por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 28 de maio de 2011

Fotos dos autores do livro "No Azul Sonhado"

rosa guerrera
emerson monteiro
lupeu lacerda
José do Vale
telma brilhante
socorro moreira
Carlos Esmeraldo
Bernardo Melgaço
Brandão

Assis Lima

CIRO MONTEIRO - por Norma Hauer


O CANTOR DAS MIL E UMA FÃS
Ele nasceu no dia 28 de maio de 1913, no bairro do Rocha, aqui no Rio de Janeiro,
indo morar, ainda criança, em Niterói onde começou a cantar, com seu irmão, em festinhas particulares.

Nessa época, Sílvio Caldas o conheceu e propôs que cantassem em dupla, como Sílvio fazia com Luiz Barbosa.
No começo, ele e não se interessou, mas depois foi contratado por César Ladeira para cantar na Rádio Matyrink Veiga, onde conheceu a cantora Odete Amaral com quem se casou em 1941.

Foi quando fez a primeira gravação de "Se Acaso Você Chegasse", de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, que abriu a porta tanto para o Ciro, como para o Lupicínio.
Foi este samba que projetou o nome do compositor gaúcho. Isso em 1937. Nessa época, Ciro Monteiro já despontava no programa "Picolino", de Barbosa Júnior, na Rádio Mayrink Veiga.

No início de 1949 Ciro transferiu-se para a Rádio Nacional,
Nesse ano a Mayrink sofreu o então maior golpe em sua existência. Quase todos seus "cartazes" a deixaram.

Seu segundo sucesso foi o samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista "Oh, Seu Oscar", o estivador que, chegando do trabalho a vizinha lhe falou que sua mulher o deixara, pela orgia.
O samba "O Bonde de São Januário", da mesma dupla, além de fazer apologia ao bonde, elogiava o trabalhador.
A letra original dizia "o "bonde São Januário, leva mais um grande otário, sou eu que vou trabalhar." O DIP ( a censura do Estado Novo) não permitiu e Ataúlfo substituiu para "o bonde São Januário, leva mais um operário, sou eu que vou trabalhar".

Mas o "povão" fez outra letra:"o bonde São Januário leva mais um grande otário p'ra ver o Vasco apanhar".

Foi o primeiro a gravar o samba "Beija-me", de Roberto Martins e Mário Rossi, em 1943. Samba hoje mais uma vez fazendo sucesso na voz de Zeca Pagodinho.

BEIJA-ME
Beija-me
Quero teu rosto coladinho ao meu.
Beija-me
Eu dou a vida palo beijo teu.
Beija-me
Quero sentir o teu perfume
Beija-me
Com todo o teu amor
Senão eu morro de ciúme."
17:36 (1 hora atrás)
Norma
CIRO MONTEIRO -2-
Também Geraldo Pereira marcou o repertório de Ciro Monteiro, que foi o primeiro a gravar "Escurinho", assim com a "Falsa Baiana".

FALSA BAIANA

"Baiana que entra na roda, só fica parada,,
Não bole, nem nada
Não sabe deixar mocidade louca...

Como compositor, seu maior sucesso foi "Madame Fulana de Tal".

Até Luiz Gonzaga, o "rei do baião" e Humberto Teixeira, o "doutor do baião" fizeram, para Ciro Monteiro, o samba"Meu Pandeiro".

Quando eu morrer quero os braços de fora
P'ra tocar o meu pandeiro..."

Em 1965 apresentou-se na TV Record, em São Paulo, com o "show" Bossaudade"

Nesse mesmo ano, com Dilermando Pinheiro, ainda em São Paulo, apresentou o espetáculo “Telecoteco-opus 1” , da autoria de Sérgio Cabral. E com Eliseth Cardoso gravou um LP de nome “A Bossa Eterna de Eliseth e Ciro”.
E vários outros LPs na Odeon, um deles com Jorge Veiga..

No ano em que faria 90 anos (2003) vários cantores o homenagearam no Teatro Sesi.

Ciro Monteiro faleceu em 13 de julho de 1973, aqui no Rio de Janeiro, aos 60 anos.

Norma

TROVAS ENGARRAFADAS - por Ulisses Germano


I
O mergulho do orgulho
No íntimo do egoísmo
Corroi como um gorgulho
Causando parasitismo

II
Todo sonho é um drama
De algo mal resolvido
Quando o sonho sai da cama
É porque já foi vivido


III
O sofrimento faz parte
Da vida que a gente sente
Sendo assim, peço um aparte
Pra seguir a vida em frente

Ulisses Germano

FALANDO DE MIM

Segredos guardados
Momentos de mim
São guerras eternas
Angustias internas
caminhos partidos
em fogo cruzados
segredos fadados
desejos enfim


Amores mentidos
em vão repartidos
sem ter amanhã
dilui-se com o dia
em meio à utopia
tão vaga, tão vã
em tragos,
em rastros
zumbidos assim.

É que à noite costumo
agir sem razão
espalho Sem rumo
sem medo e sem prumo
a tudo enfim
amor, coração...
Me arrimo aos abraços
e espalho pedaços
Das luzes de mim

WILTON DEDÊ

Colaboração de Maria de Jesus Andrade





A melhor definição de GLOBALIZAÇÃO que os professores nunca ensinaram.


