por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

22,24 e 25 de Agosto - Três Presidentes marcando estas datas tão próximas - Por Norma Hauer



Foi na Rodovia Dutra, que na tarde de 22 de agosto de 1976, Juscelino partiu para a viagem sem volta, deixando uma dúvida no ar...Seria de fato acidente?

Interesante que três políticos que marcaram nossa história naquela época , no período de nove meses, seguiram o destino contrário a uma gestação. Partiram para sempre.

Em agosto de 1976, Juscelino se foi; em dezembro do mesmo ano, foi a vez de Jango e em maio de 1977, Carlos Lacerda seguiu o caminho dos outros dois. Tudo isso em 9 meses !
As três mortes foram estranhas.
O retorno de Jango ao Brasil, mesmo morto, foi difícil. Quase não foi permitido. Provavelmente, seria uma ameaça à "democracia" de então.

JUSCELINO KUBITSCHEK havia sido injustiçado pelos militares.
Foi um Presidente otimista, apesar de fazer um governo tumultuado porque quis colocar o Brasil para frente, realizando 50 anos em 5.
Muitos criticaram e ainda hoje criticam a criação de Brasília e a mudança da Capital. Mas o que seria hoje o nosso Rio de Janeiro ainda como Capital ? Nossa população talvez "dobrasse", as favelas triplicassem e seria mais difícil viver aqui. Além disso, o pior: teríamos de conviver com os sujos políticos federais, como se não bastassem os locais.

No dia 24 de agosto de 1954, um Presidente "deixa a vida para entrar na História". GETÚLIO VARGAS governou como Presidente "proviório" entre 1930 e 1937; como ditador, entre 1937 e 1945 e como Presidente eleito entre 1951 e 1954.

O "povão" gostava dele. Os trabalhadores, antes sem nenhum direito, o adoravam. Os políticos , de um modo geral, o detestavam. Ele disse que saía da vida para entrar na História. Mas penso que somente quando não existir mais ninguém que o tenha conhecido é que poderá ser julgado sem paixão.


No dia 25 de agosto de 1961 outro Presidente polêmico: JÂNIO QUADROS, não sai da vida, mas sai da Presidência. Doido?, perseguido por "forças ocultas"? Prometia, com uma vassourinha, "limpar a política", mas antes de completar uma "gestação", ficou 7 meses e "se mandou".

Só o futuro poderá julgar os três.

Norma

Henrique Fôreis Domingues - Almirante - Por Norma Hauer


Ele foi uma pessoa INCRIVEL, Seus trabalhos foram FANTÁSTICOS e tudo que fez foi EXTRAORDINÁRIO.

Nasceu há 101 anos no dia 19 de fevereiro, recebendo o nome de Henrique Fôreis Domingues. Com esse nome, só os mais íntimos o conheceram, mas como ALMIRANTE ficou conhecido, através do rádio, em todo o território nacional.

Foi um dos radialistas e produtores radiofônicos que mais tempo atuou no rádio, tendo suas atividades começado no final da década de 20. Nos anos 30 e 40 manteve-se firme, cada vez com mais audiência e somente uma doença grave o afastou da Rádio Tupi, em janeiro de 1958. Nessa data teve um derrame seriíssimo, que o manteve afastado de qualquer atividade física e intelectual durante todo o resto da década de 50, precisando reaprender a falar, tal foi sua falta de nexo e de memória.

Entre os anos de 1963 e 1971 manteve duas colunas semanais de nome “Incrível! Fantástico! Extraordinário” e “Cantinho das Canções” e uma semanal intitulada “Pingos do Folclore” no jornal “O Dia”.

Suas atividades artísticas começaram com a criação de um conjunto de nome “Flor do Tempo”,logo transformado em “Bando de Tangarás”, do qual fizeram parte Braguinha (como João de Barro), Alvinho, Henrique Brito e Noel Rosa. O nome foi sugerido porque -explicou Braguinha- tangará é um pássaro que canta em grupo com outros 5 tangarás. Esse grupo foi inspirado no “Turunas da Mauricéia”, que havia vindo do nordeste em 1927, tendo à frente o cantor Augusto Calheiros. O “Bando de Tangarás” começou apresentando-se em circos e teatros mambembes cantando emboladas e outros ritmos nordestinos.
No final de 1929, as gravadoras estavam interessadas em novos compositores e cantores, daí o grupo entrar no campo das gravações, tendo no primeiro disco os sambas: “Mulher Exigente” e “Conseqüências do Amor”.

Desfez-se o grupo no final dos anos 20 e Almirante, assim como os demais componentes passaram a atuar sozinhos. Foi quando Almirante gravou um samba que teve muito sucesso, de nome “Na Pavuna”, sendo o primeiro a usar percursão em uma gravação popular.

Convidado por Ademar Casé,Almirante foi um dos primeiros a compor programas elaborados, que tiveram como precursores Renato Murce na Rádio Clube) e Valdo Abreu(na Mayrink Veiga).

Mas os de Almirante eram de um nível superior porque ele ia “fundo” em suas pesquisas e,ao longo de sua carreira, criou mais de uma dezena deles e compôs um arquivo que,doado ao Governo do antigo Estado da Guanabara, transformou-se no Museu da Imagem e do Som, no qual ele foi um dos primeiros diretores.

Depois do “Programa Casé”, Almirante passou a fazer parte do elenco da Rádio Nacional,transferiu-se para a Tupi,regressando à Nacional e terminando suas atividades radiofônicas na Rádio Tupi,em 1958.

Foi nesta Rádio que criou seus mais interessantes programas, como é exemplo o “Tribunal de Melodias”, um dos muitos que teve a participação dos ouvintes.

Ao longo de sua carreira criou os seguintes programas:
“Incrível! Fantástico! Extraordinário!”; “Onde Está o Poeta ?”;”Carnaval Antigo”; “O Pessoal da Velha Guarda”;”Coisas do Arco da Velha”;”Instantâneos Sonoros”;”Anedotário dos Professores;”História das Danças”;”Aquarelas do Brasil”:”Caixa de Perguntas”;”Orquestras de Gaita” e “Dicionário de Gírias”, que pretendia publicar, mas não o fez.

Referendamos sua memória, pelo grande vulto que deixou grandes marcas em nossa música e nosso rádio. Essa é nossa SAUDADE.

Norma Hauer

João de Barros do Crato a São Paulo - por José do Vale Pinheiro Feitosa


Começava o terceiro dia de viagem. Dois rapazes estimulavam João de Barros a falar sobre as lutas que ele disse ter lutado. João fazia uma ponte perfeita entre os sonhos e a história da região que acabavam de passar: Canudos.

