por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 7 de março de 2011

Guiomar - Por Rejane Gonçalves


Guiomar vive na rua de cima. Hoje, desceu. Num vestido sem mangas, de saia rodada e flores verdes em salpico, cintura marcada, decote sedento por um pedaço de chão. Braços nus, abandonados ao longo do corpo, mas vivos. Braços de bailarina. Olhos acesos catando os céus, luz em foco na palidez de cera do rosto de santa. Andar roubado, leveza de garça e ondulações de serpente. Veio do alto. Venceu a terra barrenta da rua comprida com força de inundação. Chegou embaixo repleta, grandiosa, maior que seu próprio tamanho. Acumulada.
Vi os cabelos de Guiomar, cortados à faca pelos soldados que a conduziam, sumirem na escuridão do corredor da delegacia daquela cidade pequena. Minha quase aldeia, aonde o tempo também vai devagar e arrasta-se pestanas adentro das janelas que olham.
Nunca esqueci.


Rejane Gonçalves

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