Pergunta: Qual é a mais correta definição de Globalização?

Resposta: A Morte da Princesa Diana.

Pergunta: Por quê?

Resposta: Uma princesa inglesa com um namorado egípcio, tem um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, bêbado de whisky escocês, que era seguido por paparazzis italianos, em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico canadense, que usou medicamentos americanos. E isto é enviado a você por um brasileiro, usando tecnologia americana (Bill Gates) e provavelmente, você está lendo isso em um computador genérico que usa chips feitos emTaiwan e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura, transportado em caminhões conduzidos por indianos, roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido a você por chineses, através de uma conexão paraguaia

Isto é *GLOBALIZAÇÃO!!!*


E QUEM SOU EU?


Nesta altura da vida já não sei mais quem sou...

Vejam só que dilema!!!

Na ficha da loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando alugo uma casa INQUILINO, na condução PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado CONSUMIDOR.

Para a Receita Federal CONTRIBUINTE, se vendo algo importado sou CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou MUAMBEIRO, se o carnê tá com o prazo vencido INADIMPLENTE, se não pago imposto SONEGADOR. Para votar ELEITOR, mas em comícios sou MASSA. Em viagens TURISTA, na rua PEDESTRE, se sou atropelado ACIDENTADO e no hospital viro PACIENTE. Nos jornais sou VÍTIMA, se compro um livro LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. Para o Ibope sou ESPECTADOR, para apresentador de televisão TELESPECTADOR, no campo de futebol TORCEDOR.

Se sou corintiano, SOFREDOR. Agora, já virei GALERA. (se trabalho na ANATEL, sou COLABORADOR). Para o Juiz sou RÉU. Pro Delegado, O INDICIADO e, quando morrer... uns dirão... FINADO, outros... DEFUNTO, para outros... EXTINTO, para o povão... PRESUNTO...

Em certos círculos espiritualistas serei... DESENCARNADO, evangélicos dirão que fui... ARREBATADO...


E o pior de tudo é que para todo governante sou apenas um IMBECIL !!!

E pensar que um dia já fui mais EU.



Luiz Fernando Veríssimo.

Por Clarice Lispector


Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.

Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!

(Clarice Lispector)

Nada - Para Ivo Valença i.m.- Por Everardo Norões


Nos caminhos da boca
as palavras eram seixos,
às vezes, espadas.
Nem o cuspe seco
desembocou na estrada,
onde doía a noite,
e desfalecia a água.

No meio do escuro,
um escarro de luz
iluminou-lhe a cara.

Os nomes sumidos,
vidros partidos,
despertaram os jornais.

Nada.
Nos caminhos da boca
as palavras eram peixes.
As vezes, punhais.


Cores fortes número dois - Emerson Monteiro

A incerteza desses pensamentos desce buraco adentro do peito, num mergulho de cascalhos rolando através dos rios da alma. Restos de culpa, espécie de só saudade abandonada em gestos incertos, angústias, muitas angústias que se acumularam visguentas pelas bordas metálicas do cérebro das mentes aflitas, como os derradeiros sentimentos das vidas inteiras. Postas de manhãs ensolaradas rebrilham, pois, sobre as lajes frias do quintal e o tudo e o nada se entrelaçam familiares, na forma dos velhos jornais rolando no vento úmido. Terços, tropeços entre os dedos, firmam as orações da véspera num apelo sincero rumo do desconhecido; cantigas travessas de horas agradáveis lá perdidas no passado neutro. Sim, são as lentas visões dos mesmos momentos que repetiram sensações do incontido de querem cruzar as pontes destruídas, voltar a impossíveis pastos de antigamente.
Vontade poderosa de sobreviver a qualquer custo conta valores imensos, porquanto ninguém andou nas jornadas ao Paraíso antes de amargurar dores atrozes do desencanto. O esforço sobre-humano de transcender o ritmo monótono das ondas que repetiram a história do tempo força extrema de continuar a passos lerdos sem, contudo, saber aonde seguir. Viver por viver ao sabor dos acontecimentos.
Essa doce amargura nos dentes do coração. Flores apagadas e fios invisíveis nas trilhas das aranhas tresmalhadas. Gosto de ausência de não ter tamanho impulsiona avançar e permanecer no outro lugar de sempre.
Os olhos ardendo com as chamas da noite veem a paisagem dos matos enviesados, no quadrado permanente dos territórios minados. Tons de verde, laivos de rosa nas plantas silvestres inundadas de sol. Pássaros tardios, raros pássaros que insistem silenciosos permanecer. Nessas impressões de claridade, o estio traz algumas formigas e o alimento que transportam à luz do dia, sinal de mais chuva que virá.
E nas caves profundas do eu, gotas puras de orvalho transbordam pelas gretas o furor, fervilhando íntimas vozes assustadas e doloridas. O baque surdo, que o ser inflama, aumenta a solidão do insofismável. Louvores de tropel perguntam e rápido somem sem respostas. Cachoeira de líquidos invade os ouvidos, abafam o grito dominado e percorre as fronteiras do desejo.
Em quantas naves lançarei o meu destino? Pedaços de mim andam soltos nas quebradas vazias, portos fechados e mapas rasgados, que sacolejavam tremores de eras escondidas nas dobras do desespero.
Ruínas acinzentadas deixam ver as poucas feras que ali pastavam entre si caladas e fiéis ao firmamento, que, nas alturas eternas, insiste permanecer, domando a multidão dos horizontes sucessivos que deu na bola de cristal e guarda em si inevitáveis painéis do Universo esplendoroso.