Com uma linguagem um tanto fonética e com os "acertos" da linguagem popular. É difícil no início mas logo se pega o ritmo. Desculpem mas é um pouco longo. É um pequeno trecho de dez contos com este personagem. Estou preparando um site só para leitores interessados neste e outros trabalhos. Começando:


- Na menti de cada sê vivente inziste pelo menu um brejo ou um massapê. O qui custuma mermo é qui na menti de cada um de nóis inzista um mar de coisa ou umas duas serra do Araripe só de arranju. E cuma no mar tem as óindias e os camim d´água e nas serra tem as vereda e garranchu de matu seco, na menti tem a fita de cinema das vidas de tudo qui é gente vivente e das qui viverum antes de nóis. Tá dentru da menti e ela vai botanu prá fora cuma um filme, as históra esquecida de tudo qui é vivente neste praneta. O qui mais acustuma acuntecê é qui quano nóis dromi, a tria da vida do mundo veim travéis dos son-i . E num veim só pru modi diverti nóis não. Elas veim trazeno recado dos povo de antigamente, veim cobrano dívida da gente de hoje e fazeno o alin-a-ve entre as coisa de hoje e as coisa de onti. Pois béim, onti de noite eu drumí e fui dentru do dentru qui cada coisa teim e fui lá prus cafundós dumas terra qui ninguém con-iesse e fui e num parei mais. Quano óiei pru relogi inda agora quano se acordei, eu tin-a um son-io de mais de douzi hora. Eu nunca tin-a tido un son-i tão grandi. Foi o mais maió de todos os son-i de mim-a vida.


Os dois rapazes estavam atentos ao que o aventureiro dizia e esperavam que começasse a discriminar a tais lutas que lutara. E João começou a penetrar a revelação do seu sonho:

- No mar teim tanta iágua que Santo Agostin deu conta da quantidade quano viu o minino Deus brincando de colocá ela dentru dum buraco pequeno. Quano a quantidade de iágua foi comparada ao taman-i do mistéro que o santo quiria revelá. Na mata teim tanto pé de mato qui neim um furmigêro teim de furmiga. Agora se nóis arrepará prá elis no seu totá, elis são cuma uma coisa só. O mar é o mar e a mata é a mata. São tudo um coisa só. As óindas, os ventu, as tempestadi e tudo mais, mermo quano parece um bichu destruidô si mexem cum uma só manêra, do mermo jeito. Nas mata, as pranta, as fulô, os passarim, as fôia e os gai, tudo se arruma em respeito ao outro. Por isso as mata são uma junta de munta coisa e o mar uma ruma de uma coisa só. Da outra maneira são as coisas pequena, como uma toucêra no mei do descampado, uma lagoa no mei da seca. Cuma são coisa solitára, elas tão sujêta a sofrê os efeito da coisa mais maió.


Neste momento da conversa, ele se levantou e como se estivesse descobrindo uma grande coisa naquele momento, disse para os rapazes:

- Pois ói dereito pru qui vô dizê! Os índio num são bandido não! Os índio num são bandido cuma no cinema a gente vê! Os índio são nossos avô e avó. Se eles são bandido, nóis tomém somu. E queim mim chamá de bandido vai vê doca do oião. Eu tive um son-i e neli os índio são gente cuma nóis. E tudo aqui era de índio. Vêi o povo dos navi, lá do Portugá, se casô cum índia, tomô as terra dos índio e matô os pobi de Deus. Aí foi a coisa mais maió das disgraça da vida. Os bandêrante meterum bala no côro dos caboclo, os vaquêro passarum por riba dos miserave e os majó, tudo ricão, cum a butija chêa de ôru, passarum as muié nos cobri e mandarum matá o qui sobrô. Aí voscimicê podi vê queim teim tutano pru modi aguentá o tranco e queim num teim. E queim num teim? Os mais fracu, os qui viviam em pequena quantidade de gente. É cuma o mar e a mata dum lado, tudo junto aguentano o arrojo dos desmantelu do mundo, tudo unido, uma coisa só e grande e do outro lado este mermo desmantelu sobre as tocêra separada no mei do tempo e as lagoa sobre a inclemência do tempo. Os mais separado forum mais atingido. Só queim vivia em mói pôdi suportá o pudê dos branco. Os índio qui veviam camin-ando pelo mei do sertão, ora num lugá e por ôtra noutru lugá, in grupu pequenu sofrerum munto mais ligêro e cum maió dô.


Os rapazes não estavam satisfeitos com as palavras narradas, pois continham metáforas em excesso, queriam saber era da materialidade das lutas. Quais as lutas que João tinha lutado e insistiram na pergunta. João parou um pouco e, permanecendo em pé, continuou falando.

- Num tevi uma hora do dia, uma curva da terra e neim uma vontadi de fazê coisa nova, que num tivesse luita. Os índio veviam de caçar passarim, pescar peixe, comê fruita, matá bichu do matu e de bebê água adonde tin-a. Quano fartava quarqué coisa, elis ium buscá noutro lugar. Quano chegavum lá tin-a outro povu e aí o pau comia. As mata mais chêa de bichu, os rii de mais peixe, o mar cum sua riqueza, tudo era mutivu de luita entre elis. Quano os navii cum português vierum, aí foi qui o sangue rolou mermo. Eu passei a noiti intiriça son-iano cum as luitas dos povo de antigamente. Eu acho que a luita lá do povu do Canudo aina é a merma daqueles tempo.

- E eram mesmo. A luta de Canudos é a mesma de sempre.

Os rapazes se assustaram com a frase que vinha de um canto escuro do café.
 por José do Vale Pinheiro Feitosa

Por Alice Ruiz


Saudação da saudade

minha saudade
saúda tua ida
mesmo sabendo
que uma vinda
só é possível
noutra vida

aqui, no reino
do escuro
e do silêncio
minha saudade
absurda e muda
procura às cegas
te trazer à luz

ali, onde
nem mesmo você
sabe mais
talvez, enfim
nos espere
o esquecimento

aí, ainda assim
minha saudade
te saúda
e se despede
de mim

Paulo Leminski



Paulo Leminski Filho (Curitiba, 24 de agosto de 1944 — Curitiba, 7 de junho de 1989) foi um escritor, poeta, tradutor e professor brasileiro. Era, também, faixa-preta de judô.

Poetas Velhos [Paulo Leminski]

Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.

Jorge Luis Borges



Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.

O SUICIDA



Não restará na noite uma estrela.

Não restará a noite.

Morrerei, e comigo a soma

do intolerável universo.

Apagarei as pirâmides, as medalhas,

os continentes e os rostos.

Apagarei a acumulação do passado.

