por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 1 de maio de 2011

INTERROGAR A NOITE - Barbosa Tavares





Noite. Espaço predilecto para a magna interrogação sobre a vida. Silêncio absoluto, apenas ferido por esta obsidiante questionação. Noite. Desejaria saber-me para além do naco de tempo que me coube na partilha do mistério de viver.

Não basta esta exígua serenidade, intercalada no sobressalto de nada saber, para além do sangue que crepita nas veias, nesta sede de infinito que extravasa as fronteiras da terra.

Ouso descer nas labirínticas fendas da condição humana, em busca da razão, neste sopro concedida , cuja consciência envolve numa angústia crescente.

Duvidar. Acreditar. Invocar Deus para aliviar este manto de cinza que envolve a agonia dos dias, alucinadamente esquivos, rumo ao olvido. Eis o tempo a escorrer esguio e célere por entre os dedos doridos da alma.Um homem sujeito passivo enovelado nas malhas da sua finitude, para se dar conta que, nada afinal decretou para o tempo de seus dias.

Nada tenho para represar as horas, senão um gesto de gratidão à vida pelo espectáculo do mundo, nem sempre magnificamente belo.

O tempo esvaído, esculpe na alma o sentir nítido da brevidade dos dias exauridos. Nada sei sobre as regiões do além-tempo, onde pressinto que um fio de luz abriga a consciência , vogando por entre uma sinfonia de estrelas e cânticos de anjos em tenura azul acetinados.

De que dispomos para contrapor ao inexorável fluxo temporal? Quem nos inculcou esta noção dilacerante da nossa brevidade ?

Deus não pode ter inventado um ser para lhe inculcar a angústia da finitude, sem lhe conceder menos que a verdade da esperança. Aspiramos a eternidade porque em nós deve coexistir uma partícula de infinito que aspira prevalecer para além das veredas deste pere-cível tempo.

Testemunhamos os intransponíveis mistérios da vida, mas nenhuma revelação será concedida senão pela crença. Um Deus cruel não seria o meu Deus e, no entanto, que explicação tenho eu para as dores da alma que, as do corpo já nem sequer amedrontam?

Seja Deus a superação do nosso receio de perecer, a âncora dos nosos temores, neste brevissimo lampejo de vida em que nos afadigamos com mil inutilidades.

Soubesse eu nada desejar, tal como os deuses. Contemplar a ribeira que canta na pedra o doce enlevo de ser água, fruir a cantata do vento no ciciar da ramagem, colher na noite estrelada um luzeiro onde a alma se abrigasse pacificada no firmamento.

Nem todos os néctares do possível amor na terra apaziguam a inapagável sede que avassala a alma , conquanto seja no amor que roçamos a sublimidade Divina.

Talvez !.. Sumo de estrela, servido em taça de luar, apaziguasse a alma sedenta. Talvez, uma voz que me segredasse outros sóis para além da cortina que um dia há-de encerrar a luz abrigada nuns olhos mortiços, sossobrados perante tantos insondáveis.

Para sermos veramente perenes no espírito, carecemos do infinito que não temos senão na crença.

Que a vida é um inexpugnável mistério, todos o sabemos de sobejo e poucos se fadigam em decifrá-la. Que este sopro que nos anima aspire a ser eterno, eis a sede que nos assemelha a um Deus, eis o mistério dos mistérios, nesta noite em que esperançoso me interrogo.

Barbosa Tavares

Brampton, Ont.,Canada


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