Histórias da Dona Valda (Maria caixa- de- pó)- por Socorro Moreira



Ele de Itambé (Pe); ela de Pedra do fogo(PB). Cidades fronteiriças.

A família dela transferiu-se na década de 20 para o Crato. Seu Lima começou uma indústria caseira de vinhos e doces, e assegurou a subsistência da sua prole. Mas naquele tempo a varíola comia de esmola. Quando um adoecia, os outros também caíam doentes.

Chico Nunes, viajante de medicamentos, parou no Crato, e tomou conhecimento de que uma família das suas bandas estava sofrendo horrores, vitimada pela bexiga . Resolveu fazer-lhes uma visitinha para prestar apoio, e conferir, se os conhecia.

Encontrou a filharada deitada no chão, em folhas de bananas. Maria Lima , mesmo coberta de feridas e olhar febril, não escondeu a beleza aos olhos do rapaz. Nas revisitas foi-se apaixonando, e logo a pediu em casamento. Voltou poucos meses depois para a celebração do matrimônio. Pedro Maia, que tinha o melhor ,ou quase único, carro de aluguel da cidade, conduziu a noiva até à Igreja. Disse na ocasião que fora a noiva mais bonita que o Crato já conhecera.

Depois da festa partiram para uma nova vida , numa fazenda de carnaúba, no município de Picos(PI).

Ali, Maria passou 20 anos , sem ver pai, nem mãe. Nos dias de feira, Seu Chico Nunes trazia-lhe de presente, caixinhas de pó, que ela usava sem parcimônia, noite e dia. Por conta disso, ganhou do marido , o apelido de Maria Caixa- de- Pó !

Do casal nasceram 9 filhos. Á medida que completavam 7 anos saiam pra estudar na cidade. Foi assim com a minha mãe.

Dona Valda lembrou-me hoje, quando a visitei, essas passagens , dando ênfase ao atributo maior de Maria, que salva guardava a sua beleza : a paciência !

Durante todos aqueles anos rogou à Santa Rita, a graça de poder voltar para o convívio dos seus. E antes de morrer, aliás, muito antes, alcançou tal graça.

Hoje a lição me foi repetida : ter paciência ! Qualidade da minha avó, herdada por minha mãe, que eu desejo também aproveitar, nos anos que me restam.

'Quem deseja, e espera ...Sempre alcança !"

Diz a minha mãe, justo para mim, sempre tão inquieta, irreverente , impulsiva ,e imediatista ...Terei jeito ? Confio na velhice !
* Ofereço este texto ao primo Edmar Lima Cordeiro, nosso colaborador , que vive há muitos anos no Paraná. Hoje pelas graças da Internet, mais próximo do nosso convívio !
Maria Caixa- -Pó, minha avó materna ,é também a sua tia Bibia.

Olhar embaçado- por socorro moreira



Tudo, menos dilatar as pupilas. Sou do tempo em que para voltar ao normal precisávamos de até 8 dias. Um castigo! Sem leitura, sem estudo, sem cinema, sem enxergar a cara no espelho. E a vida interior comemorava, apelava atenção. Os pensamentos fervilhavam, como num salão de festas... Afinal não comprometia a audição. E eu ficava no pé do rádio esperando as canções.
Hoje meu olhar fica embaçado, sem uso do colírio. Cadê meus óculos ? Pergunta insiste que vivo fazendo a mim mesma. Sem eles, nada feito!
A partir desta poeira levantada pelo escritor Zé do Vale, entrei numas de encarar tudo na vida que o meu olhar resolve embaçar... Como se nuvens, brumas , chuvas, fossem matéria prima da minha consciente ou consciente incompreensão.
Quero muito enxergar sem ver. Acreditar, sem que me façam nenhuma promessa... Confiar no coração humano, no fundo, pleno de boas intenções, mas falível, apressado, desligado, como o meu.