Transformarei em pó a história, em pó o pó.

Estou mirando o último poente.

Ouço o último pássaro.

Deixo o nada a ninguém.





(Traduções de Renato Suttana)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Edla também solidária a saudade de Eliane



Mais um email que recebo da nossa amiga Edla , onde ela expressa com palavras lindas o nosso "adeus " a inesquecível Eliane .

"Rosa, amiga-irmã, bem merecida, comovente, grandiosa em sua simplicidade, porque saiu dos recônditos de sua alma, essa homenagem à nossa amiga comum: ELIANE, ou Liane, como a chamávamos. Descrever Liane é fácil e ao mesmo tempo difícil. Eu a via assim: Seu nome: SEMPRE. Ela se conhecia bastante para saber quem era, o que queria e a quem queria, desnudando sua alma para mostrar pra valer o que era e o que trazia de mais belo e maravilhoso em seu interior. Todas as dores doem, mas a que mais dói é a saudade. Saudade de Liane e não saber como estancar as lágrimas pela falta de seu sorriso, pela falta de seu bom humor, mesmo quando as dores físicas iam além de suas forças, por sua partida. Liane é isto:
“Mulher Coragem,/que a vida enfrenta só,/no seu barco vai remando/ a corda dá nó.../ Mulher Coragem!.../Mesmo chorando./ Não cruza os braços./ Vai! Enfrenta o terror que a vida te dá.../Mulher Coragem!...não voltes atrás/. Enfrenta tudo e todos, sê forte!/ Deus te há de dar recompensa merecida/se é este nosso destino até a morte./ Então que Ele nos siga a vida./ Mulher Coragem!/De corpo são e braços fortes/Luta pela vida bem merecida, lutando pela sorte;/MULHER CORAGEM!” Liane é isto!!!

G.7 A transformação de um Ph.D. de Física num gambá- por Geraldo Ananias


Lá pros meados de 1985, eu, ainda solteiro, era funcionário do Banco do Brasil e professor concursado de Matemática da rede oficial do Distrito Federal. Tinha um colega afrodescendente, professor de Física com Ph.D. nessa disciplina — com tese defendida nos Estados Unidos — que morava no mesmo prédio e que toda noite passava por meu apartamento para irmos juntos dar aula.

Naquele tempo, minha mãe tinha vindo lá do sítio Almécegas, Crato-CE, passar uns dias comigo aqui em Brasília. Certa vez, numa sexta-feira à noitinha, lembro-me, como se fosse hoje, de que estávamos lanchando, quando a campainha tocou. Levantei-me e fui atender à porta. Era esse colega físico, professor Arquimedes. Fi-lo entrar.

Assim que viu mamãe, foi logo abraçá-la, dispensando-lhe o maior carinho do mundo. Era muito gentil e amável. Daí não parou de conversar com ela, até que chegou a hora de sairmos para o colégio.

Ao voltar do trabalho, meia-noite, mamãe estava dormindo. Não quis acordá-la.

No outro dia na hora do café da manhã, ela, pessoa simples e pura, começou a puxar conversa comigo sobre esse meu colega:

— Meu filho, como é mesmo o nome daquele seu amigo que veio ontem à noite aqui?

— Arquimedes! Por que, mamãe?

— Ele não toma banho não, meu filho?

Com essa pergunta, caí numa gargalhada gostosa. Pois logo pude alcançar a intenção de minha velhinha. É que ela era, e ainda é, bem limpinha, perfumada. Toma, até hoje, não sei quantos banhos por dia e só vive cheirosinha. Por outro lado, meu colega Ph.D. era meio jogado às traças, no que se referia à aparência e até mesmo à higiene pessoal. Ele não dava bola para nada disso. E era todo esquisitão: alto, gordo, cabelos crespos, longos e sempre amarrados com um cordão; dentes escurecidos, meio pretos e desgastados; calça Lee bastante suja e batida; camiseta desbotada; chinelos, e sempre usava um charuto cubano na boca, exalando um odor não muito agradável. Enfim, o que tinha de inteligência e conhecimento tinha de sobra em desleixo. E não estava nem aí para isso. Agora era uma figura humana maravilhosa. Um caba pai d’égua.

Como sempre, eu costumava brincar com minha mãe, por ter sido criado com muito amor e ternura — graças a Deus — decidi instigá-la nessa conversa para ver até aonde ela iria. E inventei uma história a respeito de meu amigo:

Olhe, mamãe, Arquimedes é um colega e amigo a quem muito prezo. É uma pessoa sábia, excelente professor de Física. Trabalhamos no mesmo local há muito tempo, e todo dia ele passa aqui para irmos juntos ao trabalho. Agora, e eu até ia falar para senhora, ele tem uma religião esquisita, trazida lá das bandas da África, que é um negócio sério. A senhora acredita que ele passa a noite todinha nu da cintura pra cima, ajoelhado no quarto, olhando e contemplando umas figuras esquisitas desenhadas no teto? Aí ele acende umas velas multicoloridas e fica a noite toda nesse negócio horrível, gemendo e dizendo umas coisas desconexas, e com a voz estranha, irreconhecível. E o pior é que a alimentação preferida dele é morcego ao molho, urubu assado, anum-preto torrado, cobra e sapos ensopados. Só come essas coisas.

— Ave, Maria, meu filho. E como é que você tem coragem de ser amigo de um diacho desses? O bicho fede e parece um gambá, cruz-credo!

Fiquei momentaneamente calado, me segurando para não rir. Minha intenção era deixar passar alguns minutos para, depois, dizer que tudo aquilo que havia dito sobre ele não passava de brincadeira. Daí ela certamente ficaria brava comigo e eu, para acalmá-la, daria uns abraços e uns cheiros, como costumeiramente gostava de fazer. Só que, nesse exato momento, o telefone tocou, alguém avisando-lhe que um irmão havia saído de casa para visitá-la. Ela então correu para um lado e para outro, arrumando as coisas. Ocorreu que não tocamos mais no assunto e, dessa forma, esqueci de desdizer o que lhe havia contado de brincadeira a respeito de meu colega professor.

O fim de semana passou rápido. Segunda-feira chegou. Caí na rotina de trabalho. Durante o dia, Banco do Brasil. À noite, porém, quando tomava banho já um pouco atrasado, a campainha tocou. Mamãe foi atender à porta. Adivinhe quem era? O meu amigo Arquimedes em carne e osso. E mamãe não quis conversa, se benzeu e bateu a porta na cara dele. Correu imediatamente para o lado do banheiro onde eu estava, bateu na porta e começou a gritar por meu nome dizendo:

— Meu filho, corre que aquele seu colega esquisito, que parece o capeta e que come urubu está à porta. Não vou abri-la de jeito algum. Eu vou me trancar no quarto agora mesmo. Deus me livre!

