por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 28 de maio de 2011

Cores fortes número dois - Emerson Monteiro

A incerteza desses pensamentos desce buraco adentro do peito, num mergulho de cascalhos rolando através dos rios da alma. Restos de culpa, espécie de só saudade abandonada em gestos incertos, angústias, muitas angústias que se acumularam visguentas pelas bordas metálicas do cérebro das mentes aflitas, como os derradeiros sentimentos das vidas inteiras. Postas de manhãs ensolaradas rebrilham, pois, sobre as lajes frias do quintal e o tudo e o nada se entrelaçam familiares, na forma dos velhos jornais rolando no vento úmido. Terços, tropeços entre os dedos, firmam as orações da véspera num apelo sincero rumo do desconhecido; cantigas travessas de horas agradáveis lá perdidas no passado neutro. Sim, são as lentas visões dos mesmos momentos que repetiram sensações do incontido de querem cruzar as pontes destruídas, voltar a impossíveis pastos de antigamente.
Vontade poderosa de sobreviver a qualquer custo conta valores imensos, porquanto ninguém andou nas jornadas ao Paraíso antes de amargurar dores atrozes do desencanto. O esforço sobre-humano de transcender o ritmo monótono das ondas que repetiram a história do tempo força extrema de continuar a passos lerdos sem, contudo, saber aonde seguir. Viver por viver ao sabor dos acontecimentos.
Essa doce amargura nos dentes do coração. Flores apagadas e fios invisíveis nas trilhas das aranhas tresmalhadas. Gosto de ausência de não ter tamanho impulsiona avançar e permanecer no outro lugar de sempre.
Os olhos ardendo com as chamas da noite veem a paisagem dos matos enviesados, no quadrado permanente dos territórios minados. Tons de verde, laivos de rosa nas plantas silvestres inundadas de sol. Pássaros tardios, raros pássaros que insistem silenciosos permanecer. Nessas impressões de claridade, o estio traz algumas formigas e o alimento que transportam à luz do dia, sinal de mais chuva que virá.
E nas caves profundas do eu, gotas puras de orvalho transbordam pelas gretas o furor, fervilhando íntimas vozes assustadas e doloridas. O baque surdo, que o ser inflama, aumenta a solidão do insofismável. Louvores de tropel perguntam e rápido somem sem respostas. Cachoeira de líquidos invade os ouvidos, abafam o grito dominado e percorre as fronteiras do desejo.
Em quantas naves lançarei o meu destino? Pedaços de mim andam soltos nas quebradas vazias, portos fechados e mapas rasgados, que sacolejavam tremores de eras escondidas nas dobras do desespero.
Ruínas acinzentadas deixam ver as poucas feras que ali pastavam entre si caladas e fiéis ao firmamento, que, nas alturas eternas, insiste permanecer, domando a multidão dos horizontes sucessivos que deu na bola de cristal e guarda em si inevitáveis painéis do Universo esplendoroso.

2 comentários:

Rosemary Borges Xavier disse...

Emerson,

Este até agora foi o texto mais complexo que já li teu por aqui, passou-me a impressão de que tua matéria estava totalmente desligada da tua alma. Que estado!!! eu fiquei aqui percorrendo cada palavra como se estivesse decifrando um enigma.
Bravo! Bravo!
Se me permitires copiar aqui no meu computador, pois reler certamente será magnífico.

Um abraço.

Rosemary Borges Xavier

socorro moreira disse...

Rose,

Emerson não conseguiu postar comentário. Através do de e-mail , expressa autorização para que vc sinta-se à vontade em copiar-lhe o texto.

Abs