É preciso mudar esse quadro - Por José de Arimatéa dos Santos

Nesses dias os problemas da educação vieram mais uma vez a tona com o vídeo da professora Amanda Gurgel do estado do Rio Grande do Norte em que ela na presença de autoridades educacionais e políticas, discorre sobre as mais diversas situações vividas pelos professores. Situações vexatórias que só quem está em sala de aula  pode comprovar. É sabido mais do que nunca que a educação é prioridade dos políticos, nas campanhas eleitorais. Eleitos, pouco ou quase nada é feito para mudar essa situação.
Já passou da hora para resolver os graves problemas da educação nacional. É necessário colocar em prática políticas de valorização e respeito ao professor. Todos os países desenvolvidos são calcados numa boa educação. Como o Brasil quer se inserir, a médio prazo, no clube dos países desenvolvidos  se as escolas estão sucateadas e as crianças muita das vezes até agora não tiveram aula de matemática e outras disciplinas, em muitas escolas, por falta de professor? Isso é que vemos na mídia diariamente. O país gastará fortuna para realizar a Copa do Mundo e a Olimpíada. E a educação como fica?
Um outro olhar deve combinar o desenvolvimento com educação para todos. Ao melhorar a educação dos nossos jovens, automaticamente o país é elevado a melhor patamar no ranking do crescimento mundial. As condições de vida do brasileiro melhoram e cada cidadão passa  a ser mais crítico em relação aos acontecimentos de todo dia. A cidadania se manifesta de forma mais contundente e o brasileiro passa a exigir a resolução dos problemas. Tudo isso passa pela  escola.
Só que tudo isso depende também da luta dos professores por melhores de condições de salário e trabalho. Pressionar nossos representantes políticos para investir mais dinheiro  e de forma responsável  nas escolas para não faltar professores ou merenda escolar. A pressão dá resultados. Mais organização na luta e nos objetivos são pressupostos para conseguir melhores condições. Por fim, é necessário mudar esse quadro. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PUPILAS DILATADAS - José do Vale Pinheiro Feitosa

Um colírio para dilatar as pupilas. E mesmo de olhar embaçado eram duas janelas que davam para a escuridão que existe dentro de mim. Como visão indistinguível, aquelas duas escotilhas das pupilas abertas diziam mais que objetos escondidos.

O interior que acumula as impressões do mundo e das pessoas pareceu-me não revelar as impressões que nele nascem. Um mundo, das pupilas observadas, tão sem separações de sólidos e, no entanto, carrega um sentido para todas as impressões que nele chegam.

É que naqueles dois pontos escuros, que ocuparam o espaço da íris castanho claro, havia um universo de milhões de minutos a girar fantasias, sonhos, pisadas no solo firme e braçadas nas águas do revolto mundo. No interior das pupilas não acontecia o espelho do mundo anterior, mas a película em milhares de quadros que junta uma narrativa contínua e guardada.

Nas clarabóias das pupilas dilatadas, tudo era turvo, como um impedimento a priori. Mas a observação demorada revela outra coisa: a efervescência na fronteira entre o interior e o exterior. Como um rio que entra no mar e turva suas águas. Ali acontecia o batear das ondas entre eu e o mundo.

O choque que transportava a turbidez do espaço observado era a morte simultânea do mundo e de mim como tela em branco. Naquela fronteira turva o mundo tem sentido e reescreve os achados retocáveis do tempo que o meu interior inventa. Ninguém é mais puramente um ser no limite de sua própria metafísica.

No entrechoque do mundo e do interior das pupilas dilatas o ser é reinterpretado de um modo tão completo que sofre uma fuga como numa sinfonia. Simultaneamente o mundo amplo e fundamental, ontológico, deixa de sê-lo para adquirir nuances do contributo do interior escuro das pupilas sobre os quais de pronto nada tinha a dizer e, no entanto, era tudo o que tinha para dizer.

Colaboração de Stela Siebra


McCartney abre o baú dos Beatles em show no Rio

Escrito por Marcelo Abreu 


Ao ver Paul McCartney chacoalhar os ombros, balançar a cabeleira e tocar seu baixo na música All my loving, vestindo um terninho preto dos anos 60, por um segundo poderíamos até ter a sensação de pastiche dos Beatles. Mas aí nós lembramos (sim, sempre parece meio irreal) que estamos diante de um verdadeiro beatle, um das duas únicas pessoas no planeta que podem fazer isso sem ser imitação. Aqui, na segunda noite do show do Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, Paul tem direito de ser McCartney e não deixa por menos. Mostra o que fez nos seus 50 anos de estrada como um artista de raro talentoso e generosidade com seu público.

Antes do começo do show, foi exibido no estádio, em dois telões verticais, ao lado do palco, um vídeo de meia hora que era uma colagem de imagens dos anos 60 e 70. É como se McCartney decidisse abrir uma velha gaveta da cômoda do quarto para nos mostrar fotografias, postais, cartas, recortes de jornais, botões velhos, capas de discos, pequenos objetos que contam sua vida e o seu tempo. Está todo mundo lá: a família, Linda, os Beatles, os Stones, Simon e Garfunkel.

Depois de abrir a gaveta de recordações, McCartney sobe no palco para abrir o baú de boas canções que têm embalado gerações. E que repertório! Foram 35 músicas no primeiro dia do show e 35 no segundo (com algumas deliciosas variações no set list). Beatles, Wings (sua banda nos anos 70) e a fase solo. Mas ao contrário de outros sessentões que fazem isso com nostalgia, quase num pot-pourri cansado, Macca faz com a energia da juventude que nunca lhe abandonou e bota pra quebrar, com uma banda muito competente. É o que no passado chamávamos de concerto de rock, daqueles de lavar a alma.

Os pontos altos das duas noites foram as músicas mais pesadas, mais propícias ao clima de estádio: Back in the USSR, com imagens no telão de velhos filmes de propaganda soviéticos; Paperback Writer, ilustrada com a exibição das incrivelmente datadas capas de livrinhos de bolso populares dos anos 60; e Helter Skelter, com as vertiginosas imagens de uma montanha russa ilustrando o clima da música.