Geraldo Ananias Pinheiro

Vem aí o Cariri Cangaço 2011



O Cariri cearense estará realizando nos próximos dias 20 a 25 de setembro, a terceira edição do Cariri Cangaço; numa autentica festa da história, memória, cultura e arte da Região Metropolitana do Cariri.


Os municípios anfitriões serão Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro e Porteiras; promovendo o maior evento do gênero, e recebendo 148 pesquisadores de todo o território nacional.


Nesta quinta-feira, aqui mesmo no Azul Sonhado, a Programação Oficial do Cariri Cangaço 2011.


Manoel Severo



CORA CORALINA E O EMPREGADO CRATENSE


No feriadão de 02.11.81 fui conhecer Goiás Velho. Estava em missão em Brasília e me vali da folga para conhecer a antiga capital do estado de Goiás. No terceiro e último dia visitamos a poetisa e doceira Cora Coralina. A casa era um dos pontos turísticos e ela tinha o maior prazer em receber visitantes. Aproveitava para vender seus livros e doces. Fomos recebidos com muita cordialidade. Houve uma empatia muito grande entre a poetisa e minha esposa. Passaram longo tempo trocando ideias sobre receitas. Ela convidou Raquel para conhecer o local onde os doces eram fabricados. No caminho para a cozinha vi um quadro de bom tamanho com a foto de Lampião e seu bando pendurado na parede da antessala. Indaguei a D. Cora porque havia colocado o quadro lá. “O quadro é do Francisco, meu empregado há mais de 40 anos. É do Ceará e admirador do Cangaceiro”, e em tom bem humorado completou: “... desconfio que foi um deles...”. Perguntei de qual cidade era o empregado. A resposta foi curta: “É do Crato”.

Fui então conversar com “Seu” Francisco, na época com 87 anos. Quando soube que eu era do Crato, perguntou de imediato: “Me dê notícia do Coronel Quinco Pinheiro?” Surpresa enorme. Falou exatamente do meu avô paterno, falecido em 1936. Quando informei que era neto do Coronel e tinha o mesmo nome dele, “Seu” Francisco liberou a memória e relembrou muitas histórias envolvendo meu avô e os irmãos dele: Hermógenes, Cícero, Pedro e Artur, os mencionados por ele. Contou detalhes das viagens para as invernadas. Esclareceu que era o cozinheiro da tropa. Saía horas antes para preparar o almoço em pontos pré-determinados.

Não tinha levado máquina fotográfica e a digital não existia. O jeito era recorrer a fotógrafo profissional. O único que havia na cidade estava numa chácara distante 4 km. Apelei para um táxi e fui buscar o profissional, por sinal um nissei. De início, recusou a proposta, alegando que era feriado, estava com a família, o foto fechado e não iria preparar o equipamento, gastar um filme para tirar uma foto. Ante minha insistência, concordou fazer o trabalho, mas exigiu o preço Cr$ 12.000,00 (o equivalente a R$ 536,00 hoje, corrigido pelo INPC). Como não tinha alternativa, uma vez que viajaria para Brasília no ônibus das 22 h, paguei a quantia pedida.

Mandei a foto para meu pai, que andou seis meses com a fotografia no bolso mostrando e contando a história a todos os velhinhos que moraram nas propriedades da família. Duas pessoas se lembraram do personagem. O “Seu” Francisco, empregado de Cora Coralina, era na verdade Tomás, morador do Tio Cícero, mas também prestava serviços aos outros tios.

Quando ainda se chamava Tomás envolveu-se numa briga e o desafeto terminou morto. Evadiu-se do Crato em 1932.

(Dedicado à prima Glória Ordóñez, pela sugestão de escrevr o texto - Joaquim Pinheiro)



Despedida - por Everardo Norôes


o poeta se despede
pede visto
no passaporte outorgado
por deus
madrugada soa fera
e arde sem pudor
máquinas aceleram verbos constelados
tudo desperta no tardio
da página em branco
abre-se em lírio
vazio a repetir silêncios
soa cinzenta a hora do café
não sabe com que camisa
combinará esperas
e apenas este longe
muito longe


Por Everardo Norões
Foto de Sérgio Guerra

Auto-Retrato Falado - Manoel de Barros


Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.

Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,

aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar

entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto

meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou

abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que

fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.

Os bois me recriam.

Agora eu sou tão ocaso!

Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço

coisas inúteis.

No meu morrer tem uma dor de árvore.



© Projeto Releituras

Por Norma Hauer



22 DE AGOSTO DE 1942
O então Presidente Getúlio Vargas, pressionado pelo povo que foi às ruas solicitar que o Brasil entrasse na guerra que se desenrolava na Europa, declarou guerra ao então "Eixo", que na minha opinião consistia apenas na Alemanha e Itália.

O Japão só estava em guerra contra os Estados Unidos (ou este país contra o Japão).
O Japão não fazia parte da guerra na Europa. Nada tinha a ver com aquele conflito. Sua situação era outra.

Até hoje não estou convencida que a Alemanha, com guerra em duas frentes e ainda na África (com o Gen. Rommel) atravessasse o Oceano Atlântico para torpedear navios mercantes brasileiros.
A quem interessava que o Brail entrasse na guierra? Quem lucrou com isso?

Os Estados Unidos, que desejavam criar bases em Fernando de Noronha e em Recife, coisa que o Getúlio não queria.
Com a entrada do Brasil na guerra, os americanos copnseguiram as bases.
Quem "lucrou" com a entrada do Brasil na guerra???

22 DE AGOSTO DE 1944
Essa data é só minha. Comecei a trabalhar no prédio antigo e hoje demolido da então Faculdade Nacional de Medicina, na Avenida Pasteur, 458.
,
Só cito isso porque ingressei no Serviço Público mediante concurso realizado pelo então DASP, criado por Getúlio para realizar concursos e dar chance a que qualquer brasileiro ingressasse no Serviço Público.

Antes só os "empistolados, "os "apadrinhados" tinham acesso ao Serviço Público.

Quando assumi meu cargo naquela Faculdade, era "uma estranha no ninho. Encontrei "famílias" de funcionários, trodos admitidos pelo QI (quem indica). Não gostaram quando a turma do DASP foi indicada para lá. "Sentiram" que acabara a sopa.

22 DE AGOSTO DE 1976
Juscelino Kubbitschek, o presidente que cumpriu "50 anos em 5" morre em acidente automobilístico na Rodovia Dutra, quando vinha de São Paulo de carro, num desastre até hoje mal explicado. Por que vinha de carro, quando sempre usava o avião ?

