por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mestre- Cuca




Crato e a Gastronomia, nos anos 60. Dona Valda, minha mestre-cuca!

Ainda há pouco, desci para almoçar, o feito por mim! Tava legal, porque faço pensando no paladar do meu filho, Victor. E se eu morasse sozinha? Com certeza comeria muito mal.
Entre a sala e a cozinha, eu me senti vestida de farda, boca cheia d’água, estômago roncando, correndo pra almoçar , depois do expediente escolar.
Todos os dias, o cardápio era previsto:
Na segunda-feira, um baião de dois escuro (muito feijão), soltinho, porque era refogado com torresmo. Carne de sol assada, no fogareiro a querosene, paçoca, banana da casca verde.
Na terça-feira, nos aguardava um cosido com todos os legumes (batata doce, macaxeira, jerimum, cenoura, etc); um arroz branco soltíssimo (minha mãe só comprava arroz velho);
Macarrão refogado na nata de leite, e pirão feito com o caldo do cosido.
Na quarta-feira tinha sempre lombo assado, recheado com pequenos pedaços de toucinho; salada de ovos cosidos com tomates, feijão mulatinho, do caldo grosso, bem temperado. Minha mãe fritava rodelinhas de batata-doce, que pareciam deliciosas bolachas. Adorávamos!
Na quinta-feira tinha bifes batidos no cepo, acompanhados de jerimum bem verde; arroz com pequi, macarrão de forno com queijo ralado e ovos batidos.
Na sexta-feira era o dia do peixe ou bacalhau ao molho de coco, e aqueles temperos verdes . Tinha sempre um molhinho separado com pimenta malagueta. Aí cabia o purê de batata, e o feijão verde temperado com nata.
O sábado era o pior ou o melhor dos dias. Detestávamos carne de bode ou carneiro, mas ela tinha que agradar ao velho... Então fazia nas paralelas costelas de porco assadas, uma frigideira de carne moída, uma titela de galinha, na chapa.
Aos domingos, o cardápio era sagrado: galinha (só existia a caipira) ou peru, ao molho pardo, salpicão de legumes, arroz refogado, polenta de milho verde.A mesa era colorida e farta !
Os jantares é que lembro com mais saudades: arroz topado, sopa de feijão, canja de galinha, arroz com tripa de porco torrada, fígado, arroz com ovo caipira e lingüiça caseira. Hum... Que saudades de todos aqueles pratos!
Dos lanches também: das 9 h e das 14 h.
Só não gostava quando ela inventava gemada de ovos caipira com mel de abelha. Achava enjoado! Mas os suspiros, sequilhos, doces no tacho com queijo de manteiga, banana frita, bolos diversos, umbuzada, mangusta... Vixe, bom demais!
Minha casa tinha esse movimento de festa na cozinha.. Eu me criei gostando de sentir os cheiros, e pegar na colher de pau, pra mexer o vatapá.
Nada de pizas, lasanhas, parmegianes, nem salmão defumado. Lagosta? Só conhecíamos, no máximo, cioba e cavala. No mais era traíra, piau... !
Não tínhamos musses, nem gelatinas de sobremesas. Minha mãe fazia o tradicional pudim de leite, e batia o mamão com maracujá ou laranja, colocava uma calda de ameixa, e ficava lindo e delicioso!
Valda querida, obrigada por ter cuidado tão bem da nossa família. Hoje estamos presos aos grelhados, descartamos os temperos de porco, e aderimos aos azeites de oliva, mas tua comidinha( cem por cento natural) , ficou na memória de todos os meus sentidos !

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