Houve momentos intimistas interessantes como Blackbird e Here,Today, escrita em homenagem a John Lennon. Mas a grandiosidade do estádio dispersa a atenção da massa para momentos mais reflexivos.

Os sucessos dos Wings foram muito festejados como a popular Mrs. Vanderbild, e também Jet e Band on the run. A cinematográfica Live and let die foi o momento mais pirotécnico do show, com direito a explosões no palco e fogos de artifício.

A comunicação com o público é um show parte. Falando português, Paul lembra um velho professor estrangeiro. Consciente da inevitável distância física da plateia, utiliza gestos teatrais que, às vezes, lembram até a expressividade de Chaplin. Não perde a chance de fazer brincadeiras e se comunicar. Agradece pelas luzes, pelos balões coloridos, pelos aplausos. Citou até o nome do chefe da mesa de som.

Assistir a um show de Paul McCartney no Brasil é como penetrar num laboratório de experiências humanas, onde vovós cantam felizes canções de sua juventude, pais se emocionam por verem, orgulhosos, que os filhos gostam de boa música, e filhos adolescentes, dividindo espaço com os mais velhos, certificam-se de que, sim, o mundo na música não começou com Lady Gaga.

Mas os dois shows realizados no Rio de Janeiro demonstraram que, mais do que uma experiência coletiva de reunião de tribos e idades diferentes, o velho Macca proporciona um encontro muito pessoal de cada fã consigo mesmo. Um momento para cada um pensar na história de sua vida, lembrar o momento em que descobriu a música dos Beatles e como isso mudou seu modo de encarar o mundo.

Pode ser clichê mas vale repetir: McCartney é um super-herói do nosso tempo, gênio da música que alia, a um incrível vigor físico, um domínio completo do palco e um carisma inigualável. Sua Up and Coming Tour é generosa. Das quase três horas de espetáculo, só da fase dos Beatles, que Macca revisita livremente, foram tocadas 23 músicas, em versões fiéis e levemente mais roqueiras para o clima de estádio. Mas o baú dos Beatles é tão rico que, para cada música tocada no show, umas seis ficaram de fora. Para serem tocadas nas próximas vezes.

http://www.revistacontinente.com.br/

SIDERAL - por Stela Siebra

LUA EM CAPRICÓRNIO

A responsabilidade, a ambição, o controle das emoções e a seriedade são alguns atributos da Lua em Capricórnio.
A pessoa com uma lua capricorniana preocupa-se com o futuro, necessita de segurança material e quer ser respeitada por todos. É uma pessoa “com os pés no chão”: prática e séria, almejando ser muito bem sucedida na vida.

Pois é ... às vezes trabalha tanto que se esquece de cuidar de si mesma.
E você, que tem no seu mapa astrológico a Lua em Capricórnio e está se identificando com a descrição, sabe perfeitamente o quanto é difícil para você lidar com dependências. A sua e a dos outros, porque acredita que cada um é totalmente responsável por si mesmo.
Bem, isso é verdade, mas convenhamos, ninguém se vira sozinho o tempo todo e “vive muito satisfeito” com isso. Todo mundo quer, e precisa, da ajuda e dos cuidados de outras pessoas, de vez em quando.
A lua capricorniana atribui à pessoa o anseio por sucesso e reconhecimento. Para corresponder às necessidades internas e externas quer realizar tudo com perfeição, quer dar provas de bom desempenho. Preste atenção para não incorrer em algumas falhas, nesse intento de atingir seus objetivos, porque você pode, de repente, passar a exigir demais de si mesmo e dos outros. Vai cobrar, criticar, impor regras e sacrifícios.
Tudo isso para sentir-se realizado, mas correndo o sério risco de perder sua espontaneidade criativa. Será que vale a pena? Veja que você pode estar negando um outro tipo de alimento para sua criança interior, você pode estar tão somente impedindo a expressão de suas emoções e sentimentos.

Por que negar a necessidade de proteção e carinho? Por que esconder a fragilidade sob uma aparente frieza e rigidez? Ser forte não é cumprir todas as tarefas, esconder as emoções ou ser austero e reservado. Isso é apenas bloqueio do fluxo natural de sentimentos, que pode acarretar problemas para o corpo físico.
Você tem direito a relaxar, sim. Um repouso de vez em quando, não vai torná-lo incompetente ou irresponsável. Mude de sintonia que seu rádio tocará uma melodia mais relaxante, que pode ajudá-lo a descobrir o prazer das responsabilidades, sem que se sinta obrigado a cumprí-las com perfeccionismo. Não é necessário “mostrar tanto serviço”. É essencial que os faça de uma forma responsável, é verdade, mas sem a ânsia de reconhecimento ou o medo das críticas.