Teria sido acidente ou foi assassinato premeditado ??? Muitas teorias surgiram então e nunca o assunto ficou bem esclarecido.

Ele, embora "cassado" pelos militares então todos poderosos, estava incomodando com seu pretígio e a possibilidade de voltar a ser eleito quando terminasse a "cassação" e voltassem as eleições livres.

... e o mistério continua.
Norma

Cego Aderaldo - Por Rachel de Queiroz




É como ele se assina: Cego Aderaldo. Creio até que registrou a marca, pois é como “Cego Aderaldo” que o povo o conhece e ama.

O último dos grandes cantadores – hoje já não se conhecem cantadores como ele foi e como ele é. Ou se os há de inspiração idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os idêntica, as novas gerações, distraídas com a música comercializada do rádio, com os cantores enlatados, já não os identificam nem lhes conferem esse halo de glória que nimbava os famosos cantadores do passado.

Hoje, o prestígio da profissão de cantar improvisado, á rebeca ou á viola, e cantar e, desafio, vai diminuindo, em vias de desaparecer. Só maldo como causa a música dos rádios, que, através dos transistores, chega até aos lugares mais escondidos do sertão.

Onde nunca chegou trem, ou ainda não chegou automóvel nem avião, o rádio já chega. E fica, e grita, e enerva. E porque não tem mais esperança de fama, os moços de inspiração não se dedicam a cantar, não estimulam a veia poética nem se apuram na escola dos desafios.

Nessa decadência geral do oficio de cantador, cego Aderaldo mantém, contudo, o seu prestígio intacto. O povo o adora, o cerca e o festeja onde quer que ele vá. Quando chega a uma fazenda, venha embora o cego sozinho com seu guia, é como se com ele houvesse começado a novena, os foguetes e o leilão.

Aderaldo sentar-se e começa a cantar e até comove ver como a gente o cerca, e ri com ele, e lhe bebe as palavras.

Não aplaudem porque sertanejo não está habituado aplaudir: o artista tem que pressentir, no silencio emocionado que se segue ao se trabalho, o grau de aprovação que suscitou.

Aderaldo é hoje um velho de mais de oitenta anos, espigados, rijo, fala sonora de homem habituado a dominar auditórios.

Tem o riso muito fácil – é um cego alegre. Seu repertório, porque os cantadores não apenas improvisam, mas também cantam versos de lavra alheia, especialmente os da musa popular - seu repertório, com poucas exceções, é bem humorado, quase humorístico.

Isso se verá, aliás, nas páginas adiante, onde o Cego Aderaldo conta a sua vida e dá uma mostra de sua poesia.

Sei que é muito difícil por num caderno de lembranças essa coisa ilusiva e perecível que é a arte de um cantador.

A palavra impressa, coisa de medida, de premeditação e efeito calculado, não conseguirá transmitir ao leitor o impacto produzido pela ação de presença, pela mágica do improviso, pela música do acompanhamento, pelo embalo da cantoria; mas ao menos registrar um pouco, para não perder tudo.

Pelo menos isso – memória da vida, fragmentos de desafios e romances – nos guardado de tudo que ele espalhou por aí em mais de sessenta anos de cantoria. É um documento da sua passagem, uma referencia para futuros estudiosos, e uma pre texto de aproximação e reconhecimento para o povo que o ama e que, quando um dia o perder, gostará de conservar ao menos uma parte dos tesouros lançados ao vento dos desafios, aos pequenos auditórios longínquos e memória, ao caso, das peregrinações do violeiro e cantor.

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS- por Stela Siebra

BISAFLOR CONTA HISTÓRIAS
Olá pessoas queridas: venham pra roda de histórias que a fogueira já está acesa, Sia Maria fez umas cocadas hoje que estão quase iguais às da minha comadre Cora Coralina. E depois das histórias vamos brincar de adivinhação. Hoje eu vou contar uma história inventada pelo povo basco, há muito tempo atrás.


A SEREIA QUE VIROU LUA

Era uma vez uma sereia muito formosa que só nadava em águas claras, banhadas pela luz do sol.
De tanto iluminar os movimentos ondulantes dos banhos da sereia, o sol apaixonou-se por ela. Lançou sua língua (que era um lindo arco-íris) até a sereia, trazendo-a para junto de si. Quando se uniram, caíram sete lágrimas de alegria para celebrar a magia daquele encontro.
Depois o sol arremessou a sereia no espaço. E ela foi voando, voando, crescendo e voando, voando e crescendo, até se transformar na lua.
Agora, quando no crepúsculo, não vemos nem o sol nem a lua, é porque eles estão se unindo novamente.
Depois, pouco a pouco, podemos vislumbrar a beleza de todos seus filhos, que são as estrelas brilhando no céu.

OS FILÓSOFOS DA BATATEIRA E ORIGEM DAS ESPÉCIES-José do Vale Feitosa



E os filósofos da Batateira retornaram à sua original ágora. Uma pequena clareira no Alto do Urubu. Lá retornaram, pois os espaços primitivos são aqueles de maior simbologia. E afinal era um dia especial. Iriam discutir as idéias de Darwin nas comemorações de mais um século. Estavam quase todos: João de Barros, Mitonho, Biô, Fan, Chico Breca, Chambaril, Zé de Dona Maria, Chapa Branca, Vicente de Maria Júlia, e líder maior, Chico Preto, a quem coube o início das conversas.

- O gênio deste homem supera quase toda uma geração. Como um pensador do renascimento trás a interpretação do mundo para a esfera do próprio mundo. A vida não é a mesma, ela evolui, se transforma pela mutação orgânica e pela seleção natural. A vida é uma possibilidade em relação ao meio ambiente que é o somatório de todos os outros sistemas vitais. Quando um organismo se encontra bem adaptado ao meio ambiente ele sobrevive ao longo dos séculos. Mas quando sofre uma mutação e começa a competir em escala diferenciada com outros, ocorre a seleção do mais forte. O mais capaz sobrevive e o menos capaz sucumbe. Mas os que sobrevivem se originam sempre de outras espécies já existentes e deste modo se criaram ramos evolutivos que partiram de espécies primitivas e chegaram às espécies modernas. O homem, por exemplo, se origina de primatas primitivos que evoluíram para o ramo homo ao longo de milhares de anos.

Chico Breca tira o cigarro do bico e rebate Chico:

- E tu tá dizendo que pobre é o fraco e o rico o forte? Que a bodega que vende mais barato e quebra a concorrente é como esta seleção natural? Tu tá dizendo que as regras da competição destes tempos de hoje já eram as regras da natureza? E se assim fosse a competição desenfreada sempre teria existido. Que o cristianismo é uma farsa, que o budismo uma besteira, que a vontade do mundo é um bicho comendo o outro?

