por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 14 de maio de 2011

Entre o caos e ordem, reluz a beleza - Por : José do Vale Pinheiro Feitosa





Quando só, grito a efervescência do caos. Repito o ato em face da ordem. Entre um e outro respiro, digiro, me igualo em caos e ordem. Isso por que vivo com um pé na medida certa e no justo limite e outro na exata noção que a “harmonia do mundo se evidencia na casual desordem”. Já dizia Heráclito e penso que os gregos eram muito superiores à emergência da unidade, pois desde sempre compreendia a antítese na Beleza e na arte ocidental.

Algo como o topo da serra e o rés do vale. As raízes e a copa, a sobrevivência e a transcendência. Não abuso do estático, da aparência, pois a dignidade além da alma é também do corpo. Por isso mesmo, não se torna nem bom ou mau, nem bem ou imoral, a arte da escultura. Pode ser parte da antítese da vida como é, mas “aqui Apolo supera o sofrimento do indivíduo com a luminosa glorificação da eternidade da aparência, aqui a Beleza vence o sofrimento inerente à vida; a dor é, em certo sentido, removido dos traços da natureza”. Quando Nietzsche escreveu “O nascimento da tragédia” bem se ambientava no caldo da modernidade.

Não me convém o resguardo em parte da antítese. Move-se como matéria de qualquer noção no tempo e no espaço. O que se capta já é corpo em transformação. Os gregos também sabiam de Dionísio, conheciam a Beleza Dionisíaca. Que vai além das aparências, portando das medidas e dos limites; alegre e perigosa, luta com a razão, possuidora de possessões e loucura. A beleza soturna e perturbadora.

O filósofo alemão traduzia o que lhe dizia a natureza da beleza dionisíaca: “Sede como eu sou! Na mudança incessante das aparências, a mãe primigênia, eternamente criadora, que obriga eternamente à existência, que eternamente se regozija com essa instabilidade da aparência.” Em síntese a noção de estética ocidental mais antiga, a primeira noção possuidora de cânones e normas, contempla a antítese em torno da aparência, como permanência e ou transformação.

É possível que desta dialética sobre a Beleza a história se deite numa ou noutra das partes em luta para extrair tendências estéticas. No classicismo uma beleza mais Apolínea (de medidas e limites) na modernidade como diz Umberto Eco: “Essa beleza noturna e conturbadora permanecerá escondida até a idade moderna, para configurar-se depois como reservatório secreto e vital das expressões contemporâneas da Beleza, realizando a sua desforra contra a bela harmonia clássica.”


por José do Vale Pinheiro Feitosa

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