por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 6 de abril de 2012

TODA A SEMANA SANTA - JOSÉ DO VALE PINHEIRO FEITOSA

A Semana Santa é aquela que vai da glória popular de Jesus Cristo entrando em Belém até a conquista dos corações na ressurreição. Este dois extremos da semana, no entanto, é permeado por todo o drama das sociedades hierarquizadas onde alguns são melhores que outros.

No domingo de ramos Jesus arrebata as multidões. Se formos tomar uma referência atual ele estaria com alto índice de aprovação, com o IBOPE lá em cima. Conduzido sobre o principal meio de transporte de sua sociedade tribal e rural, ele é tratado como um Rei: está no topo de todos os homens de Israel.

Nos dias seguintes Jesus radicaliza seu discurso e sua ação ao máximo em toda a narrativa de sua vida. Afronta o poder de César reduzindo César a apenas ele mesmo. Desidratou o Imperador do seu próprio império: dê a César o que é de César. Ou seja, apenas a sua moeda cunhada com a própria esfinge.

Depois investe ferozmente contra os vendilhões do templo e o sinédrio que a rigor era o poder constituído do povo de Israel. Denuncia as principais lideranças judias nominalmente e em função de suas altas posições hierárquicas. Afronta o debate público, fazendo manifestações junto ao povo contra os poderes constituídos do império e de Israel naquela altura sabujos do poder maior.

A radicalização é consciente a ponto dele começar a preparar os discípulos para o pior que viria. As falas da última ceia, o encontro no monte das Oliveiras e a oração de Getsêmani são a tomada de consciência verbalizada aos discípulos de que a vingança do poder hierárquico estava por vir.

A reação do poder constituído de Israel é mais furiosa e contundente do que mesmo aquela do Império Romano. O poder de Israel estava afrontado em sua posição hierárquica com uma mensagem de igualdade e irmandade, mas o poder do Império Romano queria apenas extrair as vantagens de suas posições no Oriente Médio com o menor custo possível em revoltas populares. Afinal Jesus tinha sido aclamado pelo povo.

O papel do Sinédrio, sumos sacerdotes, classe dos fariseus, escribas e anciãos é a violência da luta política com suas farsas, traições e manipulação do sentimento popular. Nada diferente de toda sociedade de massa. E o que fazem é o que se repete continuamente na história contemporânea.

Destruir não apenas o homem Jesus, mas a sua mensagem que era o perigo maior. Então a ação política seria destruir o mensageiro junto com a mensagem. A primeira ação: levar um membro do núcleo central da organização - os apóstolos - a trair Jesus, pois assim a mensagem estaria também atacada. Eis o papel de Judas: ser o instrumento do esvaziamento da mensagem de Jesus.

Depois forjar todo tipo de prova, num falso tribunal e condená-lo à morte. Em seguida ganhar o coração do povo, através de manobras em praça que mobilizam as multidões reunidas, por exemplo, salvar Barrabás e condenar Jesus. Esta escolha era o sinal da conquista das multidões pela reação do poder da hierarquia.

Finalmente se precaverem de uma possível reviravolta no sentimento popular ao transferir o ato formal de condenação ao poder Romano. Que era o poder externo. Neste processo eles sustentaram a máquina de propaganda junto às multidões, infiltrando seus membros a insuflar o povo.

O ato do calvário e da crucificação são por demais explorados. Os modernos detentores do poder hierárquico e do ódio à igualdade e à irmandade transferiram a mensagem para depois do sofrimento, do calvário e da morte. Por isso substituíram a Semana Santa pela Paixão de Cristo. Onde as cenas de sofrimento, do eterno sofrimento do homem sobre a terra é o centro do ritual.

Mas não foi isso o que se disse. Cristo ressuscitou e apenas não ressuscitou em carne e osso com as mesmas intenções do Domingos de Ramos, qual seja conquistar as multidões nas ruas ou nas praças públicas. Ao contrário, a ressureição é a ressureição do coração de cada um, sacrificando todo o seu estilo de vida, todas as suas crenças, preconceitos e artimanhas da hierarquia numa grande destruição e ressuscitando com o coração pleno de irmandade e igualdade entre todos.

E quando os tontos da hierarquia de líderes e reis dão coices contra a idéia de que os homens sejam iguais, a mensagem lhe diz o essencial: somos diferentes em algumas qualidades e iguais perante Deus. Pois Deus não é o poder, mas o símbolo da igualdade. Deus não é humano e nem humanizado: não tem pecado, não tem lei, não se vinga e não persegue. Ele apenas é Deus porque paira acima dos homens a lhes dar a consciência de que suas instituições são arranjos passíveis de modificações e melhoria.

Então que a igualdade seja ressurreta e que os vendilhões do templo sejam expulsos. Que mais um aposentado grego não se imole em face dos bancos.

Como dizia aquele locutor de Barbalha anunciando o filme no Cine Neroli: se não for isso eu cegue.

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