Lembre-se de que a Lua está associada à reação instintiva, que é a expressão da nossa espontaneidade; portanto quando você congela suas emoções, está bloqueando a livre e espontânea expressão da sua essência lunar.
O bloqueio de sentimentos impede o contato com você mesmo e com os outros, sugerindo uma ausência de relacionamentos satisfatórios.
Para sair da dificuldade que você tem de nutrir-se emocionalmente, é preciso dar rédeas aos seus sentimentos e vivê-los, por mais difícil que seja para você sair da sua habitual reserva.
Só quando você contatar com sua fonte interior de segurança poderá dar valor a si mesmo, ao que você é e não ao que você faz. E assim, nutrido emocionalmente, reconhecerá seu próprio valor e não precisará de reconhecimento externo.

Ciro Monteiro


Ciro Monteiro (Rio de Janeiro, 28 de maio de 1913 — 13 de julho de 1973) foi um cantor e compositor brasileiro.

Hello !


Defronte do Copacabana Palace, no Rio, no domingo dia vinte e dois de maio, uma multidão olhava para a janela da suíte presidencial, quase a quebrar o pescoço, esperando pelo aparecimento, por um mínimo instante que fosse, do seu ídolo. A turba formava-se por muitas gerações : bisavôs, avôs, filhos, netos. Uma senhora, passando pelo calçadão, arrastando seu poodle estranhou aquela atitude. “Um bando de gente desse, olhando para cima, como bestas, esperando o quê? Outro besta aparecer lá em cima?” Um rapazinho de uns vinte e poucos anos, fita-a seriamente e diz:
--- Minha , senhora! O que é isso? Respeite a religião dos outros! Se a senhora soubesse que Jesus estava hospedado aqui, não estaria ajoelhada neste calçamento? Pois ali em cima se encontra meu deus! Respeite a minha religião!
Pertinho, um outro rapazinho conversa com amigos e informa que não vai dar mais para esperar. Tem que ir para o Engenhão, render alguns amigos que estão na fila e precisam almoçar. E diz: “Estamos acampados lá desde quarta-feira, queremos ficar pertinho de Paul!”. À noite, no estádio, uma fila quilométrica aguardava a abertura dos portões. Pessoas de todas as idades estavam prontas a suportar mais de nove horas em pé, deslumbradas e anestesiadas com possibilidade de, após a maratona, estarem pertos, num show inesquecível, de São Paul McCartney de Liverpool. Avós, filhos, netos, das mais variadas regiões do país – umas quatro gerações --- ali estavam firmes e fortes. Alguns já tendo feito igual peregrinação nos shows anteriores de São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires. À nossa frente, uma senhora testemunha dos dourados anos sessenta, nos disse ter comprado ingressos para vir ao show daquele domingo e da segunda-feira. Passadas as longas seis horas aguardando o ídolo, uma platéia aparentemente estafada simplesmente ressuscitou quando Sir Paul apareceu no palco, com sua banda competentíssima e, sem muitas pirotecnias, sustentou um inesquecível Show de três horas. É que todos, totalmente reconfortados, assistiam à sua frente um show não de Paul mas do “The Beatles”.
Em pleno Império do Efêmero , pus-me a pensar: o que dá a uma obra tintas de eternidade? Ali estavam quatro gerações comigo, não de apreciadores da Banda, mas de Beatlomaníacos! Como aquilo era possível, se a primeira e mais primal atitude dos jovens é jogar no lixo tudo o que a geração anterior apreciou? Em plena era do Forró de Plástico, do Breganejo, do Axé Insosso, onde o sucesso dura no máximo alguns dias e as bandas nascem e morrem numa velocidade estonteante, como explicar a perenidade e a blindagem dos Beatles?
Queóps construiu sua pirâmide dois milênios e meio antes de Cristo.O faraó ergueu sua tumba gigantesca esperando ali ficar aguardando a ressurreição, ou seja moveu-o a busca da imortalidade. No fundo, toda obra de arte é uma nova pirâmide feita pelo artista, na quase sempre inglória tentativa de com ela driblar a morte e o esquecimento.A possibilidade quase que única de sobrevivermos de alguma maneira ao desaparecimento físico inexorável. A música que se faz hoje, quase sempre, na sua volatilidade, nada tem de ritualística e nem pode pretender ser arrolada como Arte. São casas de adobe, sem alicerce, para o pouso temporário e incerto de alguns. Feitas para o entretenimento daquele instante, daquele momento específico, rui como por encanto à primeira neblina. Sequer os bordões permanecem: “minha eguinha pocotó”, “minha mulher não deixa não”, “Ah, eu tô maluco!”
As tintas da eternidade são perseguidas por todos os artistas e, no fundo, é o moto-contínuo do seu fazer artístico. Mas não basta querer a permanência simplesmente. Nem mesmo a qualidade inequívoca da obra reconhecida hoje lhe dá, a certeza da permanência. Alexandre Dumas foi o mais reconhecido escritor da sua geração, assim como Anatole France e, nem por isso, a vivacidade das suas obras resistiram totalmente ao impacto do tempo. Balzac e Baudelaire, bem menos incensados enquanto viveram, criaram uma vitalidade impressionante com o passar dos anos. Além da qualidade temporal imprescindível da obra de arte, essa necessita de alguns outros atributos para as banharem de eternidade. Faz-se mister genialidade. O grande artista é sempre um visionário e consegue imprimir um profundo ar de atemporalidade naquilo que faz. Tantas e tantas vezes passa totalmente despercebido por seus contemporâneos, simplesmente porque pinta na tela do hoje utilizando as tintas do futuro.
Se a impermanência é o atributo mais palpável do reino animal, rescendeu um ar de eternidade , de divino quando Paul subiu ao palco do Engenhão no domingo. Como se todos estivessem diante da pirâmide e de lá saísse um Queóps redivivo dizendo Hello! e nunca, nunca mais, Good Bye!
J. Flávio Vieira

