por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 2 de março de 2011

Do baú de Stela



















Tempo perdido

Não ouviu o estouro da boiada
Não ouviu a passarada cantando ao amanhecer
Não viu a chuva chegando
Nem o céu estrelado
Não jogou pedras no rio para ouvir o sonoro tibum ressoando
e depois ver a água se abrindo em círculos.
Não! nunca escutou uma cantiga de sapo, nem de grilo, nem de cigarra
Imagine do uirapuru!
Não sentiu o cheiro do arrozal maduro
Não brincou com boneca de milho nem brincou de "fazer caretas".
Nunca teve “um dia em que quase se afogou no rio”
Não caiu da cajaraneira, nem da mangueira.
Nunca chupou caju no pé de caju, manga, no pé de manga.
Não sonhou acordada, nem com príncipe nem com sapo, nem com emprego
Perdeu o trem – não havia escutado o apito estridente da locomotiva
Por isso, quando a banda passou,
ela sequer estava na janela.
Não, ela não está morta! Que nada!
Dizem que agora ela mora em Caruaru
arruma a casa: varre, limpa, cozinha, lava, passa ferro, amassa o pão
Depois, se senta e come. Dizem que até assiste televisão.
Mas sabe que ainda tem salvação pra ela?
Ontem quebrou a rotina de uma vida inteira quebrando todos os pratos da casa.
Depois vestiu um biquíni da filha e foi tomar banho de sol no quintal.

Pai Eterno, bota juízo na cabeça nessa mulher! (foi o que implorou o marido, aflitíssimo).

(10/05/06)

3 comentários:

Aloísio disse...

Stela,

Parabéns!!!
Lindo texto cheios de recordações, e sutis lições.

Abraços
Aloísio

Stela disse...

O bom é que comecei com as lembranças e depois enveredei pela ficção, me divertindo com as duas ações finais da mulher: quebrar a louça e vestir um biquini e ir tomar banho de sol.
Bom... (risosss) o melhor é a aflição do marido... (risossss).

Abraços poeta Aloísio, obrigada pelo comentário.
Você é que postou há pouco um poema lindo pra sua filha.

socorro moreira disse...

Que ótimo!

Andei a vaga, e perdi o primeiro trem.
Se aqui tivesse mar, e se eu tivesse marido pra aflingir...
Mas , quem sabe na próxima semana? rs

Ai, SAtela teu baú parece uma peça de conto de fadas, que eu acompanhei na infância.
Era contada por terezinha Siebra , num programa de fim de tatrde, na Rádio Educadora : "Ursinho"!

Se resgatar essa história ganha doce de buriti.


Bjs