Fan solta o tutano do nariz num sopro forte pelas narinas e vem em socorro de Chico Breca:

- É o que esta besteira mesmo tá dizendo. Que não adianta a irmandade, a solidariedade, que não adianta a igualdade. É tudo a lei do forte comendo o fraco. É fera da noite e fera do dia, é fera da primavera, do verão e do inverno. É fera nas leis, nos costumes, em casa e na rua. É fera no rosário, fera na mesa e no altar. É fera pura. Para não dizer outra frase em palavrão.

Chambaril andava muito disciplinado. Tinha lido tudo sobre o darwinismo e foi logo dizendo:

- Pois num é isso mesmo. Uns abestados até chamam de darwinismo social, ou seja a seleção natural, a competição e a seleção do mais capaz, aplicado à regras da sociedade. Mas tudo isso é peido de jumento. A verdade é que Darwin viu a conexão entre os filos das espécies, viu a adaptação das espécies às mudanças ambientais, mas ao tentar uma explicação para tudo que viu, recorreu aos filósofos do capitalismo vitorioso. Thomas Hobbes e o homem como o lobo do homem e a sociedade como uma guerra de todos contra todos. Adan Smith e o egoísmo como o móvel do ambiente coletivo. O egoísmo fazendo o todo funcionar. Malthus e a vida como apenas uma luta pela sobrevivência sobre uma ameaça permanente de falta de alimentos. Por isso o que Darwin teorizou não foi uma nova teoria sobre a origem das espécies, mas esta origem como as leis do capitalismo nascente.

João de Barros levantou o dedo e pediu a palavra e lhe foi dada:

- E sendo deste modo nada temos a comemorar? Afinal o homem apenas repetiu o que leu na sua época.

Nisso Chico Preto mostrou o que era. Um homem de opinião, mas opinião que se move com os elementos da realidade. Chico, concordando com o pensamento de Chico Breca e dos demais respondeu a João de Barros:

- A comemoração é, também, um momento de revelação. Nem sempre nas comemorações se ganha apenas com a repetição do que houve no passado. Por vezes nela nos libertamos de conceitos arraigados que já não se explicam como elemento de hoje.

Mitonho diz: a Darwin o que é de Darwin, a nós ao que vida nos leva. Chapa Branca noutra frase de fecho: se o mundo não é só competição, talvez outras formas de união caibam. Biô na costumeira tirada: se a regra não é a fera, então eu fico com a bela, a bela que nos faz gostar de respirar os segundos da vida. Vicente de Maria Júlia, fecha o ciclo dos filósofos: e que amanhã nesta clareira a beldade esteja conosco, a beldade e sua filosofia do amanhã. Que também se sente conosco: Fila, Corra, Rosa, Memé, Dedê, Fernandina e Leila.

Era o fim da reunião e Chico Preto diz: fundamos a origem de gaia e não mais das espécies.

Com isso até eu que não estou a altura destes filósofos concordei: sem mulher não existe o pleno.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

Virgem - 23 de agosto a 22 de setembro



"A ti Virgem, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação.

Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada.

Para que assim o faças, Eu te concedo o Dom da Pureza."

E Virgem retornou ao seu lugar.

Principal Característica: a vontade de fazer sempre o melhor.
Qualidades: capricho, humildade, aperfeiçoamento constante.
Defeitos: ser muito crítico, meticulosidade excessiva, mania de perfeição.

Elemento: terra
Qualidade: mutável
Polaridade: feminino
Planeta regente: Mercúrio
Exílio: Netuno
Exaltação: Mercúrio
Queda: Vênus

Signo que simboliza a necessidade de separar "o joio do trigo", concentrando-se na seleção, aperfeiçoamento e qualidade daquilo que é feito. Busca a discriminação, no sentido de atingir uma realidade "perfeita". O símbolo do signo retrata a purificação e a colheita. Características: desejo de servir e ser útil, mente prática, análise, ordem, aperfeiçoamento, dedicação, detalhe, perfeccionismo, crítica, exigência, inquietação, sentimento de culpa ou de inferioridade, timidez. O trabalho é um fator importante na vida dos virginianos, e a forma como se conduz perante ele, o afeto ou não com que realiza suas funções são determinantes para sua saúde e bem-estar. Virgem tem muito a colaborar, especialmente no aperfeiçoamento de instrumentos, técnicas e do trabalho em si.

Vicente Celestino



Antônio Vicente Filipe Celestino (Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1894 — São Paulo, 23 de agosto de 1968) foi um dos mais importantes cantores brasileiros do século XX.

Rodolfo Valentino



Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina D'Antonguolla, conhecido como Rodolfo Valentino (6 de maio de 1895 - 23 de agosto de 1926) foi um ator italiano radicado nos Estados Unidos da América.

Além de ser uma das estrelas mais populares dos anos 20, e do cinema mudo consequentemente, foi o primeiro símbolo sexual do cinema e protótipo do "amante latino" fabricado por Hollywood. Em 1913 imigrou da Itália para os Estados Unidos, tendo trabalhado como jardineiro e lavador de pratos. Em 1918 fez pequenos papéis em Hollywood. Sua fotogenia e habilidade como dançarino lhe garantiram um lugar no elenco de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, em 1921, que o transformou em astro.

Morreu em consequência de uma úlcera, aos 31 anos de idade. Diz a lenda que várias mulheres se suicidaram, desesperadas pela sua morte prematura.

wikipédia

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sertão com C

Acredito que Sertão se escreva com C
Pois mandacaru faz Chover
E nenhuma planta perecer
Presenciando dos olhos do meu bem querer
A última lágrima escorrer
Vou voltar pro Sertão!
Pra mudar esse Chão!
Já no próximo Verão
Tentarei levar a Canção
Mas se não der levarei apenas trigo para repartir o Pão

Lavras da Mangabeira conta sua história - Emerson Monteiro


Numa iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo, a Prefeitura de Lavras da Mangabeira iniciou, sábado, 20 de agosto de 2011, os trabalhos que visam aprofundar estudos relativos ao conhecimento da rica história daquele município.

Comuna das mais antigas do Ceará, elevada a vila em 20 de maio de 1816, Lavras detém um passado de expressivos acontecimentos, desde quando chegara o seu fundador, capitão-mor Xavier Ângelo, procedente da Paraíba do Norte, aos feitos legendários da matriarca Fideralina Augusto Lima, das primeiras mulheres que assinalaram a vida brasileira nos primórdios da colonização do interior, pela fibra de coragem e liderança altiva diante das agruras do semiárido nordestino.