Devaneios - Aloísio

Devaneios

Momento que se vai
Dá o que pensar
Me leva aonde
Eu não vou chegar

Os meus devaneios
Correm como os rios
Que com seus meneios
Desembocam no mar

São sons percussivos
Que por vários motivos
Rasgam meu caminhar
E voltam a se encontrar


Aloísio

Vôo 447: os horripilantes minutos finais - José Nilton Mariano Saraiva

Senhores,
Por entendermos ser de interesse geral, tomamos a liberdade de transcrever, abaixo, ipsis litteris, o relatório (parcial) sobre a queda no Oceano Atlântico do avião que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, também conhecido por Vôo 447. Parem um pouco e imaginem o pavor experimentado pelas 228 pessoas a bordo, naqueles horripilantes minutos finais.

José Nilton Mariano Saraiva

Balanço da investigação sobre o acidente do vôo AF 447 ocorrido em 1º de junho de 2009 (www.bea.aero) - 27 maio 2011
PREFÁCIO ESPECIAL AO TEXTO PORTUGUÊS
Este texto foi traduzido e publicado pelo BEA a fim de facilitar a leitura pelos falantes brasileiros. Tão exata quanto a tradução possa ser, é o texto original em francês que deve ser considerado como o trabalho da referência.
Histórico do voo
No domingo, 31 de maio de 2009, o Airbus A330-203, matrícula F-GZCP, operado pela Air France foi programado para efetuar o voo regular AF447 entre o Rio de Janeiro Galeão e Paris Charles de Gaulle. Doze tripulantes (3 PNT, 9 PNC) e 216 passageiros estão a bordo. A partida está prevista para as 22 h 00(1). Às 22 h 10 a tripulação tem permissão para ligar os motores e deixar o pátio. A decolagem ocorreu às 22 h 29. O comandante de bordo é PNF, um dos copilotos é PF. O peso na decolagem é de 232,8 t (para um MTOW de 233 t), e inclui 70,4 toneladas de combustível. À 1 h 35 min e 15 s, a tripulação informou o controlador ATLÂNTICO que passou o ponto INTOL e anuncia a seguinte estimativa: SALPU às 1 h 48 e ORARO às 2 h 00. Ela também transmite o seu código SELCAL e um teste é realizado com sucesso. À 1 h 35 min 46 s, o controlador pediu que ele mantenha FL350 e informe sua estimativa para o ponto TASIL.
À 1 h 55, o comandante de bordo desperta o segundo copiloto e diz «[...] vá tomar o meu lugar». Entre 1 h 59 min 32 s e 2 h 01 min 46 s o comandante de bordo assiste ao briefing entre os dois copilotos, onde PF disse principalmente que «o pouco de turbulência que você acabou de ver [...] devemos encontrar outras mais à frente [...] estamos na camada, infelizmente não podemos subir muito mais agora porque a temperatura está diminuindo menos rapidamente do que o esperado» e que «o logon com Dakar falhou». O comandante de bordo deixou a cabine.
A aeronave se aproxima do ponto ORARO. Ela voa em nível de voo 350 e à velocidade Mach de 0,82; a atitude longitudinal é de cerca de 2,5 graus. O peso e o centro de gravidade do avião são de cerca de 205 toneladas e 29%. O piloto automático 2 e auto-impulsão são ativados. Às 2 h 06 min 04 s, o PF chamou os PNC e lhes disse que «em dois minutos devemos atacar uma área mais agitada do que agora e devemos tomar cuidado lá» e acrescenta «eu lhe ligo logo que sairmos de lá». (1)O tempo universal (TU) é a referência de tempo utilizado na aviação).
As 2 h 08 min 07 s o PNF propõe «você pode, possivelmente, levar um pouco para a esquerda [...]». A aeronave começou uma ligeira virada para a esquerda; o desvio em relação à rota inicialmente seguida é de cerca de 12 graus. O nível de turbulências aumenta ligeiramente e a tripulação decide reduzir o Mach para 0,8. A partir das 2 h 10 min 05 s o piloto automático e em seguida a auto-implusão são desativados e PF anuncia «eu tenho os comandos». A aeronave rolou para a direita e PF exerce uma ação à esquerda e de elevação do nariz. O alarme de perda dispara duas vezes. Os parâmetros registrados mostram uma queda brutal de cerca de 275 kt para 60 kt da velocidade mostrada do lado esquerdo e poucos momentos depois a velocidade mostrada no instrumento de resgate (ISIS). (Nota 1: apenas as velocidades mostradas no lado esquerdo e no ISIS foram registradas no registrador de parâmetros; a velocidade mostrada no lado direito não foi registrada. Nota 2: o piloto automático e a auto-impulsão permaneceram desligados até o final do voo).
As 2 h 10 min 16 s, o PNF disse «perdemos as velocidades» e em seguida «alternate law {...]». (Nota 1: a incidência é o ângulo entre o vento relativo e o eixo longitudinal da aeronave. Esta informação não foi apresentada aos pilotos. Nota 2: em regras alternative ou directe, as proteções em incidência não estão mais disponíveis, mas um alarme de perda (stall warning) é ativado quando o maior dos valores de incidência válidos excede um determinado limite).
