por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 14 de março de 2011

RODA DE HISTÓRIAS COM BISAFLOR

O CÁGADO TOCADOR DE GAITA

Meu pai sabia de uma história contada por seu bisavô, que escutou de uma velha parenta índia que viveu no tempo em que se entendia a fala dos animais.
A velha índia contou que havia um cágado tocador de gaita, dos bons, cuja arte causava grande admiração a todos os outros animais, e a alguns, até inveja.
É o caso do jacaré, que morrendo de inveja do cágado, só pensava em sair por aí tocando gaita ou então, ficar na beira do rio, tomando banho de sol e tocando gaita.
Um dia o jacaré foi ao local onde o cágado costumava ir beber água, deitou-se na areia e ficou esperando o amigo, que chegou saudando-o:
- Olá amigo jacaré, como vai?
- Na vidinha de sempre. Estou aqui, amigo cágado, tomando meu banho de sol.
O cágado bebeu água até se fartar, sentou-se ao lado do amigo, puxou a gaita do bolso e começou a tocar. O jacaré, que já tinha arquitetado um plano, elogiou a música do cágado, e depois acrescentou:
- Será que eu levo jeito pra tocar gaita? Eu tenho tanta vontade de experimentar, o amigo bem que podia me emprestar um pouquinho.
Disse isso olhando com olho pidão para o amigo cágado, que, sem desconfiar das suas intenções, lhe passou a gaita. O jacaré se atirou na água no mesmo momento, levando consigo a almejada gaita. O cágado ficou fulo de raiva, mas naquele momento estava em desvantagem, não podia fazer nada, “mas, me aguarde amigo jacaré”.
Alguns dias depois o cágado já tinha em mente uma forma de reaver sua gaita e, ainda, criar uma situação constrangedora para o jacaré. Foi a um cortiço, engoliu um monte de abelhas e lambuzou o fiofó com muito mel. Depois, dirigindo-se ao lugar onde o cágado costumava tomar banho de sol, escondeu-se entre as folhas, botou o rabo pra cima e aguardou.
O jacaré chegou, postou-se a tomar sol. O cágado abriu a boca e soltou uma abelha que saiu zunindo, zum... zum... zum; daqui a pouco soltou outra abelha, depois outra e todas saiam zunindo, o que chamou a atenção do jacaré, que, supondo ter por ali um cortiço de mel, enfiou o dedo no fiofó do cágado, que o apertou com força. O jacaré gritou “ai” e o cágado perguntou:
- Cadê minha gaita? Só solto seu dedo quando me der conta da gaita -, falou assim e ia apertando cada vez mais o dedo do jacaré, que se pôs a chamar pelo filho, entoando uma cantiga:
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
O rapaz não entendendo bem o que o pai queria perguntava de lá:
- O quê, meu pai, é sua camisa?
Da beira do rio o jacaré respondia:
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
Mais uma vez o rapaz não ouvia direito o que o jacaré pedia.
- Ô, meu pai, é o seu chapéu?
- É não, meu filho,
é a gaita do cágado,
é a gaita do cágado.
- Ô, meu pai, é sua alpercata?
- “Ô Gonçalo,
meu filho mais velho,
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...
a gaita do cágado...
tango-lê-rê...”
- Ô, meu pai é seu facão?
E novamente o jacaré respondia a cantilena, e pensava: “ai que vexame”.
Já estava com o dedo quase torado, quando finalmente Gonçalo chegou com a gaita. O jacaré a entregou ao dono, que, só então, soltou seu dedo.
O cágado saiu tocando gaita beira de rio acima, feliz da vida com sua música.
O jacaré teve que mergulhar rapidinho nas águas, pois não agüentava mais a mangação dos outros animais.

2 comentários:

socorro moreira disse...

Minha Bisaflor,

Acho que já nasci, te pedindo:
Conta uma história pra mim?
Adoro todas !

Abraços

Liduina Belchior disse...

Bisaflor,

Adorei essa história. Parabéns.

Abraços: Liduina.