo , ainda cedinho.
Lá na frente , pelo caminho do mercado , cruzei com uma amiga de infância. Pelo menos a quatro décadas não conversávamos. E foi como se o tempo não tivesse passado. Nos olhamos com vista curta , e achamos que ainda éramos as mesmas , apesar das experiências duras , e de alguns resultados glorificantes. Trocamos confidências , desabafos... Com a mesma vontade de apostar no futuro , sem fichas de esperança.
Refleti-me por mais 23 anos ... Meu Deus como passa ligeiro ... E como chegamos doídas , e cheia de mazelas. Quem conta , fica ! O lucro é sentir-se viva !
Almocei com duas pessoas queridas : Ismênia e Vera Lúcia Maia. A primeira eterna colega e amiga; a segunda a sempre mestra de tantas gerações ; a sempre musa de tantos poetas.
Nem sei contar o papo caloroso que o encontro nos trouxe. Alternavam-se presente e hora da saudade. Cobrei-lhes um monte das histórias que eu não sei contar...Elas guardam na sensibilidade um livro sobre o Crato e os cratenses com infinitas páginas. Durante o almoço ficamos procurando a música com ouvidos carentes. Imaginamos os pares dançando , lá no salão
principal - hora da matinal dos domingos.
Esbarrei em velhos conhecidos , e fui feliz nos encontros... Ainda estamos vivos !

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