A atitude da aeronave aumenta gradualmente para acima de 10 graus e leva a uma trajetória ascendente. PF exerce ações de pique e alternadamente da direita para a esquerda. A velocidade vertical, que tinha atingido 7.000 pés/min, diminuiu para 700 pés/min e a rolagem varia entre 12 graus à direita e 10 graus à esquerda. A velocidade mostrada à esquerda aumentou brutalmente para 215 kt (Mach de 0,68). A aeronave se encontra então a uma altitude de cerca de 37.500 pés e a incidência registrada é de cerca de 4 graus. A partir das 2 h 10 min 50 s, o PNF tentou por várias vezes chamar o comandante de bordo. Às 2 h 10 min 51 s o alarme de perda soa novamente. Os manches de controle de impulso são colocados na posição TO/GA e o PF mantém sua ordem de elevar o nariz. A incidência registrada, de cerca de 6 graus no disparo do alarme de perda, continua a aumentar. O estabilizador horizontal regulável (PHR) passa de 3 para 13 graus de levantar o nariz em 1 minuto aproximadamente; ele permanecerá nesta última posição até o fim do voo. Quinze segundos depois, a velocidade mostrada no ISIS aumenta abruptamente para 185 kt; ela é consistente com a outra velocidade registrada. PF continua a dar ordens de elevar o nariz. A altitude da aeronave atinge o seu máximo de cerca de 38.000 pés, sua atitude e sua incidência são de 16 graus (Nota: a inconsistência entre as velocidades indicadas no lado esquerdo e na ISIS durou pouco menos de um minuto).
Às 2 h 11 min 40 s o comandante de bordo retorna à cabine. Em poucos segundos, todas as velocidades registradas se tornam inválidas e o alarme de perda pará (Nota: quando as velocidades medidas são inferiores a 60 kt, os valores medidos das incidências são considerados inválidos e não são considerados pelos sistemas. Quando são inferiores a 30 kt, os valores de velocidade por si só são considerados inválidos).
A altitude está, então, em cerca de 35.000 pés, a incidência ultrapassa 40 graus e a velocidade vertical é de aproximadamente -10.000 pés/min. A atitude da aeronave não excede 15 graus e os N1 dos motores estão perto de 100%. A aeronave sofre oscilações de rolagem que atingem por vezes 40 graus. O PF exerce uma ação no manche no limite para a esquerda e de levantar o nariz, que dura cerca de 30 segundos. As 2 h 12 min 02 s, o PF disse «eu não tenho mais nenhuma indicação», e o FNP disse «não temos nenhuma indicação que seja válida». Neste ponto, os manches de comando de impulsão estão na posição IDLE, os N1 dos motores estão em 55%. Quinze segundos depois, o PF faz ações de pique. Nos instantes que se seguem, houve uma diminuição da incidência, as velocidades tornam-se novamente válidas e o alarme de perda é reativado. Às 2 h 13min 32 s, PF disse «vamos chegar ao nível cem». Cerca de quinze segundos depois, ações simultâneas dos dois pilotos nos mini-manches são registradas e PF diz «vamos lá, você tem os comandos» (A incidência, quando é válida, está sempre acima de 35 graus).
Os registros param às 2 h 14 min 28 s. Os últimos valores registrados são velocidade vertical de -10.912 pés/min, velocidade de solo de 107 kt, atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus à esquerda e um rumo magnético de 270 graus.
Novos fatos estabelecidos:
Nesta fase do inquérito, além dos relatórios do BEA, de 2 de Julho e de 17 de Dezembro de 2009, os novos fatos a seguir foram estabelecidos: A composição da tripulação estava em conformidade com os procedimentos do operador; No momento do evento, a massa e o centro de gravidade estavam dentro dos limites operacionais; No momento do evento, os dois copilotos estavam na cabine e o comandante de bordo em repouso, este último voltou para a cabine cerca de 1 minuto 30 s após a retirada do piloto automático. Houve uma inconsistência entre a velocidade indicada no lado esquerdo e a indicada no instrumento de resgate (ISIS). Durou pouco menos de um minuto.
Após o desligamento do piloto automático:
a aeronave subiu para 38.000 pés; o alarme de perda soou e o avião entrou em perda; as ordens de PF foram principalmente de elevar o nariz; a descida durou 3 min 30 s, durante o qual a aeronave permaneceu em situação de perda. A incidência aumentou e se manteve acima de 35 graus; os motores estavam em funcionamento e sempre responderam aos comandos da tripulação. Os últimos valores registrados são atitude de 16,2 graus de elevação do nariz, rolagem de 5,3 graus na esquerda e velocidade vertical de -10.912 pés/min.

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