Visando, pois, a preservação desses valores históricos que definem as origens de famílias e instituições, nas formações locais, a prefeita Edenilda Lopes de Oliveira Sousa (Dena) e Miriam Linhares de Sá e Sousa (Manta), secretária de Cultura do município, organizaram mesa redonda composta por membros da comunidade, autoridades e titulares da Academia Lavrense de Letras, visando debater fatos históricos que definem a estruturação de um futuro seminário sob o tema História de Lavras da Mangabeira – Valores, Cultura e Artes da Cidade, do Município e Região.

Ao término dos estudos, será elaborado vasto documento que consolidará os feitos dos povos do lugar considerados os pontos de vista religiosos, econômicos, políticos, educacionais, científicos e turísticos.

Esse primeiro evento ocorreu nas dependências da Escola Estadual de Educação Profissional Professor Gustavo Augusto Lima (ex-Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira), em solene reunião presidida pela professora Fátima Lemos, da Academia Lavrense, com a presença da chefe do Executivo, professora Edenilda Lopes, do deputado estadual Danniel Oliveira, educadores, representantes do Legislativo, autoridades civis e religiosas, profissionais liberais e de um bom público, os quais prestigiaram a realização.

Ao empreender essas pesquisas, os lavrenses demonstram sentimento cívico e exemplo pedagógico, aprimorando meios de desenvolver e educar as novas gerações numa louvável providência.

Gene Kelly



Eugene "Gene" Curran Kelly (Pittsburgh, 23 de agosto de 1912 — Beverly Hills, 2 de fevereiro de 1996) foi um dançarino, ator, cantor, diretor, produtor e coreógrafo norte-americano.

O " Cinema Novo"- por Corujinha baiana



Cinema Novo



O filme quis dizer: "Eu sou o samba"

A voz do morro rasgou a tela do cinema

E começaram a se configurar

Visões das coisas grandes e pequenas

Que nos formaram e estão a nos formar

Todas e muitas:

Deus e o Diabo, Vidas Secas, Os Fuzis ,

Os cafajestes,

O Padre e a Moça,

A GrandeFeira,

O Desafio Outras conversas,


Outras

conversas sobre os jeitos do Brasil

A bossa-nova passou na prova

Nos salvou na dimensão da eternidade

Porém, aqui embaixo "a vida"

Mera "metade de nada"

Nem morria nem enfrentava o problema

Pedia soluções e explicações

E foi por isso que as imagens do país desse cinema

Entraram nas palavras das canções

Entraram nas palavras das canções


Primeiro, foram aquelas que explicavam

E a música parava pra pensar

Mas era tão bonito que parasse

Que a gente nem queria reclamar

Depois, foram as imagens que assombravam

E outras palavras já queriam se cantar

De ordem, de desordem, de loucura

De alma à meia-noite e de indústria


E a terra entrou em transe, ê




Entrou em transe ê

No mar de Monte Santo

E a luz do nosso canto

E as vozes do poema

Necessitaram transformar-se tanto

Que o samba quis dizer

O samba quis dizer: "Eu sou cinema"

O samba quis dizer: "Eu sou cinema"


Aí o anjo nasceu

Veio o bandido meteorango Hitler

Terceiro Mundo Sem Essa, Aranha, Fome de Amor

E o filme disse: "Eu quero ser poema"

Ou mais: "Quero ser filme, e filme-filme"

Acossado no limite da garganta do diabo

Voltar à Atlântida e ultrapassar o eclipse

Matar o ovo e ver a Vera Cruz


E o samba agora diz: "Eu sou a luz"

Da lira do delírio, da alforria de Xica

De toda a nudez de Índia

De flor de Macabéia,

de Asa Branca

Meu nome é Stelinha,é Inocência

Meu nome é Orson Antônio Vieira Conselheiro de Pixote

Super Outro


Quero ser velho, de novo eterno

Quero ser novo de novo

Quero ser Ganga Bruta e clara gema

Eu sou o samba, viva o cinema


Viva o Cinema Novo

(Gilberto Gil e Caetano Veloso )





Glauber Rocha




14/03/1939 Vitória da Conquista BA 22/08/1981 Rio de Janeiro RJ




Com o princípio de "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça", deu uma identidade nova ao cinema brasileiro.

por Corujinha Baiana

Signo de Virgem - Por : Stela Siebra Brito


SIGNO DE VIRGEM: PRINCÍPIOS DE PAZ E PUREZA E RESPEITO PELA NATUREZA

A mitologia grega narra que na Idade de Ouro vivia no mundo a virgem ASTRÉIA, filha de Zeus e Têmis. Astréia cultivava e propagava a Paz, a Justiça e a Bondade, mas, com a evolução das raças, os homens se afastavam cada vez mais desses princípios e, já na Idade de Prata, Astréia se abstém do convívio humano, para retirar-se, definitivamente, na Idade de Bronze. Astréia subiu ao céu onde foi transformada na Constelação de Virgem.
Este mito simboliza o Princípio da Pureza, representado por Astréia, e ainda a fertilidade e abundância da Idade de Ouro, que como nos conta Ovídio, em As Metamorfoses, “a própria terra, imune, não tocada pelo ancinho, não ferida pela relha do arado, ofertava espontaneamente todos os seus frutos”.
A chamada simbólica do signo de Virgem propicia, além da busca dos caminhos da Paz e da Pureza Verdadeiras, o respeito pela Natureza Sagrada, através da compreensão da generosidade da Terra, representada pela fertilidade e abundância, típicas da Idade de Ouro.
É a relação espiritual com a Natureza Sagrada que deve ser redescoberta e reconquistada. É importante que se compreenda a dimensão sacra da Natureza e seu significado na vida do homem, para que escalar montanhas não seja apenas um esporte que exige exercícios físicos, mas um exercício de escalada espiritual rumo ao Sagrado.
Este é um dos simbolismos do signo de Virgem: tornar a Natureza novamente plena de significado espiritual, um caminho para a Paz entre os homens e a Natureza, uma relação de amor e harmonia.

