por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 14 de maio de 2011

Xico Sá - Modos de Macho


xicosa@brpress.net

A capanga e a vida

Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de São Paulo, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.

Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 - quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.

Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era, sim, naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.

Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume -o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos "homens de maior distinção em todo o mundo".

Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.

Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara - se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.

Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol.

Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que - para o bem ou para o mal - já era.

& Modinhas de Fêmea

Ainda sobre amor e novas tecnologias, fica aí uma sábia reflexão das minhas amigas do 02 Neurônio: "O que nos assusta no momento é o iPhone 4, em que você fala enquanto vê a pessoa. Não seremos hipócritas: claro que vamos ter um desses! Pior: o mundo todo vai ter! Pronto, acabaram aqueles telefonemas que você dava para um pretê nervosa. Agora, além de falar, você vai ter que estar bem na foto. Medo! E se a gente ligar para um ex e ele estiver com a atual, a gente vai ter que ver a cara dela? E se a gente estiver com aquele amigo lindo de quem o namorado morre de ciúme, teremos de agüentar um ataque depois? Não sabemos como o amor vai sobreviver ao iPhone 4."


por Xico Sá

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