por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 30 de julho de 2011

Por Assis Lima


SONHO BOTÂNICO

Há quem se sonhe árvore
à sombra da qual
o animal repouse.
A avó que conheci
plantava bogaris
e cultivava mamonas.
Uma vez a surpreendi
brincando de voar com os passarinhos.
Assim a vejo e a tenho.
Meu avô plantava tabaco.
Era a sua planta de poder.
Raras vezes cantava,
e, ao fazê-lo,
tal uirapuru,
calava as outras aves,
a escutá-lo.
Meu pai sabe a angico,
ao bom angico,
com sua densa e saborosa resina.
Minha mãe, perfumada caroba,
me rimava com cravo e alecrim.
Só Jesus é tão cravo.
Só José, alecrim.
Pela carne da macaúba,
pela polpa do pequi,
pela massa do jatobá
desasnei
e sobrevivi.
Há quem viva à sombra
das carnaúbas,
da samaúma,
do juazeiro,
da figueira
ou do salgueiro.

Mas, como diz um mestre
das plantas medicinais,
toda planta é sagrada,
mesmo os matinhos mais simples.
Folheando um manual de botânica,
encantei-me com o ramo
rico e polimorfo das solanáceas:
ervas,
arbustos,
árvores,
trepadeiras,
tão brasileiras.
O tomateiro,
o pimentão,
várias pimentas,
a beladona
e as ornamentais.
A vida ornou-me,
e o sonho valeu-me.

Do livro "No Azul Sonhado"

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