*Uma homenagem à virginiana Socorro Moreira

Stela Siebra

Piaf, um hino ao amor - - Por Zélia Moreira




Estava em Fortaleza na época do lançamento do filme:Piaf, Um Hino ao Amor.
Vê filmes na telona, no escurinho do cinema, com pipoca , som stéreo, faz toda a diferença. E se o filme é bom, a combinação é perfeita!
Piaf é um filme denso, intenso, mas a partir de quem o vê pode ter várias leituras.
O pessimista/deprê, incorpora o drama da vida da cantora(que drama!) e sai de lá pior do que entrou... O otimista e admirador da obra musical de Piaf, se embriaga ao som da música, embora sensibilizado com a dor, e saí flutuando e assim fica por muito tempo( a dose musical é forte, e da melhor qualidade).
Acredito que muita gente conheça esse filme, se não , vale a pena conferir!
O filme conta a biografia de Edith Piaf (1915/1963), desde a infância pobre e sofrida até a deprimente e solitária morte. Um retrato realista, fascinante e comovente de uma das grandes vozes da música internacional.
Quero destacar a atuação perfeita da atriz Marion Cotillard, que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz em 2008.Ela não interpreta Piaf... Ela "é" Piaf nos 140 minutos do filme.
Um detalhe relevante: todas as músicas foram dubladas a partir da própria voz de Piaf.
O momento mais bonito do filme se faz com a apresentação de "Non, je ne regrette rien".
É lindo!!! Curiosamente a letra descreve muito bem a vida , os sentimentos da personagem.


Non, Je Ne Regrette Rien

Non... rien de rien... Não! Nada de nada...
Non... je ne regrette rien Não! Eu não lamento nada...
Ni le bien qu'on ma fait, Nem o bem que me fizeram
Ni le mal - tout ça m'est bien égal! Nem o mal - isso tudo me é igual!

Non... rien de rien... Não, nada de nada...
Non... je ne regrette rien Não! Eu não lamento nada...
C'est payé, balayé, oublié, Está pago, varrido, esquecido
Je me fous du passé! Não me importa o passado!

Avec mes souvenirs Com minhas lembranças
J'ai allumé le feu, Acendi o fogo
Mes chagrins, mes plaisirs, Minhas mágoas, meus prazeres
Je n'ai plus besoin d'eux! Não preciso mais deles!

Balayé les amours Varridos os amores
Avec leurs trémolos E todos os seus temores
Balayés pour toujours Varridos para sempre
Je repars à zéro... Recomeço do zero.

Non... rien de rien... Não! Nada de nada...
Non... je ne regrette rien Não! Não lamento nada...!
Ni le bien qu'on ma fait, Nem o bem que me fizeram
Ni le mal - tout ça m'est bien égal! Nem o mal, isso tudo me é bem igual!

Non... rien de rien... Não! Nada de nada...
Non... je ne regrette rien Não! Não lamento nada...
Car ma vie, car mes joies, Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Aujourd'hui, ça commence avec toi! Hoje, começam com você!


Juscelino Kubitschek - Por Joaquim Pinheiro




Socorro  Moreira fez aflorar da memória episódio com JK e me encorajou contá-lo no Cariricaturas. Em 1975, trabalhava no protocolo da Gerência de Mercado de Capitais do Banco Central em Brasília quando avistei, na fila de atendimento, o Dr. Juscelino, acompanhado por dois assessores. Na sua frente, umas 4 ou 5 pessoas, todas Office boys ou contínuos de instituições financeiras. Deixei meu birô e me dirigi até o ex-presidente, convidei-o a entrar e me ofereci para atendê-lo de imediato. Educadamente, recusou furar a fila, mesmos com os que estavam à sua frente insistindo em lhe ceder a vez.
Enquanto a fila andava, ficamos conversando. Perguntou de onde eu era, há quanto tempo estava em Brasília, e outras perguntas do gênero. Comentou que lembrava do Crato, do aeroporto em cima da Serra do Araripe, do comício de 1955, da beleza do Vale do Cariri, etc. Contei-lhe que meu pai, eleitor de carteirinha da UDN, votou uma única vez no PSD e em JK, exatamente por conta deste comício.
Comentei que Papai há muito procurava um LP que tivesse a música Peixe Vivo, tocada quando o então candidato chegava ao palanque. Juscelino perguntou o nome do papai, o que ele fazia e se ainda morava no Crato. Chegou sua vez, foi atendido (era apenas a entrega de um projeto), se despediu apertando a mão de todos os presentes e se retirou.
Poucos dias depois, recebi um telefonema de uma Sra. Se identificando como secretária do DENASA e me convidando a ir até lá. Como ficava há menos de 100m do meu local de trabalho, fui na mesma manhã. A Secretária me recebeu de forma muito simpática e pediu para aguardar um pouco, pois o “Presidente” queria falar comigo. Menos de 15 minutos depois, entrava na Sala principal da Instituição e recebia um LP autografado por ele e dedicado a meu pai. O disco hoje está comigo. Mando o oferecimento para vocês verem.



Joaquim Pinheiro

Festa da Padroeira do Crato- por socorro moreira


Agosto de 1943.


O Crato vive os primeiros dias de festa da padroeira- levantamento do pau da bandeira. Naquele ano aconteceu uma saudável disputa entre dois grupos políticos: Dr. Gesteira e Prof. Pedro Felício. “Os dois com o fito de ajudar à paróquia da Penha reuniram e engajaram as meninas da sociedade, e criaram os blocos das” Enfermeiras “e das “Margaridas”, respectivamente.

Minha mãe pertencia ao bloco das margaridas. Vestiam-se de camponesas com avental, chapéu de palha, enfeitado com laço de fita e flores do campo. Diz a minha mãe que eram todas belas. No final, as margaridas conquistaram a vitória, arrecadando uma soma maior de dinheiro, para ajudar nas construções paroquiais.

Mas eu imagino, o quanto foi colorida e animada, aquela festa de Agosto!

Em 1963, quem estava começando a brilhar era a minha geração .

.

Hoje é o levantamento do pau da bandeira. Agosto/2009.

Moro tão perto da praça, e a vejo de tão longe...!

Acomodo-me, espreguiço-me. O povo da minha idade está recolhido. Amanhã começam as noites de novena, que culminarão, no grande dia- a festa da padroeira, Nossa Senhora da Penha, em primeiro de setembro.

Da minha casa escuto a voz do padre, os cânticos, as rezas.

Desisti do passado, quando ele desistiu de mim. Estou no presente transitório.

Quero um retrato em branco e preto dessa festa sem Altemar Dutra,sem Adilson Ramos , na amplificadora; sem os cavalinhos do parque Maia; sem a roda gigante, a rodar, a rodar ...

- “Sentimental eu sou... Eu sou demais!”

Respingos da fonte luminosa, farfalhar de panos novos, misturas de cheiros: muguet.

Nunca contei o dinheiro do bolso do meu pai. Achava que o seu bolso era mágico... Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Vou entregar, e já entreguei!

E a gente levava a prenda para casa. Papeis celofanes no lixo da noite, e leite açucarado para dormir sossegado - o gosto de festa na boca.

Amanhã teríamos mais: reza, bingo, leilão, amplificadora musical, e o carrossel do parque Maia...!